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Freqüência de síndrome metabólica em crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade

Frequency of metabolic syndrome in overweight and obese children and adolescents

Resumos

OBJETIVO: Avaliar a freqüência de síndrome metabólica em crianças e adolescentes com sobrepeso ou obesos, além de relacionar a sua presença com variáveis socioeconômicas, atividade física e risco cardiovascular familiar. MÉTODOS: Por meio de estudo transversal, 59 pacientes com sobrepeso/obesidade, matriculados em ambulatório universitário, foram avaliados entre janeiro de 2004 e junho de 2006. Coletaram-se os seguintes dados: nível socioeconômico, escolaridade materna, risco cardiovascular familiar e atividade física. Utilizou-se o percentil do índice de massa corpórea (IMC) para classificar a condição nutricional. Considerou-se síndrome metabólica quando presentes três ou mais das seguintes alterações: triglicérides (>110mg/dL), HDL-c (<40mg/dL), circunferência abdominal (> percentil 90), resistência insulínica (glicemia >100mg/dL) e pressão arterial (> percentil 90). A análise estatística foi descritiva. RESULTADOS: Dos pacientes, 52,5% eram do gênero masculino e a média de idade foi 10,9±0,5 anos. A síndrome metabólica esteve presente em 42,4%. Inadequações das variáveis que compõem a síndrome metabólica foram observadas em 88,1% para a circunferência abdominal; 47,5% com hipertensão arterial; 23,7% com resistência insulínica; 42,4% com aumento dos triglicérides e 6,8% com elevação do HDL-c. Não se observou associação estatisticamente significante entre síndrome metabólica e gênero, idade, desenvolvimento puberal, renda per capita, escolaridade materna, horas de televisão/dia, horas de atividade física ou risco cardiovascular familiar. CONCLUSÕES: É alta a prevalência de síndrome metabólica em crianças e adolescentes obesos avaliados e, dentre os seus componentes, a circunferência abdominal e a pressão arterial elevadas são as mais freqüentes.

obesidade; resistência à insulina; criança; adolescente; circunferência abdominal


OBJECTIVE: Evaluate metabolic syndrome in overweight/obese children and adolescents and to study the association between this syndrome and socioeconomic variables, physical activity and familiar cardiovascular risk. METHODS: This cross-sectional study enrolled 59 children and adolescents with overweight/obesity in an outpatient university clinic, from January 2004 to June 2006. The following variables were studied: socioeconomic level, maternal schooling, familiar cardiovascular risk and physical activity. Body mass index (BMI) percentile was used to classify the nutritional status. Metabolic syndrome was considered when three or more of the following were present: triglycerides >110mg/dL or HDL-c <40mg/dL, waist circumference >90th percentile, insulin resistance (glucose level >100mg/dL) and blood pressure BP >90th percentile. Descriptive statistical analysis was applied. RESULTADOS: Out of the 59 children, mean age was 10.9±0.48 years and 52.5% were male. Metabolic syndrome was present in 42.4%. Altered components of the metabolic syndrome were: abdominal circumference in 88.1%, blood pressure 47.5%, insulin resistance 23.7%, triglycerides 42.4% and HDL-c 6.8%. No significant association was found between the presence of metabolic syndrome and gender, age, pubertal development, per capita income, maternal schooling, daily hours of TV viewing, weekly hours of physical activity (p=0.942) or familiar cardiovascular risk. CONCLUSIONS: The prevalence of metabolic syndrome is high among the evaluated overweight/obese children and adolescents. Altered abdominal circumference and high blood pressure were the most frequent components of the syndrome.

obesity; insulin resistance; child; adolescent; abdominal circumference


ARTIGO ORIGINAL

Freqüência de síndrome metabólica em crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade

Frequency of metabolic syndrome in overweight and obese children and adolescents

Caroline de Gouveia BuffI; Eliete RamosI; Fabíola Isabel S. SouzaII; Roseli Oselka S. SarniIII

IAcadêmica do quarto ano do curso de Medicina da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC)

IIMestre em Ciências da Saúde pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp/EPM) e professora colaboradora do Departamento de Pediatria da FMABC

IIIDoutora em Medicina pela Unifesp/EPM e professora assistente do Departamento de Pediatria da FMABC

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Roseli Oselka S. Sarni Rua René Zamlutti, 94, apto. 92 – Vila Mariana CEP 04116-260 – São Paulo/SP E-mail: rssarni@uol.com.br

RESUMO

OBJETIVO: Avaliar a freqüência de síndrome metabólica em crianças e adolescentes com sobrepeso ou obesos, além de relacionar a sua presença com variáveis socioeconômicas, atividade física e risco cardiovascular familiar.

MÉTODOS: Por meio de estudo transversal, 59 pacientes com sobrepeso/obesidade, matriculados em ambulatório universitário, foram avaliados entre janeiro de 2004 e junho de 2006. Coletaram-se os seguintes dados: nível socioeconômico, escolaridade materna, risco cardiovascular familiar e atividade física. Utilizou-se o percentil do índice de massa corpórea (IMC) para classificar a condição nutricional. Considerou-se síndrome metabólica quando presentes três ou mais das seguintes alterações: triglicérides (>110mg/dL), HDL-c (<40mg/dL), circunferência abdominal (> percentil 90), resistência insulínica (glicemia >100mg/dL) e pressão arterial (> percentil 90). A análise estatística foi descritiva.

RESULTADOS: Dos pacientes, 52,5% eram do gênero masculino e a média de idade foi 10,9±0,5 anos. A síndrome metabólica esteve presente em 42,4%. Inadequações das variáveis que compõem a síndrome metabólica foram observadas em 88,1% para a circunferência abdominal; 47,5% com hipertensão arterial; 23,7% com resistência insulínica; 42,4% com aumento dos triglicérides e 6,8% com elevação do HDL-c. Não se observou associação estatisticamente significante entre síndrome metabólica e gênero, idade, desenvolvimento puberal, renda per capita, escolaridade materna, horas de televisão/dia, horas de atividade física ou risco cardiovascular familiar.

CONCLUSÕES: É alta a prevalência de síndrome metabólica em crianças e adolescentes obesos avaliados e, dentre os seus componentes, a circunferência abdominal e a pressão arterial elevadas são as mais freqüentes.

Palavras-chave: obesidade; resistência à insulina; criança; adolescente; circunferência abdominal.

ABSTRACT

OBJECTIVE: Evaluate metabolic syndrome in overweight/obese children and adolescents and to study the association between this syndrome and socioeconomic variables, physical activity and familiar cardiovascular risk.

METHODS: This cross-sectional study enrolled 59 children and adolescents with overweight/obesity in an outpatient university clinic, from January 2004 to June 2006. The following variables were studied: socioeconomic level, maternal schooling, familiar cardiovascular risk and physical activity. Body mass index (BMI) percentile was used to classify the nutritional status. Metabolic syndrome was considered when three or more of the following were present: triglycerides >110mg/dL or HDL-c <40mg/dL, waist circumference >90th percentile, insulin resistance (glucose level >100mg/dL) and blood pressure BP >90th percentile. Descriptive statistical analysis was applied.

RESULTADOS: Out of the 59 children, mean age was 10.9±0.48 years and 52.5% were male. Metabolic syndrome was present in 42.4%. Altered components of the metabolic syndrome were: abdominal circumference in 88.1%, blood pressure 47.5%, insulin resistance 23.7%, triglycerides 42.4% and HDL-c 6.8%. No significant association was found between the presence of metabolic syndrome and gender, age, pubertal development, per capita income, maternal schooling, daily hours of TV viewing, weekly hours of physical activity (p=0.942) or familiar cardiovascular risk.

CONCLUSIONS: The prevalence of metabolic syndrome is high among the evaluated overweight/obese children and adolescents. Altered abdominal circumference and high blood pressure were the most frequent components of the syndrome.

Key-words: obesity; insulin resistance; child; adolescent; abdominal circumference.

Introdução

A obesidade é uma doença crônica que cresce de forma epidêmica em todo o mundo, atingindo todas as faixas etárias. Tem etiologia multifatorial, associando-se a fatores genéticos, ambientais e comportamentais, e preocupa devido às suas repercussões a curto e longo prazo(1).

Em crianças e adolescentes americanos, observa-se que a prevalência de obesidade triplicou nas últimas três décadas. Nos Estados Unidos, cerca de 15% das crianças e adolescentes são obesos, considerando-se como critério para diagnóstico o índice de massa corpórea (IMC) acima do percentil 95 para idade e gênero(2). Estudo populacional recente realizado na cidade de Santos, São Paulo, envolvendo 10.882 crianças com idade entre sete e dez anos, revelou prevalência de sobrepeso e obesidade de 15,7 e 18%, respectivamente(3).

A obesidade na infância associa-se à sua persistência na vida adulta e também a uma série de co-morbidades como dislipidemia, hipertensão arterial sistêmica, problemas psicossociais, alterações do metabolismo da glicose, problemas ortopédicos, apnéia do sono, síndrome dos ovários policísticos e esteatose hepática(4).

Destaca-se atualmente, como foco de estudo, a síndrome metabólica, reconhecido fator de risco para o desenvolvimento de doença cardiovascular e fortemente associada ao excesso de peso. É bem descrita em adultos e caracteriza-se pela presença de três ou mais dos seguintes critérios: pressão arterial elevada, HDL colesterol baixo, triglicérides elevados, presença de resistência insulínica e obesidade abdominal(5). Dados recentes estimam que a síndrome metabólica afeta 22% da população adulta norte-americana, incluindo 7% de homens e 6% de mulheres entre 20 e 29 anos, faixa etária próxima da adolescência(6).

Há poucos estudos avaliando a prevalência de síndrome metabólica em crianças e adolescentes, não existindo consenso sobre critérios e pontos de corte a serem utilizados, os quais variam de estudo para estudo(7-9). Entre os trabalhos publicados, verificam-se freqüências de 23,3% em crianças portuguesas obesas(7), 28,7% em adolescentes (12 a 18 anos) americanos com obesidade(8) e 17,3% em crianças obesas com sete a dez anos, no Distrito Federal, Brasil(9).

Assim, diante da importância da obesidade e de suas repercussões a curto e longo prazo, realizou-se este estudo, cujo objetivo foi avaliar a freqüência de síndrome metabólica em crianças e adolescentes com sobrepeso/obesidade matriculados em ambulatório de serviço universitário de referência, além de relacionar a presença da síndrome metabólica com variáveis socioeconômicas, risco cardiovascular familiar e atividade física.

Método

Por meio de estudo transversal, foram avaliados 59 pacientes com sobrepeso e obesidade matriculados no Ambulatório de Obesidade do Serviço de Crescimento, Desenvolvimento e Terapia Nutricional do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC), Santo André, São Paulo. Foram incluídos no estudo todos os pacientes que ingressaram no serviço entre janeiro de 2004 e junho de 2006. Foram excluídos os portadores de doenças crônicas como: nefropatias, endocrinopatias, hepatopatias, doenças reumatológicas e baixa estatura (escore Z de estatura/idade <-2). A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da FMABC.

A avaliação socioeconômica foi analisada a partir das variáveis "salário mínimo per capita" (SMPC) e "escolaridade materna". Estabeleceu-se como baixo nível socioeconômico o SMPC inferior a 0,5(10) e a baixa escolaridade materna quando inferior a quatro anos.

Os antecedentes de risco familiar para doença cardiovascular foram considerados presentes quando relatado que pais, irmãos, avós, tios e tias tivessem apresentado obesidade, hipertensão, dislipidemia, diabetes, tabagismo e/ou doenças cardiovasculares, antes dos 55 anos para homens e dos 65 anos para mulheres(11).

A presença de atividades diárias foi avaliada segundo a prática de atividade física regular extracurricular (número de vezes na semana e duração da atividade), nível de sedentarismo (horas em televisão, vídeo game e computador por dia) e horas de sono noturno.

Para a avaliar a condição nutricional, foram obtidos os dados de peso e estatura(12). As crianças e adolescentes foram classificadas de acordo com o percentil do IMC em eutróficos (IMC<P85), sobrepeso (P85<IMC<P95) e obesos (IMC>P95)(13). Utilizou-se também o índice de estatura para idade sob a forma do escore Z.

O estadiamento puberal foi avaliado por um único pediatra e classificado de acordo com a presença de caracteres sexuais secundários em ambos os gêneros (M=mamas e G=testículos), como proposto por Marshall & Tanner(14).

A circunferência abdominal foi aferida por meio de fita inextensível, graduada em milímetros, no ponto médio entre a décima costela e a crista ilíaca superior. Foram considerados inadequados os valores de circunferência abdominal iguais ou maiores ao percentil 90 para gênero e idade(15).

Finalmente, a aferição da pressão arterial foi obtida segundo preconização do Task Force de 2004 e classificada segundo gênero, idade e estatura, sendo o ponto de corte pressão arterial sistólica ou diastólica igual ou superior ao percentil 90(16).

Quanto aos exames laboratoriais, após jejum de 12 horas, coletou-se 10mL de sangue por venopunção periférica para a dosagem do perfil lipídico (LDL-c, HDL-c e triglicérides), no período da manhã. Adotou-se como ponto de corte o critério de Kwiterovich(17). Para a glicemia, estabeleceu-se como ponto de corte valor superior a 100mg/dL(18).

Para caracterizar a síndrome metabólica, utilizou-se o critério proposto por Cook et al(8) modificado, que considera a sua presença diante de três ou mais das seguintes alterações: triglicérides >110mg/dL, HDL-c <40mg/dL, circunferência abdominal >P90, resistência insulínica (glicemia >100mg/dL) e pressão arterial sistólica ou diastólica >P90.

Na análise estatística, utilizou-se o SPSS 13.0 e o Epi-Info 2000. Foram construídas tabelas de freqüência e aplicado o teste do qui-quadrado para comparar as variáveis de forma qualitativa e o cálculo da Odds Ratio (OR) para verificar a associação entre as variáveis estudadas, considerando-se p<0,05 como significante.

Resultados

Dos pacientes que compuseram o estudo, 31/59 (52,5%) eram do gênero masculino, a média de idade foi 10,9±0,48 anos, e 29/59 (49,1%) apresentavam desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários (estadios 2, 3, 4 ou 5), conforme Tabela 1. Em relação à condição nutricional, 52/59 (88,1%) e 7/59 (11,8%) tinham obesidade e sobrepeso, respectivamente. Dentre as crianças e os adolescentes avaliados, apresentavam renda per capita inferior a meio salário mínimo 28/52 (53,8%) e mãe com baixa escolaridade (inferior a quatro anos) 8/59 (13,6%), de acordo com a Tabela 1.

Quanto às atividades diárias, 27/59 (45,8%), 42/59 (71,2%) e 31/59 (52,5%) pacientes estudados assistiam mais do que quatro horas de televisão por dia, dormiam menos do que dez horas por noite e praticavam menos de duas horas de atividade física leve por semana, respectivamente.

A síndrome metabólica esteve presente em 25/59 (42,4%) dos pacientes avaliados. Inadequações das variáveis que compõem a síndrome metabólica foram observadas em: 52/59 (88,1%) no que concerne à circunferência abdominal; 28/59 (47,5%) em relação à hipertensão arterial (32,2% sistólica e 42,4% diastólica); 13/59 (23,7%) na resistência insulínica; 25/59 (42,4%) nos triglicérides e 4/59 (6,8%) no HDL-c (Gráfico 1). Quanto ao LDL-c, encontrou-se 12/59 (20,3%) de inadequação.


Não foi observada associação estatisticamente significante entre a presença de síndrome metabólica e gênero, idade, desenvolvimento puberal, renda per capita, escolaridade materna, horas de televisão diárias, horas de sono noturno, horas de atividade física, conforme Tabela 2. Também não se observou associação emtre a síndrome metabólica e antecedentes familiares para doenças cardiovasculares (Tabela 3).

Discussão

Encontrou-se alto percentual de síndrome metabólica na população estudada (42,3%). Essa freqüência é superior a outros estudos populacionais com crianças(7,9) e adolescentes obesos(8). Possivelmente, esta alta frequência decorra da casuística ser proveniente de serviço universitário, que atende os casos mais graves de obesidade e, também, pela diversidade de critérios utilizados para caracterizar a síndrome em diferentes estudos. Chen e Berenson(19), em publicação recente, ressaltaram a limitação dos critérios para caracterizar a síndrome metabólica na faixa etária pediátrica e reforçaram a importância de uma definição universal. Entretanto, não deixa de ser bastante preocupante o fato de quase 50% dos pacientes, ainda bastante jovens (média de idade de 10,9 anos), serem encaminhados ao serviço de referência com uma série de co-morbidades associadas.

Dentre os critérios diagnósticos para síndrome metabólica, a obesidade abdominal foi a que mostrou maior percentual de inadequação. O achado reforça a hipótese de alguns pesquisadores que a obesidade, por si só, seria um determinante expressivo da síndrome metabólica, mesmo durante a infância e a adolescência(20). A presença da adiposidade central é fator de risco comprovado para o desenvolvimento de dislipidemias e resistência insulínica na faixa etária pediátrica(15).

A relação entre obesidade, síndrome metabólica e doença aterosclerótica é bem conhecida em adultos(5). Embora crianças e adolescentes não apresentem doença aterosclerótica franca, as crianças obesas mostram um perfil de risco cardiovascular compatível com seu desenvolvimento precoce, isto é, alterações de perfil lipídico, da pressão arterial e da glicemia(21-24). Estudo de coorte em indivíduos jovens mostra que a presença de síndrome metabólica está associada a espessamento endotelial avaliado por ultra-sonografia com medida de fluxo de carótida, sugerindo que o processo tenha início já na infância(25). Entretanto, há limitações nos estudos longitudinais disponíveis, não sendo possível mensurar a influência dessas morbidades associadas no desenvolvimento de doenças futuras, especialmente diabetes melito e doença aterosclerótica(21,23).

Houve predominância do baixo nível econômico nas famílias dos pacientes avaliados. É comum a associação entre nível econômico desfavorável e aparecimento de distúrbios nutricionais, incluindo a obesidade, com risco aumentado para o desenvolvimento de co-morbidades(24). Em populações de baixo nível socioeconômico, a obesidade co-existe com outras carências nutricionais, destacando-se a carência de micronutrientes, entre eles os antioxidantes (vitamina A, vitamina E, selênio, zinco, cobre), o que colabora para exacerbar o estresse oxidativo e elevar o risco de doenças crônicas não-transmissíveis(26).

A maioria dos pacientes estudados, independentemente da presença da síndrome metabólica, mostrou estilo de vida sedentário, pouca atividade física regular e tempo excessivo gasto com televisão, videogame e computador. Sabe-se que a inatividade física é um dos fatores mais importantes para o desenvolvimento de doenças crônicas(27) e, quando presente na infância, tende a persistir na vida adulta.

Contrariamente a outros estudos da literatura, não se observou associação entre a síndrome metabólica e a história familiar para doença cardiovascular(28,29). A falta de associação pode derivar do desconhecimento da família em relação aos antecedentes pesquisados ou, mesmo, decorrer da não realização rotineira de exames para identificar de forma precoce e, consequentemente, prevenir de modo efetivo as doenças cardiovasculares.

O nível socioeconômico, as atividades de vida diária e o risco cardiovascular familiar não mostraram associação com a presença da síndrome metabólica. Cabe ressaltar que há limitação no número de pacientes avaliados, o que pode ter contribuído para a falta de associação entre a síndrome metabólica e as variáveis estudadas.

Os resultados obtidos permitem concluir que é alta a prevalência de síndrome metabólica entre crianças e adolescentes com sobrepeso/obesidade avaliados e, dentre os seus componentes, a circunferência abdominal e a pressão arterial elevadas são os mais alterados. Tais alterações podem contribuir para o desenvolvimento precoce de doenças crônicas, o que remete à importância da prevenção, estimulando hábitos alimentares e estilo de vida saudáveis.

Recebido em: 16/3/2007

Aprovado em: 30/7/2007

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  • Endereço para correspondência:

    Roseli Oselka S. Sarni
    Rua René Zamlutti, 94, apto. 92 – Vila Mariana
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      19 Nov 2007
    • Data do Fascículo
      Set 2007

    Histórico

    • Aceito
      30 Jul 2007
    • Recebido
      16 Mar 2007
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