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Resistência aos antimicrobianos: assunto velho, novas preocupações

Antimicrobial resistance: old issue, new concerns

EDITORIAL

Resistência aos antimicrobianos: assunto velho, novas preocupações

Antimicrobial resistance: old issue, new concerns

Carmen Paz Oplustil

Biomédica; mestre em Microbiologia pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP); diretora da Formato Clínico – Projetos em Medicina Diagnóstica

A preocupação com a detecção de resistência aos antimicrobianos é constante nos laboratórios de Microbiologia. Entretanto, o que muitas vezes não enxergamos é a amplitude que a resistência bacteriana consegue alcançar e o impacto que ela pode ter, não só no ambiente hospitalar, onde acaba sendo mais investigada, mas também na natureza.

Sabemos que as cepas produtoras de uma enzima, capaz de hidrolisar grande variedade de antimicrobianos de um único grupo, têm impacto importante no tratamento de pacientes. O que se acreditava ser restrito aos indivíduos hospitalizados, hoje reconhecemos ser um problema que se espalhou para a comunidade.

Não está mais em discussão a importância das cepas produtoras de betalactamases de amplo espectro (ESBL), mas, sim, quais outros genes promotores de resistência, associados aos genes de resistência às ESBL, que, eventualmente, essas bactérias podem carregar. Mas esse é um assunto para ser tratado separadamente.

O que parece não estarmos olhando com a devida preocupação é o impacto que essas cepas têm fora do microambiente do paciente. Não observamos que essas cepas podem estar presentes em animais que servem de alimento para a população e que vieram, muitas vezes, pela contaminação do próprio ambiente hospitalar.

O artigo Epidemiologia das betalactamases de espectro estendido no Brasil: impacto clínico e implicações para o agronegócio apresenta o panorama atual da epidemiologia de ESBL no Brasil, nas áreas clínica e ambiental e na produção animal, discutindo, de forma clara, o impacto que a falta de medidas no controle do uso de antimicrobianos na produção animal acarreta. Os autores comentam a disseminação de ESBL, identificando o papel dos resíduos hospitalares dispensados no meio ambiente sem os cuidados necessários.

O impacto vai além, no que se refere ao agronegócio. Como o Brasil se destaca na produção e na exportação de carne de frango, o isolamento de cepas de Escherichia coli produtoras de ESBL nesses alimentos tem impacto real no negócio, uma vez que os controles sanitários internacionais possuem regras rígidas, claras e específicas para esse assunto, e existe a preocupação quanto à disseminação desse tipo de resistência em outros países.

Os autores colocam um ponto importante que merece nossa atenção, no que diz respeito à necessidade do Brasil ter um programa de vigilância da resistência aos antimicrobianos, que poderia auxiliar os serviços de saúde pública a tomar medidas mais objetivas para o controle do uso de antimicrobianos. Muitos estados não relatam os casos de ESBL, portanto, existe subnotificação. Na verdade, não sabemos exatamente qual é a situação atual do perfil de resistência das bactérias nos diferentes grupos de antibióticos no Brasil.

O trabalho publicado neste volume mostra que se fazem necessárias medidas mais rigorosas para o controle da produção de alimentos, não apenas para atender as exigências do mercado, mas também para minimizarmos o impacto que a resistência bacteriana fora do ambiente hospitalar pode ter para as futuras gerações.

  • SILVA, K.; LINCOPAN, N. Epidemiologia das betalactamases de espectro estendido no Brasil: impacto clínico e implicações para o agronegócio. JBPML, v. 48, n. 2, p. 91-99.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Maio 2012
  • Data do Fascículo
    Abr 2012
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