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Afoxés em Pernambuco: usos da história na luta por reconhecimento e legitimidade

Resumos

Este trabalho objetiva discutir as relações existentes entre os afoxés e as religiões de divindades e de entidades, especialmente o candomblé, nas cidades do Recife e Olinda entre os anos de 1980 a 2000. Tomados como candomblé de rua por boa parte dos intelectuais do movimento negro em Pernambuco, os afoxezeiros utilizam-se desse discurso para defenderem-se dos ataques feitos por folcloristas, memorialistas e parte significativa dos intelectuais pernambucanos. Estes acusam o afoxé de ser uma manifestação cultural baiana e, por conseguinte, não merecedora de recursos e atenções dos poderes públicos locais. Mas o que são os afoxés? Quem os faz? Onde moram? A quem serve os discursos de origem das manifestações culturais? Para este trabalho foram utilizados como fonte entrevistas realizadas com afoxezeiros e militantes do movimento negro pernambucano, que serão analisados à luz das novas abordagens teórico-metodológicas da História Social da Cultura, além de notícias dos jornais Diário de Pernambuco e Jornal do Comercio.

afoxés; cultura negra; religiões de divindades e de entidades.


This work intent to argue the relations between afoxés and the religions of divinities and entities, especially candomblé, in the cities of Recife and Olinda between the years of 1980 the 2000. Taken as candomblé of street for most of the intellectuals of the black movement in Pernambuco, the afoxezeiros are used of this speech to be defended of the attacks made for folklorist, memorialists and part of the intellectuals in Pernambuco. They accuse afoxé to be a Bahia's cultural manifestation and, therefore, not deserving of resources and attentions of them to be able public places. But what they are afoxés? Who makes them? Where those people lives? To who it serves the speeches of origin of the cultural manifestations? For this work they had been used as source interviews carried through with militant afoxezeiros and the black movement of Pernambuco, that will be analyzed to the light of the new approaches of the Social History of the Culture, beyond notice of periodicals Diário de Pernambuco and Jornal do Commercio.

afoxés; black culture; religions of divinities and entities.


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  • 1
    Estou utilizando o termo "negro", como complemento para o termo "cultura", por recusar outros conceitos largamente utilizados, a exemplo de afro-brasileiro, afrodescendente ou matriz africana. Minha recusa se dá em função de considerar tais termos inapropriados para o devido entendimento das práticas e costumes construídas por negros e negras em nosso país. Para as religiões, utilizo-me de outro conceito, ou seja, quando os orixás ou voduns são a principal referência, utilizo o termo "religiões de divindades"; e para as que são formadas por entidades, uso o conceito de "religiões de encantados" ou de "entidades". Sobre esta discussão, ver a introdução de LIMA (2009).
  • 2
    Ao referir-se aos maracatus como manifestação, Real privilegiou a permanência, a não mudança: "(...) E o aspecto mais extraordinário desse cortejo régio tem sido a sua grande estabilidade no tempo - isto é, durante muito mais de cem anos, o cortejo do maracatu-nação tem permanecido inteiramente estável, virtualmente sem modificação." Para qualquer maracatuzeiro, ou mesmo estudioso atento, os maracatus dos anos 1980 mudaram em muito quando comparados com os existentes nos dias atuais, seja no toque, fantasias ou relações internas.
  • 3
    Discuti essa reinterpretação dos autores que escreveram sobre os afoxés em LIMA (2009).
  • 4
    Sobre o maracatu enquanto termo polissêmico, ver SILVA (2002) e MAIA (1995). Sobre a polissemia da palavra batuque, ver ABREU (1999, p. 287-290) e REIS (2002).
  • 5
    Sobre o momento favorável que vivem os maracatus-nação, ver LIMA (2009). Sobre a Noite dos Tambores Silenciosos, ver GUILLEN (2006).
  • 6
    Sobre a antropologia evolucionista, ver CASTRO (2005) e BOAS (2004 a; 2004 b).
  • 7
    Para esta questão na historiografia brasileira, ver DANTAS (1988), SANSONE (2004) e CAPONE (2004).
  • 8
    Veja-se os diversos números do Jornal Djumbay e do Negritude, ambos circularam nos anos 1990, mesmo que de forma irregular.
  • 9
    JÚNIOR, Lindivaldo. Afoxés de África no Recife. In: Afoxé - encanto e resistência. Folheto distribuído pela Prefeitura da Cidade do Recife. Encontra-se depositado na Casa do Carnaval.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2009
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