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Fenomenologia e Psicologia no Brasil: aspectos históricos

Phenomenology and Psychology in Brazil: Historical aspects

Resumo

A Historiografia da Filosofia, tradicionalmente, indica que a Fenomenologia chega ao Brasil na década de 1940, pela via existencialista. Entretanto, foi no campo da Psicologia que a Fenomenologia teve suas primeiras referências no cenário brasileiro. A proposta deste artigo é apresentar um breve histórico da entrada e consolidação da Fenomenologia no País, apontando os autores preliminarmente referenciados e traçando suas raízes na Psicologia de Waclaw Radecki e Nilton Campos como pioneiros, além das primeiras referências na Filosofia com Euryalo Cannabrava e Vicente Ferreira da Silva. Por fim, busca avaliar o cenário atual, diante de suas relações históricas, marcando os desenvolvimentos recentes na Psicologia.

Palavras-chave:
Fenomenologia; Filosofia; Historiografia; Psicologia

Abstract

The Historiography of Philosophy traditionally indicates that Phenomenology arrived in Brazil in the 1940s, through discussions of Existentialism. However, it was in the field of Psychology that Phenomenology had its first publications in the Brazilian scenario. The purpose of this paper is to present a brief history of the arrival and consolidation of Phenomenology in Brazil, referring to its first authors, and tracing its roots in Psychology to pioneers Waclaw Radecki and Nilton Campos. We present the first references in Philosophy through Euryalo Cannabrava and Vicente Ferreira da Silva and also discuss the current scenario, shedding light to the latest developments in the area of Psychology, pinpointing their historical basis.

Keywords:
Phenomenology; Philosophy; Historiography; Psychology

A Fenomenologia, no Brasil, protagoniza um cenário curioso. Embora seja uma das mais impor-tantes contribuições para o pensamento contem-porâneo, a Fenomenologia goza de pouco espaço e limitadas atenções no âmbito acadêmico nacional. Esse cenário vem sendo, pouco a pouco, modificado por um conjunto de publicações de textos de grande qualidade e traduções de alguns originais de Husserl, no âmbito da Filosofia, bem como por um repertório cada vez mais presente de grupos de pes-quisa e produções acadêmicas na área da Psicologia.

Certamente que as contribuições do pensa-mento fenomenológico não se resumem a essas duas disciplinas, sendo que outras áreas contam com extensa produção, como Direito, Física, Edu-cação, Enfermagem, dentre outras. No entanto, o foco deste artigo volta-se para a Filosofia e a Psi-cologia devido aos laços históricos estreitos entre ambas e a Fenomenologia, remontando a Brentano e Husserl. Uma mostra do relevo do pensamento fenomenológico pode ser observada a partir das múltiplas influências que exerceu e ainda exerce sobre numerosos campos do conhecimento (Holanda, 2014Holanda, A. F. (2014). Fenomenologia e humanismoReflexões necessárias. Curitiba: Juruá.).

O propósito deste texto é tecer um esboço preliminar da história da Fenomenologia no país, partindo, para isso, de um projeto de pesquisa que busca compreender as raízes e relações da área com o pensamento brasileiro buscando compreender seus processos de chegada, desenvolvimento e rami-ficações. Além disso, tenta compreender, a partir de seus primeiros leitores e comentadores, os espaços atuais dessa ciência. O referido projeto é desenvolvido junto ao Laboratório de Fenome-nologia e Subjetividade (LabFeno), vinculado ao Departamento de Psicologia e ao Programa de Pós--Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Paraná, e encontra-se registrado sob o nome "História do Movimento Fenomenológico no Brasil". É desenvolvido em três vertentes: (a) uma que envol-ve um conjunto de pesquisas historiográficas, com ênfase na compilação de temas, obras e autores pioneiros na divulgação da Fenomenologia no Brasil, através de um estudo biobibliográfico; (b) outra que prevê um estudo conceitual de temáticas e propo-sições fenomenológicas, com vistas à sua aproxi-mação ou aplicação ao contexto psicológico; e (c) uma última que envolve um estudo o qual visa de-senvolver elementos teóricos e técnicos vinculados ao tema da Saúde Mental e da Psicopatologia Feno-menológica. Um conjunto de produções já deriva-ram desse projeto, como estudos historiográficos (Lima & Holanda, 2015Lima, A. A., & Holanda, A. F. (2015). Psiquiatria e espi-ritismo: a história do Hospital Bom Retiro (Curitiba, 1930-1950). Curitiba: Factum Pesquisas Históricas.; Schleder & Holanda, 2015Schleder, K. S., & Holanda, A. F. (2015). Nise da Silveira e o enfoque fenomenológico. Revista da Abordagem Gestáltica - Phenomenological Studies21(1), 49-61.; Silva, 2014Silva, G. B., & Holanda, A. F. (2014). Primórdios da As-sistência em Saúde Mental no Brasil (1841-1930). Memorandum, Memória e História em Psicologia, 27, 127-142.; Silva & Holanda, 2014Silva, G. B., & Holanda, A. F. (2014). Primórdios da As-sistência em Saúde Mental no Brasil (1841-1930). Memorandum, Memória e História em Psicologia, 27, 127-142.), de cunho con-ceitual (Holanda, 2009Holanda, A. F. (2009). Fenomenologia e Psicologia. Diálo-gos e interlocuções. Revista da Abordagem Gestáltica15(2), 87-92., 2014Holanda, A. F. (2014). Fenomenologia e humanismoReflexões necessárias. Curitiba: Juruá.) e de Saúde Mental (Mäder, 2015Mäder, B. J. (2015). Mapeamento da Rede de Atenção à Saúde Mental do Litoral do Paraná (Dissertação de Mestrado não-publicada). Universidade Federal do Paraná, Curitiba., Muhl, 2015Muhl, C. (2015). A atuação do psicólogo na Rede de Atenção Psicossocial: um estudo fenomenológico na Regional de Saúde do Litoral do Paraná (Dissertação de Mestrado não-publicada). Universidade Federal do Paraná, Curitiba.; Puchivailo, Silva, & Ho-landa, 2013Puchivailo, M. C., Silva, G. B., & Holanda, A. F. (2013). A reforma na Saúde Mental no Brasil e suas vinculações com o pensamento fenomenológico. Revista da Abor-dagem Gestáltica - Phenomenological Studies19(2), 230-239.).

Dessa maneira, pode-se afirmar que as ideias fenomenológicas se fizeram presentes no Brasil desde o início da década de 1910, através da obra de Raymundo de Farias Brito, considerado o pre-cursor do pensamento existencialista no país (Cerqueira, 2002Cerqueira, L. A. (2002). Filosofia brasileira. Ontogênese da consciência de si. Petrópolis: Vozes.; Guimarães, 1984Guimarães, A. C. (1984). Farias Brito e as origens do Existencialismo no Brasil. São Paulo: Convívio .). Essas ideias se des-tacam, segundo historiadores da filosofia brasileira, a partir da década de 1940 e com base em um "ideário existencialista" (Guimarães, 1984Guimarães, A. C. (1984). Farias Brito e as origens do Existencialismo no Brasil. São Paulo: Convívio .). E isso acontece em três perspectivas: 1) a introdução de temas existenciais e autores fenomenólogos, os quais dissertam sobre esses temas; 2) a reflexão filosófica estreitamente entrelaçada à Filosofia do Direito; e 3) reflexões e pesquisas em Psicologia, com significativo impacto na Psiquiatria (Guimarães, 1981Guimarães, A. C. (1981). Momentos do pensamento Luso-Brasileiro. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro., 1982Guimarães, A. C. (1982). O tema da consciência na Filosofia brasileira. São Paulo: Convívio., 1984Guimarães, A. C. (1984). Farias Brito e as origens do Existencialismo no Brasil. São Paulo: Convívio ., 2000Guimarães, A. C. (2000). O pensamento fenomenológico no Brasil. Revista Brasileira de Filosofia, 50(198), 258-267.; Morujão, 1990Morujão, A. F. (1990). Fenomenológico (Movimento). In J. B. Chorão (Dir.), Logos. Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia (vol. 2, pp.495-503). Lisboa: Verbo.).

Breve histórico do pensamento fenomenológico no Brasil

A Fenomenologia influenciou significativa-mente um grande número de pensadores e disci-plinas em solo brasileiro. Os primeiros a serem cita-dos como pioneiros da Fenomenologia no Brasil são Euryalo Cannabrava e Vicente Ferreira da Silva. Euryalo Cannabrava (1906-1981) publica, em 1941, "Seis Temas do Espírito Moderno", onde cita autores como Bergson, Heidegger, Husserl, Jaspers, Marcel, Kierkegaard e Scheler, além de fazer uma breve menção a Husserl, especificamente às "Medi-tações Cartesianas" (Cannabrava, 1941Cannabrava, E. (1941). Seis temas do espírito moderno. São Paulo: SEP.). Em seu projeto de filosofia, Cannabrava busca a formulação de uma teoria filosófica em estreito contato com problemas existenciais, caminho que traça entre a Fenomenologia Husserliana e a filosofia da exis-tência alemã, a partir das leituras de Heidegger e Jaspers (Abreu e Silva Neto, 2011Abreu e Silva Neto, N. (2011). Euryalo Cannabrava. In R. H. F. Campos (Org.), Dicionário biográfico da Psicologia no Brasil (pp.114-119). Rio de Janeiro: Imago.; Guimarães, 2000Guimarães, A. C. (2000). O pensamento fenomenológico no Brasil. Revista Brasileira de Filosofia, 50(198), 258-267.). Já Vicente Ferreira da Silva (1916-1963) aparece como um dos primeiros leitores de Heidegger (Guimarães, 2000Guimarães, A. C. (2000). O pensamento fenomenológico no Brasil. Revista Brasileira de Filosofia, 50(198), 258-267.; Morujão, 1990Morujão, A. F. (1990). Fenomenológico (Movimento). In J. B. Chorão (Dir.), Logos. Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia (vol. 2, pp.495-503). Lisboa: Verbo.), como se pode constatar a partir da publicação de seus "Ensaios Filosóficos", os quais continham dois textos: um sobre Heidegger e outro sobre Sartre (Ferreira da Silva, 1948Ferreira da Silva, V. (1948). Ensaios filosóficos. São Paulo: Progresso.).

Um aspecto relevante é que nomes como Henri Bergson, Nietzsche, Gabriel Marcel e Kierkegaard foram destacados anteriormente na literatura bra-sileira em relação aos expoentes tradicionais da Fenomenologia (como Husserl e Heidegger, ou mesmo Jaspers), o que corrobora a tese do "ideário existencialista" da fenomenologia brasileira (Paim, 1979Paim, A. (1979). Biblografia filosófica brasileira. Período contemporâneo (1931-1977). São Paulo: GRD/INL.). É possível observar isso a partir de uma série de publicações. Começando por 1938, quando José Perez traduz um livro de René Gillouin sobre Bergson, primeira introdução ao pensador francês no Brasil; já em 1940, tem-se a primeira publicação sobre Nietzsche, uma tradução de Sergio Milliet (Paim, 1979Paim, A. (1979). Biblografia filosófica brasileira. Período contemporâneo (1931-1977). São Paulo: GRD/INL.). Na sequência, surgiram uma série de publi-cações relacionadas a temas e autores existenciais, como "Estudos de Filosofia. Do Conciente" (grafia no original), de Drummond (1943Drummond, S. L. (1943). Estudos de Filosofia. Do cons-ciente. Rio de Janeiro: Zelio Valverde.), uma nova publi-cação de Cannabrava (1944Cannabrava, E. (1944). Descartes e Bergson. São Paulo: Amigos do Livro.), "Descartes e Bergson", com algumas novas menções curtas a Husserl e a Heidegger; além de um livro de Miguel Reale, inti-tulado "Nietzsche e o Valor da Filosofia", de 1945 (Paim, 1979Paim, A. (1979). Biblografia filosófica brasileira. Período contemporâneo (1931-1977). São Paulo: GRD/INL., 1986Paim, A. (1986). O Estudo do pensamento filosófico brasileiro. São Paulo: Convívio ., 1990Paim, A. (1990). Revistas de Filosofia. In J. B. Chorão (Dir.), Logos. Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia (Vol. 5, pp.741-746). Lisboa: Verbo .), e uma introdução ao exis-tencialismo, de autoria de Moniz (1948Moniz, H. (1948). O Que é Existencialismo. Rio de Janeiro: A Noite.).

Um nome de grande relevância nesse cená-rio é o de João de Sousa Ferraz, a quem o presente artigo faz menção a partir de duas obras: "Psicologia Humana" (Ferraz, 1945Ferraz, J. S. (1945). Psicologia humana. São Paulo: Saraiva & Companhia. ) e "Compreensão Fenome-nológica das Emoções (Aspectos Psicológicos da Filosofia Existencial)" (Ferraz, 1950Ferraz, J. S. (1950). Compreensão fenomenológica das emoçõesLimeira: Letras da Província.). Em ambas as publicações, o autor marca sua importância a partir da discussão de questões psicológicas - presentes desde a obra de Brentano e do primeiro Husserl -, além de marcar referências a Merleau-Ponty e William James. Outro nome que se destaca em meio a essas vinculações é o de Miguel Reale, por seus estudos e escritos que relacionam a Fenomenologia e a Filosofia do Direito. Seu trabalho principia com uma discussão política nos anos 1930 e logo cobre todo o Direito e outras questões filosóficas, a fim de compreender o ser humano em sua totalidade (Paim, 1986Paim, A. (1986). O Estudo do pensamento filosófico brasileiro. São Paulo: Convívio ., 1999Paim, A. (1999). "A Obra Filosófica de Miguel Reale". In M. Reale. Bibliografia e estudos críticos (pp.65-83). Salvador: Centro de Documentação do Pensamento Brasileiro.). Encontra a Fenomenologia de forma definitiva em 1953, com a publicação de "Filosofia do Direito" em um diálogo com Husserl (Souza, 1991Souza, F. M. (1991). O problema do conhecimento em Miguel Reale e o diálogo com Husserl. Ciências Hu-manas (Rio de Janeiro), 4(18-19), 42-46.). Em sua "Filosofia do Direito", caracte-riza o método fenomenológico em duas seções: "Análise fenomenológica da realidade jurídica" e "Da redução fenomenológica à reflexão histórico--axiológica", onde fundamenta sua "Ontognoseolo-gia Jurídica" (Reale, 1953Reale, M. (1953). Filosofia do Direito. São Paulo: Saraiva.). Ainda com relação à "Filosofia do Direito", Paim (2010)Paim, A. (2010). "O movimento fenomenológico brasi-leiro". In M. C. Natário, A. B. Teixeira, & R. Epifânio (Coords.), O movimento fenomenológico em Portugal e no Brasil (pp.123-140). Lisboa: Zéfiro. destaca Moacir Teixeira de Aguiar, o qual realça sua leitura do cul-turalismo jurídico remetendo-se a obras Husserlianas.

A década de 1950 apresenta novas publi-cações de caráter existencialista, como o livro de Alceu Amoroso Lima, "O Existencialismo", e o de Delfim Santos, "Fundamentação Existencial da Pedagogia", ambos de 1951. Mas, apesar de existir uma considerável quantidade de publicações de caráter introdutório, ainda não havia traduções dos originais desses filósofos. O primeiro a ser conhecido diretamente a partir de seus originais foi Gabriel Marcel, com a publicação, em 1952Marcel, G. (1952). Présence et Immortalité. Recife: Uni-versidade de Recife., de "Présence et Immortalité" (Marcel, 1952Marcel, G. (1952). Présence et Immortalité. Recife: Uni-versidade de Recife.); no mesmo ano, Vitor Visconti publica "Três Momentos do Exis-tencialismo" (Paim, 1990Paim, A. (1990). Revistas de Filosofia. In J. B. Chorão (Dir.), Logos. Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia (Vol. 5, pp.741-746). Lisboa: Verbo .). Até esse momento, os fenomenólogos só são conhecidos no Brasil a partir de poucas e curtas introduções e o acesso aos originais restringia-se apenas àqueles que tinham a oportunidade de estudar na Europa, em particular na Bélgica (onde estão os "Arquivos Husserl"), Fran-ça e Alemanha. Isso fez com que o pensamento fenomenológico e, principalmente, os conceitos chave, suas discussões e as elaborações posteriores, ficassem restritos a poucos estudiosos e programas de formação.

A primeira menção a Max Scheler em publi-cações brasileiras se deu através do livro de Hélio Lessa Sousa, "A Axiologia e o personalismo de Max Scheler", publicado em 1953. E é apenas em 1954 que o grande público conhece Heidegger, a partir de duas curtas introduções: "Heidegger e o Problema da Filosofia", de Mattos (1954Mattos, C. L. (1954). Heidegger e o problema da Filosofia. Limeira: Letras da Província .), e "Notas sobre Heidegger", de Glaucio Veiga (Paim, 1990Paim, A. (1990). Revistas de Filosofia. In J. B. Chorão (Dir.), Logos. Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia (Vol. 5, pp.741-746). Lisboa: Verbo .). Cabe destacar que a primeira tradução de um original de Heidegger se deu apenas em 1966, por Emanuel Carneiro Leão, e foi sua "Introdução à Metafísica". Esse ano foi pródigo em produções, posto que, além de Heidegger, houve mais três traduções de textos de Sartre: "Questão de Método" (traduzido por Bento Prado Junior), "Esboço de uma Teoria das Emoções" (com tradução de Fernando de Castro Ferro) e "Marxismo e Existencialismo", uma compilação de artigos de Sartre, Roger Garaudy, Jean Hypollite, J-P Vigier e Jean Orcel (com tradução de Luiz Serrano Pinto). Ainda em 1966, Ernildo Stein publica "Introdução a Heidegger".

É muito importante destacar que, até então, nomes de relevo, como Husserl e Merleau-Ponty, eram quase desconhecidos da maioria no Brasil. Já as traduções de Heidegger se multiplicavam fazendo com que o filósofo alemão - ao lado de Sartre -, se tornasse um dos nomes mais conhecidos e direta-mente associados à Fenomenologia no país. Em 1967, Emanuel Carneiro Leão traduz "Sobre o Hu-manismo" e, em 1969, Ernildo Stein traduz "Sobre o Problema do Ser: o caminho do campo" e "Que é Metafísica". Além disso, tem-se, ainda, a publicação de Da experiência do pensar, traduzido por Maria do Carmo Tavares Miranda. Já no ano seguinte, é publicado o livro "Sobre a essência da verdade" e, em 1971, "O que é isto a Filosofia?", ambos tradu-zidos por Ernildo Stein. Pode-se observar com isso que, desde cedo, o pensamento fenomenológico no Brasil teve que lidar com a ambiguidade dos olhares diversos em detrimento de uma perspectiva longitudinal. Ademais, a gênese da Fenomeno-logia, com Brentano e Husserl, se tornou uma incógnita até muito recentemente, notadamente pela ausência de qualquer tradução brentaniana até os dias atuais (ou mesmo debates acerca de suas posições), bem como pelo fato de ainda se ter pouco acesso aos originais Husserlianos.

As primeiras referências a Karl Jaspers datam de 1958, com duas traduções: "Razão e Anti-Razão em Nosso Tempo" e "A Bomba". Jaspers se torna mais conhecido do grande público brasileiro por seus trabalhos em Psiquiatria, particularmente a partir de sua "Psicopatologia Geral", traduzida e publi-cada nos anos 1970. Já Merleau-Ponty teve sua introdução no Brasil graças à publicação de Marilena Chauí Berlink, em 1967Merleau-Ponty, M. (1967). Humanismo e terror (Tradução de N. Ladosky). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro . (Ori-ginalmente publicado em 1947)., "Maurice Merleau-Ponty e a Crítica do Humanismo", e à tradução de "Huma-nismo e Terror" (Merleau-Ponty, 1947/1967Merleau-Ponty, M. (1967). Humanismo e terror (Tradução de N. Ladosky). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro . (Ori-ginalmente publicado em 1947).). Impor-tante ressaltar que este último - originalmente publi-cado em 1947 -, chega ao país apenas vinte anos depois. Era possível, no entanto, conseguir um exemplar da tradução portuguesa de Fernando Gil do livro "Signes", publicação tardia de Merleau--Ponty. O curioso é que a primeira obra do autor, "A Estrutura do Comportamento", somente conheceu sua primeira tradução para o português em 1975 (Merleau-Ponty, 1942/1975Merleau-Ponty, M. (1975). A estrutura do comporta-mento (Tradução de J. A. Correia). Belo Horizonte: Interlivros. (Originalmente publicado em 1942).). No Brasil, suas obras tardias foram traduzidas antes mesmo de seus textos fundantes, como foi o caso de "O Olho e o Espírito" (tradução de Gerardo Dantas Barreto), em 1969. Em 1971 surgiram três traduções: "Fenome-nologia da Percepção" (por Reginaldo Di Piero), "O Visível e o Invisível" (por José Artur Gianotti e Armando Moura D'Oliveira) e "A Prosa do Mundo" (traduzido por Celina Luz); e, posteriormente, em 1973, "Ciências do Homem e a Fenomenologia" (traduzido por Salma Tannus Muchail).

Isto se repete com a maioria dos filósofos citados, fazendo com que o público brasileiro re-cepcionasse essas obras e os pensamentos desses autores sem uma perspectiva de continuidade; o que, eventualmente, responde pelas diversas inter-pretações, por vezes conflitantes, para a Feno-menologia em nosso país. No caso de Merleau--Ponty, por exemplo, seu primeiro livro é de funda-mental importância para compreender tanto a formação quanto a evolução de seu pensamento, dado que a noção de "corpo próprio" ou de "cor-poreidade" ali encontram sua constituição. Esse livro, juntamente com sua tese - "Fenomenologia da Percepção" -, são obras já implicadas com a "pre-sença" e contêm elementos para a explicação onto-lógica da obra de 1964, "O Visível e o Invisível".

Com isso, marca-se um importante detalhe o qual tomará maiores proporções nos anos pos-teriores, quando as interpretações desses filósofos passam a ser feitas cada vez mais por experts, distanciadas dos grandes debates públicos. Assim, além de ainda não existir nenhum texto traduzido de Brentano à época, ou mesmo uma introdução ao seu pensamento, pode-se considerar como um agravante na compreensão de todo o edifício do pensamento fenomenológico o fato do primeiro texto de Husserl traduzido no Brasil ter sido um excerto de suas "Investigações Lógicas" (primeiro volume) - especificamente, a "Sexta Investigação" -, com tradução de Zeljko Loparic para a antiga cole-ção "Os Pensadores", em 1975.

Uma das consequências dessa alienação do público em geral com relação aos principais textos é a de que a Fenomenologia passou a ser cada vez mais relegada a um pequeno grupo de estudiosos, com suas opções de leitura e interpretações. Um segundo impacto pode ser encontrado na dificul-dade de acesso aos principais conceitos fenome-nológicos - igualmente reinterpretados à luz de outros pensadores -, e na constituição de um con-texto de "fenomenologias" diversas, o que reduziu consideravelmente o atrativo para a sua leitura e estudo. Associado a isso, além do fato de serem textos naturalmente densos, o fato de se ter tido pouco acesso a uma perspectiva de todo o pen-samento fenomenológico acabou criando "espe-cialidades", principalmente fora do âmbito filosó-fico, com a apropriação da Fenomenologia por outras ciências.

Assim, a demanda por conhecimento feno-menológico, associado a dificuldades de acesso aos originais, acabou por beneficiar a divulgação de "introduções", as quais serviram como "manuais" de leitura, além de serem fonte única de leitura para a maioria dos interessados. Até a década de 1990, aos que queriam conhecer Husserl, por exem-plo, restava recorrer às traduções francesas ou es-panholas e lidar com os distintos modos de inter-pretações conceituais. A primeira dessas introduções foi o texto de Lyotard, "A Fenomenologia", já conhecido no Brasil na década de 1960, e o livro de Dartigues, "O que é Fenomenologia", traduzido na década de 1970. Além destas, foram particular-mente importantes a presença, as contribuições e as traduções de nomes como Ernildo Stein, Emanuel Carneiro Leão, Zeljko Loparic, Gerd Bornheim, Maria do Carmo Tavares Miranda, Creusa Capalbo, Newton Aquiles Von Zuben, Urbano Zilles, Benedito Nunes, dentre outros.

Primeiras referências à Fenomenologia nas pesquisas psicológicas

O fato do presente artigo apontar Farias Brito como precursor das ideias fenomenológicas se dá por seu pioneirismo na discussão de temas como a "consciência" e por antecipar o existencialismo. Po-rém, desde cedo, essas ideias se destacaram igual-mente nas investigações psicológicas.

As relações da Fenomenologia com a Psico-logia sempre foram próximas, desde os escritos Brentanianos, passando pelas primeiras reflexões Husserlianas e alcançando status privilegiado em pensadores como Sartre, Heidegger, Merleau-Ponty, entre outros. Essas relações também se manifestam nas leituras e produções brasileiras, notadamente pela perspectiva metodológica e a partir da explo-ração de temas relacionados à Psicologia, como consciência, interioridade, egologia, intersubjeti-vidade, etc. Essa estreita relação da Fenomenologia com a Psicologia se manifesta no país através dos trabalhos de dois dos pioneiros da iniciante ciência brasileira: Waclaw Radecki e Nilton Campos.

Já se falou a respeito do pioneirismo das pes-quisas de Nilton Campos (Holanda, 2012Holanda, A. F. (2012). O método fenomenológico em Psicologia: uma leitura de Nilton Campos. Estudos e Pesquisas em Psicologia (UERJ), 12(3), 833-851.) e já foram reiteradas as primeiras menções da Fenomenologia no contexto da filosofia brasileira, mas o que irá se destacar agora é o ineditismo das referências à Fe-nomenologia encontrado nos primeiros escritos psicológicos brasileiros, em particular nos trabalhos desenvolvidos pelo Laboratório de Psicologia da Colônia de Psicopatas de Engenho de Dentro, res-ponsável pela antecipação das manifestações da Fenomenologia na filosofia brasileira. Destaca-se, pois, que foram os escritos psicológicos e autores vinculados diretamente à nascente Psicologia bra-sileira que, desde a década de 1920, se tornaram os primeiros a utilizar a Fenomenologia em seus trabalhos.

Destaca-se, particularmente, a contribuição de Waclaw Radecki, psicólogo nascido em 1887 em Varsóvia, Polônia, que dedicou sua vida às pesquisas psicológicas (Cambiaggio, 1977Cambiaggio, D. (1977). Vida y obra de Waclaw Radecki (1887-1953). Revista Latinoamericana de Psicología, 9(2), 343-346.). Radecki trabalhou como assistente de pesquisas de Edouard Claparède na França e em 1911 obtém seu doutoramento com uma tese sobre os "Fenômenos Psicoelétricos". Com isso, despertou a atenção de acadêmicos de Genebra, sendo nomeado, em sequência, Livre Docente desta Universidade. No ano seguinte, inicia a organização do Laboratório de Psicologia da Universidade de Cracóvia, que se estende até o ano de 1914. Depois da Primeira Grande Guerra, o labo-ratório se transforma em Faculdade de Psicologia e, no ano de 1919, publica "Psicologia do Pensa-mento" (Centofanti, 1982Centofanti, R. (1982). Radecki e a Psicologia no Brasil. Psicologia: Ciência e Profissão, 3(1), 2-50., 2011a).

Em 1923, se muda para o Brasil, onde é nomeado professor da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade do Paraná, em Curitiba. Ali permanece apenas um ano, pois responde a um convite do Ministério do Interior e Saúde Pública para organizar e dirigir o que viria a ser o Laboratório de Psicologia Experimental da Colônia de Psicopatas do Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro - terceiro laboratório de Psicologia do país. Elabora, aí, um detalhado plano de pesquisas experimentais e principia a formação de profissionais psicólogos a partir dos cursos e conferências vinculados ao labo-ratório. Este tem particular importância para a Psi-cologia brasileira pelo fato de ser, à época, o mais completo da América do Sul - o que culminaria com sua transformação em Instituto de Psicologia, no ano de 1932 - e, por ser apresentar a primeira proposta de um curso oficial de Psicologia no Brasil (Jonsson, 2011Jonsson, M. F. (2011). Formação em Psicologia no Brasil: breve análise dos cursos de Psicologia na cidade de Curitiba (Dissertação de Mestrado não-publicada). Universidade Federal do Paraná, Curitiba.). Sobre esse assunto, indica-se os seguintes autores: Antunes (2007Antunes, M. A. M. (2007). A Psicologia no Brasil: leitura histórica sobre sua constituição. São Paulo: Unimarco.), Bernardes (2004Bernardes, J. S. (2004). Linha do tempo. Documentos sobre formação em Psicologia. Recuperado em outu-bro 2, 2010, de http://www.abepsi.org.br/web/LinhadoTempo.aspx
http://www.abepsi.org.br/web/LinhadoTemp...
), Centofanti (2006Centofanti, R. (2006). Os laboratórios de Psicologia nas escolas normais de São Paulo: o despertar da psico-metria. Psicologia da Educação, 22, 31-52., 2011Centofanti, R. (2011a). Laboratório de Psicologia da Co-lônia de Psicopatas do Engenho de Dentro: 1924-1932. In A. M. Jacó-Vilela (Org.), Dicionário Histórico de instituições de Psicologia no Brasil (pp.355-356). Rio de Janeiro: Imago .a, 2011Centofanti, R. (2011b). Laboratório de Psicologia da Escola Normal Secundária de São Paulo: 1912-1930. In A. M. Jacó-Vilela (Org.), Dicionário Histórico de instituições de Psicologia no Brasil (pp.357-356). Rio de Janeiro: Imago .b), Jacó-Vilela (1999Jacó-Vilela, A. M. (1999). Formação em Psicologia: um pouco de história. Interações: Estudo e Pesquisa em Psicologia, 8(4), 79-91.) e Massimi (1990Massimi, M. (1990). História da Psicologia Brasileira (Da época colonial até 1934). São Paulo: EPU., 2004Massimi, M. (Org.). (2004). História da Psicologia no Brasil do Século XX. São Paulo: EPU .).

Radecki permanece no Brasil até 1933, quando recebe um convite para organizar o curso de Psicologia Geral na cidade de Montevidéu, Uru-guai. A partir daí suas atividades profissionais se desenvolvem entre a capital uruguaia e Buenos Aires até seu falecimento, em 1953. A importância do autor para a Psicologia Sul-Americana deriva do seu empenho pela construção de um sistema psico-lógico, nos moldes dos desenvolvidos por Wundt, James e Claparède, e mesmo que seu sistema tenha um acento "funcionalista", foram em suas obras que surgiram as primeiras referências à Fenomenologia nas publicações brasileiras (Centofanti, 1982Centofanti, R. (1982). Radecki e a Psicologia no Brasil. Psicologia: Ciência e Profissão, 3(1), 2-50.).

Radecki fez as primeiras menções aos auto-res fenomenólogos na literatura brasileira em suas publicações dos cursos de seu referido laboratório (Radecki, 1928Radecki, W. (1928). Resumo do Curso de PsychologiaRio de Janeiro: Imprensa Militar. , 1929Radecki, W. (1929). Trabalhos de Psychologia - Annaes da Colonia de Psychopathas. Rio de Janeiro: Labo-ratorio de Psychologia na Colonia de Psychopathas em Engenho de Dentro.). Nos textos publicados no "Resumo do Curso de Psychologia", de 1928, e nos "Trabalhos de Psicologia", de 1929, é possível encontrar referências diretas a Bergson, Binswanger, Brentano, Ehrenfels, Geiger, Husserl, James, Koffka, Koehler, Külpe, Michotte, Pfänder, Stumpf, Twardowski e Wertheimer. Ressalta-se que as menções a Brentano e a Husserl são anteriores às dos autores filósofos de sua época no Brasil - como mencionamos anteriormente. No caso do labora-tório de Radecki, é preciso destacar a proximidade com a Medicina, afinal, o autor respondeu a uma solicitação de Gustavo Riedel que, entusiasmado com o movimento de Higiene Mental e com os labo-ratórios de Psicologia que conheceu nos Estados Unidos da América, procurou criar algo semelhante no Rio de Janeiro, através de recursos da Fundação Graffée-Guinle e de instrumentos importados da França e da Alemanha (Antunes, 2007Antunes, M. A. M. (2007). A Psicologia no Brasil: leitura histórica sobre sua constituição. São Paulo: Unimarco.; Centofanti, 2011Centofanti, R. (2011a). Laboratório de Psicologia da Co-lônia de Psicopatas do Engenho de Dentro: 1924-1932. In A. M. Jacó-Vilela (Org.), Dicionário Histórico de instituições de Psicologia no Brasil (pp.355-356). Rio de Janeiro: Imago .a).

Serão tomadas as citações de Radecki a Brentano, Husserl e Binswanger para ilustrar o papel da fenomenologia em suas pesquisas. Um dos temas mais discutidos na Psicologia em sua aproximação com a Fenomenologia foi o da consciência. No séti-mo fascículo de seu "Resumo", ao discutir a Psicologia da vida intelectual (especificamente a questão do pensamento), a percepção e os juízos perceptivos, Radecki (1928)Radecki, W. (1928). Resumo do Curso de PsychologiaRio de Janeiro: Imprensa Militar. elabora a pergunta sobre o que representa a consciência da existência e refere-se a Brentano para recordar o que chama de "teoria exis-tencial dos juízos" (ou seu aporte à intencionalidade da consciência). Mais adiante, cita que "Brentano e seus discípulos deduzem a consciência da exis-tência da análise dos juízos positivos" (Radecki, 1928Radecki, W. (1928). Resumo do Curso de PsychologiaRio de Janeiro: Imprensa Militar. , p.187) e, em seguida, recorre à tese Brenta-niana da representação (Radecki, 1928Radecki, W. (1928). Resumo do Curso de PsychologiaRio de Janeiro: Imprensa Militar. , p.192). Husserl e Binswanger são igualmente citados, mas de forma breve, como constatado nas primeiras referências filosóficas à Fenomenologia em Euryalo Cannabrava e Vicente Ferreira da Silva. Husserl apa-rece em seu curso sobre "discriminação, abstração, apercepção, reconhecimento e representação", como um dos autores que reforçam a tese de que "o foco da consciência somente pode abarcar um conteúdo..." (Radecki, 1928Radecki, W. (1928). Resumo do Curso de PsychologiaRio de Janeiro: Imprensa Militar. , p.71). Por fim, Binswanger aparece na discussão sobre a associação.

Como se percebe, as discussões psicológicas (ou psicologistas), tanto de Brentano quanto de Husserl, se fazem presentes desde muito cedo. Pode-se supor que esse foi o primeiro caminho de apropriação da Fenomenologia no Brasil e também a porta de entrada para outras temáticas, como a teoria do conhecimento, o problema da consciência e a questão da subjetividade/intersubjetividade - como nos filósofos anteriormente citados, como Syrio Drummond, Souza Ferraz, Delfim Santos, Mi-guel Reale e Euryalo Cannabrava. Sobre este último, um detalhe se faz relevante: além de uma das pri-meiras referências à Fenomenologia na Filosofia, Cannabrava começou sua carreira profissional no mesmo laboratório dirigido por Radecki na Colônia de Psicopatas do Engenho de Dentro na década de 1930 (Abreu e Silva Neto, 2011Abreu e Silva Neto, N. (2011). Euryalo Cannabrava. In R. H. F. Campos (Org.), Dicionário biográfico da Psicologia no Brasil (pp.114-119). Rio de Janeiro: Imago.).

Ademais, o que resta de mais significativo do trabalho de Radecki é, seguramente, sua influên-cia sobre a figura de Nilton Campos, seu assessor e, posteriormente, substituto na condição de diretor do Laboratório. Essa influência se torna capital, pois, na direção de debates sobre questões psicológicas, pode-se dizer que a primeira obra a fazer uma dis-cussão mais aprofundada dos aportes da Fenome-nologia de Husserl no Brasil foi sua tese de 1945 para a Cátedra de Psicologia Geral na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil (Campos, 1945Campos, N. (1945). O Método fenomenológico na Psicologia (Tese de Concurso apresentada à Cátedra não-publicada). Universidade do Brasil, Rio de Janeiro.).

Nilton Campos como primeiro comentador de Husserl no Brasil

Nilton Campos (1898-1963) graduou-se em Medicina pela Escola Nacional de Medicina e foi o primeiro profissional a dedicar-se em tempo integral à Psicologia (Cabral, 1964Cabral, A. (1964). Nilton Campos (1898-1963). Jornal Brasileiro de Psicologia (São Paulo) , 1(2), 3-12.). Após cursar especiali-zação em Psiquiatria, Nilton Campos passou a com-por a equipe da Colônia de Psicopatas do Engenho de Dentro como assistente de Radecki, em 1924 (Centofanti, 2011Centofanti, R. (2011a). Laboratório de Psicologia da Co-lônia de Psicopatas do Engenho de Dentro: 1924-1932. In A. M. Jacó-Vilela (Org.), Dicionário Histórico de instituições de Psicologia no Brasil (pp.355-356). Rio de Janeiro: Imago .a). A partir de 1944, passou a exer-cer a Cátedra de Psicologia Geral na Escola Nacional de Filosofia, obtida através de um concurso no qual apresentou sua tese elaborada em 1945 e intitulada "O Método Fenomenológico na Psicologia" (Campos, 1945Campos, N. (1945). O Método fenomenológico na Psicologia (Tese de Concurso apresentada à Cátedra não-publicada). Universidade do Brasil, Rio de Janeiro.). Nessa obra, Nilton Campos antecipa o poten-cial da Fenomenologia como método de investi-gação psicológica, além de assinalar a proximidade com vários aspectos da Psicologia da Gestalt, guar-dando uma percepção crítica desta escola ao apon-tar a necessidade de modificação do método para adaptar-se melhor à pesquisa psicológica.

O texto de Nilton Campos segue sendo um texto atual e único pela clareza de exposições e, sobretudo, por sua visão crítica e aberta acerca do método. Como aponta em seu texto, a "investiga-ção fenomenológica busca descobrir, não inventar" (Campos, 1945Campos, N. (1945). O Método fenomenológico na Psicologia (Tese de Concurso apresentada à Cátedra não-publicada). Universidade do Brasil, Rio de Janeiro., p.17). Também aponta que, na Psi-cologia - como nas ciências humanas em geral -, o mecanismo fundamental deveria ser o emprego da compreensão, não da interpretação, em posição similar à de Wilhelm Dilthey.

Evidentemente que o trabalho de Nilton Campos não se limita à sua tese. Além de vários artigos empíricos, publicados ainda durante sua participação no laboratório, alguns outros manus-critos se destacam por sua direta relação com a Fenomenologia, como: "A influência do pensa-mento de Dilthey na evolução da Psicologia como ciência autônoma", publicado no Anuário do Insti-tuto de Psicologia em 1951; "Diferença entre descri-ção e explicação no estudo da Psicologia", de 1953; "Antecedentes filosóficos do isomorfismo gestal-tista", de 1954; e "Importância e Significado da análise fenomenológica no estudo das ciências", de 1958 (todos publicados no Boletim do Instituto de Psicologia).

Mas, de fato, sua tese foi o documento prin-cipal, especialmente por conter o primeiro comen-tário mais aprofundado sobre o pensamento de Husserl, na literatura brasileira. É importante recor-dar que, anteriormente, tinha-se as primeiras cita-ções à Psicologia de Radecki em 1928-1929 e à Filosofia de Cannabrava, em 1941. O texto de Nilton Campos traz, já na apresentação, cumprimentos de nomes de relevo da Psicologia da época, como Wolfgang Köhler e Gordon Allport. O próprio autor assinala que, para realizar esse trabalho, recorreu a fontes originais de Brentanto e Husserl, graças à ajuda de Achim Fuerstenthal, o qual havia sido aluno de Herman Schmulenbach na Basiléia - este, por sua vez, havia sido estudante de Brentano (Campos, 1945Campos, N. (1945). O Método fenomenológico na Psicologia (Tese de Concurso apresentada à Cátedra não-publicada). Universidade do Brasil, Rio de Janeiro.). A tese, em si, é dividida em quatro partes: 1) Fundamentos da atitude fenomenológica; 2) A investigação fenomenológica descritiva em Psi-cologia; 3) Legitimidade do método introspectivo; e 4) As modalidades da natureza intencional da consciência e a distinção entre função e conteúdo.

De Brentano, a referência a dois livros: "Psychologie vom empirischen Standpunkt", na edição de 1924, e o volume em espanhol da "Psicología", com tradução de José Gaos. De Husserl, três obras são citadas: os volumes das "Investigações Lógicas" (em sua edição espanhola, publicada pela Revista de Occidente em 1929 e traduzida por M. Morente e J. Gaos); o primeiro volume das "Ideias", em sua edição de 1931 ("Ideas: General Introduction to Pure Phenomenology", publicada em Londres, com tradução de W. R. B. Gibson); e a edição mexicana das "Meditações Car-tesianas" (publicada em 1942, com tradução de J. Gaos). Utiliza ainda outros comentadores da obra Husserliana, como Marvin Farber (com "The Foundation of Phenomenology", edição de 1943) e J. Xirau ("La Filosofia de Husserl", edição de 1941).

Todo seu trabalho é uma defesa da Fenome-nologia como método de pesquisa e como uma aproximação à Psicologia da Gestalt (a Escola de Berlim) como apoio para uma leitura dos funda-mentos da Psicologia. Para isso, faz referência às obras de Köhler, Koffka, Wertheimer, Guillaume, Hartmann e Lewin. Nilton Campos começa sua dis-cussão com uma controvérsia sobre Epistemologia e a natureza da Psicologia, já falando em "Psico-logias" e seguindo na direção contrária à defesa de uma autonomia dessa ciência. Sinaliza para o método fenomenológico como uma descrição ingê-nua e completa da experiência imediata e faz uma crítica da apropriação "naturalista" da Fenome-nologia pela Escola da Gestalt: "Verificamos que os Gestaltistas, apesar de repelirem o mecanicismo e o vitalismo, incidem na preocupação de formular outra teoria explicativa, levantando a suspeita de desejarem fiscalizar a Psicologia" (Campos, 1945Campos, N. (1945). O Método fenomenológico na Psicologia (Tese de Concurso apresentada à Cátedra não-publicada). Universidade do Brasil, Rio de Janeiro., p.14).

Aponta, igualmente, para uma interessante similaridade entre o pensamento de Husserl e o de Ehrenfels, particularmente no que Husserl escreve em "Filosofia da Aritmética" (1891) e o que Ehrenfels descreve, em 1890, sobre as Gestalt-qualitäten. Chama ainda a atenção para um importante movi-mento de renovação e revisionismo dos estudos psi-cológicos no final século XIX, representado por figuras proeminentes, como Henri Bergson (nos "Les Données Immédiates de la Conscience", de 1889), William James (em "Principles of Psychology", de 1890) e Wilhelm Dilthey (nas "Ideen über eine beschreibende und zergliedernde Psychologie", de 1894). "As objeções desses pensadores contra o mecanicismo dominante dão origem respectiva-mente a novos critérios teleológicos sobre o caráter qualitativo dos fenômenos mentais, a natureza dinâ-mica da consciência e a diferença entre explicar e compreender a atividade mental" (Campos, 1945Campos, N. (1945). O Método fenomenológico na Psicologia (Tese de Concurso apresentada à Cátedra não-publicada). Universidade do Brasil, Rio de Janeiro., p.25).

Intencionando fundamentar um debate epis-temológico sobre a ciência psicológica, Nilton Cam-pos alcança a noção de intencionalidade da cons-ciência - como formulada por Brentano -, para indi-car uma Psicologia de orientação fenomenológica com base na ideia de uma consciência como fluxo de experiências e vivências. Seu trabalho pode ser descrito como uma busca pelos "fundamentos" e como suporte para uma prática psicológica com vistas a edificar uma ciência psicológica sólida. Para isso, recorre a Brentano e Husserl.

Com efeito, Nilton Campos foi um dos pri-meiros e principais comentadores da Fenome-nologia no Brasil, com uma preocupação "aca-dêmica" e, ainda que o autor não tenha feito dis-tinções entre o Husserl filósofo e o Husserl "epis-temólogo", que tratou dos problemas fundamentais da Psicologia (Guimarães, 1981Guimarães, A. C. (1981). Momentos do pensamento Luso-Brasileiro. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro., 2000Guimarães, A. C. (2000). O pensamento fenomenológico no Brasil. Revista Brasileira de Filosofia, 50(198), 258-267.; Morujão, 1990Morujão, A. F. (1990). Fenomenológico (Movimento). In J. B. Chorão (Dir.), Logos. Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia (vol. 2, pp.495-503). Lisboa: Verbo.), e mesmo que se apoie em apenas alguns dos escritos do mestre de Friburgo, é inegável seu pioneirismo e seu esforço em empregar o método fenomenológico. Além disso, foram suas primeiras leituras - certamente influenciadas por Radecki -, que deram impulso para a Fenomenologia no país, com significativas repercussões para a Psicologia e a Psiquiatria, como aponta Morujão (1990)Morujão, A. F. (1990). Fenomenológico (Movimento). In J. B. Chorão (Dir.), Logos. Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia (vol. 2, pp.495-503). Lisboa: Verbo.. Isso se deu a partir de uma mudança na perspectiva de um olhar para o sujeito humano, em uma análise da consciência como doadora de sentido. Isso se observa posteriormente em profissionais que emba-sam seus trabalhos em pensadores como Jaspers, Minkowski e Binswanger.

Fenomenologia no Brasil: passado e futuro

A primeira geração de estudiosos da Psi-cologia e Psiquiatria fenomenológica brasileira é composta por um rol de nomes importantes. Além dos pioneirismos acima citados, não se pode deixar de mencionar a figura de Elso Arruda como o pri-meiro a trabalhar questões da Psiquiatria nessa mesma vertente, particularmente em sua tese apre-sentada à Faculdade de Medicina da Universidade da Bahia datada de 1947, sob o título "Ensaio de Psicologia e Psicopatologia Husserlianas" (Arruda, 1947Arruda, E. (1947). Ensaio de Psicologia e Psicopatologia Husserlianas (Tese de doutorado não-publicada). Universidade da Bahia, Salvador. ). Com Arruda, o cenário preliminar dos pri-meiros desenvolvimentos das ideias fenomeno-lógicas no Brasil está completo.

Além desses autores, o cenário começa a se ampliar no contexto da Psicologia e da Psiquiatria, com nomes como Isaias Paim, Eustaqui Portela, Nel-son Pires, Antonio Gomes Penna, Silvio Lopes e No-bre de Melo. As décadas de 1960 e 1970 apon-tam novos nomes: Zacaria Ali Ramadam, Joel Martins, Antonio Muniz de Rezende, William Gomes e Yolanda Cintrão Forghieri.

Na Filosofia, foi de grande importância a primeira geração de professores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, que, na década de 1950, centrou seus trabalhos em torno das obras de Gabriel Marcel, Sartre, Merleau-Ponty e Heidegger. Mesmo assim, o pen-samento fenomenológico permaneceu esquecido até os anos 1960, quando uma nova geração de estudiosos comprometidos com trabalhos aca-dêmicos estabelece um novo encontro com as ideias fenomenológicas (Guimarães, 2000Guimarães, A. C. (2000). O pensamento fenomenológico no Brasil. Revista Brasileira de Filosofia, 50(198), 258-267.). Neste mo-mento, o pensamento de José Ortega y Gasset e de Oswald Spengler foram importantes, como tam-bém os contatos com o ideário marxista via Sartre e o estruturalismo de Louis Althusser. Importante destacar as visitas de Sartre e de Simone de Beauvoir ao Brasil em agosto de 1960, convidados para o "I Congresso de Crítica e História Literária" no Recife. Posteriormente, ambos prosseguiram dando confe-rências nas principais cidades do país (Sartre, 1986Sartre, J-P. (1986). Sartre no Brasil. A conferência de Ara-raquara. São Paulo: Paz e Terra.).

Esse novo encontro com a Fenomenologia principia em 1961 com Gerd Bornheim, que apre-senta sua Tese de Livre Docência sobre o sentido originário do filosofar, a partir de uma Filosofia cen-trada no existir. Esse fato faz com que se transforme em um dos mais importantes representantes do pensamento Sartreano no país. Na mesma direção, mas desta vez pela via Heideggeriana, destacam--se os nomes de Emanuel Carneiro Leão, Ernildo Stein e Gilvan Fogel (Forghieri, 1993Forghieri, Y. C. (1993). Psicologia fenomenológica. Fun-damentos, método e pesquisas. São Paulo: Pioneira. ; Morujão, 1990Morujão, A. F. (1990). Fenomenológico (Movimento). In J. B. Chorão (Dir.), Logos. Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia (vol. 2, pp.495-503). Lisboa: Verbo.), além de Urbano Zilles.

Os desenvolvimentos posteriores sofrem a influência dos estudos de Filosofia realizados na Université Catholique de Louvain, na Bélgica, acompanhados por um grande número de estu-diosos brasileiros (Pozzebon, 2010Pozzebon, P. M. G. (2010). A Escola Filosófica de Lovaina e sua influência no Brasil. In M. C. Natário , A. B. Teixeira , & R. Epifânio (Coords.), O movimento feno-menológico em Portugal e no Brasil (pp.149-158). Lisboa: Zéfiro .). Desde sua fun-dação, o Institut Supérieur de Philosophie dessa uni-versidade teve uma direção Tomista, mas passou a adotar a Fenomenologia como foco em um segundo momento. Para o Brasil, os nomes de Leonardo Van Acker e de Carlos López de Mattos foram presenças importantes no cenário da consolidação da Feno-menologia. Essa segunda etapa fenomenológica se desenvolveu a partir da década de 1950, graças aos "Arquivos Husserl" (Van Breda, 2007Van Breda, H. L. (2007). The rescue of Husserl´s Nachlass and the founding of Husserl-Archives. In H. L. Van Breda. Geschichte des Husserl-Archivs/History of the History-Archives. Dordrecht: Springer-Verlag.), e sua maior influência se deu na década de 1960 por meio dos estudantes que ali pesquisavam (Pozzebon, 2010Pozzebon, P. M. G. (2010). A Escola Filosófica de Lovaina e sua influência no Brasil. In M. C. Natário , A. B. Teixeira , & R. Epifânio (Coords.), O movimento feno-menológico em Portugal e no Brasil (pp.149-158). Lisboa: Zéfiro .). Dentre eles, destacam-se Alvino Moser, Antonio Joaquim Severino, Antonio Muniz de Rezende, Creusa Capalbo, Geraldo Tonaco, João Carlos Nogueira, Newton Aquiles Von Zuben, Olinto Pegoraro, Salma Muchail, Telma Donzelli, Ubiratan de Macedo, Zeljko Loparic, entre outros tantos, nas áreas da Filosofia, Psicologia e Psicanálise. Além das repercussões na Filosofia, pode-se destacar legados de Louvain à Psicologia e Psiquiatria, como Richard Bucher e Francisco Martins.

O cenário brasileiro para a Fenomenologia é de construção, tanto de perspectivas originais de leitura e interpretação quanto de elaborações em torno de autores consagrados. Do encontro com a Hermenêutica Heideggeriana e de Gadamer, pas-sando pelas reflexões de Lévinas, por encontros com a Antropologia de Edith Stein, além da consolidação dos espaços já conquistados por Sartre e Merleau--Ponty, a Fenomenologia brasileira ainda traz à luz pensadores contemporâneos, como Michel Henry e Jean-Luc Marion. Pode-se dizer que, pouco a pouco, se conhece mais Husserl graças às novas traduções e estudos, mas ainda deve-se lamentar o distanciamento do pensamento de Brentano.

Observa-se que, atualmente, a Psicologia ocupa um lugar cada vez mais central no resgate e desenvolvimento da Fenomenologia no Brasil. Tendo suas raízes calcadas nas questões psicologistas de Husserl e Brentano, é possível destacar as diversas pesquisas que vêm sendo desenvolvidas nas áreas da Enfermagem, Medicina e Psicologia. Mesmo que, no campo da Psicologia, exista uma identificação da Fenomenologia como estratégia metodológica de cunho qualitativo, e que ainda não se evidencie seu legado em outras áreas, as pesquisas desenvol-vidas no âmbito das ciências cognitivas ou do rol de psicologias ditas "fenomenológico-existenciais" ganham cada vez mais espaço.

Assim, deduz-se que a Psicologia torna-se um campo fértil de elaboração da Fenomenologia, não apenas devido às proximidades históricas e conceituais, mas também devido ao reconheci-mento da necessidade de se construir um sólido edifício científico. Isso fica marcado com o recente advento de novos periódicos científicos de orien-tação fenomenológica na Psicologia (como a "Re-vista da Abordagem Gestáltica - Phenomenological Studies" e a "Revista do Nufen") e, também, com a realização de reuniões técnicas, simpósios e congres-sos, a crescente publicação de títulos sobre o tema e a consolidação de grupos de pesquisa nos diversos programas de Pós-Graduação no Brasil, culminando na constituição, em 2013, do Grupo de Trabalho Psicologia & Fenomenologia, da Associação Na-cional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP).

Conhecer as raízes da Fenomenologia no país ajuda a entender as lacunas conceituais e a limitada apropriação das ideias Husserlianas - mes-mo cenário observado em outros contextos, como assinala Crowell (2012Crowell, S. (2012). A Fenomenologia Husserliana. In H. L. Dreyfus & M. A. Wrathall (Orgs.), Fenomenologia e Existencialismo (pp.23-42). São Paulo: Loyola.), quando se refere às gera-ções de filósofos que continuaram suas pesquisas, para os quais, "... a adoção da abordagem feno-menológica foi acompanhada pela rejeição de grande parte da própria doutrina de Husserl. Em resultado disso, ... a fenomenologia Husserliana é com frequência tratada como um mero antecen-dente histórico" (p.23). Ademais, aponta para a necessidade de um olhar mais acurado para o fato da literatura apresentar os principais autores da Fenomenologia de forma descontinuada (exceção feita, talvez a Heidegger, que teve um conjunto de obras maior traduzidas anteriormente). Isso pode ter sido responsável por uma diversidade de inter-pretações e outras incompreensões.

No campo da Psiquiatria, observa-se ainda uma apropriação tardia e limitada das contribuições fenomenológicas, apesar do pioneirismo de Elso Arruda, o que se configura um curioso paradoxo, principalmente quando se leva em conta que a Psi-copatologia Geral de Jaspers (bem como seus co-mentadores brasileiros, como Isaías Paim e Nobre de Melo) foram presença constante no cenário bra-sileiro. No que se refere à Psicologia, observou-se uma aproximação ainda mais limitada no campo conceitual, visto que a Fenomenologia tem sido confundida com metodologia - a despeito de suas posições epistemológicas e de seu projeto de ciên-cia -, o que fez com que a vertente existencialista (dominante nos primeiros momentos da literatura brasileira) fosse considerada uma identificação sim-ples, sem que os conceitos mais relevantes fossem conhecidos de modo mais aprofundado. Isso se torna mais patente quando se considera as diversas interpretações que as clínicas psicoterápicas fizeram da Fenomenologia e o esquecimento das raízes fenomenológicas nos diferentes movimentos de revisão da atenção à Saúde Mental.

Apesar das identificações da Fenomenologia com Metodologia Qualitativa de Pesquisa, das refe-rências existencialistas, independentes das constru-ções conceituais e das confusões interpretativas das múltiplas clínicas psicológicas e psicoterápicas, pode-se concluir que existe um cenário promissor e cativante. Isso devido aos esforços em recuperar suas raízes e seu solo fertilizador, através de re-flexões profundas e pesquisas cada vez mais inten-sas, o que, certamente, anuncia uma nova história a ser contada daqui em diante.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 2016

Histórico

  • Recebido
    22 Fev 2016
  • Aceito
    17 Mar 2016
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