Myrtaceae na Bacia do Rio Caveiras: Características Ecológicas e Usos Não Madeireiros

Gomes, Juliano Pereira; Dacoregio, Helen Michels; Silva, Karina Montibeller da; Rosa, Luiara Heerdt da; Bortoluzzi, Roseli Lopes da Costa

doi:10.1590/2179-8087.011115

Acessibilidade / Reportar erro

Brasil

Español English

sumário « anterior atual seguinte »

Sumário

Artigo Original • Floresta Ambient. 24 • 2017 • https://doi.org/10.1590/2179-8087.011115 copiar

Myrtaceae na Bacia do Rio Caveiras: Características Ecológicas e Usos Não Madeireiros

Myrtaceae in the Caveiras River Basin: Ecological Characteristics and Non-timber Uses

Autoria SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

RESUMO

Objetivou-se descrever o padrão florístico-estrutural, as características ecológicas e os potenciais das Myrtaceae na bacia hidrográfica do Rio Caveiras. As comunidades de Myrtaceae estudadas localizam-se no Planalto Sul Catarinense, Lages, São José do Cerrito e Urupema. Foram instaladas quatro blocos por município, totalizando 30 mil m² de área amostral, nos quais todos os espécimes de Myrtaceae com diâmetro à altura do peito (DAP) ≥ 5 cm foram amostrados. A estrutura da comunidade de Myrtaceae foi avaliada pelos descritores fitossociológicos e a suficiência amostral foi verificada utilizando-se o método de rarefação. As abordagens ecológicas e indicações de uso não madeireiro basearam-se em bibliografia especializada e base de dados científicos. Foram amostrados 1.480 exemplares de Myrtaceae pertencentes a 21 espécies e 11 gêneros. As espécies mais abundantes foram Myrceugenia euosma, Siphoneugena reitzii e Myrcia palustris, as quais representaram mais de 50% da estrutura da comunidade. Quanto à classificação ecológica, destacou-se o grupo das secundárias iniciais (57%). As espécies amostradas são indicadas para restauração de áreas alteradas, usos ornamentais (100%) e fitoterápicos (60%). Apesar da representatividade e potencialidades das Myrtaceae, ainda são necessárias pesquisas para embasar a conservação via plano de manejo.

Palavras-chave:
classificação ecológica; restauração de áreas alteradas; uso fitoterápico

Tabela 1 Características gerais de três municípios abrangidos pela bacia hidrográfica do Rio Caveiras, Planalto Sul Catarinense.

Características	Municípios
Características	Lages	São José do Cerrito	Urupema
Coordenadas	27°51’18”S 50°09’06”W	27°43’25”S 50°39’40”W	27°55’09”S 49°51’57”W
Altitude (m)	1018	798	1502
Área (ha)	123	65	1.367
Tipo de solo	Neossolo Litólico Húmico; Cambissolo Húmico	Nitossolo Vermelho	Neossolo Litólico; Cambissolo Húmico

Tabela 2 Componentes arbóreo-arbustivos das Myrtaceae presentes em remanescentes de Floresta Ombrófila Mista na bacia hidrográfica do Rio Caveiras, Planalto Sul Catarinense, com respectivos descritores fitossociológicos: DA – densidade absoluta; DoA – dominância absoluta; FA – frequência absoluta.

Espécies	DA	DoA	FA	Fenofases
Espécies	DA	DoA	FA	Floração	Frutificação
Myrceugenia euosma (O. Berg) D. Legrand	287	9,413	42	Set-Fev^f f Legrand & Klein (1970); ^-ⁱ i Flora Digital do Rio Grande do Sul (2015);	Jul-Outⁱ i Flora Digital do Rio Grande do Sul (2015); ^,^k k Sobral (2003). /Fev^d d Observação pessoal;
Siphoneugena reitzii D. Legrand	244	4,375	42	Ago^k k Sobral (2003). /Nov-Maio^a a Legrand & Klein (1977); ^,ⁱ i Flora Digital do Rio Grande do Sul (2015); ^,^k k Sobral (2003).	Out-Dez^a a Legrand & Klein (1977); ^,ⁱ i Flora Digital do Rio Grande do Sul (2015); ^,^k k Sobral (2003).
Myrcia palustris DC.	229	3,313	67	Out-Mar^g g Legrand & Klein (1967); ^,ⁱ i Flora Digital do Rio Grande do Sul (2015); ^,^k k Sobral (2003).	Jan-Out^g g Legrand & Klein (1967); ^,ⁱ i Flora Digital do Rio Grande do Sul (2015); ^,^k k Sobral (2003).
Eugenia pluriflora DC.	161	1,128	50	Out-Mar^b b Legrand & Klein (1969a); ^,ⁱ i Flora Digital do Rio Grande do Sul (2015); ^,^k k Sobral (2003).	Out-Jan^b b Legrand & Klein (1969a); ^,ⁱ i Flora Digital do Rio Grande do Sul (2015); ^,^k k Sobral (2003).
Myrcia guianensis (Aubl.) DC.	130	2,632	33	Set-Jan^h h Legrand & Klein (1969b); ^,^k k Sobral (2003).	Dez-Fev^h h Legrand & Klein (1969b); ^,^k k Sobral (2003). /Jul^k k Sobral (2003). /Ago^k k Sobral (2003).
Myrcia oblongata DC.	122	0,716	33	Nov-Fev^h h Legrand & Klein (1969b); ^,ⁱ i Flora Digital do Rio Grande do Sul (2015); ^,^k k Sobral (2003).	Fev^h h Legrand & Klein (1969b); ^,ⁱ i Flora Digital do Rio Grande do Sul (2015); /Abr^k k Sobral (2003). /Junⁱ i Flora Digital do Rio Grande do Sul (2015); /Ago^d d Observação pessoal;
Eugenia pyriformis Cambess.	65	0,981	58	Nov-Fev^b b Legrand & Klein (1969a); ^,^k k Sobral (2003).	Jan^k k Sobral (2003). -Fev^b b Legrand & Klein (1969a); /Abrⁱ i Flora Digital do Rio Grande do Sul (2015);
Calyptranthes concinna DC.	57	0,461	67	Ago-Fev^e e Legrand & Klein (1971); ^,ⁱ i Flora Digital do Rio Grande do Sul (2015); ^,^k k Sobral (2003).	Out-Dez^e e Legrand & Klein (1971); /Julⁱ i Flora Digital do Rio Grande do Sul (2015); -Set^k k Sobral (2003).
Myrcianthes gigantea (Legr.) Legrand	44	0,733	50	Out-Dez^a a Legrand & Klein (1977); ^,^k k Sobral (2003).	Jan^a/Fevⁱ i Flora Digital do Rio Grande do Sul (2015); /Set^k k Sobral (2003). /Nov^k k Sobral (2003).
Campomanesia xanthocarpa (Mart.) O. Berg	33	1,068	33	Set-Nov^a a Legrand & Klein (1977); ^,^k k Sobral (2003).	Set-Jan^a a Legrand & Klein (1977); ^,ⁱ i Flora Digital do Rio Grande do Sul (2015); ^,^k k Sobral (2003). /Maioⁱ i Flora Digital do Rio Grande do Sul (2015);
Myrcia laruotteana Cambess.	23	0,124	58	Nov-Jan^h h Legrand & Klein (1969b);	Fev^d d Observação pessoal;
Acca sellowiana (O. Berg) Burret	22	0,164	58	Out-Jan^a a Legrand & Klein (1977); ^,ⁱ i Flora Digital do Rio Grande do Sul (2015); ^,^k k Sobral (2003).	Fev^k k Sobral (2003). -Abr^a a Legrand & Klein (1977); ^-ⁱ i Flora Digital do Rio Grande do Sul (2015);
Eugenia uruguayensis Cambess.	21	0,225	33	Ago-Mar^b b Legrand & Klein (1969a); ^,ⁱ i Flora Digital do Rio Grande do Sul (2015); ^,^k k Sobral (2003).	Abr-Jun^k k Sobral (2003). / Set-Dez^b b Legrand & Klein (1969a); ^,ⁱ i Flora Digital do Rio Grande do Sul (2015); ^,^k k Sobral (2003).
Blepharocalyx salicifolius Legrand	19	0,584	33	Out-Fev^c c Legrand & Klein (1978); ^,^k k Sobral (2003).	Nov-Maio^c c Legrand & Klein (1978); ^,ⁱ i Flora Digital do Rio Grande do Sul (2015); ^,^k k Sobral (2003).
Myrrhinium atropurpureum Schott	7	0,025	17	Mar^k k Sobral (2003). /Ago-Nov^a a Legrand & Klein (1977); ^-ⁱ i Flora Digital do Rio Grande do Sul (2015);	Ago-Maio^a a Legrand & Klein (1977); ^,ⁱ i Flora Digital do Rio Grande do Sul (2015); ^,^k k Sobral (2003).
Myrceugenia myrcioides (Cambess.) O. Berg	4	0,091	17	Out^k k Sobral (2003). /Dez-Març^f f Legrand & Klein (1970); ^,^k k Sobral (2003). / Jun^k k Sobral (2003).	Dez^k k Sobral (2003).
Myrceugenia oxysepala (Burret) D. Legrand e Kausel	3	0,084	17	Fev-Jul^f f Legrand & Klein (1970); ^,^k k Sobral (2003).	Jul^k k Sobral (2003). /Out-Nov^d d Observação pessoal; ^,^k k Sobral (2003).
Myrciaria delicatula (DC.) Berg	3	0,059	17	Dez-Abr^c c Legrand & Klein (1978); ^,^k k Sobral (2003). / Jun^k k Sobral (2003). /Set^k k Sobral (2003).	Nov^c c Legrand & Klein (1978); -Dez^k k Sobral (2003). /Jun-Set^j j Romagnolo & Souza (2004); /Mar^k k Sobral (2003).
Myrcia hatschbachii D. Legrand	3	0,044	8	Dez^k k Sobral (2003). -Jan^h h Legrand & Klein (1969b);	Fevⁱ i Flora Digital do Rio Grande do Sul (2015); ^,^k k Sobral (2003).
Myrcia hartwegiana (O. Berg) Kiaersk	2	0,004	8	Mar^k k Sobral (2003). /Ago^k k Sobral (2003). /Nov-Abr^g g Legrand & Klein (1967); ^,^k k Sobral (2003).	Jun^k k Sobral (2003). /Out-Dez^g g Legrand & Klein (1967);
Myrceugenia glaucescens (Cambess.)	1	0,003	8	Out-Fev^f f Legrand & Klein (1970); ^,^k k Sobral (2003).	Fevⁱ i Flora Digital do Rio Grande do Sul (2015); ^,^k k Sobral (2003).

Tabela 3 Uso não madeireiro e grupo ecológico das espécies de Myrtaceae amostradas em três remanescentes de Floresta Ombrófila Mista pertencentes à bacia hidrográfica do Rio Caveiras, Planalto Sul Catarinense. GE = Grupo ecológico; AU = Arborização urbana; RAA = Recomposição de áreas alteradas; FR = Frutífero; FITO = Fitoterápico; Pi = Pioneiras; Si = Secundárias iniciais; St = Secundárias tardias. A presença de X sem numeração corresponde a observação dos autores.

Espécies		Uso não madeireiro
Espécies	GE	AU	RAA	FR	FITO
Acca sellowiana (O. Berg) Burret	Si	X³ 3 Legrand & Klein (1977); ^,⁴ 4 Lorenzi (1998a);	X³ 3 Legrand & Klein (1977); ^,⁴ 4 Lorenzi (1998a);	X¹ 1 Ducroquet et al. (2000); ^,⁴ 4 Lorenzi (1998a); ^,³ 3 Legrand & Klein (1977);	X² 2 Souza et al. (2011); ^,⁵ 5 Rio Grande do Sul (2001);
Blepharocalyx salicifolius Legrand	Si	X⁶ 6 Lorenzi (1998b); ^,⁷ 7 Marchiori & Sobral (1997);	X⁶ 6 Lorenzi (1998b);		X² 2 Souza et al. (2011); ^,⁵ 5 Rio Grande do Sul (2001);
Calyptranthes concinna DC.	Si	X	X⁶ 6 Lorenzi (1998b);		X² 2 Souza et al. (2011);
Campomanesia xanthocarpa (Mart.) O. Berg	Si	X⁴ 4 Lorenzi (1998a);	X⁴ 4 Lorenzi (1998a);	X⁶ 6 Lorenzi (1998b); ^,³ 3 Legrand & Klein (1977); ^,⁷ 7 Marchiori & Sobral (1997);	X² 2 Souza et al. (2011); ^,⁵ 5 Rio Grande do Sul (2001);
Eugenia pluriflora DC.	Si	X⁸ 8 Lorenzi (2009);	X⁸ 8 Lorenzi (2009);		X² 2 Souza et al. (2011);
Eugenia pyriformis Cambess.	Si	X⁴ 4 Lorenzi (1998a); ^,⁷ 7 Marchiori & Sobral (1997);	X⁴ 4 Lorenzi (1998a); ^,⁷ 7 Marchiori & Sobral (1997);	X⁴ 4 Lorenzi (1998a); ^,⁷ 7 Marchiori & Sobral (1997); ^,⁹ 9 Legrand & Klein (1969a);	X⁵ 5 Rio Grande do Sul (2001);
Eugenia uruguayensis Cambess.	St	X	X
Myrcia guianensis (Aubl.) DC.	Si	X	X
Myrcia hatschbachii D. Legrand	St	X	X
Myrcia hartwegiana (O. Berg) Kiaersk	Si	X	X
Myrcia laruotteana Cambess.	St	X	X
Myrcia oblongata DC.	Pi	X	X
Myrcia palustris DC.	Si	X⁷ 7 Marchiori & Sobral (1997);	X⁷ 7 Marchiori & Sobral (1997);
Myrceugenia euosma (O. Berg) D. Legrand	Si	X⁷ 7 Marchiori & Sobral (1997);	X⁶ 6 Lorenzi (1998b);		X² 2 Souza et al. (2011);
Myrceugenia glaucescens (Cambess.)	St	X	X		X² 2 Souza et al. (2011);
Myrceugenia myrcioides (Cambess.) O. Berg	Si	X	X		X² 2 Souza et al. (2011);
Myrceugenia oxysepala (Burret) D. Legrand e Kausel	St	X	X		X² 2 Souza et al. (2011);
Myrcianthes gigantea (Legr.) Legrand	St	X	X
Myrciaria delicatula (DC.) Berg	St	X¹⁰ 10 Legrand & Klein (1978).	X	X⁸ 8 Lorenzi (2009); ^,¹⁰ 10 Legrand & Klein (1978).
Siphoneugena reitzii D. Legrand	Si	X	X		X² 2 Souza et al. (2011);
Myrrhinium atropurpureum Schott	St	X	X		X² 2 Souza et al. (2011);

Instituto de Florestas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Rodovia BR 465 Km 7, CEP 23897-000, Tel.: (21) 2682 0558 | (21) 3787-4033 - Seropédica - RJ - Brazil
E-mail: floram@ufrrj.br

Acompanhe os números deste periódico no seu leitor de RSS

[1] *Juliano Pereira GomesDepartamento de Engenharia Florestal, Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, Avenida Luiz de Camões, 2090, Conta Dinheiro, CEP 88520-000, Lages, SC, Brasil e-mail: julianopgomes@yahoo.com.br