Este artigo apresenta diferentes definições de morte cerebral, resgatando parte do processo de sua construção como fato médico. Desde o final dos anos 1960, quando foi publicada em importante veículo de divulgação científica da comunidade médica, o Journal of the American Medical Association, a definição de morte cerebral suscitou adesões e contraposições. De modo a se afirmar em textos estatutários, a definição foi ganhando novos contornos, sendo consolidada como whole-brain death no alvorecer dos anos 1980. Compondo esse processo, outras definições vão sendo oferecidas como alternativas para a whole-brain death. As definições de brainstem death e a higher brain death ganham destaque nesse processo histórico de construções de argumentos. Para alcançar o status de "boa" definição, cada uma delas se apoiou em específicas delimitações de "ser humano". Nessas redefinições da morte que se desenrolam entre os anos 1960 e 1990, concepções de ser humano afirmavam-se pela localização no cérebro ou no organismo como um todo, ou pela presença da "pessoalidade", da "identidade pessoal" ou de "estabilidade moral".
Morte cerebral; Concepções de ser humano; whole-brain death; brainstem death; higher brain death