O “sagrado instituído” e os “deuses sonhados”: organização missionária e outras metáforas organizacionais

Borges, Jacquelaine Florindo; Enoque, Alessandro Gomes; Borges, Alex Fernando

doi:10.1590/1984-9230761

Jacquelaine Florindo Borges

Doutora em Administração pelo Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP). Professora-adjunta da Faculdade de Gestão e Negócios da Universidade Federal de Uberlândia (FAGEN/UFU). E-mail: jac.borges@uol.com.br

Alessandro Gomes Enoque

Doutor em Ciências Humanas: Sociologia e Ciência Política pelo Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (FAFICH/ UFMG). Professor-adjunto da Faculdade de Ciências Integradas do Pontal da Universidade Federal de Uberlândia (FACIP/UFU). E-mail: alessandroenoque@yahoo.com.br

Alex Fernando Borges

Doutorando em Administração pelo Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal de Lavras (UFLA). Professor-assistente da Faculdade de Ciências Integradas do Pontal da Universidade Federal de Uberlândia (FACIP/UFU). E-mail: alexfborges@gmail.com

Metáforas subsidiárias da organização		Mapeamento metafórico
Metáforas subsidiárias da organização		Domínio fonte: religião	Domínio alvo: empresa	Religião
Organização missionária	Mensageira	Divulgar a doutrina, evangelizar, conquistar, exercer o ministério.	Diversidade de produtos, entre eles a Bíblia.	Católica, espírita, evangélica, umbanda
	Abençoada	Ser merecedor, o escolhido, comunhão moral, desígnio, casa de santo.	Explicação da criação da empresa: benção, luz e presente divino.	Católica, espírita, evangélica, umbanda
	Fraterna	Harmonia espiritual, aliviar o peso e a dor, ser piedoso. Consolar aquele que sofre.	Atendimento (ao cliente) fraterno, crescimento da empresa.	Católica, espírita, evangélica
	Promotora de pessoas melhores	Salvação das almas, transformar pessoas, cura das almas, plasmadores do caráter.	Relação comercial e de troca (remédio ao invés de produto), oferece oportunidades.	Católica, espírita, evangélica
	Marcada	Rejeição, perseguição, marginalização.	Interação com clientes (receosos) e produtos marcados.	Umbanda
	Fluxo de energia	Bem e mal, bom e ruim, forças boas e puras e forças más e impuras.	Interação com clientes e a sociedade, concorrência.	Umbanda
	Espaço de plantação e colheita	Meritocracia, fazer a sua parte, recompensa espiritual.	Justificação do lucro.	Evangélica
	Porto seguro	Proteção espiritual, justiça, segurança.	Procedimentos e práticas empresariais.	Católica

Metáfora da organização mensageira
Espíritas	Então a ideia é essa: de estar levando informação e conhecimento às pessoas, porque, às vezes... se não fosse por essa empresa, às vezes, não teriam... não estariam tendo acesso a essa religião, a esse conhecimento. (Entrevistado 1) [...] a minha preocupação chama "divulgação da doutrina". E eu levo isso a sério, entendeu? [...] o povo ama, adora de paixão, é livro que não acaba mais... Graças a Deus, minha parte eu estou fazendo, com muita seriedade [...] Claro, eu não vou ficar rica, mas se eu tivesse feito essa opção eu tava vendendo imóveis, carro... não é verdade? (Entrevistada 2) É, uma missão talvez de levar, de divulgar a doutrina... acredito que sim. [...] Então, não tem porque assim a gente... pensar antes aqui em lucro, do que não primeiro nas pessoas. (Entrevistada 3)
Evangélicos	Eu para mim é um lenitivo aqui para mim, para mim pessoalmente. Mas o meu marido já visa mais a parte... finança, e ele fica dos mais... decepcionado. Mas eu já não olho... eu já vejo tudo pelos olhos da fé. (Entrevistada 5) [...] nós estamos aqui para poder tá divulgando, abençoando a vida de outras pessoas, trazendo conhecimento das coisas de Deus para outras pessoas [...] assim foi um sonho comprar a livraria e trabalhar, foi mais uma questão, quando eu comprei foi uma questão missionária mesmo entendeu? (Entrevistada 6) Em tudo o que nós vamos fazer a gente... primeiro a gente coloca Deus, em primeiro lugar né?! Não a igreja Presbiteriana, mas Deus. [...] Então eu tenho que mostrar Deus através da minha vida, através de tudo o que eu faço durante o dia, então eu acho que é isso, é o seu testemunho, você ser transparente. (Entrevistada 7) [...] sempre no pensamento eu... eu imaginava: um dia, eu vou trabalhar, eu quero trabalhar com coisas evangélicas. Que eu sabia que ia ter lucro, retorno por causa de muitas igrejas, os irmãos gostam... do CD, da Bíblia que vende muito. [...] minhas mercadorias assim, sempre eu procuro fazer um preço bom. Não fazer barato, fazer um preço bom. (Entrevistado 9) [...] não é um ramo de comércio que você pode dizer: nossa o pessoal hoje está ganhando muito dinheiro com isso! É tipo um ministério, tipo que a gente faz pela fé mesmo. (Entrevistado 10)
Católicos	Eu vejo ela realmente como uma missão, que nós já passamos por cima de toda dor [referência à morte do marido] para dar continuidade, porque o futuro foi criado com muito amor e dedicação, e então... não é simplesmente uma empresa. [...] A gente abre mão, muitas vezes de lucrar mesmo, para evangelizar [...]. (Entrevistada 11) Isso aqui é um meio e aí eu comercializo, mas com o objetivo fim de levar a palavra, a palavra de Deus. Por isso que, por trás disso, eu tenho todo um aspecto religioso para mostrar para as pessoas que eu não sou uma pessoa totalmente comercial [...]. (Entrevistado 13) Depois nós voltamos e vimos; oh nós podemos servir a Deus no mundo, trabalhando. [...] servir a Deus através do artigo religioso, evangelizar através de artigos religiosos, então a vocação nossa também é nossa missão de cristão do mundo. [...] Então nosso trabalho é a nossa missão de evangelizar [...]. (Entrevistado 14) [...] é sempre muito bom a gente estar sempre evangelizando, passando as coisas de Deus para as pessoas [...] E se eu colocar um preço muito barato eu fecho porque e aí não vai ter dinheiro para colocar... Então, eu atribuo muito ao atendimento de se relacionar com o cliente, bate papo e tal, porque hoje a pessoa humana é muito carente. (Entrevistado 17)
Umbandistas	[...] o que eu mais gosto é quando eu consigo orientar as pessoas direitinho. Porque se fosse só pelo comércio, eu não estaria aqui também não. Eu já teria dado um outro jeito que me satisfizesse. E quando eu consigo orientar as pessoas e eu saio daqui com a alma mais limpa, com um caminho pelo menos, eu me sinto feliz. [...] normalmente elas vêm em busca de orientação. Se elas não pedirem orientação eu não dou. (Entrevistado 22) Eu falo que a conversa é o carro chefe, porque são pessoas que às vezes chegam aqui desesperadas, sabe? [...] Então com simples palavras, eu acho que isso é a maior caridade que a gente pode fazer, então eu acho que a gente se torna instrumento de caridade aqui também. (Entrevistada 23)

Metáfora da organização abençoada
Espíritas	Ah! Meu Deus, se um dia eu tivesse uma livraria que nome que eu ia colocar? Aí veio esse nome que eu amei de paixão. (Entrevistada 2) Eu acho que um pouco... eu acho que foi uma coisa que aconteceu assim, numa hora preparada... Não pela gente aqui porque a gente nem assim, planejou, de repente deu a ideia... Eu acho que foi planejada pela espiritualidade. (Entrevistada 3)
Evangélicos	Mas Deus me deu a graça de saber que hoje ele [filho dela] está nos braços do Pai, e nasceu essa loja [...] Eu falo "Deus, o Senhor é dono disso aqui, eu sou sua empregada..." Tem dia que não sai [venda de produtos] nada, mas eu louvo a Deus por isso também. [...] Ele está aqui hoje! Aqui, conosco! (Entrevistada 5) [...] o que eu tenho aqui é a palavra de Deus... então a palavra de Deus tanto serve para o católico, qualquer religião. Eu acho que o foco, o nosso, o centro é a palavra de Deus, então eu tenho ela aqui de várias formas, eu tenho ela aqui para te oferecer. Você não vai sair sem [um produto]. (Entrevistada 7) Por exemplo, se eu vender aqui uma Bíblia que está fora do que se aplica, daquilo que é colocado para nós, membros da igreja vão deixar de nos procurar porque eles não vão correr um risco e não querem que outros corram?! E por detrás disso tem o próprio Deus, que vê que você está saindo da linha e comunica aos seus fiéis até em oração. (Entrevistado 8) Eu acredito... na operação de Deus na minha vida, na direção é... me dá sabedoria. Ele me dá conhecimento, me ajuda. Como se diz, me abençoa né? Porque o meu próprio freguês, para mim, é uma benção de Deus! [...] para mim é Deus que tá dirigindo aquelas pessoas para mim, para elas virem no meu estabelecimento e adquirir. (Entrevistado 9) [produto mais vendido] é a Bíblia. E sempre vai ser; que Deus tem um... Tem um certo cuidado com a palavra dele. [...] Você tem que plantar tanto no mundo físico quanto no mundo espiritual. [...] hoje a gente está dependendo da empresa, a gente sobrevive da empresa. (Entrevistado 10)
Católicos	[...] é porque a gente acredita, como uma proteção, então é isso se eu tenho aqui: o Cristo! [referência à imagem de Cristo] É porque eu acredito que ele está aqui comigo. O espírito santo está aqui, então, eu acredito que ele está aqui. Eu tenho a devoção a Nossa Senhora, é sinal que ela está aqui me protegendo, me iluminando, me capacitando para que esse dia seja tudo de bom. (Entrevistada 11) [...] Eu busquei, quando eu abri a loja, o apoio da igreja, porque, querendo ou não, a gente não vai só. É lógico que Deus vai abençoar tudo! A gente pede, eu peço. Abri [a loja] pedindo as bênçãos de Deus tal, senti que era isso mesmo, que Deus ia abençoar. Porque se eu fosse olhar o mercado, eu falava assim, não. (Entrevistado 13) Nós colocamos aqui que é Deus que dirige a loja! [...] assim a gente crê que Deus quer dirigir a loja, quer levar as coisas, então a grande facilidade é assim a gente deixar nas mãos de Deus! [...] Nós estamos tentando no dia a dia dar nossa direção da nossa vida, da nossa loja para Deus. [...] (Entrevistado 14) [...] estamos tentando cada dia melhorar um pouquinho, consertar muita coisa, sonhar, empreender e tudo porque temos nosso sonho! Mas, antes de ser o nosso sonho, é o sonho de Deus: de pessoas que através da nossa vida [...] outros podem também clarear um pouco as ideias né. [...] além de ser o nosso meio de sobrevivência, também é o caminho que nós encontramos para chegar até Deus. [...] (Entrevistado 14) Deus me deu tanta graça que... não sei explicar... e continua dando todos os dias... Isso aqui foi um presente de Deus... não é não minha mãe?... É um presente de Deus. (Entrevistada 15) Então foi pela fé. [...] por que a gente sempre buscou evangelizar. A gente participa muito de reuniões, de encontros dentro da Igreja... a gente sempre quer estar evangelizando. Então foi uma luz, Deus abriu nosso caminho, é uma porta... vamos aproveitar a oportunidade. (Entrevista 16 - esposa)
Umbandistas	Senhor, abençoa a minha mercadoria! Abençoa a todos que entram na minha porta! Que sejam bem-vindos. Que aqui vai ter é a unção do Espírito Santo, eu quero a minha casa... Isso é sabedoria do bom vendedor, do dono de loja! [...] Porque é cheinho, mas eu falo muito de Deus... [...] Porque sempre a gente tem que ensinar as pessoas. [...] muitos vêm buscar uma luz... [...] E aí eu estou aqui pronta para... para ajudar, dar conselho, mostrar a palavra, suplicar a confiança em Deus! (Entrevistada 20)

Metáfora da organização fraterna
Espíritas	É, aqui na realidade se transforma [...] num verdadeiro atendimento fraterno, no qual a gente está até nessa casa do lado, nós temos um quintal muito bom... [...] a livraria não se resume num ponto comercial. Sendo livraria espírita, acima de tudo há o atendimento fraternal... [...] Nós temos aqui, dentro da livraria, três vezes por semana, [...] o passe [...] podendo indicar uma obra que possa facilitar... ou diminuir aquele sofrimento. (Entrevistada 2) [...] Aqui eu acho que principalmente o que envolve é o... o que não é material, porque a gente assim, eu costumo falar que eu vendo livros mas eu vendo é remédios. [...] Então isso aqui é o que mais acontece aqui, é mais ajuda, é mais espiritual do que material. (Entrevistada 3)
Evangélicos	[...] então hoje a gente entendeu que a livraria é quase um local de convivência onde as pessoas vão, sentam e não têm essa pressa. [...] A gente procura ter um certo relacionamento com os clientes [...] eu gosto desse contato, de conversar e de eles virem aqui e discutirem termos e assuntos da bíblia e aqui vira um centro de discussão, um simpósio... (Entrevistado 4) Na verdade o que eu vendo aqui é sagrado. [...] tem um lado comércio aqui e um lado espiritual [...] na verdade a gente trabalha aqui muito com fé. Às vezes, a pessoa vem aqui buscando um produto e, às vezes, precisa de uma palavra. Então a gente não só vende produto como a gente doa a gente mesmo, doa palavras, conselhos da gente... às vezes, a pessoa quer simplesmente desabafar e, por ser uma loja religiosa, ela pensa que aqui é o lugar. (Entrevistado 10)
Católicos	Eu gosto de estar lá [na livraria], se uma pessoa quer uma coisa ou não ou até mesmo uma palavra. Eu acho que isso é importante, porque há amizade, não é só o comércio, existe também a amizade porque acaba que são os padres, as pessoas das paróquias, então cobra a presença da gente, então esse lado afetivo também é importante. (Entrevistada 11) A gente não fala: "Não, nós estamos fechando". Porque aí já é uma forma de você não acolher bem a pessoa. [...] Você vai lá, abre a porta para o cliente e fecha a porta. Então são detalhes que a gente vem trabalhando em termos de serviços, que tem também muito daquela questão da acolhida, principalmente por ser uma questão de um ambiente religioso. [...] Então assim, elas veem a gente como uma pessoa que pode dar algum caminho... para o momento que ela está passando... tem pessoas que começam até a chorar aqui... então a gente abriu também um espaço, é um café. Aqui também não tinha. [...] Então a gente pegou e começou a voltar o espaço para eventos católicos, então a gente tá usando o espaço para evangelização, além de vender o produto [...]. (Entrevistado 13) [a pessoa, o cliente] vem e vai conversar e tentar assim juntar as duas coisas: a pessoa estar bem aqui na loja, mas estar bem com ela mesma. [...] Então hoje a gente se coloca no lugar da pessoa. Porque hoje o mundo tão atribulado, sofrimento, a dificuldade que nós passamos passar uma música pode ser uma benção mesmo, para o dia nosso. Então a gente prega muito isso, então por isso que eu falei nós aqui não estamos nem ouvindo qual música, mas o cliente que entrou ele sabe direitinho, às vezes até decorou, depois vem aqui comprar. (Entrevistado 14)

Metáfora da organização promotora de pessoas melhores
Espíritas	Então... além disso, vejo a importância da empresa, de estar divulgando a doutrina através dela, divulgando a doutrina espírita e sabendo que esses ensinamentos vão fazer as pessoas se tornarem pessoas melhores. (Entrevistado 1) [...] a maior caridade que a gente pode fazer em relação ao livro espírita é sua própria divulgação. A doutrina espírita, aliás, é sua própria divulgação... Enquanto a gente pelo menos incentivar naqueles que já tão buscando um livro como fonte de ferramenta de progresso... de pacificação do sentimento, de compreensão da vida num alcance maior. (Entrevistada 2) E a doutrina espírita é uma doutrina muito rica em... em conhecimento, consolação para quem está sofrendo [...] dá orientação de vida... tanto para quem está sofrendo, como para quem assim pensa em algo além, na vida, que quer alguma coisa a mais, uma essência a mais na vida. (Entrevistada 3)
Evangélicos	[...] meu negócio, onde posso divulgar um pouco mais o que eu acredito. Eu acredito que nós podemos tornar as pessoas um pouco melhores também. (Entrevistado 4) [...] eu me realizo vendo a empresa crescer, vendo as pessoas se sentirem bem com o local, as pessoas entram aqui e falam: nossa que lugar gostoso, não me dá vontade de ir embora, me dá vontade de ficar, então assim, é agradável isso, vê pessoas crescendo aqui dentro, os meninos que trabalham crescendo aqui dentro, isso é muito gostoso para mim. [...] (Entrevistada 6)
Católicos	Tem gente que troca o horário de almoço e vem para cá, porque encontrou aqui uma espiritualidade. A gente quer levar uma mensagem para as pessoas, em termos da oração do que a igreja está colocando. [...] Nós estamos vendendo um produto que, num contexto, nem é comercial, nem é o produto em si, eu estou oferecendo para a pessoa um instrumento que vai auxiliá-la na devoção dela. [...] (Entrevistado 13) Eu... eu até falo bastante que o produto que a gente vende aqui ele tem um valor simbólico, um valor de proteção, um valor de fé... que é diferente. [...] Igual, os nossos livros, a gente acredita realmente que os nossos livros podem ser uma ajuda para pessoa. [...] Eu acredito, é o nosso conceito, até que a gente tem uma frasezinha que a gente usa também, é... (Entrevista 16 - proprietário) Dê presentes que evangelizam. (Entrevista 16 - esposa) É, presentes que falem... (Entrevista 16 - proprietário)

Metáfora da organização marcada

Umbandistas

[...] então eu acredito nisso que tudo que a gente faz de ruim, a gente vai passar por aquilo mais cedo ou mais tarde, porque a gente está aqui [no mundo] para evoluir. [...] É muito colocada à prova a minha consciência, e foi a minha mãe que me criou desse jeito, sempre assim... ensinando: não faça isso, não prejudique ninguém, senão você vai ser prejudicada. (Entrevistada 18)
[...] Agora, quando a pessoa vem me pedir uma orientação, com um filho em dificuldades, sempre eu ponho a pessoa a colocar a Deus... [...] é um loja assim, é religiosa. Por quê? Eu adoro religião. [...] Eu amo ir na igreja evangélica para louvar a Deus, para falar de Deus é comigo! Se você vier aqui com... umas coisa que num é de Deus, eu falo que eu não sujo as minhas mãos. (Entrevista 20)
Então todo mundo tem preconceito que vela vermelha é para macumba, vela vermelha é para fazer o mal, vela preta é para matar. Não, isso não existe. Isso é a cabeça pequena da pessoa. [...] Que a gente tá precisando... Assim... mais compreensão das pessoas porque é... um produto assim... é marcado viu? É assim... que as pessoas têm muito preconceito... Eu mesmo, muita gente olha para mim e fala assim:

Umbandistas

"Nossa, é macumbeira". [...] Eu estou aqui para vender, não para dar opinião daquela mercadoria que a pessoa veio comprar. Então saiu, não pergunto, não quero saber. [...] (Entrevistada 21).
Agora, as decepções é quando você vê que as pessoas estão fazendo bobagens e você vê que elas estão fazendo bobagens espiritualmente e não adianta falar. Às vezes, você tenta falar, mas não resolve. Cada um sabe o que faz da sua vida. Então a minha obrigação é vender, se a pessoa vai fazer bobagem, hoje ou amanhã, não tenho nada a ver com isso. (Entrevistado 22)
E até hoje... eu sou contra o que eu... o que eu vendo [...] Eu... não dou conta de sair disso [a loja]... [...] Achei uma beleza ficar livre disso [da loja]... [...] Eu não sei se foi por Deus: comprei a loja de novo... E eu ponho na mão de Deus... [o fato de comercializar produtos da umbanda]. [...] Agora eu não sei se Ele vai me perdoar, né? [...] eu acho que não adianta eu ter uma religião e vender imagem, vender artigos de quimbanda, vender artigos de umbanda... Quem eu sou, que tem uma religião e faço isso? Eu já sô muito imperfeita... mas uma imperfeição dessa, que eu acho grave [...] (Entrevistada 24)
[...] olha, o primeiro passo que eu avalio muito é em relação à discriminação. Existe muito preconceito! O pessoal, apesar de vir gente de todas as camadas [sociais], de todos os níveis, tanto de educação como de financeiro, essas pessoas ainda entram meio... um pouco receosas. Eu ponho essa cadeira aí, no cantinho, para a pessoa ficar se quiser, porque ela não gosta de ser vista, é o comportamento que ela adota de vir aqui, devido ao pensamento das outras pessoas ao vê-la aqui dentro. (Entrevistado 25)

Metáfora da organização fluxo de energia

Umbandistas

[...] tem um que é um joguinho de pimentas de vidros que eu acho bonitinho, é como se fosse um talismã, se vem uma energia negativa, ela pode quebrar com essa energia. Porque eu acredito mais na parte do esoterismo do que da umbanda, porque ele envolve isso energia, a energia negativa e positiva. Já na umbanda a gente depende das pessoas para poder estar nela. (Entrevistada 18)
Às vezes, a pessoa fala assim... graças a Deus! Eu acho que aqui não é só uma loja [...] Eu me considero assim, porque tem muita gente aqui que você canaliza muitas energias, pessoas que estão com muitos problemas e, muitas vezes, [...] você acaba se doando para a pessoa. E você vai viver a vida dela, alguns momentos. Assim, a gente não vende só artigos religiosos, a gente vende também aconselhamento. [...] é o que a gente acaba sendo... É uma troca. É o que eu estava falando, às vezes tem energias boas e outras ruins. E na realidade é uma troca de energia [...]. (Entrevistada 23)

Metáfora da organização espaço de plantação e colheita

Evangélicos

E é uma questão sobrenatural, é onde entra a fé: você crê em Deus e ele vai cuidar de você [...] Então o meu negócio em si, eu conduzo ele cem por cento legalizado, tudo que eu vendo tem nota fiscal, seja trinta centavos eu anoto, porque eu acredito muito na lei da semeadura, é igual Jesus falou, se você plantar, você vai colher! Então eu planto o bem para colher o bem. (Entrevistado 4)
[...] ele [o pastor da igreja] incentiva a gente na leitura, você aprender com outras pessoas, você sair do seu mundo, você ver, ganhar e ele fala: "você não pode ficar, você tem que sair para fora, ganhar a cidade [referência à expansão da empresa], sair pela cidade". (Entrevistada 7)
O que Jesus nos ensinou foi que a verdadeira prosperidade é aquela que você se relaciona com Deus [...] a gente pede uma orientação, e Ele fala! Ele usa alguém para te falar, queira vocês ou não [...] Primeiro a prosperidade é a nossa relação com Deus. Jesus nos disse: primeiro segue as coisas do reino de Deus, e as demais coisas serão acrescentadas. [...] E ninguém quer que a gente seja miserável para entrar no reino dos céus [...]. (Entrevistado 8)
Sempre eu quis entrar nesta área cristã aí de produtos. [...] a pessoa crescer ou ela cair, eu acho que muitas vezes é pelo esforço dela e Deus abençoando! E, muitas vezes, também é pelas falhas dela e Deus está cobrando. Tanto a queda quanto a elevação [...] É claro que depende da pessoa também ter coragem... enfrentar as dificuldades. Eu acho que é tudo já é uma força espiritual. (Entrevistado 9)

Metáfora da organização porto seguro

Católicos

Eu falo para mim... a religião hoje é o meu sustento. Eu sem a religião... eu acho que eu não seria nada.[...] Não, financeiro não, porque eu falo que... os meus gastos hoje não vêm dessa loja. Eu sou mais... honesto para administrar, é... eu sou mais humano para administrar, e foi a partir dessa vivência religiosa mesmo. [...] Ah, a empresa para mim é... o meu... o meu porto seguro sabe, aqui na empresa, a minha empresa é meu porto seguro. Aqui eu é... a gente passa mais tempo aqui do que em qualquer outro lugar. Então ela para mim é o meu porto seguro, então... eu tive que fazer ela bem... bem certinha, bem arrumadinha, bem arranjadinha para não... num ter problema. (Entrevistado 12)

[1] Fonte: Os autores.

Brasil

Brasil

O “sagrado instituído” e os “deuses sonhados”: organização missionária e outras metáforas organizacionais

The “instituted sacred” and the “dreamed gods”: missionary organization and other organization metaphors

Resumo