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A mística do Pirarucu: pesca, ethos e paisagem em comunidades rurais do baixo Amazonas

Este artigo é uma análise das práticas e significados que permeiam a pesca do pirarucu nas comunidades rurais da Ilha de Ituqui, no Baixo Amazonas, Pará. O pirarucu é o maior peixe de escamas da Amazônia e também um valioso produto de mercado devido ao seu papel privilegiado na culinária local. A pesca do Pirarucu é uma das atividades mais antigas no Baixo Amazonas, remontando a tempos pré-coloniais. Para os pescadores que habitam a ilha de Ituqui, a captura do pirarucu pode representar não apenas o retorno econômico garantido de uma jornada de trabalho, como também revestir-se de uma série de significados e vivências ontologicamente estruturadas no dia-a-dia e na identidade dos pescadores. Conflitos sociais e disputas pessoais são intensificadas ou reduzidas, afeições são confirmadas e laços sociais refeitos através das práticas e encontros vivenciados durante uma viagem de pesca aos lagos próximos. Além da prática em si, tais viagens tornam-se referências mnemônicas e afetivas da paisagem, do evento de captura e do próprio sentido de lugar; resultando numa unidade processual conectada a muitas esferas pessoais e sociais de significado, as quais são de difícil compartimentalização. No meio de tantos aspectos motivadores, disputas e pescarias "irracionais" acontecem em Ituqui. Locais de pescaria são possessivamente guardados e "fronteiras territoriais" sutilmente estabelecidas entre comunidades e famílias. O direito ao recurso e, por extensão, aos significados e emoções que ele incorpora, torna-se um luxo ferozmente protegido por alguns. O decréscimo da população de pirarucus, as novas tecnologias de pesca, a alta demanda do mercado pelo peixe e a "mística" que ainda permeia a captura do animal colocaram muitos pescadores num dilema em que a sobrevivência desta atividade parece colidir com o que os desenvolvimentistas e ambientalistas chamam de "racionalidade" da conservação.

Amazônia; natureza; paisagem; pesca; pirarucu


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