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Quebra não-intencional do sigilo profissional

Panorama Internacional

Bioética

QUEBRA NÃO-INTENCIONAL DO SIGILO PROFISSIONAL

Em trabalho recentemente publicado, autores americanos chamam a atenção para a freqüência com que ocorrem comentários inapropriados, por parte de profissionais de saúde, em elevadores de hospitais.

Quatro observadores permaneciam nos elevadores de hospitais universitários de emergência, em hospital do Veterans Administration, em hospital universitário psiquiátrico e em um hospital geral comunitário. Todos os elevadores atendiam a pelo menos dez andares. Nenhum dos observadores era funcionário de qualquer dos hospitais e não portavam crachás de identificação. Todos estavam cursando mestrado em ética médica. Depois de cada subida ou descida completa (corrida) os observadores anotavam sua observações. Em 12% das corridas os observadores estavam em dupla para checar a confiabilidade das observações. Os comentários inapropriados foram classificados em quatro categorias: 1) comentários violando a privacidade do paciente. 2) comentários que podiam levantar dúvidas sobre a capacidade ou desejo da pessoa que o fez em bem cuidar do paciente. 3) comentários que podiam levantar dúvidas sobre uma má qualidade de atendimento no hospital por outras pessoas que não aquela que fez o comentário. 4) comentários desrespeitosos sobre pacientes ou seus familiares. Somente comentários julgados inapropriados por todos os membros da pesquisa foram analisados.

De 300 corridas foram analisadas 259. Em 36 delas (14%) houve pelo menos um comentário inapropriado, sendo que em três corridas houve dois comentários somando, assim, 39 comentários em 259 corridas. Os 39 comentários foram distribuídos em: 18 que violaram a privacidade do paciente, sendo que em 14 deles houve clara identificação do paciente, 10 comentários que levantavam dúvidas sobre a capacidade ou motivação do profissional, oito comentários levantando dúvidas sobre a qualidade do atendimento e cinco desrespeitosos sobre pacientes ou familiares. Quanto à ocupação dos profissionais que fizeram os comentários: 15 comentários foram feitos por médicos, 10 por enfermeiros, três por funcionários ligados às clínicas, sete por outros funcionários e cinco por funcionários que não puderam ser identificados. Foram observados também comentários não apropriados que não foram computados em conversas enquanto se esperava pelo elevador. Também se observou funcionários carregando papéis de pacientes hospitalizados que podiam facilmente permitir a sua identificação.

Os autores comentam que a freqüência de comentários inapropriados (14%) observada em elevadores de hospital pode ter sido superestimada, pois os observadores andavam nos elevadores nos horários em que estavam mais cheios, ou subestimada porque em algumas corridas podia não haver nenhum profissional de saúde.

Os autores também ressaltam que os resultados não podem ser estendidos a outros hospitais. No entanto, os autores também enfatizam que, sem dúvida, os elevadores de hospital são lugares onde os profissionais de saúde, involuntariamente, violam a privacidade dos pacientes. Os comentários quanto à qualidade do atendimento podem levar mais angústia aos visitantes que, freqüentemente, já estão angustiados com a situação que estão passando. Os autores fazem a ressalva que os comentários analisados foram classificados como inapropriados e não como antiéticos, embora a distinção nem sempre possa ser feita.

Os autores concluem que, embora os médicos tenham sido autores mais freqüentes dos comentários inapropriados, uma gama de outros profissionais de saúde também o foram e que todos os profissionais de saúde devem ter cuidado com sua conversas não só em elevadores como em todos os lugares públicos.

Comentário

A linha entre o comportamento inapropriado, ou mesmo o mal educado, e o antiético é frágil e muito tênue.

Este trabalho mostra, de maneira quantitativa, com é freqüente se ter um comportamento, no mínimo, inapropriado.

Com a maior consciência de seus direitos que o público em geral e os pacientes em particular vêm adquirindo, os profissionais de saúde, e principalmente os médicos, devem estar cada vez mais atentos para não serem surpreendidos com denúncias feitas por pacientes ou familiares quanto ao seu comportamento.

Regina C.R.M. Abdulkader

Referência

Ubel PA, Zell MM, Fischer GS, Peters-Stefani D, Arnold M. Elevator Talk: Observational study of innapropriate comments in a public space. Am J Med 1995; 99:190-4.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Abr 2001
  • Data do Fascículo
    Mar 2001
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