Resumo
Neste trabalho proponho descrever aspectos de um recente movimento em torno das chamadas “medicinas da floresta”, principalmente o nixi pae (ayahuasca) dos Huni Kuĩ (Kaxinawá). A proposta inclui o acompanhamento de trânsitos contínuos entre a “floresta” e a “cidade” do próprio nixi pae, dos chamados pajés e de grupos ayahuasqueiros emergentes, evidenciando conexões e conflitos ontológicos. Uma contribuição possível deste trabalho é alimentar reflexões no campo ayahuasqueiro a partir de uma proposição cosmopolítica (Stengers, 2007STENGERS, I. La proposition cosmopolitique. In: LOLIVE, J.; SOUBEYRAN, O. (Ed.). L’émergence des cosmopolitiques. Paris: La Découverte, 2007. p. 45-68.), que buscará tomar o nixi pae como uma tecnologia de conectividade. Assim, espera-se desdobrar a semântica de termos como cura e medicina por meio da pragmática dos coletivos (de pajés, substâncias, espíritos) em ação: que efeitos estes geram quando agem em rede, o que movimentam, o que fortalecem, o que é deixado para trás. O nixi pae aparecerá então como peça-chave na ativação de coletivos ontologicamente heterogêneos, abrindo possibilidades para encontros com a alteridade em tentativas de composição de espaços de coexistência.
Palavras-chave:
ayahuasca; cura; cosmopolítica; conectividade