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DESAFIOS ATUAIS E CAMINHOS PROMISSORES PARA A PESQUISA EM EMPREENDEDORISMO

INTRODUÇÃO

O campo de pesquisa do empreendedorismo apresentou aumento significativo da produção científica nas duas últimas décadas (Landström & Harirchi, 2018aLandström, H., & Harirchi, G. (2018a). The social structure of entrepreneurship as a scientific field. Research Policy, 47(3), 650-662. doi:10.1016/j.respol.2018.01.013
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), atraindo pesquisadores de muitas disciplinas (Zahra, 2007Zahra, S. (2007). Contextualizing theory building in entrepreneurship research. Journal of Business Venturing, 22(3), 443-452. doi:10.1016/j.jbusvent.2006.04.007
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). Houve progresso considerável quanto à qualidade das pesquisas e na legitimidade do campo (Audretsch, 2012Audretsch, D. B. (2012). Entrepreneurship research. Management Decision, 50(5), 755-764. doi:10.1108/00251741211227384
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; Davidsson, 2016Davidsson, P. (2016). A “business researcher” view on opportunities for psychology in entrepreneurship research. Journal of Applied Psychology, 65(3), 628-636. doi:10.1111/apps.12071
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). Contudo, ele ainda enfrenta consideráveis desafios para continuar seu avanço. O campo é muito heterogêneo em definições para conceitos básicos e em abordagens (Landström & Lohrke, 2010Landströn, H., & Lohrke, F. (2010). Historical foundations of entrepreneurship research. Northampton, MA: Edward Elgar Publishing.); continua carente, por exemplo, de consenso sobre a definição do que é seu próprio objeto de estudo (Burg & Romme, 2014Burg, E. Van, & Romme, A. G. L. (2014). Creating the future together: Toward a framework for research synthesis in entrepreneurship. Entrepreneurship Theory & Practice, 38(2), 369-397. doi:10.1111/etap.12092
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; Machado & Borges, 2017Machado, H. P. V., & Borges, C. (2017, June). Pesquisa em empreendedorismo: O desafio de diferentes compreensões do objeto de estudos. In R. Ascúa, S. Roitter, & L. Castillo (Eds.). 62º ICSB World Conference. Buenos Aires, Argentina. Rafaela: Asociación Civil Red Pymes Mercosur. Libro digital, PDF archivo digital: online ISBN 978-987-3608-30-8, pp. 70-79.). Assim, há distintas compreensões sobre o que é o empreendedorismo, entre outras: geração de um resultado (ex.: criação de uma nova organização); descoberta e exploração de oportunidades; e processo ou ação empreendedora (Machado & Borges, 2017Machado, H. P. V., & Borges, C. (2017, June). Pesquisa em empreendedorismo: O desafio de diferentes compreensões do objeto de estudos. In R. Ascúa, S. Roitter, & L. Castillo (Eds.). 62º ICSB World Conference. Buenos Aires, Argentina. Rafaela: Asociación Civil Red Pymes Mercosur. Libro digital, PDF archivo digital: online ISBN 978-987-3608-30-8, pp. 70-79.; Shane & Eckhardt, 2003Shane, S., & Eckhardt, J. (2003). The individual opportunity nexus. In Z. J. Acs, & D. B. Audretsch (Eds.), Handbook of entrepreneurship research: An interdisciplinary survey and introduction (pp. 161-191). The Netherlands: Kluwer Academic Publishers.; Shane & Venkataraman, 2000Shane, S., & Venkataraman, S. (2000). The promise of entrepreneurship as a field of research. Academy of Management Review, 25(1), 217-226. doi:10.2307/259271
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).

Outros desafios do campo são sua variedade de paradigmas (Karatas-Ozkan, Anderson, Fayolle, Howells, & Condor, 2014Karatas-Ozkan, M., Anderson, A. R., Fayolle, A., Howells, J., & Condor, R. (2014). Understanding entrepreneurship: Challenging dominant perspectives and theorizing entrepreneurship though new postpositivist epistemologies. Journal of Small Business Management, 52(4), 589-593. doi:10.1111/jsbm.12124
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) e a dispersão de suas orientações teóricas (Davidsson, 2003Davidsson, P. (2003). The domain of entrepreneurship research: Some suggestions. In J. A. Katz, & D. A. Shepherd (Eds.), Advances in Entrepreneurship, Firm Emergence and Growth, (vol. 6, pp. 315-372). Emerald Group Publishing Limited.; Landström & Harirchi, 2018aLandström, H., & Harirchi, G. (2018a). The social structure of entrepreneurship as a scientific field. Research Policy, 47(3), 650-662. doi:10.1016/j.respol.2018.01.013
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). Ademais, as publicações dessa comunidade científica têm se organizado mais em torno de veículos de publicação do que por mútuas inspirações teóricas, caracterizando-a mais como comunidade social acadêmica do que como comunidade intelectual acadêmica (Landström & Harirchi, 2018aLandström, H., & Harirchi, G. (2018a). The social structure of entrepreneurship as a scientific field. Research Policy, 47(3), 650-662. doi:10.1016/j.respol.2018.01.013
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). Isso significa que a comunidade vincula-se e mantém sua estrutura predominantemente pela ligação aos periódicos em que seus membros publicam e às conferências em que participam. Esse quadro contrasta com o campo da inovação, em que, no conjunto das publicações, predominam perspectivas econômicas e orientações teóricas derivadas de Schumpeter (1934)Schumpeter, J. A. (1934). The theory of economic development. Cambridge, MA: Harvard University Press. e Nelson e Winter (1982)Nelson, R., & Winter, S. (1982). An evolutionary theory of economic change. Cambridge, MA: Harvard University Press., caracterizando uma comunidade intelectual acadêmica (Landström & Harirchi, 2018aLandström, H., & Harirchi, G. (2018a). The social structure of entrepreneurship as a scientific field. Research Policy, 47(3), 650-662. doi:10.1016/j.respol.2018.01.013
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).

Adicionalmente, avanços mais modestos e reduzido potencial de contribuição dos segmentos menos desenvolvidos da pesquisa em empreendedorismo devem-se em boa parte a: (1) pouca clareza sobre as relações de causa e efeito entre as variáveis estudadas (Williams, Wood, Mitchell, & Urbig, 2019Williams, D. W., Wood, M. S. J., Mitchell, R., & Urbig, D. (2019). Applying experimental methods to advance entrepreneurship research: On the need for and publication of experiments. Journal of Business Venturing, 34(2), 215-223. doi:10.1016/j.jbusvent.2018.12.003
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); (2) baixa diversidade metodológica do campo (Neergard & Ulhoi, 2007Neergard, H., & Ulhoi, J. P. (2007). Introduction: Methodological variety in entrepreneurship research. In H. Neergard, & J. P. Ulhoi (Eds.), Handbook of qualitative research methods in entrepreneurship (pp. 1-16). Cheltenham, UK: Edward Elgar Publishing.; Wiklund, Davidsson, Audretsch, & Karlsson, 2011Wiklund, J., Davidsson, P., Audretsch, D. B., & Karlsson, C. (2011). The future of entrepreneurship research. Entrepreneurship Theory & Practice, 35(1), 1-9. doi:10.1111/j.1540-6520.2010.00420.x
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); (3) a maioria dos estudos quantitativos apenas estabelece correlações, mostrando como as variáveis impactam umas nas outras (Williams et al., 2019Williams, D. W., Wood, M. S. J., Mitchell, R., & Urbig, D. (2019). Applying experimental methods to advance entrepreneurship research: On the need for and publication of experiments. Journal of Business Venturing, 34(2), 215-223. doi:10.1016/j.jbusvent.2018.12.003
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); (4) o fato de que muito poucos estudos são experimentais (Aguinis & Lawal, 2012Aguinis, H., & Lawal, S.O. (2012). Conducting field experiments using eLancing’s natural environment. Journal of Business Venturing, 27(4), 493-505. doi:10.1016/j.jbusvent.2012.01.002
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; Hsu, Simmons, & Wieland, 2017Hsu, D. K., Simmons, S. A., & Wieland, A. M. (2017). Designing entrepreneurship experiments: A review, typology, and research agenda. Organizational Research Methods, 20(3), 379-412. doi:10.1177/1094428116685613
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; Williams et al., 2019Williams, D. W., Wood, M. S. J., Mitchell, R., & Urbig, D. (2019). Applying experimental methods to advance entrepreneurship research: On the need for and publication of experiments. Journal of Business Venturing, 34(2), 215-223. doi:10.1016/j.jbusvent.2018.12.003
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), e que os métodos experimentais é que ajudam a estabelecer quais variáveis têm precedência, a direção causal entre elas e quais explicações concorrentes devem ser descartadas (Williams et al., 2019Williams, D. W., Wood, M. S. J., Mitchell, R., & Urbig, D. (2019). Applying experimental methods to advance entrepreneurship research: On the need for and publication of experiments. Journal of Business Venturing, 34(2), 215-223. doi:10.1016/j.jbusvent.2018.12.003
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).

Diante dessas várias dificuldades, nosso objetivo é apresentar sucintamente neste texto, a partir de uma revisão de literatura, informações adicionais quanto aos principais desafios do campo, auxiliando a identificar caminhos promissores para seu avanço. Neste trabalho não exaustivo, tratamos de desafios e possibilidades relativos aos seguintes temas: compreensão do objeto de estudo, temas promissores de pesquisa, educação em empreendedorismo e recomendações.

VARIEDADE DE COMPREENSÃO DO OBJETO DE ESTUDO

Circulam diferentes noções sobre o empreendedorismo. Eckhardt e Shane (2003)Shane, S., & Eckhardt, J. (2003). The individual opportunity nexus. In Z. J. Acs, & D. B. Audretsch (Eds.), Handbook of entrepreneurship research: An interdisciplinary survey and introduction (pp. 161-191). The Netherlands: Kluwer Academic Publishers. e Shane e Venkataraman (2000)Shane, S., & Venkataraman, S. (2000). The promise of entrepreneurship as a field of research. Academy of Management Review, 25(1), 217-226. doi:10.2307/259271
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entendem que se refere à geração de novos bens, serviços, matérias-primas, mercados e métodos de produção e organização usando-se novos meios, fins ou relações meios-fins. Outros autores veem o empreendedorismo de modo mais revolucionário e transformador das esferas social e institucional (Rindova, Barry, & Ketchen, 2009Rindova, V., Barry, D., & Ketchen, D. J. (2009). Entrepreneuring as emancipation. Academy of Management Review, 34(3), 477-491. doi:10.5465/amr.2009.40632647
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). Esses exemplos demonstram que entendimentos fundamentalmente diferentes permeiam a pesquisa no campo e geram dificuldades para a investigação e os desenvolvimentos do campo por falta de consenso sobre, afinal, o que é o empreendedorismo.

À semelhança da famosa metáfora dos cegos que apalpam partes de um elefante e tentam, separadamente, descrever o todo do que é o animal (Mintzberg, Ahlstrand, & Lampel, 2000Mintzberg, H., Ahlstrand, B., & Lampel, J. (2000). Safári de estratégia. Porto Alegre, RS: Bookmam.), há múltiplas concepções de empreendedorismo advindas de múltiplas formas de se pensar. Isoladamente, nenhuma descreve bem o que é o empreendedorismo. Impõem-se, assim, o diálogo e a flexibilização das convicções de cada um que “apalpa” o fenômeno, com troca e combinação de conhecimentos para pretendermos conhecer o todo. Um avanço para se construir tal diálogo é a explicitação de pelo menos parte das variadas compreensões presentes no campo, que precisam ser consideradas em seu conjunto.

Ajudando no diálogo quanto aos modos de compreensão sobre o que é o empreendedorismo, Machado e Borges (2017)Machado, H. P. V., & Borges, C. (2017, June). Pesquisa em empreendedorismo: O desafio de diferentes compreensões do objeto de estudos. In R. Ascúa, S. Roitter, & L. Castillo (Eds.). 62º ICSB World Conference. Buenos Aires, Argentina. Rafaela: Asociación Civil Red Pymes Mercosur. Libro digital, PDF archivo digital: online ISBN 978-987-3608-30-8, pp. 70-79. propõem a seguinte síntese (Quadro 1).

Quadro 1
Modos de compreensão do empreendedorismo

A acumulação de conhecimento é facilitada pelo consenso sobre premissas fundamentais quanto à natureza do conhecimento (ontologia), o modo de se conhecer o fenômeno (epistemologia) e as formas de estudá-lo (metodologia) (Shepherd, 2015Shepherd, D. A. (2015). Party on! A call for entrepreneurship research that is more interactive, activity based, cognitively hot, compassionate, and prosocial. Journal of Business Venturing, 30(4), 489-507.). Como adiantávamos, no campo do empreendedorismo, tal acumulação é prejudicada principalmente pela variedade de compreensão da natureza do conhecimento e do fenômeno (Davidsson, 2003Davidsson, P. (2003). The domain of entrepreneurship research: Some suggestions. In J. A. Katz, & D. A. Shepherd (Eds.), Advances in Entrepreneurship, Firm Emergence and Growth, (vol. 6, pp. 315-372). Emerald Group Publishing Limited.), o que é ilustrado pelo Quadro 1.

Apesar de tamanha variação de entendimentos, Davidsson (2016)Davidsson, P. (2016). A “business researcher” view on opportunities for psychology in entrepreneurship research. Journal of Applied Psychology, 65(3), 628-636. doi:10.1111/apps.12071
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acredita que as múltiplas formas de compreensão do empreendedorismo tendem, grosso modo, a se acomodar em duas definições:

  1. Empreendedorismo é a criação (ou tentativa de criação) de uma nova atividade econômica.

  2. Empreendedorismo é qualquer coisa que concerne àqueles que criam e dirigem seus próprios negócios/empresas/organizações.

Para a realização de novos estudos, Davidsson (2016)Davidsson, P. (2016). A “business researcher” view on opportunities for psychology in entrepreneurship research. Journal of Applied Psychology, 65(3), 628-636. doi:10.1111/apps.12071
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recomenda que se utilize o primeiro dos dois entendimentos, por ser ele o entendimento que se impõe como tendência no campo. Em outras palavras, para o autor, cada vez mais os pesquisadores se fixam na compreensão do empreendedorismo como um esforço criador de uma nova atividade econômica (Davidsson, 2016Davidsson, P. (2016). A “business researcher” view on opportunities for psychology in entrepreneurship research. Journal of Applied Psychology, 65(3), 628-636. doi:10.1111/apps.12071
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; Wiklund et al., 2011Wiklund, J., Davidsson, P., Audretsch, D. B., & Karlsson, C. (2011). The future of entrepreneurship research. Entrepreneurship Theory & Practice, 35(1), 1-9. doi:10.1111/j.1540-6520.2010.00420.x
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).

Não obstante, o problema dos múltiplos entendimentos do que seja o empreendedorismo pode ser resolvido apresentando-se claramente a definição do conceito e assegurando-se que os demais componentes da pesquisa, principalmente a pergunta de pesquisa, a fundamentação teórica, o desenho e os métodos da pesquisa se alinhem com a definição (Davidsson, 2016Davidsson, P. (2016). A “business researcher” view on opportunities for psychology in entrepreneurship research. Journal of Applied Psychology, 65(3), 628-636. doi:10.1111/apps.12071
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).

TEMAS PROMISSORES

Diferentes publicações recentes listam temas promissores citados por especialistas para o desenvolvimento dos estudos do empreendedorismo. Landström e Harirchi (2018b)Landström, H., & Harirchi, G. (2018b)."That’s interesting!” in entrepreneurship research. Journal of Small Business Management. Publicação on-line antecipada. doi:10.1111/jsbm.12500
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assim sintetizam recomendações vindas de 915 especialistas em empreendedorismo:

  1. Focar temas específicos, como finanças, intenções e effectuation;

  2. Usar métodos bem-fundamentados e bem-alinhados com o fenômeno do empreendedorismo;

  3. Assegurar a relevância prática e a orientação para a realidade nos estudos;

  4. Fazer estudos comparativos regionais e entre países;

  5. Focar tipos específicos de empresa, como familiares, tecnológicas e sociais.

O Quadro 2 apresenta os 10 temas mais citados como promissores pelos especialistas, em ordem decrescente de frequência de citação.

Quadro 2
Dez temas promissores

Diversos desses temas convergem com os temas quentes para pesquisa em empreendedorismo identificados no relatório técnico de Kuckertz e Prochotta (2018), baseado num survey com 225 pesquisadores experientes do campo. Os resultados do relatório apontam para a importância de se ter mais rigor acadêmico no uso dos métodos de pesquisa, usando-se, por exemplo, métodos experimentais e métodos mais apropriados para se capturar a complexidade dos fenômenos do empreendedorismo. Os resultados também apontam que o estudo do processo empreendedor segue como a opção temática mais promissora para pesquisas fazerem evoluir o campo.

Seguem, no Quadro 3, as quatro temáticas quentes (e respectivos subtemas) mais citadas por especialistas, em ordem decrescente de frequência de citação (Kuckertz & Prochotta, 2018Kuckertz, A., & Prochotta, A. (2018, February 4). What’s hot in entrepreneurship research 2018? Hohenheim Entrepreneurship Research Brief. Recuperado de https://www.researchgate.net/publication/323258024_What's_Hot_in_Entrepreneurship_Research_2018
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).

Quadro 3
Quatro temáticas quentes para pesquisa

Na convergência de temas promissores dos estudos de Davidsson (2016)Davidsson, P. (2016). A “business researcher” view on opportunities for psychology in entrepreneurship research. Journal of Applied Psychology, 65(3), 628-636. doi:10.1111/apps.12071
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e Kuckertz e Prochotta (2018)Kuckertz, A., & Prochotta, A. (2018, February 4). What’s hot in entrepreneurship research 2018? Hohenheim Entrepreneurship Research Brief. Recuperado de https://www.researchgate.net/publication/323258024_What's_Hot_in_Entrepreneurship_Research_2018
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, encontra-se a exploração mais avançada da psicologia - item 4 do Quadro 3. Um exemplo da exploração promissora da psicologia em empreendedorismo, segundo Davidsson (2016), é o estudo de equipes empreendedoras que se beneficiaria da pesquisa sobre pequenos grupos em psicologia, considerando-se particularidades dessas equipes como: a participação voluntária em determinada iniciativa, o fato de eles frequentemente terem relacionamentos anteriores de amizade entre si, além dos riscos financeiros específicos envolvidos nas iniciativas conjuntas.

O campo também pode explorar mais a fundo a contribuição da psicologia (cognitiva) para o entendimento do comportamento empreendedor inspirando-se na teoria de effectuation (Sarasvathy, 2001Sarasvathy, S. (2001). Causation and effectuation: Toward a theoretical shift from economic inevitability to entrepreneurial contingency. Academy of Management Review, 26(2), 243-263. doi:10.5465/amr.2001.4378020
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), teoria que carece de mais desenvolvimento e teste (Arend, Sarooghi, & Burkemper, 2015Arend, R., Sarooghi, H., & Burkemper, A. (2015). Effectuation as ineffectual? Applying the 3E Theory-Assessment Framework to a proposed new theory of entrepreneurship. Academy of Management Review, 40(4), 630-651. doi:10.5465/amr.2014.0455
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). Com respeito ao nexo entre indivíduo e oportunidade, é atrativo fazer estudos do desenvolvimento inicial das atividades econômicas nascentes, para os quais a teoria e os experimentos da psicologia têm conhecimento importante a oferecer (Wood & Williams, 2014Wood, M. S., & Williams, D. W. (2014). Opportunity evaluation as rule-based decision making. Journal of Management Studies, 51(4), 573-602. doi:10.1111/joms.12018
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). Outra sugestão segue a linha de investigação do conceito de oportunidade, linha que pode ser desenvolvida usando-se constructos como: viabilizador externo (external enabler), a ideia para o novo negócio/organização e confiança na oportunidade identificada (Davidsson, 2016Davidsson, P. (2016). A “business researcher” view on opportunities for psychology in entrepreneurship research. Journal of Applied Psychology, 65(3), 628-636. doi:10.1111/apps.12071
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).

Curiosamente, a educação em empreendedorismo (EE) ficou em 13º lugar na lista dos temas quentes de Kuckertz e Prochotta (2018)Kuckertz, A., & Prochotta, A. (2018, February 4). What’s hot in entrepreneurship research 2018? Hohenheim Entrepreneurship Research Brief. Recuperado de https://www.researchgate.net/publication/323258024_What's_Hot_in_Entrepreneurship_Research_2018
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. Assim, a posição relativamente modesta do tema na lista contrasta com a importância dele defendida por autores como Fayolle (2018)Fayolle, A. (2018). Personal views on the future of entrepreneurship education. In A. Fayolle (Ed.), A research agenda for entrepreneurship education (pp. 127-138). Cheltenham, UK: Edward Elgar Publishing Ltd. e Fellnhofer (2019)Fellnhofer, K. (2019). Toward a taxonomy of entrepreneurship education research literature: A bibliometric mapping and visualization. Educational Research Review, 27, 28-55. doi:10.1016/j.edurev.2018.10.002
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, mas principalmente com sua relevância para o Brasil. Apesar da necessidade e da importância de desenvolvimentos sobre o tema em nosso país, há aqui poucos estudos aprofundados sobre ele e/ou que chegaram à condição da publicação internacional. A relevância do tema no Brasil é reforçada pela recente chamada de artigos dedicada a ele para um número especial da Revista de Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas (Regepe). O tema é também ligado a práticas de ensino que carecem de muito aperfeiçoamento no País, em particular porque no Brasil a EE se concentra no ensino do plano de negócios. Esse modelo de ensino só é recomendável para estudantes que querem empreender (Liñan, 2007Liñán, F. (2007). The role of entrepreneurship education in the entrepreneurial process. In A. Fayolle (Ed.), Handbook of research in entrepreneurship education: A general perspective (vol. 1, pp. 230-247). Northampton, MA: Edward Elgar.), mas tem sido aplicado indiscriminadamente (tendendo a gerar efeitos negativos) à grande maioria dos estudantes, que não têm esse interesse (Lima, Lopes, Nassif, & Silva, 2015Lima, E., Lopes, R. M., Nassif, V., & Silva, D. (2015). Opportunities to improve entrepreneurship education: Contributions considering Brazilian challenges. Journal of Small Business Management, 53(4), 1033-1051. doi:10.1111/jsbm.12110
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). Para esse público, recomendam-se atividades de sensibilização, que podem, enfim, levar mais estudantes a terem intenção empreendedora (Liñan, 2007Liñán, F. (2007). The role of entrepreneurship education in the entrepreneurial process. In A. Fayolle (Ed.), Handbook of research in entrepreneurship education: A general perspective (vol. 1, pp. 230-247). Northampton, MA: Edward Elgar.).

Dada a sua importância, a EE recebe atenção detalhada na seção seguinte.

EDUCAÇÃO EM EMPREENDEDORISMO (EE)

Em qualquer perspectiva de intervenção social para o desenvolvimento econômico e social, a EE exerce um papel fundamental (Comissão Europeia, 2013Comissão Europeia. (2013). Educação para o empreendedorismo: Guia para educadores. Bruxelles, Belgique: Comissão Europeia.; ICF Consulting Services Ltd. & Technopolis Group., 2015ICF Consulting Services Ltd. & Technopolis Group. (2015). Entrepreneurship education: A road to success. 13 case studies. Prepared for the study compilation of evidence on the impact of entrepreneurship education strategies and measures. Luxembourg: Publications Office of the European Union. doi:10.2769/408497
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). Apesar de todo o interesse político e também por parte das instituições de ensino superior e escolas, a EE ainda precisa ser estudada em termos filosóficos, ontológicos, epistemológicos e éticos (Fayolle, 2018Fayolle, A. (2018). Personal views on the future of entrepreneurship education. In A. Fayolle (Ed.), A research agenda for entrepreneurship education (pp. 127-138). Cheltenham, UK: Edward Elgar Publishing Ltd. ). Raramente os programas e ações de EE declaram explicitamente o significado de EE que empregam e o exato modelo de ensino desta; fica particularmente nebuloso o paradigma metodológico usado - objetivista, subjetivista ou construtivista (Fayolle & Gailly, 2008Fayolle, A., & Gailly, B. (2008). From craft to science: Teaching models and learning processes in entrepreneurship education. Journal of European Industrial Training, 32(7), 569-593. doi:10.1108/03090590810899838
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). Também falham em especificar claramente, no nível didático, os objetivos e metas da EE, a quem ela se destina, seus métodos e pedagogias, o conhecimento e o conteúdo abordados e, por fim, o modo de avaliação dos resultados (Fayolle & Gailly, 2008Fayolle, A., & Gailly, B. (2008). From craft to science: Teaching models and learning processes in entrepreneurship education. Journal of European Industrial Training, 32(7), 569-593. doi:10.1108/03090590810899838
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). Esses aspectos precisam ser levados em consideração para se avaliar quais contextos didáticos e condições institucionais são mais apropriados para cada abordagem de EE.

Com respeito às definições, Fellnhofer (2019)Fellnhofer, K. (2019). Toward a taxonomy of entrepreneurship education research literature: A bibliometric mapping and visualization. Educational Research Review, 27, 28-55. doi:10.1016/j.edurev.2018.10.002
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destaca que não há consenso, mas que, grosso modo, há duas concepções gerais de EE: (1) concepção mais ampla de desenvolvimento de competências e qualidades pessoais empreendedoras; (2) concepção mais estreita e direcionada de educação ou treinamento mais específico para se empreender. A escolha de uma das concepções de EE implica a opção por um conjunto específico de métodos e práticas de EE.

Apesar de a área de estudo da EE ser importante e estar ganhando progressivo reconhecimento, ainda apresenta fragmentação e múltiplos desafios, dada a complexidade dos assuntos e a diversidade de cursos, programas, ações e públicos atendidos da EE (Fayolle, 2018Fayolle, A. (2018). Personal views on the future of entrepreneurship education. In A. Fayolle (Ed.), A research agenda for entrepreneurship education (pp. 127-138). Cheltenham, UK: Edward Elgar Publishing Ltd. ; Fellnhofer, 2019Fellnhofer, K. (2019). Toward a taxonomy of entrepreneurship education research literature: A bibliometric mapping and visualization. Educational Research Review, 27, 28-55. doi:10.1016/j.edurev.2018.10.002
https://doi.org/10.1016/j.edurev.2018.10...
). Há muito espaço para que seus estudos sejam aperfeiçoados teoricamente: uma quarta parte dos artigos revisados por Nabi, Fayolle, Linan, Krueger e Welmsley (2017)Nabi, G., Fayolle, A., Linan, F., Krueger, N., & Welmsley, A. (2017). The impact of entrepreneurship education in higher education: A systematic review and research agenda. Academy of Management Learning and Education, 16(2), 1-23. doi:10.5465/amle.2015.0026 sequer declara seu referencial teórico. Outros autores sinalizam que as variáveis utilizadas para medir o impacto da EE longitudinalmente têm sido inconsistentes (Martin, McNally, & Kay, 2013Martin, B. C., McNally, J. J., & Kay, M. J. (2013). Examining the formation of human capital in entrepreneurship: A meta-analysis of entrepreneurship education outcomes. Journal of Business Venturing, 28(2), 211-224. doi:10.1016/j.jbusvent.2012.03.002
https://doi.org/10.1016/j.jbusvent.2012....
; Pittaway & Cope, 2007Pittaway, L., & Cope, J. (2007). Entrepreneurship education: A systematic review of the evidence. International Small Business Journal, 25(5), 479-510. doi:10.1177/0266242607080656
https://doi.org/10.1177/0266242607080656...
). Fatores como esses permitem entender por que as pesquisas em EE têm tão pouca penetração nos melhores periódicos e conferências de empreendedorismo e administração (Fayolle, 2018Fayolle, A. (2018). Personal views on the future of entrepreneurship education. In A. Fayolle (Ed.), A research agenda for entrepreneurship education (pp. 127-138). Cheltenham, UK: Edward Elgar Publishing Ltd. ).

Visando progressos também por ruptura de hábitos racionalistas de estudo no campo do empreendedorismo, Fayolle (2018)Fayolle, A. (2018). Personal views on the future of entrepreneurship education. In A. Fayolle (Ed.), A research agenda for entrepreneurship education (pp. 127-138). Cheltenham, UK: Edward Elgar Publishing Ltd. recomenda que se vá além da predominante perspectiva da EE baseada em identificação, avaliação e exploração de oportunidades. Ele sugere que se pesquise na lacuna de pesquisa da EE usando-se abordagens oriundas do próprio campo do empreendedorismo, como a efetuação (Sarasvathy, 2001Sarasvathy, S. (2001). Causation and effectuation: Toward a theoretical shift from economic inevitability to entrepreneurial contingency. Academy of Management Review, 26(2), 243-263. doi:10.5465/amr.2001.4378020
https://doi.org/10.5465/amr.2001.4378020...
) e a bricolagem (Baker & Nelson, 2005Baker, T., & Nelson, R. E. (2005). Creating something from nothing: Resource construction through entrepreneurial bricolage. Administrative Science Quarterly, 50(3), 329-366. doi:10.2189/asqu.2005.50.3.329
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), assim como um misto de esforços visando-se gerar contribuições teóricas e práticas. Há também necessidade de estudos que questionem as premissas, os enfoques e as práticas correntes nas pesquisas sobre EE utilizando os conhecimentos do campo de estudos da educação (aliás, faltam publicações aprofundadas sobre EE nos periódicos de educação) e das psicologias educacional, social e cognitiva (Fayolle, 2018).

No que se refere à avaliação dos resultados das atividades de EE, apesar do crescimento, o número de estudos do tema ainda é relativamente baixo. Bae, Qian, Miao e Fiet (2014)Bae, T. J., Qian, S., Miao, C., & Fiet, J. O. (2014). The relationship between entrepreneurship education and entrepreneurial intentions: A meta-analytic review. Entrepreneurship Theory and Practice, 38(2), 217-254. doi:10.1111/etap.12095
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mapearam 55 estudos em uma década com resultados contraditórios, o que mostra a necessidade de pesquisas mais robustas, metodologicamente mais rigorosas, com grupo de controle e com abordagem experimental aleatória, com medições anteriores e posteriores, com estudos que também considerem variáveis moderadoras.

De acordo com Fayolle (2018)Fayolle, A. (2018). Personal views on the future of entrepreneurship education. In A. Fayolle (Ed.), A research agenda for entrepreneurship education (pp. 127-138). Cheltenham, UK: Edward Elgar Publishing Ltd. e Fellnhofer (2019)Fellnhofer, K. (2019). Toward a taxonomy of entrepreneurship education research literature: A bibliometric mapping and visualization. Educational Research Review, 27, 28-55. doi:10.1016/j.edurev.2018.10.002
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, outros caminhos poderão aperfeiçoar as pesquisas da EE:

  • Examinar os efeitos do autoemprego e da independência sobre os empreendedores em sua saúde física e mental, na satisfação pessoal e com a carreira;

  • Estudar a EE em grupos específicos - crianças, educação pré-universitária, minorias, imigrantes, desempregados e outros - assim como quais são as melhores combinações entre objetivos, conteúdos e métodos de ensino para cada grupo;

  • Investigar se e quanto as novas técnicas de educação (jogos, gamificação, simulações) ajudam as pessoas a se tornarem mais empreendedoras;

  • Avaliar o resultado e a eficácia da modalidade de cur­sos e programas de EE a distância e com o uso da in­ternet;

  • Estudar as abordagens de EE que possam envolver os estudantes por meio de sentimentos e emoções;

  • Investigar como estar em contato com empreendedores inovadores, assim como com modelos e histórias de fracasso, influencia a mentalidade e as intenções empreendedoras dos estudantes;

  • Estudar a eficácia das estratégias regionais e nacionais na atração de diversos grupos de pessoas para a carreira empreendedora e examinar como as políticas públicas influenciam e envolvem os diversos grupos de interesse (funcionários do governo, comunidade, vizinhos, fornecedores e financiadores) e impactam o desenvolvimento da EE.

SER EMPREENDEDOR EM PESQUISA

Uma leitura crítica indica que o campo de pesquisas de empreendedorismo enfrenta o desafio de superar a cilada do caminho mais seguro para seus estudos e publicações, que usa abordagens já estabelecidas, o que leva ao crescimento incremental das pesquisas respondendo a questões estreitas, que acabam atraindo menos interessados (Shepherd, 2015Shepherd, D. A. (2015). Party on! A call for entrepreneurship research that is more interactive, activity based, cognitively hot, compassionate, and prosocial. Journal of Business Venturing, 30(4), 489-507.). Para que esse padrão de tendência contributiva decrescente seja rompido e haja avanços mais expressivos, Shepherd (2015) recomenda aos pesquisadores arriscar mais, ser empreendedores usando questões de pesquisa e teorias novas, com particular atenção aos seguintes tópicos:

  1. Examinar o processo empreendedor de maneira mais interativa para captar a dinâmica da relação entre o empreendedor e a comunidade de troca de informações a que ele pertence, mostrando como ambos se ajustam mutuamente, fazendo evoluir a crença numa oportunidade a ser explorada.

  2. Aprofundar pesquisas das microfundações da ação empreendedora para se entenderem e examinarem as inúmeras atividades que envolvem o surgimento de novos empreendimentos ou organizações, enfocando-se os empreendedores nascentes e o processo de criação das novas organizações (Gartner, 1985Gartner, W. B. (1985). A conceptual framework for describing the phenomenon of new venture creation. Academy of Management Review, 10(4), 696-706. doi:10.2307/258039
    https://doi.org/10.2307/258039...
    ; Shepherd, 2015Shepherd, D. A. (2015). Party on! A call for entrepreneurship research that is more interactive, activity based, cognitively hot, compassionate, and prosocial. Journal of Business Venturing, 30(4), 489-507.); para tanto, é relevante estudar as inter-relações das diversas atividades e o conhecimento que influenciam a formação da crença numa oportunidade a explorar, e as motivações envolvidas na crença.

  3. Estudar como as emoções agem no processo cognitivo do empreendedor quando ele atua em tarefas importantes ou desafiadoras, como a de identificar uma oportunidade (Baron, 2008Baron, R. A. (2008). The role of affect in the entrepreneurial process. Academy of Management Review, 33(2), 328-340. doi:10.2307/20159400
    https://doi.org/10.2307/20159400...
    ; Cardon, Foo, Shepherd, & Wiklund, 2012Cardon, M. S., Foo, M. D., Shepherd, D., & Wiklund, J. (2012). Exploring the heart: Entrepreneurial emotion is a hot topic. Entrepreneurship Theory & Practice, 36(1), 1-10. doi:10.1111/j.1540-6520.2011.00501.x
    https://doi.org/10.1111/j.1540-6520.2011...
    ; Welpe, Spörrle, Grichnik, Michl, & Audretsch, 2012Welpe, I. M., Spörrle, M., Grichnik, D., Michl, T., & Audretsch, D. B. (2012). Emotions and opportunities: The interplay of opportunity evaluation, fear, joy, and anger as antecedent of entrepreneurial exploitation. Entrepreneurship Theory & Practice, 36(10, 69-96. doi:10.1111/j.1540-6520.2011.00481.x
    https://doi.org/10.1111/j.1540-6520.2011...
    ).

  4. Examinar aspectos do empreendedorismo social, sustentável e ambiental, sobretudo das ações empreendedoras e da motivação pró-social (Grant & Berry, 2011Grant, A. M., & Berry, J. W. (2011). The necessity of others is the mother of invention: Intrinsic and prosocial motivations, perspective taking, and creativity. Academy of Management Journal, 54(1), 73-96. doi:10.5465/amj.2011.59215085
    https://doi.org/10.5465/amj.2011.5921508...
    ) observadas nas organizações compassivas (George, 2014George, J. M. (2014). Compassion and capitalism: Implications for organizational studies. Journal of Management, 40(1), 5-15. doi:10.1177/0149206313490028
    https://doi.org/10.1177/0149206313490028...
    ) e que beneficiam pessoas e minimizam o sofrimento humano, problemas para animais e danos às comunidades e à natureza. Isso pode incluir, por exemplo, o estudo de como organizações e comunidades enfrentam crises, como após um desastre (Nelson & Lima, 2019Nelson, R., & Lima, E. (2019). Effectuations, social bricolage and causation in the response to a natural disaster. Journal of Small Business Economics. Publicação on-line antecipada. doi:10.1007/s11187-019-00150-z
    https://doi.org/10.1007/s11187-019-00150...
    ).

Para se estudarem esses fenômenos e entender como recursos podem ser adquiridos, reunidos, organizados e recombinados no alívio ao sofrimento, Shepherd (2015)Shepherd, D. A. (2015). Party on! A call for entrepreneurship research that is more interactive, activity based, cognitively hot, compassionate, and prosocial. Journal of Business Venturing, 30(4), 489-507. destaca o potencial de conceitos como bricolagem (Baker & Nelson, 2005Baker, T., & Nelson, R. E. (2005). Creating something from nothing: Resource construction through entrepreneurial bricolage. Administrative Science Quarterly, 50(3), 329-366. doi:10.2189/asqu.2005.50.3.329
https://doi.org/10.2189/asqu.2005.50.3.3...
), effectuation (Sarasvathy, 2001Sarasvathy, S. (2001). Causation and effectuation: Toward a theoretical shift from economic inevitability to entrepreneurial contingency. Academy of Management Review, 26(2), 243-263. doi:10.5465/amr.2001.4378020
https://doi.org/10.5465/amr.2001.4378020...
), improviso (Hmieleski & Corbett, 2008Hmieleski, K. M., & Corbett, A. C. (2008). The contrasting interaction effects of improvisational behavior with entrepreneurial self-efficacy on new venture performance and entrepreneur work satisfaction. Journal of Business Venturing, 23(4), 482-496. doi:10.1016/j.jbusvent.2007.04.002
https://doi.org/10.1016/j.jbusvent.2007....
), corredores de conhecimento (Fiet & Samuelsson, 2000Fiet, J. O., & Samuelsson, M. (2000). Knowledge-based competencies as a platform for firm formation. In Frontiers of Entrepreneurship Research, (pp. 166-178). Wellesley, MA: Babson College.), administração empreendedora (Bradley, Wiklund, & Shepherd, 2011Wiklund, J., Davidsson, P., Audretsch, D. B., & Karlsson, C. (2011). The future of entrepreneurship research. Entrepreneurship Theory & Practice, 35(1), 1-9. doi:10.1111/j.1540-6520.2010.00420.x
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) e identidade (Powell & Baker, 2014Powell, E. E., & Baker, T. (2014). It’s what you make of it: Founder identity and enacting strategic responses to adversity. Academy of Management Journal, 57(5), 1406-1433. doi:10.5465/amj.2012.0454
https://doi.org/10.5465/amj.2012.0454...
).

O quarto caminho de pesquisa da lista de Shepherd (2015)Shepherd, D. A. (2015). Party on! A call for entrepreneurship research that is more interactive, activity based, cognitively hot, compassionate, and prosocial. Journal of Business Venturing, 30(4), 489-507. converge com o estudo do empreendedorismo como modo de combate à pobreza feito por Sutter, Bruton e Chen (2019)Sutter, C., Bruton, G. D., & Chen, J. (2019). Entrepreneurship as a solution to extreme poverty: A review and future research directions. Journal of Business Venturing, 34(1), 197-214. doi:10.1016/j.jbusvent.2018.06.003
https://doi.org/10.1016/j.jbusvent.2018....
. Estes revisaram 77 periódicos englobando várias disciplinas em 28 anos de produção científica. Concluíram que os trabalhos examinados podem ser categorizados em três perspectivas do empreendedorismo no combate à pobreza (Quadro 4).

Quadro 4
Perspectivas do empreendedorismo como combate à pobreza

Segundo Sutter, Bruton e Chen (2019)Sutter, C., Bruton, G. D., & Chen, J. (2019). Entrepreneurship as a solution to extreme poverty: A review and future research directions. Journal of Business Venturing, 34(1), 197-214. doi:10.1016/j.jbusvent.2018.06.003
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, há oportunidades de pesquisa em cada uma das perspectivas. Relativamente à remediação da pobreza, os pesquisadores podem, por exemplo, explorar mais a distinção entre empreendedorismo por necessidade e de alto crescimento; estudar as características dos empreendimentos de alto crescimento em contextos de pobreza; e estudar a eficiência no combate à pobreza. Na perspectiva da reforma, sugerem, por exemplo, analisar detalhadamente o contexto institucional examinando aspectos não econômicos e enfocar direcionadores das mudanças social e institucional, aprofundando-se o estudo da ética no empreendedorismo social. Na perspectiva revolucionária, recomendam, por exemplo, a investigação do desenvolvimento socioeconômico com base em organizações comunitárias e empresas sociais.

Em quaisquer das três perspectivas, parece atrativo aceitar o convite de Shepherd (2015)Shepherd, D. A. (2015). Party on! A call for entrepreneurship research that is more interactive, activity based, cognitively hot, compassionate, and prosocial. Journal of Business Venturing, 30(4), 489-507. para sermos mais empreendedores em pesquisa. É promissor o caminho de atacar grandes temas da humanidade, como a pobreza extrema (Sutter, Bruton & Chen, 2019Sutter, C., Bruton, G. D., & Chen, J. (2019). Entrepreneurship as a solution to extreme poverty: A review and future research directions. Journal of Business Venturing, 34(1), 197-214. doi:10.1016/j.jbusvent.2018.06.003
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). Seguir tal caminho pode ter como prêmio publicações eficazes na resposta ao desafio de relevância e utilidade no estudo do empreendedorismo (Wiklund, Wright, & Zahra, 2018Wiklund, J., Wright, M., & Zahra, S. A. (2018). Conquering relevance: Entrepreneurship research’s grand challenge. Los Angeles, CA: Sage Publications. ).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A conversa acadêmica que ocorre por publicações (Huff, 1999Huff, A. S. (1999). Writing for scholarly publication. Thousand Oaks, CA: Sage.) a respeito de temas relevantes e promissores em empreendedorismo segue precisando de novas vozes, mais publicações com algo novo, interessante e útil a dizer. Em especial para os pesquisadores em formação ou novatos, é importante não se esquecer de primeiro conhecer do que a conversa acadêmica em andamento está tratando; é condição para se entrar no debate com sua própria publicação (Huff, 1999Huff, A. S. (1999). Writing for scholarly publication. Thousand Oaks, CA: Sage.).

Assim, amplia as chances de publicação e contribuição em empreendedorismo o acompanhamento do estado da arte nacional e internacional sobre o tema escolhido, com leitura regular. Conhecer os principais periódicos e suas características no campo, assim como práticas recomendáveis para publicação, também é importante (Fayolle & Wright, 2014Fayolle, A., & Wright, M. (Eds.). (2014). How to get published in the best entrepreneurship journals: A guide to steer your academic career. Northampton, MA: Edward Elgar Publishing.). Adicionalmente, é útil se inspirar na trajetória e nas recomendações de pesquisadores experientes. Por exemplo, a Revue Internationale PME oferece uma oportunidade nesse sentido na série Crônica sobre o Trabalho de Pesquisador (ex.: Cossette, 2018Cossette, P. (2018). Écrire, c’est bien; bien écrire, c’est mieux. Revue Internationale PME, 31(3-4), 7-16.). Ajuda similar vem de comentários editoriais da Revista Ibero-Americana de Estratégia (s. d.), mesmo o periódico sendo de outra área de estudo (ex.: Ferreira, 2014Ferreira, M. (2014). Comentário editorial. Resiliência e resistir à rejeição para o sucesso na carreira. Revista Ibero-Americana de Estratégia, 13(3), 1-6.).

Para se evitarem falhas comuns em pesquisa que descrevemos neste artigo, um passo recomendável é o pesquisador ter clara consciência e coerência em todas as seções de sua publicação quanto à compreensão que está adotando do que é o empreendedorismo (Davidsson, 2016Davidsson, P. (2016). A “business researcher” view on opportunities for psychology in entrepreneurship research. Journal of Applied Psychology, 65(3), 628-636. doi:10.1111/apps.12071
https://doi.org/10.1111/apps.12071...
; Machado & Borges, 2017Machado, H. P. V., & Borges, C. (2017, June). Pesquisa em empreendedorismo: O desafio de diferentes compreensões do objeto de estudos. In R. Ascúa, S. Roitter, & L. Castillo (Eds.). 62º ICSB World Conference. Buenos Aires, Argentina. Rafaela: Asociación Civil Red Pymes Mercosur. Libro digital, PDF archivo digital: online ISBN 978-987-3608-30-8, pp. 70-79.), explicitando claramente e respeitando tal compreensão (Davidsson, 2016Davidsson, P. (2016). A “business researcher” view on opportunities for psychology in entrepreneurship research. Journal of Applied Psychology, 65(3), 628-636. doi:10.1111/apps.12071
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). Outro cuidado é manter o nível de análise do fenômeno focado - nível individual, da organização ou da sociedade (Davidsson & Wiklund, 2001Davidsson, P., & Wiklund, J. (2001). Levels of analysis in entrepreneurship research: Current research practice and suggestions for the future. Entrepreneurship Theory & Practice, 25(4), 81-99. doi:10.1177/104225870102500406
https://doi.org/10.1177/1042258701025004...
), senão introduzem-se ambiguidades quanto às variáveis dependentes (Davidsson, 2016Davidsson, P. (2016). A “business researcher” view on opportunities for psychology in entrepreneurship research. Journal of Applied Psychology, 65(3), 628-636. doi:10.1111/apps.12071
https://doi.org/10.1111/apps.12071...
).

Como vimos, é amplo o espectro de quais sejam temas promissores e lacunas de investigação, e ele varia dependendo do continente, país ou região. Estudiosos americanos diferem dos europeus no que consideram temas quentes de pesquisa (Gartner, 2013Gartner, W. B. (2013). Creating a community of difference in entrepreneurship scholarship. Entrepreneurship & Regional Development, 25(1-2), 5-15. doi:10.1080/08985626.2012.746874
https://doi.org/10.1080/08985626.2012.74...
; Kuckertz & Prochotta, 2018Kuckertz, A., & Prochotta, A. (2018, February 4). What’s hot in entrepreneurship research 2018? Hohenheim Entrepreneurship Research Brief. Recuperado de https://www.researchgate.net/publication/323258024_What's_Hot_in_Entrepreneurship_Research_2018
https://www.researchgate.net/publication...
). Por nossa vez, no Brasil, temos uma necessidade especial de estudo da EE, como descrevemos acima. Temos também graves problemas socioeconômicos a nos oferecerem uma realidade farta em temas que demandam abordagens inovadoras, reforçando o convite para sermos empreendedores em pesquisa (Shepherd, 2015Shepherd, D. A. (2015). Party on! A call for entrepreneurship research that is more interactive, activity based, cognitively hot, compassionate, and prosocial. Journal of Business Venturing, 30(4), 489-507.), atacarmos grandes problemas, como a pobreza (Sutter, Bruton e Chen, 2019Sutter, C., Bruton, G. D., & Chen, J. (2019). Entrepreneurship as a solution to extreme poverty: A review and future research directions. Journal of Business Venturing, 34(1), 197-214. doi:10.1016/j.jbusvent.2018.06.003
https://doi.org/10.1016/j.jbusvent.2018....
), e gerarmos pesquisa relevante (Wiklund, Wright, & Zahra, 2018Wiklund, J., Wright, M., & Zahra, S. A. (2018). Conquering relevance: Entrepreneurship research’s grand challenge. Los Angeles, CA: Sage Publications. ).

Problemas são também oportunidades e estímulos para novos desenvolvimentos e a busca de soluções potencialmente benéficas a mais pessoas do que aquelas do universo inicialmente focado. Atacando grandes problemas da humanidade em nosso próprio país (ex.: Sutter, Bruton & Chen, 2019Sutter, C., Bruton, G. D., & Chen, J. (2019). Entrepreneurship as a solution to extreme poverty: A review and future research directions. Journal of Business Venturing, 34(1), 197-214. doi:10.1016/j.jbusvent.2018.06.003
https://doi.org/10.1016/j.jbusvent.2018....
), nossa pesquisa já tenderia a ter relevância e utilidade (Wiklund, Wright, & Zahra, 2018Wiklund, J., Wright, M., & Zahra, S. A. (2018). Conquering relevance: Entrepreneurship research’s grand challenge. Los Angeles, CA: Sage Publications. ), principalmente se for feita com qualidade. Com tais características, novas pesquisas já teriam grande potencial de publicação, ainda mais porque as grandes questões da humanidade se assemelham mundo afora. Nesse sentido, pesquisas brasileiras de qualidade sobre tais temas, por terem algo a dizer sobre os mesmos problemas no mundo, tenderiam a ter penetração para publicação não apenas em bons periódicos nacionais, mas também internacionais.

  • Artigo convidado
  • Versão original

REFERÊNCIAS

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Ago 2019
  • Data do Fascículo
    Jul-Aug 2019
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