Resumo
O negro, e por consequência as populações quilombolas, em uma sociedade racista e preconceituosa, participa de um processo de (re)construção identitária que passa, necessariamente, por questões culturais, históricas, de território e de parentesco. Nesse sentido, o objetivo deste estudo foi conhecer a percepção de moradores de um quilombo sobre o preconceito racial vivenciado por eles. Para isso, realizou-se uma pesquisa qualitativa, descritiva e exploratória, tendo como participantes seis residentes em posições de liderança num quilombo urbano: duas adolescentes, dois adultos e duas idosas. Foram feitas entrevistas com perguntas semiestruturadas, abordando história de vida e percepção sobre discriminação racial. Os dados foram gravados e filmados, para, posteriormente, serem transcritos. Para a análise, utilizou-se a Análise de Conteúdo Temática. Os principais resultados apontaram diferenças significativas entre a percepção de adolescentes, por um lado, e adultos e idosos, por outro. Os adultos e as idosas indicaram não se sentirem discriminados por serem negros e moradores de quilombo, ao contrário das adolescentes, que referiram sofrer bullying por esses motivos na escola e em ambientes públicos como shoppings e comércios em geral. As idosas relataram sentir-se discriminadas em função da idade, mas nunca pela sua negritude ou pelo local onde moram. Entende-se que esta percepção tão diferente entre jovens, adultos e idosos deva-se, principalmente, ao nível de escolaridade mais elevado das adolescentes e, consequentemente, à sua maior capacidade reflexiva. Esta lhes permite perceber por si mesmas aquilo que não lhes foi dito no grupo familiar e que lhes foi ocultado nos debates escolares.
Palavras-chave:
Vulnerabilidade; Discriminação racial; Negritude; Quilombos