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Práticas territoriais indígenas entre a flexibilidade e a fixação

Em sua busca pelo reconhecimento de seus territórios costumeiros, as populações indígenas das Américas têm progressivamente lançado mão de técnicas modernas para a definição precisa de territórios. Isto resultou em tensões entre suas práticas muitas vezes altamente flexíveis e as modalidades mais fixas de territorialidade produzidas por tais técnicas. O objetivo deste artigo é explorar essas tensões e suas consequências sociais por meio da análise das práticas territoriais dos Uros, um grupo indígena que habita ilhas flutuantes nos juncais do lago andino Titicaca. Tais práticas serão analisadas tanto no nível da comunidade quanto em suas relações conflitantes com as comunidades vizinhas na costa do lago e com uma área protegida administrada pelo Estado peruano. As práticas territoriais internas dos Uros revelam elevados níveis de mobilidade física e flexibilidade social, resultantes do constante fundir e separar das ilhas artificiais de junco. No entanto, seu envolvimento com o Estado e suas práticas territoriais têm resultado em profundas transformações em seus arranjos com as comunidades ribeirinhas. Em especial, redundou numa transformação dos territórios flexíveis, vagamente definidos e compartilhados, em territórios fixos, claramente definidos e exclusivos. Por fim, analisarei conflitos que emergiram entre os Uros quando seus líderes tentaram aplicar mecanismos de fixação territorial, de forma a controlar a constante fusão e separação das ilhas flutuantes.

Movimentos indígenas; Práticas territoriais; Estado; os Andes


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