Este artigo avalia criticamente a contribuição de Pierre Clastres para o entendimento do poder, enfatizando sua noção de "sociedade contra o Estado". Mostra que a crítica de Clastres a Lévi-Strauss não exclui uma proposta particular de atualização daquilo que o primeiro denomina "troca recíproca" e indica que sua reflexão depende de uma concepção da reciprocidade que a confunde simultaneamente com simetria, equivalência e igualdade. Mostra ainda que a noção de "sociedade contra o Estado" não deixa de se fundamentar, em última análise, na proposição de um modo específico de relação de troca entre os termos "sociedade" e "Estado". Esta troca, cuja existência é negada por Clastres, é implícita e inconscientemente afirmada por ele.
Pierre Clastres; Estado; Reciprocidade; Claude Lévi-Strauss