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A percepção dos professores de Ensino Fundamental sobre a criança com epilepsia na escola em Santa Catarina

The perception of the teachers of Basic Education about the child with epilepsy in the school in Santa Catarina

Resumos

A epilepsia é um distúrbio neurológico crônico, com repercussões psicossociais, físicas, educacionais e neuropsicológicas. OBJETIVOS: Verificar a percepção de professores do primeiro grau de Florianópolis/SC acerca da criança com epilepsia, e investigar sobre o nível de conhecimento dos mesmos sobre a epilepsia. MÉTODO: Utilizou-se "Questionário de percepção estigma para professores do primeiro grau" (Fernandes e Souza, 2004) em 37 professores do ensino fundamental de 4 escolas (3 particulares e 1 pública) de Florianópolis/SC. RESULTADOS E CONCLUSÃO: Verificou-se que a média de idade das participantes foi de 37 anos e 8 meses, tendo na sua maioria 3º grau completo. Os professores da escola pública apresentaram maior nível de instrução em relação às demais (X²=8.852, p=0.034). A maioria indicou conhecimento regular ou insuficiente sobre epilepsia. Acerca da autoavaliação sobre o nível de conhecimento de professoras, proteger a cabeça é importante (X²=9.931, p=0.033) e permanecer junto a criança. A maioria acredita que o aluno deve frequentar escola comum (n=35). Os professores ficaram divididos em relação a prática de atividades físicas. A maioria refere que a epilepsia é causada por fatores genéticos. A promoção de informação é válida, buscando inserção social e compreensão da condição da criança com epilepsia na escola.

epilepsia; educação; escola; informação


The epilepsy is a chronic neurological disturb, with psicossocial, physical, educational and neuropsychological repercussions. OBJECTIVES: To verify the perception of professors of the basic education Florianópolis/SC concerning the child with epilepsy, and to investigate the level of knowledge of the teachers about the epilepsy. METHOD: The "Questionnaire of perception stigma for professors of the first degree" (Fernandes and Souza,2004) was used in 37 professors of the basic education of 4 schools (3 private and 1 public) of Florianópolis/SC. RESULTS AND CONCLUSION: Was verified that the average of age of the participants was of 37 years and 8 months, having in its majority complete graduation on university. The teachers of the public school had greater level of instruction in relation to others (X ²=8.852, p=0.034). The majority indicated regular or insufficient knowledge (n=24) on epilepsy. Concerning the auto-evaluation on the level of knowledge of teachers, to protect the head is important (X²=9.931, p=0.033) and to remain next to child. The majority believes that the child must frequent school common (n=35). The professors had been divided in relation the practical of physical activities. The majority relates that the epilepsy is caused by genetic factors. The information promotion is valid, searching social insertion and understanding of the condition of the child with epilepsy in the school.

epilepsy; education; school; information


ARTIGO ORIGINAL

A percepção dos professores de Ensino Fundamental sobre a criança com epilepsia na escola em Santa Catarina

The perception of the teachers of Basic Education about the child with epilepsy in the school in Santa Catarina

Rachel Schlindwein-ZaniniI; Roberto Moraes CruzII; Taís Evangelho ZavarezeIII

INeuropsicóloga (CRP 12/02089), Especialista pelo CFP. Doutora em Ciências da Saúde/Medicina (área: Neurociências) pela Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS. Pós-doutorado em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Psicóloga/Neuropsicóloga do Hospital Universitário - UFSC. Membro da Diretoria (representante regional de Santa Catarina) na Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - SBNp

IIPsicólogo. Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Professor do Departamento de Psicologia da UFSC

IIIPsicóloga. Mestranda em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Rachel Schlindwein-Zanini Rua Lauro Linhares, 2123, Torre 1, sala 612 - Bairro Trindade CEP 88036-002, Florianópolis, SC, Brasil E-mail: rachelsz@floripa.com.br

RESUMO

A epilepsia é um distúrbio neurológico crônico, com repercussões psicossociais, físicas, educacionais e neuropsicológicas.

OBJETIVOS: Verificar a percepção de professores do primeiro grau de Florianópolis/SC acerca da criança com epilepsia, e investigar sobre o nível de conhecimento dos mesmos sobre a epilepsia.

MÉTODO: Utilizou-se "Questionário de percepção estigma para professores do primeiro grau" (Fernandes e Souza, 2004) em 37 professores do ensino fundamental de 4 escolas (3 particulares e 1 pública) de Florianópolis/SC.

RESULTADOS E CONCLUSÃO: Verificou-se que a média de idade das participantes foi de 37 anos e 8 meses, tendo na sua maioria 3º grau completo. Os professores da escola pública apresentaram maior nível de instrução em relação às demais (X2=8.852, p=0.034). A maioria indicou conhecimento regular ou insuficiente sobre epilepsia. Acerca da autoavaliação sobre o nível de conhecimento de professoras, proteger a cabeça é importante (X2=9.931, p=0.033) e permanecer junto a criança. A maioria acredita que o aluno deve frequentar escola comum (n=35). Os professores ficaram divididos em relação a prática de atividades físicas. A maioria refere que a epilepsia é causada por fatores genéticos. A promoção de informação é válida, buscando inserção social e compreensão da condição da criança com epilepsia na escola.

Unitermos: epilepsia, educação, escola, informação.

ABSTRACT

The epilepsy is a chronic neurological disturb, with psicossocial, physical, educational and neuropsychological repercussions.

OBJECTIVES: To verify the perception of professors of the basic education Florianópolis/SC concerning the child with epilepsy, and to investigate the level of knowledge of the teachers about the epilepsy.

METHOD: The "Questionnaire of perception stigma for professors of the first degree" (Fernandes and Souza,2004) was used in 37 professors of the basic education of 4 schools (3 private and 1 public) of Florianópolis/SC.

RESULTS AND CONCLUSION: Was verified that the average of age of the participants was of 37 years and 8 months, having in its majority complete graduation on university. The teachers of the public school had greater level of instruction in relation to others (X 2=8.852, p=0.034). The majority indicated regular or insufficient knowledge (n=24) on epilepsy. Concerning the auto-evaluation on the level of knowledge of teachers, to protect the head is important (X2=9.931, p=0.033) and to remain next to child. The majority believes that the child must frequent school common (n=35). The professors had been divided in relation the practical of physical activities. The majority relates that the epilepsy is caused by genetic factors. The information promotion is valid, searching social insertion and understanding of the condition of the child with epilepsy in the school.

Keywords: epilepsy, education, school, information.

INTRODUÇÃO

A epilepsia é um distúrbio neurológico com crises recorrentes, promovendo o aumento do risco de desenvolvimento de desajustes psicossociais, restrições e prejuízos na qualidade de vida (QV) de crianças e seus familiares (Schlindwein-Zanini et al.1). Ela é crônica, com repercussões psicológicas, físicas, sociais e neuropsicológicas. Sua apresentação à população é necessária, em especial no ambiente escolar.

Neste âmbito, o professor tem um importante papel no fornecimento de informações corretas as crianças sobre diferentes temas. Há alguns estudos interessados em temas relacionados a epilepsia, professores e escola, no entanto, faltam dados do estado de Santa Catarina, Sul do Brasil, que tem características culturais e sociais diferentes de outras regiões do país.

OBJETIVOS

Verificar a Percepção de professores do primeiro grau de Florianópolis/SC acerca da criança com epilepsia, e investigar sobre o nível de conhecimento dos mesmos sobre a epilepsia.

MÉTODO

Foi utilizado o "Questionário de percepção estigma para professores do primeiro grau" (Fernandes e Souza2) em 37 professores do ensino fundamental de 4 escolas (3 particulares e 1 pública) de bairros vizinhos de classe média, na região metropolitana da cidade de Florianópolis/SC.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na presente pesquisa verificou-se que a média de idade das participantes foi de 37 anos e 8 meses (DP= 8 anos e 6 meses), variando entre 22 e 53 anos. A maioria das participantes tem 3º grau completo (n=16), 12 terminaram a especialização, 4 cursaram mestrado, 3 têm 3º grau incompleto e 2 fizeram segundo grau. As professoras da escola pública apresentaram maior nível de instrução em relação às da escola particular, sendo essa diferença estatisticamente significativa (X2=8.852, p=0.034).

Quando questionadas sobre o seu nível de conhecimento sobre epilepsia, a maioria das professoras indicou ter conhecimento regular ou insuficiente (n=24). Acerca da autoavaliação sobre o nível de conhecimento de professoras de ambas escolas, proteger a cabeça é importante para as participantes das escolas públicas e particulares (n=31). Esse resultado foi estatisticamente significativo (X2=9.931, p=0.033). Permanecer junto a criança também foi significativo para as entrevistadas (n=28). Não restringir os movimentos e colocar algo na boca não foi significativo. Sobre o que as professoras pensam a respeito da atividade educacional com crianças com epilepsia, a maioria dos participantes acreditam que o aluno deve frequentar escola comum (n=35).

Pesquisadores2 ao investigar a percepção do estigma da epilepsia em professores do ensino fundamental em 94 professores em São Paulo, obtiveram dados semelhantes a este estudo ao observar que 91,5% dos professores pesquisados sabem que a epilepsia é uma alteração neurológica; 96,8% acreditam que as crianças com epilepsia devem frequentar escola comum.

Quanto a prática de atividades físicas, os resultados não foram significativos, os professores das escolas públicas e particulares de Florianópolis ficaram divididos em relação as suas respostas. Quando questionados sobre as causas da epilepsia responderam em sua maioria que a epilepsia é causada por fatores genéticos (n=26). O treinamento específico acerca da epilepsia com professores de ensino fundamental seria válido para promover maior conhecimento na área, visando o atendimento adequado, a inserção social e a clara compreensão da condição da criança com epilepsia na escola.

Um estudo3 investigou o grau de conhecimento e a atitude frente à epilepsia em trezentos professores, sendo que quase todos os professores tinham ouvido falar anteriormente sobre o assunto e não discriminavam seus alunos. Alguns ainda acreditavam em contágio e poucos referiram objeções à presença de alunos com epilepsia em suas classes. Poucos também eram de opinião que uma criança com epilepsia não poderia, futuramente, tornar-se um bom professor. Foi insatisfatório o conhecimento revelado por parte do corpo docente acerca dos aspectos clínicos e dos primeiros procedimentos que o paciente requer, dado corroborado pelo presente estudo em Santa Catarina, que também obteve parâmetros de comparação em nosso meio (Santa Catarina, sul do Brasil).

Sabe-se que a epilepsia pode respeitar o desenvolvimento intelectual normal, mas também pode ser um importante fator incapacitante, à medida que pode ser acompanhada de graves transtornos mentais e de comportamento, conforme estudo de Schlindwein-Zanini et al.4 Outros autores5 afirmam que 33% das crianças com epilepsia frequentam escolas especiais e apresentam dificuldades escolares e de relacionamento com os colegas. A desinformação e preconceitos a respeito das epilepsias, inclusive entre pais e professores do ensino primário, alertam para a necessidade de educação da população.

É grande o número de crianças com epilepsia com dificuldades escolares. Essas dificuldades relacionam-se à própria epilepsia (idade de início, frequência, tipo de síndrome epiléptica e etiologia, grau de controle das crises, natureza da medicação utilizada) e à qualidade de instrução (baixa expectativa dos pais e professores quanto ao sucesso da criança, rejeição dos mestres à ela e sua baixa autoestima), elementos que podem promover um menor rendimento escolar da criança com epilepsia.6

Neste sentido, profissionais de saúde podem ajudar os professores trazendo-lhes informações apropriadas sobre o risco e o funcionamento do impacto da doença crônica na infância.7 Tal instrução pode ser fornecida por estes profissionais com a colaboração dos pais, dos professores, e de organizações não-governamentais.8

CONCLUSÕES

Na presente pesquisa conclui-se que:

• A média de idade dos participantes foi de 37 anos e 8 meses, tendo 3º grau completo em sua maioria.

• Os professores da escola pública apresentaram maior nível de instrução em relação aos da escola particular.

• A maioria dos professores indicou ter nível de conhecimento sobre epilepsia regular ou insuficiente.

• A maioria dos participantes acreditam que o aluno com epilepsia deve frequentar escola comum.

• Quanto a prática de atividades físicas, os professores das escolas públicas e particulares ficaram divididos em relação as suas respostas.

• A maioria dos participantes acreditam que a epilepsia é causada por fatores genéticos.

Acredita-se que a informação acerca da epilepsia a população, inclusive professores de ensino fundamental, é importante na promoção de conhecimento na área, buscando o atendimento adequado, a inserção social e a clara compreensão da condição da criança com epilepsia na escola.

Received Feb. 18, 2011; accepted Mar. 18, 2011.

Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

  • 1. Schlindwein-Zanini R, Portuguez MW, Costa DI, Marroni SP, Da Costa JC. Refractory epilepsy: Rebound of Quality of Life of Child and his Caretaker. J Epilepsy Clin Neurophysiol. [serial on the Internet]. 2007 Dec [cited 2010 Dec 31]; 13(4): 159-162. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext& pid=S1676-26492007000400003&lng=en doi: 10.1590/S1676-26492007000400003.
  • 2. Fernandes, PT; Souza, EAP. Percepção do estigma da epilepsia em professores do ensino fundamental. Estud. psicol. (Natal), Natal, v. 9, n. 1, Apr. 2004. Available from<http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S1413-294X2004000100020& lng=en&nrm=iso>. access on 30 Dec. 2010. doi: 10.1590/S1413-294X2004000100020.
  • 3. Dantas FG, Cariri GA, Cariri GA, Ribeiro Filho AR. Knowledge and attitudes toward epilepsy among primary, secondary and tertiary level teachers. Arq Neuro-Psiquiatr. 2001;59(3B):712-6.
  • 4. Schlindwein-Zanini R. Qualidade de vida da criança com epilepsia e de seu cuidador [tese]. Porto Alegre (RS): Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; 2007.
  • 5. Antoniuk SA, Santos LHC dos, Baú C, et al. Atitudes e preconceitos sobre as epilepsias em uma população de pais e professores de Curitiba. J. Epilepsy Clin Neurophysiol. 2005;11(1):49-52.
  • 6. Guerreiro CA, Guerreiro MM, Cendes F, Lopes-Cendes I, editores. Epilepsia. São Paulo: Lemos; 2000.
  • 7. Tidman L, Saravanan K, Gibbs J. Epilepsy in mainstream and special educational primary school settings. Seizure. 2003;12:47-51.
  • 8. Ndour D, Diop AG, Ndiaye M, Niang C, Sarr MM, Ndiaye IP. A survey of school teachers' knowledge and behaviour about epilepsy, in a developing country such as Senegal. Rev Neurol (Paris). 2004;160:338-41.
  • Endereço para correspondência:

    Rachel Schlindwein-Zanini
    Rua Lauro Linhares, 2123, Torre 1, sala 612 - Bairro Trindade
    CEP 88036-002, Florianópolis, SC, Brasil
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      26 Ago 2011
    • Data do Fascículo
      2011

    Histórico

    • Recebido
      18 Fev 2011
    • Aceito
      18 Mar 2011
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