Acessibilidade / Reportar erro

Morbidade da doença de Chagas em populações urbanas do sertão da Paraíba

Resumos

De novembro de 1984 a janeiro de 1985 foi desenvolvido um estudo seccional sobre a doença de Chagas no Sertão da Paraíba, envolvendo os seguintes municípios: Piancó, Olho D’Água, Catingueira, São José de Caiana, Emas, Mãe D’Água, Água Branca e Imaculada. A prevalência da infecção pelo Trypanosoma cruzi determinada pela reação de imunofluorescência indireta em sangue colhido em papel defiltro, foi de 9,5% para uma amostra de 5.137pessoas residentes, com limites de 6,7% em São José de Caiana e 16,3% em Olho D 'Água. A infecção predominou significativamente (p O estudo clínico-eletrocardiogràfico de 305pares revelou cardiopatia em 26,5% dos indivíduos soropositivos e em 13,7% dos soronegativos, indicando um excesso de risco de 12,8% para os soropositivos. Em ambos os grupos houve aumento de cardiopatia com a idade, sendo que no grupo de soropositivos a freqüência da cardiopatia foi mais elevada entre os homens. No estudo radiográfico foram observados dois casos (1,8%) de megaesôfago do grupo 1entre 108 pacientes soropositivos e nenhum caso entre 98 soronegativos. Não foi observada cardiomegalia em nenhum paciente. O índice de positividade do xenodiagnóstico foi de 13,0% em um grupo de 100 pacientes soropositivos, o que pode significar uma baixa adaptação do T. cruzi, ao homem nessa área e em conseqüência explicar o baixo índice de cardiopatia chagásica.

Doença de Chagas; Estudo seccional; Infecção chagásica; Paraíba


From November 1984 to January 1985 we conducted a cross-sectional study of Chagas’disease in eight municipalities in the Sertão of the State of Paraíba, Brasil: Piancó, Olho D'Água, Catingueira, São José de Caiana, Emas, Mãe D’Água, Água Branca and Imaculada. The prevalence of infection by T. cruzi in a random sample of 5,137 persons (34.7% of the total population) evaluated by the immunofluorescent test averaged 9.5% with limits between 6.7% (in São José de Caiana) and 16.3%(Olho D'Água). The prevalence of the infection was higher in the women and increased with age in both sexes. A clinical and electrocardiographic case- control study done in 305pairs of persons, one with a positive serology and the other with a negative serology, matched by age and sex, showed 26.5% of cardiopathy in the seropositives and 13.7% in the seronegative group. Therefore the excess risk of chagasic cardiopathy was 12.8% for the seropositive group. In both seropositive and seronegative groups there was an increase of cardiopathy with the age, but the frequency of cardiopathy was higher in men in the seropositive group. However, in the chest x-ray of 108 seropositives and 98 seronegative there was no case of cardiomegaly. There were only two cases of aperistalsis of the oesophagus among the seropositives. The positivity of xenodiagnosis in a sample of 100 individuals seropositives was only 13.0%. This could signify a low parasitemia caused by a lack of adaptation of T. cruzi strains for man. This might also explain the lo w grade of chagasic cardiopathy in that area (12.8%).

Chagas’disease; Crossectional study; Chagasic infection; Paraíba


ARTIGOS

Morbidade da doença de Chagas em populações urbanas do sertão da Paraíba

José Borges Pereira; José Rodrigues Coura

RESUMO

De novembro de 1984 a janeiro de 1985 foi desenvolvido um estudo seccional sobre a doença de Chagas no Sertão da Paraíba, envolvendo os seguintes municípios: Piancó, Olho D’Água, Catingueira, São José de Caiana, Emas, Mãe D’Água, Água Branca e Imaculada.

A prevalência da infecção pelo Trypanosoma cruzi determinada pela reação de imunofluorescência indireta em sangue colhido em papel defiltro, foi de 9,5% para uma amostra de 5.137pessoas residentes, com limites de 6,7% em São José de Caiana e 16,3% em Olho D 'Água. A infecção predominou significativamente (p <0,001) entre as mulheres e aumentou progressivamente com a idade em ambos os sexos.

O estudo clínico-eletrocardiogràfico de 305pares revelou cardiopatia em 26,5% dos indivíduos soropositivos e em 13,7% dos soronegativos, indicando um excesso de risco de 12,8% para os soropositivos. Em ambos os grupos houve aumento de cardiopatia com a idade, sendo que no grupo de soropositivos a freqüência da cardiopatia foi mais elevada entre os homens.

No estudo radiográfico foram observados dois casos (1,8%) de megaesôfago do grupo 1entre 108 pacientes soropositivos e nenhum caso entre 98 soronegativos. Não foi observada cardiomegalia em nenhum paciente.

O índice de positividade do xenodiagnóstico foi de 13,0% em um grupo de 100 pacientes soropositivos, o que pode significar uma baixa adaptação do T. cruzi, ao homem nessa área e em conseqüência explicar o baixo índice de cardiopatia chagásica.

Palavras-chave: Doença de Chagas. Estudo seccional. Infecção chagásica. Paraíba.

ABSTRACT

From November 1984 to January 1985 we conducted a cross-sectional study of Chagas’disease in eight municipalities in the Sertão of the State of Paraíba, Brasil: Piancó, Olho D'Água, Catingueira, São José de Caiana, Emas, Mãe D’Água, Água Branca and Imaculada.

The prevalence of infection by T. cruzi in a random sample of 5,137 persons (34.7% of the total population) evaluated by the immunofluorescent test averaged 9.5% with limits between 6.7% (in São José de Caiana) and 16.3%(Olho D'Água). The prevalence of the infection was higher in the women and increased with age in both sexes.

A clinical and electrocardiographic case- control study done in 305pairs of persons, one with a positive serology and the other with a negative serology, matched by age and sex, showed 26.5% of cardiopathy in the seropositives and 13.7% in the seronegative group. Therefore the excess risk of chagasic cardiopathy was 12.8% for the seropositive group. In both seropositive and seronegative groups there was an increase of cardiopathy with the age, but the frequency of cardiopathy was higher in men in the seropositive group. However, in the chest x-ray of 108 seropositives and 98 seronegative there was no case of cardiomegaly. There were only two cases of aperistalsis of the oesophagus among the seropositives.

The positivity of xenodiagnosis in a sample of 100 individuals seropositives was only 13.0%. This could signify a low parasitemia caused by a lack of adaptation of T. cruzi strains for man. This might also explain the lo w grade of chagasic cardiopathy in that area (12.8%).

Keywords: Chagas’disease. Crossectional study. Chagasic infection. Paraíba.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Recebido para publicação em 26/8/86.

Trabalho do Departamento de Medicina Tropical do Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ, Rio de Janeiro. Financiado em parte pelo CNPq (PIDE) e FINEP.

  • 1. Abreu LL. Doença de Chagas: estudo da mortalidade no município de Pains, Minas Gerais. Tese. Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, p. 87, 1977.
  • 2. Arruda Jr. ER. Estudo sobre a doença de Chagas nos municípios de Aguiar e Boqueirăo dos Cochos. Vale do Piancó, Estado da Paraíba. Tese. Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, p. 80, 1981.
  • 3. Arruda Jr. ER, Silva SM, Mendonça MZG, Barros MA. Doença de Chagas. Estudo epidemiológico no município de Santana dos Garrotes, Vale do Piancó, Sertăo paraibano. Cięncia. Cultura, Saúde (CCS) 6: 43-46, 1984.
  • 4. Carvalho SB. Moléstia de Chagas no Nordeste Brasileiro. Medicina 21: 7-23, 1953.
  • 5. Carvalho SB. Aspectos clínicos e epidemiológicos da doença de Chagas na Paraíba. Revista de Gastroenterologia do Nordeste 1: 101-125, 1961.
  • 6. Castro CN. Influęncia da parasitemia no quadro clínico da doença de Chagas. Revista de Patologia Tropical 9: 73-136, 1980.
  • 7. Correia-Lima FG. Doença de Chagas no município de Oeiras, Piauí. Estudo seccional nas localidades de Colônia e Oitis. Tese. Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, p. 67, 1976.
  • 8. Coura JR. Contribuiçăo ao estudo da doença de Chagas no Estado da Guanabara. Tese. Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, p. 143,1965.
  • 9. Coura JR. Evolutive pattem in Chagasdisease and the life span of Trypanosoma cruzi in human infection. American Trypanosomiasis Research. Proceedings of an International PAHO/WHO, Washington. Scientific Publication nP 318: 378-383, 1976.
  • 10. Coura JR., Barros MA, Menezes F° AP, Willcox HPF, Abreu LL. Diagnóstico de Saúde do Estado da Paraíba. Estudo de uma amostra de municípios interioranos das doze ipicrorregiőes homogęneas do Estado. Cięncia, Cultura, Saúde (CCS) 1: 6-19, 1979.
  • 11. Coura JR. Estudos seccionais e longitudinais sobre a doença de Chagas. Projeto de pesquisas apresentado ao CNPq, 1973.
  • 12. Coura JR., Abreu LL, Dubois LEG, Correia-Lima F., Arruda Jr. ER, Willcox HPF, Anunziato N, Petana W. Morbidade da doença de Chagas. II -Estudos seccionais em quatro áreas de campo no Brasil. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz 79: 101-124, 1984.
  • 13. Dias JCP. Doença de Chagas em Bambuí, Minas Gerais. Brasil. Estudo clínico-epidemiológico a partir da fase aguda, entre 1940-1982. Tese. Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, p. 376, 1982.
  • 14. Dubois LEG. Morbidade da doença de Chagas. Estudo seccional em uma área endęmica. Tese. Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, p. 82, 1977.
  • 15. Faria CAF. Condiçőes de saúde e doença de trabalhadores rurais no município de Luz, MG, com especial atençăo ŕ prevalęncia e morbidade da doença de Chagas. Tese. Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, p. 321, 1978.
  • 16. Lima JTF, Silveira AC. Controle da Transmissăo e Inquérito Sorológico N acionai. In: Cançado JR, Chuster M. (eds.). Cardiopatia Chagásica, Fundaçăo Carlos Chagas pp. 371-380, 1985.
  • 17. Lucena DT, Costa L. Epidemiologia da doença de Chagas na Paraíba. Revista Brasileira de Malariologia e Doenças Tropicais 6: 229-265, 1954.
  • 18. Lucena DT, Dantas M. Primeiro caso agudo da doença de Chagas na Paraíba. Revista Brasileira de Medicina 14: 855-857, 1957.
  • 19. Macędo VO. Influęncia da exposiçăo ŕ reinfecçăo na evoluçăo da doença de Chagas. Estudo longitudinal de cinco anos. Tese. Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, p. 125, 1975.
  • 20. Macędo VO, Prata A., Rodrigues da Silva G., Castilho E. Prevalęncia de alteraçőes eletrocardiográficas em chagásicos (informaçőes preliminares sobre o inquérito eletrocardiográfico nacional). Arquivos Brasileiros de Cardiologia 38: 261-264, 1982.
  • 21. Maguire JH., Mott KE, Lehman JS, Hoff R., Muniz TM, Guimarăes AC, Sherlock IA, Morrow RH. Relationship of eletrocardiographic abnormalities and seropositivity to Trypanosoma cruzi within a rural community in Northeast Brazil. American Heart Journal 105: 287-294, 1983.
  • 22. New York Heart Association (NYHA). Nomenclature and criteria for diagnosis of disease of the heart and great vessels. 7th Ed. Little and Brown Company, Boston, 1973.
  • 23. Pereira JB. Morbidade da doença de Chagas. Estudo seccional e longitudinal em uma área endęmica. Virgem da Lapa, MG. Tese. Departamento de Medicina Tropical do Instituto Oswaldo Cruz, p. 132, 1983.
  • 24. Rezende JM, Oliveira R., Lauar KM. Valor do tempo de esvaziamento esofagiano no diagnóstico da esofagopatia chagásica (prova de retençăo). Revista Goiana de Medicina 5: 97-102, 1959.
  • 25. Rezende JM, Oliveira R., Lauar KM. Aspectos clínicos e radiológicos da aperistalsis do esôfago. Revista Brasileira de Gastroenterologia 12: 247-262, 1960.
  • 26. Sheps MG. An examination of some methods of comparing several rates of proportions. Biometrics 15: 87-97, 1959.
  • 27. Souza SL, Camargo ME. The use of filter paper blood smear in a practical fluorescent test for American Trypanosomiasis serodiagnosis. Revista do Instituto de Medicina Tropical de Săo Paulo 8: 255-258, 1966.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Jun 1987

Histórico

  • Recebido
    26 Ago 1986
Sociedade Brasileira de Medicina Tropical - SBMT Caixa Postal 118, 38001-970 Uberaba MG Brazil, Tel.: +55 34 3318-5255 / +55 34 3318-5636/ +55 34 3318-5287, http://rsbmt.org.br/ - Uberaba - MG - Brazil
E-mail: rsbmt@uftm.edu.br