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Tabagismo, saúde e educação

CARTA AO EDITOR

Tabagismo, saúde e educação

Renata Carone SborgiaI; Antonio Ruffino-NettoII

IMestranda da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto - USP - Ribeirão Preto (SP) Brasil

IIProfessor Titular da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP - Ribeirão Preto (SP) Brasil

As atividades profissionais na área da educação, vivenciando o cotidiano referente ao problema do tabagismo entre os jovens, despertam o interesse em pesquisar o tema. A mola propulsora esteve sempre voltada para compreender que motivos levam os jovens ao uso do tabaco. Quais fatores estariam associados? Quais as crenças e valores associados ao início do hábito de fumar entre os jovens? Como estão estruturados os programas de controle do tabagismo? As leis pertinentes ao tema têm sido adequadas à realidade?

De imediato, sente-se a necessidade de um estudo interdisciplinar para investigar o tema. Estamos desenvolvendo um trabalho que busca, nas áreas de psicologia social, médica e jurídica, as respostas para essas questões.

Há várias modalidades de prazer que são buscadas pelo homem, variando entre diferentes áreas como física, intelectual ou emocional, dependendo de cada pessoa e de cada momento da sua vida. Entre as diferentes buscas de prazer, está aquela voltada ao uso de drogas.

O Brasil é um dos quatro maiores produtores de tabaco do mundo. Seu uso é bastante difundido:(1) cerca de um terço da população brasileira faz uso do tabaco. A análise do tabagismo envolve aspectos psicossociais, econômicos, de saúde, jurídicos, religiosos e outros.

O cigarro é o maior responsável pela pandemia tabágica, que atinge a cifra de 1 bilhão e 100 milhões de fumantes (¼ da população mundial), consome 6 trilhões de cigarros anualmente (130 bilhões no Brasil), cabendo 1.034 cigarros para cada habitante da Terra, incluindo-se as crianças recém-nascidas.(1-2) Dos fumantes, 23% (300 milhões) estão nos países desenvolvidos e 73% nos países em desenvolvimento. No Brasil, o IBGE, em 1988, estimou uma prevalência de 30 milhões de fumantes, valor que na época correspondia a 32,6% da população, residindo dois terços deles na zona urbana. No Estado de São Paulo, estima-se que haja 8 milhões de fumantes e 3 milhões de crianças fumantes passivas.(1)

Cerca de 150.000 publicações científicas, catalogadas nos últimos 30 anos, evidenciam os malefícios do uso do tabaco. Após a fome, é sabido que o uso do tabaco é a maior causa de mortalidade no mundo, produzindo cerca de 3 milhões de óbitos por ano,(3) o que significa 8.220 óbitos por dia, ou 343 por hora. Das 4.720 substâncias já identificadas na combustão do tabaco, algumas constituem fatores de risco para 56 doenças no ser humano, algumas delas de alta letalidade e outras com grande potencial incapacitante.

Visto pelo lado jurídico, sabemos que existem leis, códigos, decretos, medidas provisórias, resoluções, etc, já vigentes, referentes ao tabagismo, nas legislações federal, estaduais e municipais.

Perguntamo-nos: os conhecimentos científicos e jurídicos sobre o tema estão sendo suficientes e adequados para implementar os programas de controle do tabagismo? Estudos têm mostrado que o início do consumo de cigarros ocorre na adolescência, em geral dos 13 aos 15 anos, no momento de integração e aceitação do adolescente entre seus pares e na sociedade em geral.(4-5)

O problema do tabagismo é sério na área de saúde pública. A juventude é um período propício para a indústria do tabaco investir no sentido de implementar o vício (conquistar, portanto, possíveis consumidores da droga). Já existem leis regulamentando, por exemplo, a propaganda e restrições para o uso do tabaco em locais públicos.

Percebe-se que há necessidade de abordagens interdisciplinares, buscando-se as conexões metodológicas entre as diversas áreas para se compreender o processo e se aumentar a eficácia e eficiência dos programas de controle do uso do tabaco, e se implementar estudos envolvendo elementos subjetivos na discussão das áreas do conhecimento, mais especificamente no campo jurídico.

Na área da educação, é necessária uma discussão mais ampla, eficaz e eficiente entre os educadores e educandos. As questões relacionadas aos males à saúde advindos do tabaco nas escolas, entre as crianças e os adolescentes, deveriam ser levadas mais a sério.

REFERÊNCIAS

1. Rosemberg J. Pandemia do tabagismo - enfoques históricos e atuais. São Paulo: Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo - CIP e CVE; 2002.

2. Rosemberg J. Temas sobre o tabagismo. São Paulo: Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo - CIP e CVE; 1998.

3. Ruffino-Netto A. Tabagismo: aparente complexidade desafia racionalidade [editorial]. Informativo da Superintendência HCRP; 2001. (número especial).

4. Azevedo Marques EHC de. Estudo da prevalência de uso de tabaco em um município com características rurais no Estado de São Paulo, Brasil [tese]. Ribeirão Preto: Universidade Estadual de São Paulo - Faculdade de Medicina; 2001.

5. Rosemberg J. Tabagismo. Sério problema de saúde pública. São Paulo: ALMED-EDUSP; 1981.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    31 Out 2005
  • Data do Fascículo
    Ago 2005
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