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O teatro em Aparecida: a santa e o lobisomem

A seguir, pretende-se discutir a experiência de devotos em Aparecida a partir de um dos textos originários da antropologia da performance, "Points of Contact Between Anthropological and Theatrical Thought" ("Pontos de Contato entre o Pensamento Antropológico e Teatral"), de Richard Schechner. O "desvio" metodológico que se manifesta no texto de Schechner - um diretor de teatro que fez sua aprendizagem antropológica com Victor Turner - é propício para uma discussão do processo ritual que se realiza em Aparecida, onde imagens de liminaridade irrompem na própria imagem da santa. O trajeto percorrido pelos devotos do Jardim das Flores ("buraco dos capetas") requer, porém, ainda outro deslocamento, um duplo movimento capaz não apenas de olhar o cotidiano a partir de Aparecida, mas também de olhar Aparecida às margens das margens, a partir do parque de diversões. Eis uma questão: aquilo que a liturgia e o processo ritual separam em Aparecida, para fins de compor a imagem impassível da santa no espaço do sagrado, reúne-se nas imagens carregadas de tensões no Jardim das Flores. Seria o parque de diversões um dispositivo através do qual a cultura popular propicia um retorno do suprimido? Estados somáticos e formas de inervação corporal associados à experiência do pasmo, que fazem parte da história incorporada de mulheres e homens do "buraco dos capetas", irrompem no espetáculo da mulher-lobisomem, entre outros do parque de diversões. Às margens das margens, com efeitos de pasmo, ali se produz um duplo estranhamento: em relação ao cotidiano e ao extraordinário também.

Aparecida; Mulher-lobisomem; Performance; Teatro; Ritual


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