Resumo
Este estudo explora as margens da medicina, em que práticas de saúde e aprimoramento se confundem. Ele é baseado no trabalho de campo desenvolvido no contexto de dois projetos de pesquisa distintos no Brasil sobre cirurgia plástica e terapias de hormônio sexual. Há uma significativa sobreposição clínica dessas duas terapias. Ambas estão disponíveis nos sistemas de saúde público e privado de tal forma que revelam a dinâmica de classes subjacente à medicina brasileira. Essas terapias também têm uma dimensão experimental enraizada no contexto normativo do Brasil e nas expectativas da sociedade em relação à medicina como forma de controlar a saúde reprodutiva e sexual da mulher. O uso medicinal experimental desses tratamentos está associado a um uso experimental “social”: as mulheres os adotam em resposta a pressões, ansiedades e aspirações no âmbito profissional e na vida pessoal. Argumenta-se aqui que essas técnicas experimentais estão se tornando moralmente autorizadas como um controle rotineiro da saúde da mulher, integradas aos tratamentos predominantes de obstetrícia e ginecologia, e sutilmente confundidas com práticas de cuidados pessoais que são vistas no Brasil como essenciais para atingir uma forma de feminilidade moderna.
cirurgia plástica; terapias hormonais; Brasil; gênero e sexualidade; saúde reprodutiva