A antropologia do Mediterrâneo mostra-se um campo fecundo para a discussão do exercício antropológico em geral, pela forma particularmente instigante em que neste campo se confundem objeto e sujeito de um discurso acadêmico. Em Anthropology Through the Looking Glass, Michael Herzfeld salienta aspectos, sobretudo políticos, embutidos em construções conceptuais mediterranistas e antropológicas como um todo. Inspirada em seu trabalho, a autora propõe distinguir alguns pressupostos que parecem orientar nossas práticas, acadêmicas e quotidianas, a partir de certos elementos recorrentes em análises centradas nos temas "mediterrânicos" por excelência da honra e da patronagem. Recorre aos trabalhos reunidos em Patrons and Clients in Mediterranean Societies e Honor and Shame, referências fundamentais da antropologia do Mediterrâneo, no intuito de reiterar riscos envolvidos nas construções simplificadoras de princípios culturais, com poder explicativo questionável, bem como de enfatizar a importância da pluralidade de elementos locais destacados e de perspectivas adotadas, fatores que podem dificultar simplificações e promover o enriquecimento das concepções que produzimos acerca dos outros e de nós mesmos.