As comemorações centenárias da Escola Médico-cirúrgica de Nova Goa (1942) exaltavam o seu contributo para a consolidação do império português em África. Observamos esta instituição à luz da literatura 'medicina e império', que tende a analisá-la como um instrumento para o exercício do biopoder. Esta hipótese é contestada à luz das fontes primárias sobre as primeiras décadas da escola, das quais surge um quadro de fragilidade e descaso administrativo pouco compatível com um projeto imperial para formar médicos e distribuí-los pelas colônias. Sugerimos que a fundação da escola resulta de um processo em que predominam interesses locais, numa sociedade onde os recortes 'colonizador' e 'colonizado' se diluem nos inúmeros desdobramentos da diferenciação social. A apropriação da escola pela narrativa de glorificação imperial é algo que ocorre no século XX, quando se reescreve a história colonial portuguesa.
ensino da medicina; escolas médicas; império português; Índia; colonialismo; medicina tropical