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Da literatura para a infância à literatura de fronteira: Agustín Fernández Paz e Lygia Bojunga

From youth literature to frontier literature: Agustín Fernández Paz and Lygia Bojunga

Resumo

O artigo propõe uma análise comparativa, de natureza panorâmica, da obra infantil e juvenil de dois autores bastante significativos dos sistemas literários galego e brasileiro - Agustín Fernández Paz e Lygia Bojunga, respectivamente. Com base no método geracional de Karl Mannheim, que permite maior flexibilidade epistemológica ao se basear mais nos processos sócio-político-culturais, isto é, nos agentes que intervêm na comunicação de um sistema literário, do que em cronologias e ideologias, são abordados, segundo um contínuo jogo de distanciamentos e, sobretudo, aproximações, tanto aspectos biográficos dos dois escritores quanto uma ampla gama de tópicos temático-formais que dão corpo ao projeto literário de ambos, com ênfase particular no comentário da obra de Fernández Paz, bem menos conhecida no Brasil do que a de Bojunga. Dentre os diversos tópicos abordados, que apontam para a aproximação da obra dos dois autores, podem ser citados com destaque o manejo esmerado de formas narrativas e registros; a exploração da tendência fantástico-realista; a intertextualidade; o uso frequente de peritextos; o protagonismo feminino; o gosto pelos temas-tabu; a crítica social.

Palavras-chave:
Agustín Fernández Paz; Lygia Bojunga; literatura infantil; literatura juvenil; literatura comparada; narrativa

Abstract

The article proposes a comparative analysis, of an overview nature, of children’s and youth works of two very important authors of Galician and Brazilian literature systems - respectively Agustín Fernández Paz and Lygia Bojunga. The biographical features of the two writers, according to a continuous game of distances and mainly of approaches, are addressed, as well as a wide range of thematicformal topics that embody the literary project of both, with particular emphasis on the comment of Fernandez Paz, less well known in Brazil than Bojunga. This is based on the generational method of Karl Mannheim, which allows a greater epistemological flexibility when it relies more on socio-political-cultural processes, that is to say, on agents that intervene on communication of a literary system, than on chronologies and ideologies. Among several topics discussed, pointing the work of the two authors, it can be mentioned, to highlight the painstaking handling of narrative forms and records, the exploring of the fantastic-realist trend; inter-textuality; the frequent use of peritexts; female protagonists, the taste for taboo topics; and social criticism.

Key words:
Agustín Fernández Paz; Lygia Bojunga; children’s literature; literature; comparative literature; narrative

Agustín Fernández Paz (Vilalba, Barrio de Fontiñas, Lugo, 1947) é uma voz literária das mais reconhecidas da lusofonia, uma vez que escreve numa das línguas que a compõem, a galega1 1 Língua específica da Galícia, que convive com o castelhano. A Galícia é uma das três comu- nidades autônomas históricas, junto à Catalunha e ao País Basco, que conformam o Estado espanhol. . É também um escritor reconhecido em outros âmbitos linguísticos aos quais chegou por meio de traduções, pois por muitas delas recebeu vários prêmios, como será possível acompanhar pelas notas de rodapé inseridas neste trabalho.

Fernández Paz apresenta semelhanças biográficas e literárias com autores e autoras brasileiros que também escreveram para os mais novos, como é o caso, por exemplo, de Lygia Bojunga (Pelotas, Rio Grande do Sul, 1932), pois, ainda que não se possa inseri-los em gerações biológicas coincidentes, se seguimos as teorias de periodização de José Ortega y Gasset (1983) e Julius Petersen (1984), devido ao fato de que nasceram com quinze anos de diferença, sim, podemos enquadrá-los em “unidades geracionais” com objetivos afins, se nos ativermos, por uma outra perspectiva, ao método geracional de Karl Mannheim (1990), que permite uma maior flexibilidade epistemológica ao se basear mais nos processos sócio-político-culturais, isto é, nos agentes que intervêm na comunicação de um sistema literário, do que em cronologias e ideologias.

Tanto Fernández Paz quanto Bojunga atuaram, a partir de seu sistema literário, assumindo objetivos, nem sempre por eles explicitados, voltados a uma estratégia comum em seu respectivo campo literário; estabeleceram “conexões geracionais” com outros autores e autoras, pois com eles participaram de experiências históricas, sem ter, necessariamente, de demonstrar com eles, ou entre eles, homogeneidade ideológica, estética, estilística etc.; e viveram “situações geracionais” conjuntas sem compartilhar idade, mas, sim, espaços potenciais de experiências e preocupações. Seguindo a metodologia proposta e apesar da diferença de idade, Bojunga e Fernández Paz compartilharam, bem antes de se situarem no campo literário, e mesmo depois, objetivos semelhantes. Lygia Bojunga iniciou sua carreira artística no teatro, passou pelo rádio e pela televisão, preocupou-se em ajudar a minimizar o analfabetismo existente em seu país e, portanto, também em impulsionar a renovação pedagógica, chegando mesmo a criar uma escola para romper com os modelos educacionais estabelecidos. Agustín Fernández Paz, em datas muito próximas, após haver percorrido também outras atividades menos artísticas, participou ativamente de movimentos pedagógicos com objetivos bastante parecidos, sobretudo se nos referirmos à implicação com a erradicação do analfabetismo na Galícia, principalmente em língua galega.

Possivelmente, o contato com crianças e jovens propiciado por essas atividades levou os dois escritores à criação literária que realizaram, tomando por ponto de partida uma linguagem rica, com muitos elementos da oralidade, sem concessões e dando lugar a uma excelente narrativa “falada”. Apostaram na tendência fantástico-realista, em que o natural sempre se justifica, e em correntes temáticas e formais inovadoras ou pouco frequentadas nas literaturas dos países em que se fizeram presentes. Responderam aos objetivos das instituições mais ativas no desenvolvimento de seus respectivos sistemas literários, como foi o caso dos prêmios literários e das editoras que, a partir dos anos setenta, começaram a promover a literatura infantil e juvenil (LIJ). No Brasil, como afirmou João Luís Ceccantini (2009______ (2009). “Leitores iniciantes e comportamento perene de leitura”. In: SANTOS, Fabiano de, MARQUES NETO, Jose Castilho Marques e RÖSING, Tania M. K. Mediação de leitura. Discussões e alternativas para a formação de leitores. São Paulo: Global. p.207-31., p. 210), “A partir de meados da década de 1970, vai-se tornando corrente ..., a noção da enorme importância exercida pelo contato com os livros desde os primeiros anos de idade”, preocupação que, com certeza, levou escritores como Lygia Bojunga à inovação da LIJ brasileira. Na Galícia, de outro lado, graças à Lei da Educação de 1970, que deu um pequeno impulso à entrada da língua no ensino, e ao Plano Galícia de 1971, começou a se constituir a LIJ galega, que não se fixará e inovará até que avançasse bem a década seguinte. Estas novas atitudes sociais incentivaram a produção de obras estéticas e críticas, pensadas para os mais jovens, com a intenção de conseguir uma adequada educação literária e formação leitora, renunciando ao utilitarismo associado à leitura, denunciado precisamente por Fernández Paz em variados foros, como lembrou Ceccantini (2009______ (2009). “Leitores iniciantes e comportamento perene de leitura”. In: SANTOS, Fabiano de, MARQUES NETO, Jose Castilho Marques e RÖSING, Tania M. K. Mediação de leitura. Discussões e alternativas para a formação de leitores. São Paulo: Global. p.207-31.).

Lygia Bojunga ingressou como escritora no campo literário brasileiro em 1971, num momento de renovação e fixação da LIJ de seu país, uma vez que nesse ano conseguiu o primeiro lugar do Prêmio do Instituto Nacional do Livro (INL), com a obra Os colegas, publicada por uma prestigiosa editora do meio literário. Prêmio, aliás, que propiciou a entrada dessa obra nas escolas públicas do país.

Trata-se de uma narração inovadora para o seu tempo, em que as personagens, animais antropomorfizados, além de buscar seu lugar na sociedade, seguem o caminho da vocação artística como descoberta individual, uma metáfora do Brasil da época. Bojunga, nessa obra, aproxima-se de estruturas e temáticas a que dará continuidade no futuro, do diálogo ao monólogo interior, em perfeita conexão linguística com o leitor, com uma clara intenção de refletir traços da identidade brasileira, explorando costumes, modos de ser etc., mas também com a intenção de universalidade, numa perfeita fusão do individual e do social, que levam a tratar temas como o amor, a amizade, a valorização do trabalho, a busca dos saberes (no sentido de uma enciclopédia pessoal).

Essa obra recebeu os prêmios mais relevantes do Brasil e fora dele2 2 Em 1973 recebeu o Prêmio Jabuti, concedido pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), o mais importante do Brasil, que também impulsionou a obra para a instituição escolar. Nos anos de 1974 e 1978, integrou a lista de honra do International Board on Books for Young People (IBBY), por recomendação da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), seção brasileira dessa Instituição, da qual recebeu o prêmio “O melhor para criança” (FNLIJ), em 1976. , como se deu com outros títulos que a sucederam, começando por Angélica (1975)3 3 “O melhor para a criança” (FNLIJ) e o Grande Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). , obra em que se trata da busca do trabalho, do amor, da amizade, de como se estrutura a família e de sua função, da sociedade e os seus vícios, oferecendo uma crítica voltada a muitos aspectos. Outra metáfora a que deu continuidade é a da antropomorfização, isto é, a atribuição de comportamentos humanos aos animais e objetos, numa obra cuja estrutura narrativa é similar à anterior, ou seja, um conjunto de histórias partindo dos conflitos gerais das personagens, para logo se exporem os individuais. Ainda em Angélica, também se introduziu uma peça teatral, um jogo literário que será empregado por Bojunga com muita frequência.

Essas duas obras, juntamente com A bolsa amarela (1976), A casa da madrinha (1978)4 4 “O melhor para a criança” (FNLIJ), 1978; Prêmio literário “O Flautista de Hamelin”, 1985, concedido pela cidade de Hamelin, Alemanha; nesse mesmo ano, recebeu o Prêmio “Os melhores para a Juventude”, concedido pelo Senado de Berlim. , Corda bamba (1979)5 5 “Altamente Recomendável para o Jovem” (FNLIJ), 1979. e O sofá estampado (1980)6 6 “O Melhor para o Jovem” (FNLIJ), 1980; no mesmo ano, o Grande Prêmio APCA e o Prêmio Bienal Banco Noroeste de Literatura Infantil e Juvenil. , com preocupações semelhantes às das obras anteriores e outras novas, em narrativas agora também protagonizadas por seres humanos, levaram-na a figurar nas listas mais prestigiosas tanto nacionais como internacionais, a receber diversos prêmios e a conseguir aqueles mais cobiçados em nível internacional, como foi o caso, no ano de 1982, do Andersen, prêmio concedido, desde 1956, bienalmente, pelo International Board on Books for Young People (IBBY), conforme proposições das suas seções nacionais e com o patrocínio da Rainha da Dinamarca, pelo conjunto da produção da escritora. No ano de 2004, Bojunga obtém também o Astrid Lindgren Memorial Award (ALMA), concedido pelo governo sueco desde o ano de 2003 (prêmio a que também foi indicado Agustín Fernández Paz em 2008).

Até a atualidade publicou vinte e duas obras, traduzidas para mais de vinte idiomas, entre eles o castelhano e o galego7 7 Foram elas, além das já citadas: Tchau (1984),”O Melhor para o Jovem” (FNLIJ,1985); Lista White Ravens, a partir de 1993; Nós três (1987), “Altamente recomendável para o Jovem” (FNLIJ, 1990); O meu amigo pintor (1987); Livro, um encontro (1988); Fazendo Ana Paz (1991), “Al- tamente recomendável para o Jovem” ( FNLIJ, 1992); Prêmio Jabuti (CBL,1993); Lista White Ravens (1993); Paisagem (1992), “Altamente recomendável para o Jovem” ( FNLIJ 1992); Seis vezes Lucas (1995), Prêmio Orígenes Lessa, Hors Concours, FNLIJ (1996), “Altamente reco- mendável” (FNLIJ, 1996), Prêmio Jabuti (CBL, 1997); O abraço (1995), Prêmio Orígenes Lessa, Hors Concours, FNLIJ (1996), “Altamente recomendável” (FNLIJ, 1996), Prêmio UBE (União Brasileira de Escritores, Prêmio Alfonso Aizen, 1997); Feito a mão (1996), Prêmio Orígenes Lessa, Hors Concours, FNLIJ (1996); A cama (1999), Prêmio Orígenes Lessa, Hors Concours, FNLIJ (1999), Premio Júlia Lopes de Almeida - Hors Concours, União Brasileira de Escritores (UBE, 2000); O Rio e eu (1999), “Altamente recomendável” (FNLIJ, 1999); Retratos de Carolina (2002), “Altamente recomendável para o Jovem” (FNLIJ, 2002); Aula de Inglês, “Altamente recomendável para o Jovem” (FNLIJ, 2007); Sapato de salto (2006), “Altamente recomendável para o Jovem” (FNLIJ, 2007); Dos vinte 1,(2007); Querida (2009). . Nelas, sempre jogou com a liberdade do imaginário e a realidade, com uma linguagem adaptada ao destinatário infantil ou juvenil, aos que se dirigiu em primeira instância, embora com acenos a todo mediador, com formas narrativas as mais variadas, em que se pode destacar o uso constante do diálogo, possivelmente associado à trajetória teatral da autora, a metaliteratura, o monólogo interior, o flash back, o diário, o gênero epistolar, o protagonismo feminino, significativos pelas características liberadoras que apresentam. Propôs, sem moralismo e com humor, reflexões para ajudar a resolver conflitos sobre as temáticas mais diversas, como a crítica social e a relação adulto-criança, o amor, a amizade, a família, a sobrevivência nas grandes cidades, a superação, os sonhos, os medos mais típicos do imaginário infantil, a identidade nacional, a igualdade de gênero, a paixão pela criação literária e artística e a leitura como instância libertadora, o suicídio8 8 Um dos temas-tabu que abordou com grande acerto em O meu amigo pintor. Ver Ceccantini (2009, p. 111-43). , o assassinato, o abandono dos filhos pelas mães, alternativas à produção industrial contaminante, a memória como matéria poética, a denúncia sobre o abuso das classes sociais mais desfavorecidas etc.

Por quase todas as suas obras continuou a receber prêmios e a figurar nas listas mais prestigiosas em nível nacional e internacional, como assinalado nas notas de rodapé. Acrescente-se que o seu trabalho criativo foi legitimado pelos especialistas mais reconhecidos do Brasil e para além de suas fronteiras, que chegaram a considerá-la como a continuadora por excelência do clássico José Bento Monteiro Lobato9 9 Sobre Monteiro Lobato, consultar: Cavalheiro (1955); Sacchetta (1997); Lajolo (2000); Lajolo e Ceccantini (2008). (Taubaté, São Paulo, 1882/1948).

Para finalizar este brevíssimo inventário dos aspectos que levaram Lygia Bojunga a situar-se no centro do sistema literário de seu país e a se converter numa autora já clássica, é preciso salientar que no ano de 2002, com a sua obra Retratos de Carolina, inaugurou a Editora Casa Lygia Bojunga e que com os benefícios do Prêmio ALMA criou uma Fundação, onde aglutinou toda sua obra e na qual se realizam muitas atividades que levam a que a LIJ brasileira e a obra da autora percorram o mundo todo, por meio da web (www.casalygiabojunga.com)10 10 Nesse endereço é possível acessar uma biografia da autora, os prêmios que alcançou, co- mentários sobre sua trajetória, avaliações críticas de jurados e especialistas, bem como outras atividades da Fundação e prêmios e títulos concedidos à escritora por seu trabalho de um modo geral, como o Prêmio FAZ DIFERENÇA (personalidade literária do ano), conferido à autora pelo jornal O Globo. .

A seguir, concentrar-me-ei na biografia e produção de Agustín Fernández Paz, que, como poderá ser comprovado nos próximos tópicos deste trabalho, tem uma trajetória que é possível comparar, em certos aspectos, com essa escritora brasileira, apesar de ele ter-se incorporado mais tarde ao campo literário galego, pois além das semelhanças já apontadas, também recebeu, como já adiantado, os prêmios mais estimados da Galícia e do Estado Espanhol. Muitas das suas obras figuram também nas listas nacionais e internacionais de maior prestígio e obtiveram o primeiro lugar em premiações tanto da Galícia quanto fora de suas fronteiras, como será apontado nos tópicos seguintes.

Pelas afinidades entre os dois escritores, quero, neste breve trabalho, dar a conhecer ao mediador, em especial, e ao público brasileiro de maneira geral, ainda que não apenas ele, um autor galego que merece ser lido, já que se caracteriza pela qualidade de sua obra e por constituir um pilar importante na consolidação de um amplo público leitor, como demonstra o número de exemplares vendidos de muitos dos seus livros. Busco, ainda, apresentar alguns apontamentos de natureza comparativa em relação à escritora brasileira Lygia Bojunga.

Algumas notas biográficas

Agustín Fernández Paz, numa “Breve autobiografia” que se publicou na revista iraniana Pazhuhesh Nameh (The Research Quarterly of Children & Youth’s Literature), afirmava:

Nasci em 1947, na Espanha cinza e amarga do pós-guerra. Fui menino nos anos cinquenta; pertenço, assim, à última geração de europeus que cresceu sem televisão. Daquele tempo, recordo as histórias noturnas contadas ao redor do fogão de ferro fundido, alguns livros de aventura, os contos, as poucas fitas de cinema que podíamos ver. Mais tarde, cursei Perícia Industrial e trabalhei algum tempo em Barcelona. De volta à Galícia, cursei o Magistério e Pedagogia, pois a docência atraía-me de maneira poderosa.

Esta paixão ocupou a sua vida profissional de educador desde 1974, primeiramente como professor do ensino primário e depois como professor do secundário, até que no período letivo de 2007/2008 decidiu aposentar-se para se dedicar a outras predileções.

Enquanto trabalhou no ensino sempre esteve ligado aos movimentos e associações de renovação pedagógica (Avantar e Nova Escola galega são bons exemplos), e como deixou claro: “faço parte da geração de educadores que, nos anos posteriores à morte de Franco, tentaram transformar a vida por meio da escola”. Durante essa época, em que exerceu a docência, trabalhou incansavelmente como autor de materiais didáticos, panoramas literários, reflexões sobre língua e literatura, educação, fomento à leitura etc., que foram publicados em livros e artigos de revistas e jornais. Além disso, participou, em relação às temáticas referidas, de projetos institucionais, de júris de prêmios e foi constante a sua presença em congressos, simpósios, cursos etc., atividades que não abandonou na atualidade. Essa participação ativa em tudo o que estivesse relacionado com o ensino levou-o a tomar parte de comissões variadas e assessorias em defesa da língua e da cultura do país.

Entre as suas predileções, além da comentada, destacou, em várias das entrevistas que cordialmente sempre concedeu:

Gosto muito de ler, adoro os quadrinhos, tenho paixão pelo cinema. E, quem sabe, como consequência lógica dessa fascinação pelas histórias, decidi passar para o outro lado do espelho e escrever os meus próprios livros.

O que começou sendo uma atividade complementar ao ensino, acabou por converter-se em algo cada vez mais importante para mim. Se tivesse agora que me definir em poucas palavras, diria que sou uma pessoa que encontra prazer em inventar histórias e contá-las por meio da escritura. (Rechou e López, 2008______ e LÓPEZ, Isabel Soto (2008b). “En Santiago de Compostela con Agustín Fernández Paz”. Boletín Galego de Literatura. n. 38. p.161-78., p. 161-78)

Essa paixão literária começou na década de 80 e, desde então, até o momento atual, resultou na publicação de 44 obras, em que, como se deu com Lygia Bojunga, abriu correntes temáticas e formais de que carecia a LIJ galega e renovou outras já abertas. Porém essa paixão consolidou-se depois de Fernández Paz ter escrito contos na década de 1970, com os quais obteve prêmios no Concurso Nacional de Contos Infantis “O Facho”11 11 Trata-se das narrativas intituladas “Ao mellor voltan tamén as anduriñas” (1976, 3º lugar) e “O Rescate das palabras” (1980, 3º lugar). , promovido pela Associação Cultural homônima da Coruña desde o ano de 1968, uma instituição fundamental para o desenvolvimento da LIJ galega; e depois de ter escrito narrativas e contos que se publicaram em livros didáticos, em revistas e em alguma edição não comercial, muitos deles desenvolvidos posteriormente em alguma das obras que conformam sua produção, e de ter trazido à luz O libro de Merlín (1987), onde recolheu textos narrativos poéticos e historietas tanto de autores galegos como traduzidos.

Esse seu compromisso com a renovação pedagógica por meio do uso da literatura levou-o a nunca abandonar a criação e a se preocupar com a renovação literária valendo-se de uma linguagem rica, de uma linguagem que permite, como disse Juan Carlos Merlo (1980MERLO, Juan Carlos (1980). La literatura infantil y su problemática. 2. ed. Buenos Aires: Ateneo [1976].), criar essa ponte “que introduza a criança a estabelecer, por meio da leitura prazerosa, um falar bem cotidiano”. E também a fazer outras atividades. Assim, realizou com Bernardo Máiz o vídeo intitulado “Xan de Xenaro: memoria de 32 anos”, sobre a vida de um guerrilheiro do “maquis” galego, com que foram contemplados com o primeiro prêmio do “Concurso de Roteiros de Vídeos Didáticos” da Prefeitura de Fene12 12 Na sua cidade, em 2001, concederam-lhe o Dia das Letras Chairegas por iniciativa das pre- feituras da Terra Chá e, em 2007, foi reconhecido pela Associação de Escritores em Língua Galega, e também pela Irmandade do Libro, entre outros. . Além disso, pelo conjunto de seus escritos sobre quadrinhos, foi-lhe concedido o Prêmio Ourense de História em Quadrinhos. O seu livro didático Canles 5, de que é co-autor, recebeu o Prêmio Emilia Pardo Bazán, do Ministério da educação, para livros de texto não sexistas, e por seu projeto literário global recebeu vários prêmios e homenagens13 13 Para saber mais sobre a biobibliografia do autor, vejam-se, além das “Referências Biblio- gráficas” neste trabalho, os seguintes endereços da web: www.xerais.com e www.agustinfernandezpaz.com. .

Mas o que mais interessa neste trabalho é focalizar a trajetória literária dos dois escritores para observar como se foram incorporando ao campo literário, se considerarmos as teorias de Pierre Bourdieu (1991BOURDIEU, Pierre (1991). “Le champ littéraire”. In: Actes de la Recherche en Sciences Sociales. v. 89, n. 1, p. 3-46.), ou ao sistema literário, se nos embasarmos nas de Itamar Even-Zohar (1991EVEN-ZOHAR, Itamar (1990). “The Literary System”. Poetics Today. v. 11, n. 1, p. 27-44.,1999______ (1999). “Factores y dependencias en la cultura. Una revisión de la teoría de los polisistemas”, “Planificación de la cultura y mercado”. In: MONSERRAT, Iglesias. Teoría de los polisistemas. Madrid: Arco. p. 23-45 e p. 71-96.), pois ambos os escritores - Fernández Paz e Bojunga -, como agentes culturais de seus respectivos sistemas literários, além de participarem da inovação formal e temática e de alcançar um público leitor que estava ainda se constituindo em países com problemas de escolarização e autoafirmação, conseguiram transpor as suas fronteiras e alcançar o público leitor de outros países, a partir da tradução e divulgação de suas obras.

A obra literária de Agustín Fernández Paz

Em cada uma das 44 obras literárias que produziu, seja para a infância, seja para a adolescência e juventude, sem contar as narrativas incluídas em volumes coletivos e livros didáticos, como foi adiantado, Fernández Paz demonstrou sua mestria e inovação. Delas, podem-se extrair as características de sua poética, o que ele chama “as marcas da casa”14 14 N.T. A expressão “marcas da casa” será utilizada em outros momentos do texto, tal como no original, equivalente, aproximadamente, à expressão “marca registrada”, utilizada co- loquialmente no português do Brasil para expressar a peculiaridade de algum aspecto ou alguma produção associados a um determinado sujeito. como nos recordou Isabel López (2008LÓPEZ, Isabel Soto (2008). “Literatura contra a desmemoria: unha lectura de Noite de voraces sombras, de Agustín Fernández Paz”. In: RECHOU, Blanca Ana Roig, DOMÍNGUEZ, Pedro Lucas e LÓPEZ, Isabel Soto (Orgs.). A guerra civil española na narrativa infantil e xuvenil. Ilust. José María Mesías Lema. Vigo: Edicións Xerais de Galicia/Fundación Caixa Galicia. p. 251-69., p. 253), que, ao final, comparamos com as características de Bojunga.

Agustín Fernández Paz e a infância

Na sua primeira experiência com essa faixa etária, seguindo as recomendações editoriais, indicadas nos paratextos, em A cidade dos desexos (1989), Fernández Paz já pôs em prática uma das características de seu projeto literário, a que Isabel López (2008LÓPEZ, Isabel Soto (2008). “Literatura contra a desmemoria: unha lectura de Noite de voraces sombras, de Agustín Fernández Paz”. In: RECHOU, Blanca Ana Roig, DOMÍNGUEZ, Pedro Lucas e LÓPEZ, Isabel Soto (Orgs.). A guerra civil española na narrativa infantil e xuvenil. Ilust. José María Mesías Lema. Vigo: Edicións Xerais de Galicia/Fundación Caixa Galicia. p. 251-69., p. 253) denominou “presença do sobrenatural no âmbito da realidade”, ou seja, a tendência fantástico-realista que já anunciamos em outros trabalhos e que Fernández Paz praticou com esmero, para não confundir fantasia com imaginação, sobretudo nas obras dirigidas aos pré-leitores e leitores infantis, cuidando sempre do ambiente e da atmosfera na qual se desenvolve o discurso para que a história contada seja verossímil, conforme as possibilidades humanas e convenções que se estabelecem na própria narrativa. Portanto, para que seja atraente ao leitor-modelo a que aspira, mas também a todo tipo de leitor. Nessa obra já se anunciam alguns dos temas que o escritor nunca abandonará, como no caso do ecologista, que retomará em As fadas verdes, (1999)15 15 Placa de Prata do prêmio El Barco de Vapor no ano de 2007. ; em O soño do merlo branco (2000), em que o antromorfismo, também praticado por Lygia Bojunga, permite observar como numa família de melros a convivência, a compreensão, o respeito, unindo tradição e modernidade, levam seus membros a refletir, por exemplo, sobre o racismo ou a ecologia. Esse tema também foi abordado em A praia da esperanza (2003), depois do grave acidente provocado pelo Prestige na Galícia; e em Os gardiáns do bosque (2006).

Outro dos temas bem ao gosto de Fernández Paz, ainda que sejam vários os assuntos de que trata em cada obra, é o que diz respeito às diferenças entre a vida na aldeia e na cidade, tema que, junto a outros, sobressai em Lonxe do mar (1991). Nessa obra, são salientadas as características do mundo rural e do marinheiro e é abordada a questão da igualdade de gêneros, discutida no âmbito do comportamento dos pais da menina protagonista.

Também inserida no campo das preferências do autor está a reescritura de contos de transmissão oral (Rechou, 2001RECHOU, Blanca-Ana Roig (2001). “Achega para unha periodización da literatura infantil e xuvenil galega na actualidade”. In: VVAA, Congreso literatura galega e do norte de Portugal. Actas do congreso realizado pola Dirección Xeral de Promoción Cultural en Santiago de Compostela, dos días 25 ao 28 de decembro de 2000, Santiago de Compostela: Xunta de Galicia/Dirección Xeral de Cultura, Comunicación social e Turismo. p. 109-126.), ora lúdica, ora ideológica, ora humanizadora, como se pode acompanhar num conjunto de obras que acolhem personagens do imaginário infantil retomadas dos contos de transmissão oral e das lendas, buscando-se o reencontro simbólico do mundo rural com o urbano, mas também o resgate da tradição literária clássica. Trata-se de uma “marca da casa” de Agustín, e na qual ele insiste abertamente, incrustando esse tópico em obras em que se destacam outras temáticas, como ocorre em O tesouro do dragón Smaug (1992) ; Unha lúa na fiestra (1994), No corazón do bosque, (2001), em que se dá um encontro entre o mundo simbólico de qualquer cultura e o mundo mítico galego, e em A serea da Illa Negra, (2003); em A fuxida do mar (2005) e em Querido inimigo (2006).

Os medos e terrores do imaginário infantil, que afloram em muitas obras como uma terapia para perdê-los, também são tratados literariamente em narrativas como As tundas do corredor (1993), onde se discutem os medos e terrores noturnos da protagonista; Raquel ten medo (2004); Laura e os ratos (2004); A noite dos animais (2005); ¡Que medo, mamá Raquel! (2005); e ¡Upa! (2008), nas quais se descrevem, com mestria, o espanto, o terror, uma situação da qual é difícil sair, pelo estado patológico em que se entra, ainda que nuns casos esse estado seja mais forte que em outros.

A crítica do sistema educativo e de como se desenvolve o ensino no âmbito escolar se faz presente em várias obras, oferecendo ao público leitor alternativas inovadoras e lúdicas, como em A nube de cores (1999), em que de novo uma menina põe em xeque um sistema educativo caduco por meio de alternativas imaginativas, tema que é retomado em A escola de piratas.

As identidades nacionais, que são enfatizadas em todas as obras, põem-se em relação com outras para compreender as diferenças culturais, como ocorre em Ana e o tren máxico (2001); e em Un tren cargado de misterios (2001).

A visualização do outro, do desamparado, do diferente, não escapa da visada de Agustín Fernández Paz, deixando as crianças assumirem esse foco para despertar a reflexão do mediador. É este o caso de O meu nome é Skywalker (2003), homenagem a uma personagem cinematográfica (Guerra das Galaxias), aos sem-teto, aos imigrantes, aos marginais, que somente são vistos, neste caso, por Raquel, a protagonista, que troca com o imigrante favores simbólicos e bastante identitários.

As histórias engraçadas, as espertezas, os sonhos imaginativos, as diabruras da infância fazem-se presentes em obras de um certo realismo nas quais o humor e o absurdo são marcas importantes, como no caso de A pastelaría de dona Remedios (2008).

Agustín Fernández Paz e a adolescência

No caso das obras voltadas a adolescentes, o escritor dá continuidade a tendências formais já manifestadas, a temáticas já enunciadas e ao protagonismo feminino maioritário presente nas obras para a infância. Fernández Paz continua a revelar suas “marcas da casa”, tanto no nível formal quanto no temático. Na primeira edição de As flores radiactivas (1990), uma narrativa coletiva, que se desenvolve por meio de um diário e de um relato de aventuras, protagonizada por uma adolescente independente, decidida, sem complexos, ativa, volta-se à temática ecológica, pondo em cena uma aventura pacifista contra os vazamentos de dejetos nucleares no Atlântico. Com esta obra, além disso, o autor passa a revelar outra de suas características peculiares, neste caso de natureza formal, que é a conversão de epitextos en peritextos, para dar credibilidade à narração. Assim, introduziu no volume reportagens sobre o tema que foram publicados em jornais e revistas.

Para essa faixa etária também se valeu de outra das “marcas da casa” que caracterizam sua literatura, como a construção de narrativas a partir de anúncios classificados, publicados em jornais. Esses textos convidaram a que criasse contos e narrativas em primeira pessoa ou nos quais a primeira pessoa cede a voz a uma terceira; outros, que reproduzem diálogos telefônicos nos quais somente se ouve um dos interlocutores; outros, ainda, construídos por meio de fragmentos de cartas, notícias de jornais e informes policiais etc. É o caso de Contos por palabras (1991), em que é possível observar críticas sobre o que degrada a vida, tanto no que diz respeito ao meio natural quanto no que tange às pessoas. Nessa obra, há também a crítica à americanização dos costumes; a defesa da língua galega, com a inclusão de temas das histórias em quadrinhos e do cinema (Spiderman, o homem-lobo, o vampiro); temas e personagens (heróis) atuais e clássicos, galegos e universais.

Em Rapazas (1993), é o espaço escolar o lugar onde se desenvolvem as narrativas de ficção científica e da vida cotidiana, com a abordagem de temáticas caras ao autor, algumas delas inovadoras na literatura infantojuvenil galega de então, como a morte, o racismo, a solidão, a necessidade de reconhecimento, a busca de felicidade, temas que têm continuidade em obras de mistério, como A néboa escura (1998); O laboratorio do Doutor Nogueira (1998); Cos pés no aire (1999) e O raio veloz (2006), obra na qual se discute a vida trepidante de um mileurista no século XXI; as descobertas e perseguições, também uma característica marcante do autor, anunciada já em A fonte maldita (2001). De novo, a compreensão do outro é o tema-chave de Lúa do Senegal (2009), obra na qual a imigração e os sofrimentos a que conduz são abordados, bem como se faz uma aposta no questionamento dos elementos identitários e de compreensão, narrativa também protagonizada por uma adolescente. Estas temáticas já tratadas se enriquecem com obras indicadas para essa faixa etária. No ano de 2009, são duas as abordagens inovadoras: Valados (2009), que já desde o título anuncia que vai tratar dos múltiplos muros que se produzem pela incompreensão e de como se pode lutar contra eles; e A dama da luz (2009), uma homenagem à cidade que acolheu Fernández Paz e na qual ele vive (Vigo).

Agustín Fernández Paz e a narrativa juvenil

Pode-se afirmar que Fernández Paz é um dos primeiros escritores que aposta na literatura juvenil, uma literatura de fronteiras que, se por um lado acena em direção à juventude, por outro, dá mostras claras de querer alcançar um público leitor mais amplo, sobretudo aquele que tem certa influência sobre a juventude e seus gostos. Algumas das obras inseridas no tópico anterior revelam ambivalência, se pensamos na classificação que a editora lhes deu na sua segunda edição, pois o tempo demonstrou que se situavam entre a adolescência e a juventude. É o caso, por exemplo, de Rapazas, que passou de uma coleção para adolescentes a uma coleção para jovens de uma faixa etária posterior. Esta oscilação deu-se desde sempre da literatura institucionalizada (ou “adulta”) para a literatura infantil e juvenil, uma vez que o público leitor torna suas as obras que não foram publicadas na origem com indicações etárias.

Iniciou-se nesta faixa etária com Trece anos de Branca (1994), em que o amadurecimento da protagonista a partir de uma doença está no centro da narrativa. A passagem da infância à adolescência, os medos, as incertezas, o descobrimento de sentimentos cruciais para o amadurecimento, como o desejo sexual e o amor, envolvem toda a história de iniciação, dentro do espírito de uma das correntes formais mais empregadas pelo autor; Cartas de inverno (1995) e Avenida do parque, 17 (1996) são novelas de mistério que extrai de algumas cartas; em Amor dos quince anos, Marilyn (1995), uma homenagem ao cinema, tópico recorrente na sua produção em geral, volta ao recurso dos anúncios classificados para compor as cinco narrativas de perfil variado e com muitos traços identitários; O centro do labirinto (1997) constitui uma narrativa de ficção científica em que o autor oferece também uma boa dose de aventura, suspense e mesmo alguns aspectos de iniciação para discutir os possíveis problemas advindos da uniformidade cultural, do pensamento único, da desaparição da identidade das minorias ou de alguns dos possíveis efeitos negativos da globalização. Com Noite de voraces sombras (2002), iniciou o denominado “Ciclo das sombras e descobrimentos”, com narrativas em que recorre à memória como matéria poética, como já fizera em A fonte maldita e nos contos “As sombras do faro” (2001) e “Memórias dos soños rotos” (2001), e que se seguiu em Tres pasos polo misterio (2004) e Corredores de sombra (2006), uma série literária em que as suas protagonistas investigam episódios ocorridos antes e durante a Guerra Civil, que ensombrearam vidas na ditadura e até em tempos recentes, como foi o caso dos professores republicanos, uma temática pouco abordada até este momento (Agra et al., 2004AGRA, María Jesús e RECHOU, Blanca-Ana Roig (Orgs.) (2004). A memoria das guerras na Literatura Infantil e Xuvenil. Vigo: Edicións Xerais de Galicia/Galix.). São narrrativas de iniciação, de um modo geral, que também partem de uma notícia de jornal, de documentos encontrados (diários, cartas), tudo desencadeando a iniciação das protagonistas Sara, Marta e Clara, que, ajudadas por companheiros como Daniel e Miguel, convidam à reflexão sobre a repressão, as frustrações, as renúncias, as experiências amorosas, a morte, estabelecendo dualidades entre tipos de famílias, o que leva a observar as mudanças sociais já produzidas ou que estão sendo produzidas, assim como a dualidade, tão cara ao escritor, cidade/aldeia e os conflitos que comportam. Trata-se de obras que querem provocar a memória do público leitor e fazer com que não se enterre o passado sem antes conhecêlo por completo, como já anunciara em A fonte maldita. Finalmente, em O único que queda é o amor (2007), verifica-se novamente um conjunto de contos em que se mostram as múltiplas inquietações originadas pelo amor e o desamor.

Chaves da poética de Fernández Paz e de Bojunga

Depois dos breves acenos sobre formas, temas, modalidades de protagonistas etc. que acabo de apresentar, quero salientar alguns aspectos típicos da poética de Agustín e destacar aqueles que se podem identificar também na obra de Lygia Bojunga:

  • Um manejo esmerado, por parte dos dois autores, das formas narrativas que empregam e dos registros adaptados para o destinatário ao qual se dirigem, artesanato que faz com que o conjunto de sua obra possa ser do gosto de qualquer tipo de leitor, uma vez que as leituras são múltiplas.

  • A tendência fantástico-realista, em que o sobrenatural se mistura com o real, provocando espanto, medo, horror, descoberta, iniciação, simbolismo, identidade, memória, é mais do gosto de Agustín Fernández Paz, e a tendência realista é preferida por Lygia Bojunga, ainda que ambos pratiquem as duas tendências.

  • Uma intertextualidade explícita e implícita com a sua própria obra e com a de outros autores clássicos do seu sistema literário ou da literatura universal. Assim, muitas das personagens das obras de Fernández Paz caracterizam-se por ter bibliotecas, por ter leitores vorazes de obras de autores clássicos da literatura galega, sobretudo da institucionalizada, mas também de outras literaturas, neste caso muitos clássicos da literatura infantojuvenil, e por recorrer, em muitas passagens das suas obras, a espaços dessas obras clássicas ou a reflexões, sentimentos e episódios nelas vazados que falam de enciclopédias repletas de intertextos interiorizados em cada personagem, uma marca do leitor modelo ao qual Fernández Paz aspira. Tal intertextualidade também se realiza com o cinema e com a música. Essa característica também se observa na produção de Bojunga, sobretudo nas suas obras mais metalinguísticas, ainda que se incline mais para o convite à criação, mas sem esquecer as outras facetas, sobretudo aquela da animação de leitura.

  • O emprego de peritextos como as epígrafes com as quais Fernández Paz inicia a maioria de suas obras e nas quais se inserem autores preferidos do escritor, tanto galegos como da literatura universal, uma estratégia intencional para inscrever a obra num dado âmbito de pensamento e numa determinada linha de produção, na busca de diálogos ideológicos e estéticos. Também o emprego de peritextos autorais esclarecendo conteúdos da obra e mesmo de epitextos, convertidos agora em peritextos, pois são comentários que se realizaram noutros meios e que, em algumas edições, se incorporam ao volume. Estes últimos peritextos também são usados por Bojunga, como a seção “Pra você que me lê”, que integra todas suas obras nas edições recentes, da Casa Lygia Bojunga. Nessa seção, a autora propõe-se a refletir sobre as estratégias de criação das obras, intenções, temas recorrentes, criação de personagens, vivências pessoais e afetivas.

  • Um claro compromisso com a cultura galega, pois são muitos os elementos identitários que aparecem, por exemplo, a inclusão e a valoração de escritores e escritoras galegos clássicos, mas também de costumes, lugares emblemáticos, feitos heroicos, cidades etc., entre os muitos elementos que foram destacados por Anne Marie Thiesse (1999THIESSE, Anne Marie (1999). La Création des identités nationales. Europe XVIIIXX siècle. Paris: Editions du Seuil. pp. 133-158 [2001].), Antón Figueroa (2001FIGUEROA, Antón (2001). Nación, literatura, identidade. Comunicación literaria e campos sociais en Galicia. Vigo: Edicións Xerais de Galicia.) e Anxo Tarrío (2008), nos dois últimos casos em relação à identidade galega. Lygia Bojunga compartilha desse compromisso com seu país, conforme vimos em obras como Os colegas, em que o samba e o carnaval desempenham um papel fundamental na narrativa, mas nesta autora, como em Fernández Paz, esses traços se prestam a mostrar também um modo de ser, possivelmente mais explícito nas obras da brasileira.

  • Uma clara aposta no protagonismo feminino e em alguns nomes concretos: Alba, Ana, Mariña, Raquel..., meninas adolescentes e jovens ativas, empreendedoras, desinibidas, definitivamente seguras da igualdade de gênero e, portanto, capazes de compartilhar temores, fantasias e reflexões em geral com os seus companheiros. Na verdade, é delas que partem as iniciativas para a descoberta de episódios que muitos não querem lembrar, mas que se sucederam na Guerra Civil Espanhola, para recuperar a memória, como ocorre nas obras que conformam o “Ciclo das sombras e descobertas”, mas também em outras, nas quais se defende a nova condição feminina.

Essa característica também pode ser valorizada nas obras de Lygia Bojunga, por exemplo, em Angélica. É preciso destacar também a coincidência na eleição de nomes de personagens, pois tanto Fernández Paz como Bojunga Nunes usam o nome Raquel para a protagonista de suas narrativas, esse como exemplo.

  • O encontro do mundo simbólico de qualquer cultura e o mundo mítico galego, como citado anteriormente, também presente na obra de Bojunga, por exemplo, no capítulo final de Feito à mão (1996).

  • Habilidade e coragem no tratamento de temas que foram “tabu” em épocas anteriores: morte, sexo, igualdade de gênero, frustrações, homossexualidade, personagens em busca de um lugar na sociedade, como os imigrantes ou os pertencentes às classes sociais mais desprotegidas, muitos desses temas compartilhados na produção de ambos os escritores.

  • Uma crítica cortês da sociedade, e concretamente dos sistemas educativos, que permite aos dois autores retratar as crises sociais, as mudanças e transformações que vivem os seus países tanto nas cidades, espaço privilegiado por Bojunga, como na dualidade cidade/aldeia, muito recorrente na obra de Fernández Paz.

  • Um didatismo contido na maioria das suas obras, sem moralismos, das mais literárias de todos os tempos; característica menos explícita, ainda que existente, na obra de Bojunga.

  • Um dos iniciadores da literatura juvenil galega, essa literatura fronteiriça que, como vimos, ainda que se dirija a qualquer tipo de leitor aproxima-se com inteligência da juventude por meio da estrutura linguística, literária e temática. Bojunga também apostou nessa literatura juvenil de fronteira, feito que foi reconhecido por muitos prêmios.

  • Uma preocupação constante com a reescritura quando reedita suas obras, momento no qual opta ora por uma reedição ou reedição revisada em que só corrige erros ortográficos e/ou adapta os textos às normas ortográficas mais atuais, ora opta por aquelas em que acrescenta texto de edições anteriores, reduz ou introduz fragmentos, como podemos verificar no trabalho realizado por Isabel López (2009______ (2009). “Agustín Fernández Paz: procesos de reescritura”. Malasartes (Cadernos de Literatura para a infância e a juventude). Porto: Porto Editora. n. 18. p. 26-8.). Por isso, os estudiosos sempre têm de estar revisando continuamente cada edição desse autor, como o têm de fazer os brasileiros, particularmente em relação às reedições mais atuais das obras de Bojunga por sua editora.

Estas seriam algumas “marcas da casa” que caracterizam a mestria desses autores. Poderíamos deter-nos noutras mais, nos registros que usam, nos jogos simbólicos etc., mas isso levaria a um estudo impossível de realizar nestas poucas páginas que lhes posso dedicar.

Clássicos contemporâneos

Por toda essa atividade como profissional do ensino e como escritor até a atualidade, mas já desde finais do século XX, Agustín Fernández Paz é considerado um clássico contemporâneo (Gomes, 2007GOMES, José António e RECHOU, Blanca-Ana Roig (Orgs.) (2007). Grandes autores para pequenos leitores. Literatura para a infância e a juventude: Elementos para a construção de um cânone. Porto: Deriva Editores.), assim como o é Lygia Bojunga no sistema literário brasileiro. Isso porque ambos, além de ter uma vida sócio-político-cultural ativa, escreveram, em geral, obras de considerável qualidade estética, que criaram tendências e correntes para a literatura infantil e juvenil universal e se converteram em modelos a imitar pelas futuras gerações literárias, como acabamos de ver. Esse processo se dá tanto nos seus sistemas literários como em outros, aqueles a que os leitores podem se aproximar por meio das traduções, como vimos nas notas de rodapé, pois muitas de suas obras ocupam ainda hoje o centro dos cânones mais significativos e foram agraciadas com os prêmios mais importantes.

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  • THIESSE, Anne Marie (1999). La Création des identités nationales Europe XVIIIXX siècle. Paris: Editions du Seuil. pp. 133-158 [2001].
  • 1
    Língua específica da Galícia, que convive com o castelhano. A Galícia é uma das três comu- nidades autônomas históricas, junto à Catalunha e ao País Basco, que conformam o Estado espanhol.
  • 2
    Em 1973 recebeu o Prêmio Jabuti, concedido pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), o mais importante do Brasil, que também impulsionou a obra para a instituição escolar. Nos anos de 1974 e 1978, integrou a lista de honra do International Board on Books for Young People (IBBY), por recomendação da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), seção brasileira dessa Instituição, da qual recebeu o prêmio “O melhor para criança” (FNLIJ), em 1976.
  • 3
    “O melhor para a criança” (FNLIJ) e o Grande Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).
  • 4
    “O melhor para a criança” (FNLIJ), 1978; Prêmio literário “O Flautista de Hamelin”, 1985, concedido pela cidade de Hamelin, Alemanha; nesse mesmo ano, recebeu o Prêmio “Os melhores para a Juventude”, concedido pelo Senado de Berlim.
  • 5
    “Altamente Recomendável para o Jovem” (FNLIJ), 1979.
  • 6
    “O Melhor para o Jovem” (FNLIJ), 1980; no mesmo ano, o Grande Prêmio APCA e o Prêmio Bienal Banco Noroeste de Literatura Infantil e Juvenil.
  • 7
    Foram elas, além das já citadas: Tchau (1984),”O Melhor para o Jovem” (FNLIJ,1985); Lista White Ravens, a partir de 1993; Nós três (1987), “Altamente recomendável para o Jovem” (FNLIJ, 1990); O meu amigo pintor (1987); Livro, um encontro (1988); Fazendo Ana Paz (1991), “Al- tamente recomendável para o Jovem” ( FNLIJ, 1992); Prêmio Jabuti (CBL,1993); Lista White Ravens (1993); Paisagem (1992), “Altamente recomendável para o Jovem” ( FNLIJ 1992); Seis vezes Lucas (1995), Prêmio Orígenes Lessa, Hors Concours, FNLIJ (1996), “Altamente reco- mendável” (FNLIJ, 1996), Prêmio Jabuti (CBL, 1997); O abraço (1995), Prêmio Orígenes Lessa, Hors Concours, FNLIJ (1996), “Altamente recomendável” (FNLIJ, 1996), Prêmio UBE (União Brasileira de Escritores, Prêmio Alfonso Aizen, 1997); Feito a mão (1996), Prêmio Orígenes Lessa, Hors Concours, FNLIJ (1996); A cama (1999), Prêmio Orígenes Lessa, Hors Concours, FNLIJ (1999), Premio Júlia Lopes de Almeida - Hors Concours, União Brasileira de Escritores (UBE, 2000); O Rio e eu (1999), “Altamente recomendável” (FNLIJ, 1999); Retratos de Carolina (2002), “Altamente recomendável para o Jovem” (FNLIJ, 2002); Aula de Inglês, “Altamente recomendável para o Jovem” (FNLIJ, 2007); Sapato de salto (2006), “Altamente recomendável para o Jovem” (FNLIJ, 2007); Dos vinte 1,(2007); Querida (2009).
  • 8
    Um dos temas-tabu que abordou com grande acerto em O meu amigo pintor. Ver Ceccantini (2009______ (2009). “Leitores iniciantes e comportamento perene de leitura”. In: SANTOS, Fabiano de, MARQUES NETO, Jose Castilho Marques e RÖSING, Tania M. K. Mediação de leitura. Discussões e alternativas para a formação de leitores. São Paulo: Global. p.207-31., p. 111-43).
  • 9
    Sobre Monteiro Lobato, consultar: Cavalheiro (1955CAVALHEIRO, Edgard (1955). Monteiro Lobato: vida e obra. São Paulo: Companhia Editora Nacional.); Sacchetta (1997); Lajolo (2000LAJOLO, Marisa (2000). Monteiro Lobato - um brasileiro sob medida. São Paulo: Moderna); Lajolo e Ceccantini (2008CECCANTINI, João Luís e LAJOLO, Marisa (Orgs.) (2008). Monteiro Lobato, livro a livro: literatura infantil. São Paulo: Imprensa Oficial; Editora UNESP.).
  • 10
    Nesse endereço é possível acessar uma biografia da autora, os prêmios que alcançou, co- mentários sobre sua trajetória, avaliações críticas de jurados e especialistas, bem como outras atividades da Fundação e prêmios e títulos concedidos à escritora por seu trabalho de um modo geral, como o Prêmio FAZ DIFERENÇA (personalidade literária do ano), conferido à autora pelo jornal O Globo.
  • 11
    Trata-se das narrativas intituladas “Ao mellor voltan tamén as anduriñas” (1976, 3º lugar) e “O Rescate das palabras” (1980, 3º lugar).
  • 12
    Na sua cidade, em 2001, concederam-lhe o Dia das Letras Chairegas por iniciativa das pre- feituras da Terra Chá e, em 2007, foi reconhecido pela Associação de Escritores em Língua Galega, e também pela Irmandade do Libro, entre outros.
  • 13
    Para saber mais sobre a biobibliografia do autor, vejam-se, além das “Referências Biblio- gráficas” neste trabalho, os seguintes endereços da web: www.xerais.com e www.agustinfernandezpaz.com.
  • 14
    N.T. A expressão “marcas da casa” será utilizada em outros momentos do texto, tal como no original, equivalente, aproximadamente, à expressão “marca registrada”, utilizada co- loquialmente no português do Brasil para expressar a peculiaridade de algum aspecto ou alguma produção associados a um determinado sujeito.
  • 15
    Placa de Prata do prêmio El Barco de Vapor no ano de 2007.
  • 16
    Tradução de João Luís Ceccantini.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    31 Out 2019
  • Data do Fascículo
    Jul-Dec 2010

Histórico

  • Recebido
    Set 2010
  • Aceito
    Out 2010
Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea, Programa de Pós-Graduação em Literatura da Universidade de Brasília (UnB) Programa de Pós-Graduação em Literatura, Departamento de Teoria Literária e Literaturas, Universidade de Brasília , ICC Sul, Ala B, Sobreloja, sala B1-8, Campus Universitário Darcy Ribeiro , CEP 70910-900 – Brasília/DF – Brasil, Tel.: 55 61 3107-7213 - Brasília - DF - Brazil
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