Durante minha pesquisa etnográfica junto ao grupo de refugiados palestinos reassentados em Mogi das Cruzes (SP), questões relacionadas à memória se fizeram presentes desde o primeiro contato. Em um momento em que os indivíduos buscavam dar início a uma nova vida, falar do que viveram era sempre constrangido com uma forte carga emocional ou com uma tentativa de apagamento. Entre o esquecer e tentar viver uma nova vida e o relatar e fazer com que se entendesse o que eles vivenciaram no passado, estava a dificuldade de lidar com a memória traumática. Embora houvessem vivenciado situações similares, e por longos anos dividissem a mesma realidade no campo de refugiados onde ficaram alojados em abrigos temporários - entre 2003 e 2007, quando foram reassentados no Brasil - , cada um dos refugiados optava por uma dinâmica diferente. Este artigo pretende discutir essas estruturas mediadoras e a relação entre memória traumática e memória do trauma na experiência diária dos refugiados palestinos em Mogi das Cruzes.
auxílios da memória; memória do trauma; memória traumática; refúgio