RESUMO
Tomando por base a etnografia contemporânea com grupos GuaraniMbya, este texto pretende tecer um comentário sobre modos diversos de uso da palavra em contextos interpessoais e de reunião nas aldeias, entendendo-os, conforme a sugestão de Anthony Seeger, como parte de uma mesma arte vocal guarani. Menos que uma análise sistemática das formas vocais, o foco aqui recai sobre o agir da palavra, seja falada, cantada ou silenciada. Seguindo desdobramentos diversos da palavra em diferentes contextos nas aldeias, sugerimos que sua potência se efetua propriamente como movimento, seja extensivo (pessoas-corpos que se deslocam no espaço), seja intensivo (movendo corpos na dança)1 1 Os termos extensivo e intensivo devem ser lidos aqui não em chave deleuziana, mas em seus significados na língua portuguesa: extensivo como aquilo que produz extensão, que se amplia (no caso, movimento que envolve simultaneamente ou em tempos distintos muitas pessoas e tende a se estender por espaços ainda não ocupados), e intensivo como o que tem intensidade, visa alcançar eficácia por meio de esforço intenso (no caso, o movimento concentrado em uma sessão de canto-dança). . O diálogo com proposições de Pierre e HélèneClastres sobre transformações da palavra guarani, inspirado por sugestões recentes de Renato Sztutman, nos leva, ao final do texto, à definição do movimento enquanto potência de não sujeição ou de liberdade.
PALAVRAS-CHAVE:
Guarani; Mbya; Palavra; Gêneros vocais; Movimento