Pessoas acometidas pela perda da visão são confrontadas com a necessidade de reorganização de seu sistema cognitivo e de reinvenção de suas vidas. O objetivo deste texto é discutir os efeitos da experiência de trabalhar com cerâmica, analisando os dois lados do funcionamento da atenção de pessoas com deficiência visual adquirida: a atenção à argila e a atenção a si mesmo durante o processo de criação. Toma como referências principais os trabalhos de J. Dewey sobre experiência estética, de G. Simondon sobre o processo de individuação e de F. Varela e S. Weil sobre a atenção. O texto resulta de uma pesquisa realizada numa oficina de cerâmica do Instituto Benjamin Constant, no Rio de Janeiro. A cerâmica é analisada em suas características de maleabilidade, temporalidade lenta e imprevisibilidade. A partir do conceito de cognição inventiva, são analisados os efeitos da expressão artística na produção da subjetividade e na reinvenção do território existencial dos deficientes visuais.
Deficiência visual; Experiência; Produção de subjetividade; Cerâmica