Este artigo examina os elementos constitutivos da chamada "civilização regional do cacau", utilizando como fontes os relatos de quatro naturalistas europeus, de origem germânica, que percorreram a região do sul da Bahia nos três primeiros quartéis do século XIX. Partindo do conceito de "memórias partilhadas", demonstro que a contribuição daqueles discípulos de Humboldt ultrapassou os limites da ciência. Suas lembranças de viagem, devidamente filtradas pelas elites locais, foram articuladas com um outro conjunto de recordações, relativas a um passado recente em que o cacau se transformara no produto-rei da região. Trata-se de um processo que reflete a busca de identidade de uma população que se desenvolveu num determinado espaço geográfico, ganhou expressão nacional e procurou se distinguir do modelo característico da formação da sociedade rural brasileira, no que diz respeito a valores, idéias, convenções sociais e práticas políticas.
viajantes e naturalistas; natureza e exotismo; identidade regional; Ilhéus; memórias partilhadas