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O pajé e o caboclo: de homem a entidade

O personagem do caboclo, representado pelos médiuns durante a possessão, é uma figura central dos cultos de possessão da Amazônia urbana. O termo designa também, de modo pejorativo, as populações ribeirinhas da região. Neste artigo, procuramos entender a relação entre o caboclo invisível e poderoso dos cultos e o caboclo-homem visto como atrasado. Após situar o processo de formação dessa categoria do mundo invisível, e sua especificidade, voltamo-nos, com base na literatura folclórica, para a construção de seu significado enquanto designação de um tipo de população regional. Observamos que os intelectuais amazônicos, suavizando as conotações negativas do termo, tentaram fundamentar nele uma construção identitária original. Esta valorização do caboclo-homem veio ao encontro do prestígio do migrante nortista no domínio religioso. Tal fenômeno favoreceu a multiplicação de referências a entidades invisíveis designadas como caboclo. No entanto, ao contrário do que ocorreu no resto do Brasil onde essa categoria se restringiu a um estereótipo do índio, na Amazônia ela se abriu aos mais diversos tipos de população, permitindo a sua identificação com ela.


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