Resumo
Este artigo sustenta ser necessário abordar o fato de que boa parte dos conflitos em torno do conhecimento ambiental ocorre dentro da academia, ao contrário do que sugere o senso comum, que entende tais conflitos como característicos da relação entre ciência e não ciência. Propõe-se aqui um exercício especulativo conceitual que utiliza a abordagem oferecida pela etnologia indígena, e, mais especificamente, pela teoria do perspectivismo ameríndio, para tratar do conflito entre disciplinas científicas no trabalho interdisciplinar. Relatos etnográficos sobre casos de conflito entre meteorologistas e cientistas sociais são usados como recurso metodológico e analítico. O artigo defende uma abordagem não platônica da interdisciplinaridade e sugere ser mais produtiva e realista uma abordagem que trate a colaboração entre diferentes disciplinas como um caso de aliança entre “inimigos”, com a ressalva de que o conceito de inimigo deve estar fundado na forma como as filosofias relacionais dos povos ameríndios o entendem, em um contexto em que a diferença antagônica é valorizada por seus efeitos constitutivos e produtivos sobre a realidade.
Palavras-chave
mudança climática; interdisciplinaridade; perspectivismo; sociologia da ciência; conflito