Resumo
A questão do espaço, e sua “produção”, conforme Lefebvre (1974LEFEBVRE, Henry (1968/1996). The right to the city. In: KOFMAN, Eleonore; LEBAS, Elizabeth (Ed.). Writings on cities. Cambridge, MA: Blackwell, p. 147-159.), vem se revelando uma rica área de pesquisa para os estudos literários, assim como as questões ligadas à mobilidade em suas diferentes realidades: de experiências de migração e diáspora a trânsitos urbanos, para citar alguns exemplos. Nesse contexto, a figura do flâneur, intrinsicamente ligada às experiências e representações da modernidade urbana, tem atraído considerável interesse crítico. Em geral, pouco explorada ainda é a figura de seu equivalente feminino, a flâneuse, pois, como bem observa Wolff (1985), a experiência da modernidade tem sido, em grande parte, narrada sob um ponto de vista predominantemente masculino. A partir do conto “Amor”, de Clarice Lispector (1960/1998), e o texto “Um corpo negro pelado”, de Miriam Alves (2014), este artigo discute como esses textos parecem dialogar com o paradigma da mobilidade moderna, analisando personagens femininas em trânsito na literatura brasileira contemporânea escrita por mulheres como tentativas de repensar a experiência desta mobilidade, agora como um ato político e de busca de empoderamento feminino.
Palavras-chave:
flâneur; flâneuse; mobilidade; gênero; literatura