O presente artigo examina o debate, desencadeado pela campanha da ONG ATINI-Voz pela Vida e travado tanto no ciberespaço quanto na mídia brasileira, a respeito do infanticídio na Amazônia. Argumenta que este debate foi levado adiante em termos ocidentais-o suposto isomorfismo entre as noções de "humanidade" e "pessoa"-e, como tal, contribui pouco para entender esta incomum prática indígena. Para evitar o duplo risco do "imperialismo cultural" e do "relativismo cultural", adota um ponto de vista indígena, sustentando que os indígenas amazônicos consideram humanidade e pessoa como "estados de existência" independentes. Explora esta percepção por meio da análise de uma série de "instantâneos" etnográficos, à luz dos recentes desenvolvimentos teóricos, e conclui que, ao invés de confirmar o "primitivismo" das sociedades indígenas da Amazônia, este debate expõe a fratura da noção ocidental de "humano/pessoa", bem como a profunda- embora potencialmente positiva- crise do "moderno" pensamento ocidental.
Amazônia; Ameríndios; Infanticídio; Humanidade; Pessoa