Este artigo parte da hipótese da existência de uma pluralidade de cenas sociais em que os indivíduos interagem e as ações individuais adquirem sentido. A cada cena social correspondem racionalidades práticas diferentes. O exame das práticas de mensuração e contabilidade permite distinguir essas cenas e compreender como se articulam entre si. Para mostrar a diversidade de raciocínios nativos, utiliza-se primeiro a diversidade das unidades de medida usadas por horticultores amadores. Em seguida, examinam-se os quadros rituais de diversas transações e mostra-se que o consumidor racional no sentido da teoria utilitarista pode não recorrer a nenhum cálculo explícito, pois o ethos ascético encontra-se inscrito nas rotinas corporais. Para concluir, o artigo convida a um estudo sistemático da socialização econômica e propõe três pistas para a pesquisa: a descrição da diversidade de cenas sociais, a análise dos quadros rituais das transações, e o estudo das percepções dos constrangimentos e das práticas de autocontrole nas diversas classes sociais. O artigo sugere que, dessa forma, se poderiam definir domínios de validade para as formalizações matemáticas das condutas humanas elaboradas pelos economistas.
Racionalidade; Economia; Cálculo; Cena Social