Resumo
Este ensaio apresenta trajetórias de Fernand Deligny, sua atuação em instituições educacionais, jurídicas e clínicas com crianças e adolescentes, e o contexto político dessas experiências localizadas na segunda metade do século XX. Ao revisitar tais percursos, estabeleceu-se pontos de contato e reflexões sobre atuais modos de cuidar em saúde mental na infância e adolescência, mobilizados principalmente pela atuação em Centros de Atenção Psicossocial Infantil (CAPSi) na cidade de São Paulo. Tal cenário configura experiências complexas que disparam inquietações relacionadas a modos de intervir que têm como base estratégias de adequação, exclusão ou encarceramento do sofrimento psíquico e/ou de experiências desviantes das normas sociais. Discute-se como provocar deslocamentos em certas lógicas de normatização da vida, criando ferramentas que promovam outras formas de viver com a diferença, buscando instaurar aberturas éticas, estéticas e políticas para transformações no pensamento, na sensibilidade e nas ações clínicas em curso na atualidade. Em ressonância com Fernand Deligny, sugere-se pensar modos de cuidar não normativos inspirados pela ideia de uma clínica da delicadeza, do agir e da presença próxima.
Palavras-chave:
Saúde Mental; Criança; Cuidado da Criança; Ética; Terapia Ocupacional/Tendências