Tempos novos, velhos desafios: a luta continua

É com prazer que assumo a editoração da Fractal: Revista de Psicologia, substituindo a professora Ana Cláudia Monteiro, que com tanta competência e comprometimento conduziu o periódico nos últimos cinco anos. Ao oferecer ao público esta primeira edição de 2021, reafirmo, aliada ao pensamento dos meus colegas da academia, a importância das revistas científicas para a divulgação do conhecimento produzido em nossas universidades. Assumo essa importante tarefa imbuída do compromisso de dedicar-me ao máximo para que as pesquisas acadêmicas na área da Psicologia se expandam, alcançando o maior número possível de leitores, no Brasil e no exterior.

Enfrentamos todo tipo de dificuldade nos últimos tempos: a pandemia, o desemprego, o corte de verbas na educação, o caos na saúde, o fantasma das reformas que farão retroceder os direitos trabalhistas adquiridos à custa de muita luta e suor. Além disso, assistimos recentemente à minimização da importância dos conhecimentos produzidos na área das Ciências Humanas, o que significa menos privilégio e, consequentemente, menos recursos para as nossas pesquisas.

Mas não esmorecemos. Apesar das contingências, continuamos apostando no conhecimento como forma de libertação e de ampliação de horizontes; prosseguimos em nosso projeto de autonomia, de enfrentamento das dificuldades, de construção de conhecimento. Consoante esse projeto, a Fractal: Revista de Psicologia mantém seu objetivo de publicar os estudos que traduzem a coexistência das diferentes vertentes de pesquisa no campo da Psicologia, tendo como foco os estudos da subjetividade. Aproveito para registrar que, diante da instabilidade que o mundo atual enfrenta, a Psicologia vem sendo apontada como uma das grandes profissões do futuro, o que ficou ainda mais evidenciado nesse período de pandemia (ROCHA, 2020).

Espero poder contribuir, da melhor maneira possível, para que o periódico prossiga em sua missão, mantendo o mesmo nível de credibilidade que conquistou, não sem grande esforço e muito sacrifício, junto à comunidade científica brasileira. Dito isso, apresento os trabalhos que compõem o presente volume, que se abre com o artigo Perspectiva poética da alteridade: diálogos entre Rimbaud e Bakhtin, de Maria Eloisa do Amaral Leão (USP) e Danilo Silva Guimarães (USP). O estudo utiliza-se das noções de dialogismo e de polifonia de Mikhail Bakhtin para apontar possíveis articulações entre a psicologia cultural e a poesia a partir do enunciado “Eu é um outro” do poeta francês Arthur Rimbaud. O segundo artigo, A moral na perspectiva histórico-cultural: uma revisão da literatura, de Bruno Rolim Baggio (UFPB), Thalita Lays Fernandes de Alencar (UFPB) e Fabiola de Souza Braz Aquino (UFPB), objetivou identificar e discutir artigos que se basearam nas contribuições da perspectiva histórico-cultural elaborada por Vygotsky para compreender e explicar a questão da ‘moralidade’. O próximo artigo, Vivências de policiais de uma DEAM no Sudoeste Goiano, de Tatiana Machiavelli Carmo Souza (UFCAT) e Thaís Ferreira Martins (UFCAT), investiga o trabalho de policiais civis de uma Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) no município de Jataí, no sudoeste goiano, no atendimento às mulheres em situação de violência doméstica. A seguir temos o artigo Por uma clínica de(s) território no contexto do SUS, de Mariane Marques Santos Amaral (UFS) e Liliana da Escóssia (UFS), que analisam caminhos possíveis para uma prática clínica no/de território, no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS). Apresentamos, ainda, A ‘responsabilidade subjetiva’ em psicanálise, de Camila Quinteiro Kushnir (UFRJ), uma tradução livre do artigo de Alfredo Eidelsztein “’La responsabilidad subjetiva’ en psicoanalisis”, no qual o autor afirma sua rejeição à atual centralização da psicanálise em torno da “responsabilidade subjetiva”, sustentando outra lógica e oferecendo novas reflexões. Encerramos a presente edição com o texto A escrita literária: a coemergência da obra e do autor, um resumo da dissertação de mestrado de Veronica Torres Gurgel (UFRJ), que investigou o processo de escrita literária a partir de entrevistas com escritores que comentam seu processo de criação. O estudo buscou demonstrar que a escrita não é um processo individualizado, mas coletivo, que envolve diversos vetores, tais como tecnológicos, econômicos e estéticos.

Referência

• ROCHA, Anderson. Busca pela graduação de Psicologia, a ‘profissão do futuro’, cresce na pandemia. Hoje em dia [online]. 10 ago. 2020. Disponível em: Disponível em: https://www.hojeemdia.com.br/horizontes/busca-pela-gradua%C3%A7%C3%A3o-de-psicologia-a-profiss%C3%A3o-do-futuro-cresce-na-pandemia-1.798786 Acesso em: 15 jan. 2021.
  » https://www.hojeemdia.com.br/horizontes/busca-pela-gradua%C3%A7%C3%A3o-de-psicologia-a-profiss%C3%A3o-do-futuro-cresce-na-pandemia-1.798786

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  10 Mar 2021
• Data do Fascículo
  Jan-Apr 2021