E01 |
O Carnaval promovido pelas famílias tradicionais de Olinda é apresentado como o autêntico Carnaval olindense |
Diz respeito tanto ao reconhecimento da expertise de famílias olindenses envolvidas com o fazer carnavalesco há várias gerações quanto ao reconhecimento da participação de outros agentes na organização do festejo como uma ameaça. |
E02 |
Facções sociais trabalham no resgate das tradições do Carnaval olindense |
Revela-se defesa do fantasiar-se, do resgate das velhas marchas, das orquestras de pau e corda, do humor espontâneo, da integração sem barreira entre os brincantes, alegando a existência de um processo de profissionalização e conversão do festejo em espetáculo voltado para o turismo, o que comprometeria a essência do Carnaval olindense. |
E03 |
Turistas e forasteiros ameaçam a autenticidade do Carnaval olindense |
Manifesta-se na alegação de que o aumento significativo de turistas e forasteiros é responsável pelo caráter de espetáculo desprovido de sentido que o Carnaval de Olinda vem adquirindo ao longo dos anos, bem como na crença de que esses visitantes usurpam as manifestações culturais sem trazer qualquer contribuição para a tradição. |
E04 |
Ritmos não pernambucanos são desprestigiados no Carnaval de Olinda |
Revela-se na exaltação do frevo, do maracatu e das batucadas como ritmos genuínos do Carnaval olindense; na menção a medidas que coíbem a presença dos ritmos não pernambucanos; na associação desses ritmos à contaminação do festejo etc. |
E05 |
O som eletrônico de particulares compromete o funcionamento regular do Carnaval de rua |
Evidencia-se nas menções às medidas disciplinares para conter o excesso de decibéis e na defesa do som das orquestras em detrimento do som eletrônico. |
E06 |
Moradores do Sítio Histórico de Olinda participam ativamente da organização do Carnaval olindense |
Manifesta-se no reconhecimento do protagonismo do morador no processo criativo; na reivindicação pelos moradores do papel decisório na concepção do festejo; e no reconhecimento do papel de suporte dado pelo Poder Público à execução do evento efetivada pelos moradores. |
E07 |
A cultura pop e acontecimentos midiáticos são referências criativas para a folia |
Revela-se na menção a personagens famosas da teledramaturgia (e.g.: Viúva Porcina); fatos inusitados no jornalismo (e.g.: “grávida de Taubaté”); super-heróis e personagens do universo geek (e.g.: Meninas Superpoderosas, elementos da saga Star Wars); homenagens a artistas falecidos (e.g.: Amy Winehouse, David Bowie) etc. |
E08 |
Artistas e foliões promovem sátira política durante a folia |
Evidencia-se tanto na menção ao tema de desfiles em agremiações que tradicionalmente promovem a sátira quanto na descrição de fantasias ou performances inspiradas em escândalos políticos, rixas partidárias, promessas eleitorais, caricaturas de candidatos e representantes eleitos etc. |
E09 |
Agremiações carnavalescas de Olinda precisam moldar-se a um padrão estabelecido como tradicional para sobreviver |
Identifica-se no rechaço às agremiações de menor porte pelas de maior, no estabelecimento de critérios de elegibilidade para subvenções do município (geralmente com base na performance das agremiações tradicionais) e na exigência do respeito aos roteiros e horários predefinidos. |
E10 |
Agremiações carnavalescas de Olinda segregam tipos de foliões |
Ocorre na descrição de critérios para se integrar ao desfile oficial de determinadas agremiações, especificamente em relação a orientação sexual (blocos que só admitem a inscrição de heterossexuais) e gênero (blocos que só admitem a participação de homens). |
E11 |
Camarotes representam uma ameaça ao Carnaval de rua |
Manifesta-se nas menções aos conflitos entre o Poder Público e a sociedade, em que esta última reivindica a proibição de camarotes no Sítio Histórico, alegando que o Carnaval de Olinda é de rua e que a instalação de camarotes vai de encontro a isso. |
E12 |
O Carnaval de Olinda acolhe toda a diversidade de foliões |
Ocorre na defesa da ausência de barreiras para os brincantes se integrarem ao festejo, propagando um festejo que não impõe limitações de ordem financeira, geográfica, etária, de gênero, etc.; na comparação com o Carnaval de outros municípios, marcados pela normatização; bem como na rejeição a passarelas, comissões julgadoras, salões e demais elementos que promovam algum tipo de segregação. |
E13 |
O Carnaval de Olinda é marcado pela espontaneidade |
Evidencia-se na menção à criação de blocos em meio a brincadeiras de rua, mudanças de horários e percursos de agremiações sem planejamento, aos grupos que saem às ruas realizando batuques e arrastam foliões etc. |
E14 |
Agremiações e personagens folclóricos do Carnaval de Olinda são ordenados hierarquicamente |
Revela-se no reconhecimento de um grupo seleto de agremiações (seja por longevidade, seja por número e perfil de foliões), que obtêm maior espaço na imprensa, maior volume de subvenções, maior interesse em parcerias por parte de marcas anunciantes etc. |
E15 |
O Carnaval de Olinda é marcado pelo uso intensivo do espaço público |
Ocorre nas alusões ao Carnaval de Olinda como um “carnaval de rua”, desprovido de passarelas ou salões; bem como nas ações para garantir que as ruas estejam livres de quaisquer obstáculos que impeçam o fluxo de foliões e agremiações. |
E16 |
O Carnaval congrega a vida artística olindense |
Identifica-se na menção aos artistas plásticos que elaboram alegorias e estandartes, bonequeiros envolvidos na confecção de bonecos gigantes, músicos que atuam como compositores ou em orquestras etc. |
E17 |
Agremiações promovem causas durante a folia |
Ocorre tanto nas agremiações que são criadas em torno de determinada causa (e.g.: preservação do Sítio Histórico, defesa da democracia) quanto naquelas que apoiam determinadas causas num desfile ou período (e.g.: prevenção de HIV, combate à violência doméstica). |
E18 |
Em Olinda, atividades religiosas e carnavalescas misturam-se |
Remete à menção a cerimônias religiosas que visam preparar o espírito da cidade para a folia, bem como agremiações que desfilam apresentando elementos religiosos (sejam oriundos de cultos cristãos ou de matriz africana) em suas alegorias ou performances. |
E19 |
O Carnaval de Olinda é marcado pela irreverência |
Manifesta-se na recorrente menção ao apelo cômico na elaboração de fantasias; na apropriação de figuras consagradas em fantasias ou performances satíricas; na apropriação irrestrita do espaço público etc. |
E20 |
Categorias ocupacionais e instituições formam agremiações durante o Carnaval |
É encontrado na menção aos blocos criados por esses profissionais ou pelas respectivas instituições a que pertencem (e.g.: Vassourão de Olinda, bloco formado por profissionais de limpeza urbana do município; Com Ciência na Cabeça, bloco formado por cientistas). |
E21 |
Carnavalescos e artistas formam associações para se fortalecer na organização do evento |
Ocorre nas menções à articulação de músicos, artistas plásticos ou dirigentes de agremiações no sentido de, junto ao Poder Público, obter melhores condições de trabalho, negociar percentuais de subvenções, prospectar patrocinadores, discutir o formato do festejo etc. |
E22 |
O Carnaval de Olinda segrega foliões genéricos |
Revela-se tanto na menção às casas patrocinadas, em que os patrocinadores selecionam artistas e influenciadores para participar, como os camarotes para os quais os participantes pagam um valor, geralmente restritivo, e têm acesso em um ou mais dias do festejo. |
E23 |
Bonecos gigantes exaltam personalidades no Carnaval de Olinda |
Evidencia-se na menção aos novos integrantes do tradicional desfile de bonecos gigantes, que ocorre às terças-feiras, bem como as iniciativas de foliões em homenagear personalidades dedicando-lhe um boneco gigante. |
E24 |
Carnavalescos desenvolvem mecanismos de arrecadação para financiar os desfiles |
Ocorre revelando as ações empreendidas pelos dirigentes para suprir a insuficiência das subvenções concedidas pela municipalidade, bem como para as demandas advindas do aumento de porte das agremiações. |
E25 |
O Carnaval de Olinda possui uma duração ampliada |
Manifesta-se tanto no reconhecimento da existência de um calendário oficial planejado pelo Poder Público mais amplo que o tríduo momesco, contemplando as prévias como eventos integrantes do ciclo carnavalesco, quanto na legitimidade da ação de brincantes e/ou agremiações que extrapolam esse calendário oficial, saindo às ruas cada vez mais cedo e se retirando cada vez mais tarde. |
E26 |
Agremiações mudam suas rotinas para se beneficiarem de políticas públicas e investimentos privados |
Revela-se na menção a situações em que agremiações quebram protocolos (tais como desfilar exclusivamente no Sítio Histórico ou em data fixa) para receber determinada premiação ou figurar em evento privado. |
Funções enunciativas
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Cód.
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Função
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Descrição
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F01 |
Legitimar um modelo de autenticidade do festejo |
Evidencia-se nos enunciados que descredenciam manifestações advindas de grupos não dominantes; naqueles que reivindicam a chancela de famílias tradicionais olindenses nas agremiações; naqueles que determinam perfis de foliões, ritmos, práticas e espaços legítimos de folia, bem como os que questionam esses status. |
F02 |
Atestar participação popular na organização do festejo |
Revela-se nos enunciados que reconhecem o papel criativo da população, bem como atribui-lhe poder de negociar ou mesmo deliberar. |
F03 |
Evidenciar aspectos da vida cotidiana que se mesclam à folia |
Está presente nos enunciados que ressaltam como a política, as demandas sociais, os aspectos religiosos, as referências midiáticas etc. fazem-se presentes nos processos criativos e organizativos do Carnaval de Olinda. |
F04 |
Descrever processos organizativos envolvidos na concepção do evento |
Revela-se nos enunciados de cunho descritivo que apontam mecanismos de organização, negociação e normatização realizados por carnavalescos, dirigentes de agremiações e foliões. |
F05 |
Delinear características organizativas do evento |
Faz-se presente nos enunciados que descrevem traços distintivos dessa forma de organizar (irreverência, improviso, espontaneidade), evocam aspectos hierárquicos e normativos, bem como revelam a relação dos agentes com o espaço público e a vida cultural da cidade. |
Regras de formação
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Cód.
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Regra
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Descrição
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R1 |
Demarcação de fronteiras |
Aponta a existência de critérios de pertencimento, pelos quais foliões são habilitados ou impedidos de se integrar em determinadas manifestações carnavalescas. |
R2 |
Configuração do festejo |
Revela a premissa de que o Carnaval de Olinda tem sua feição marcada pela participação popular, pela preservação de tradições ao longo de décadas e pela imbricação com a vida artística e religiosa da cidade. |
R3 |
Participação popular |
Revela o engajamento da população nos processos de decisão e execução do festejo, reconhecendo esse processo participativo como uma característica do Carnaval de Olinda preservada ao longo das décadas. |