Durante o regime ditatorial que se seguiu ao golpe de 1964 no Brasil, as ações de resistência desenvolveram-se basicamente nas cidades. Nos testemunhos de antigos militantes, a clandestinidade política é correntemente associada a metáforas do “exílio dentro da cidade”, experiências de isolamento social. Mas na sociabilidade dos clandestinos, a despeito do forte contexto repressivo, não se teria verificado também alguma forma de “vida pública”? A presente pesquisa, realizada a partir de entrevistas com 50 ex-militantes, propõe-se a discutir tal questão. As narrativas reunidas denotam que, a despeito do movimento permanente de destruição de arenas públicas que configurou o autoritarismo, os comportamentos adaptativos por parte dos clandestinos e dos indivíduos que com eles interagiam resultaram na frequente constituição de “consensos operacionais” na definição de situações de interação, consensos estes pautados na gestão das distâncias tanto políticas como culturais.
Clandestinidade; Ditadura; Microssociologia; Cidade; Militantismo