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Conhecimento sobre aids e drogas entre alunos de graduação de uma instituição de ensino superior do estado do Paraná

Resumos

Este trabalho teve como principal objetivo investigar o conhecimento de universitários sobre a síndrome de imunodeficiência adquirida (AIDS) e drogas. Realizou-se a pesquisa no ano 2007 a partir de amostra aleatória de 289 alunos dos cursos de graduação de uma faculdade estadual da região noroeste do Paraná. Os alunos responderam um questionário autoaplicável, validado por especialistas na área. As questões foram divididas em três níveis: baixa, média e alta complexidade. O índice de acertos dos alunos foi maior nas questões de baixa complexidade, diminuindo com o aumento do grau de complexidade. O índice de 90% de acertos ocorreu em 13% das questões, que se referiam aos fatores de risco e vulnerabilidade para a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) em usuários de drogas injetáveis (UDI) e o material biológico para o diagnóstico de AIDS. Os alunos possuíam conhecimento sobre AIDS e drogas, porém, insuficiente, demonstrando falta de informação e lacunas no ensino, com dissociação de conteúdos interdisciplinares e intercurriculares.

adolescente; AIDS; conhecimento; drogas


The main objective of this study was to measure the knowledge of undergraduate nursing students about Acquired Immunodeficiency Syndrome (AIDS) and drugs. The study was carried out in 2007 with a random sample of 289 undergraduate students at a State University in the Northwest of Paraná, Brazil. The students self-applied a questionnaire validated by experts. Questions were divided into three levels of complexity: low, average and high. The level of correct answers was higher in the questions of low complexity, diminishing as the questions' complexity increased. Thirteen percent of questions concerning risk factors and vulnerability to HIV infection among injection drug users (IDU) and biological material for diagnosis of AIDS was correctly answered by 90% of students. Students possessed knowledge concerning AIDS and drugs, however such knowledge was considered insufficient, showing lack of information and gaps in education with a dissociation of interdisciplinary and inter-curricular content.

adolescent; acquired immunodeficiency syndrome; knowledge; drugs


Este trabajo tuvo como principal objetivo investigar el conocimiento de universitarios sobre el síndrome de inmunodeficiencia adquirida (SIDA) y drogas. La investigación se realizó en el año 2007 a partir de una muestra aleatoria de 289 alumnos de los cursos de graduación de una facultad estatal de la región noroeste de Paraná, en Brasil. Los alumnos respondieron un cuestionario auto aplicable, validado por especialistas del área. Las preguntas fueron divididas en tres niveles de complejidad: baja, media y alta. El índice de aciertos de los alumnos fue mayor en las preguntas de baja complejidad, disminuyendo con el aumento del grado de complejidad. El índice de 90% de aciertos ocurrió en 13% de las preguntas, que se referían a los factores de riesgo y vulnerabilidad para la infección por el virus de la inmunodeficiencia humana (HIV) en usuarios de drogas inyectables (UDI) y el material biológico para el diagnóstico de SIDA. Los alumnos poseían conocimientos sobre SIDA y drogas, sin embargo, este es insuficiente, demostrando falta de información y vacíos en la enseñanza, con disociación de contenidos interdisciplinares e intercurriculares.

adolescente; síndrome de inmunodeficiencia adquirida; conocimiento; drogas


ARTIGO ORIGINAL

Conhecimento sobre AIDS e drogas entre alunos de graduação de uma instituição de ensino superior do estado do Paraná

Sônia Maria Soares dos SantosI; Magda Lúcia Félix de OliveiraII

IUniversidade Estadual de Maringá, Brasil: Mestranda, e-mail:enfso@hotmail.com

IIUniversidade Estadual de Maringá, Brasil: Doutor, Professor Assistente, e-mail: mlfoliveira@uem.br

RESUMO

Este trabalho teve como principal objetivo investigar o conhecimento de universitários sobre a síndrome de imunodeficiência adquirida (AIDS) e drogas. Realizou-se a pesquisa no ano 2007 a partir de amostra aleatória de 289 alunos dos cursos de graduação de uma faculdade estadual da região noroeste do Paraná. Os alunos responderam um questionário autoaplicável, validado por especialistas na área. As questões foram divididas em três níveis: baixa, média e alta complexidade. O índice de acertos dos alunos foi maior nas questões de baixa complexidade, diminuindo com o aumento do grau de complexidade. O índice de 90% de acertos ocorreu em 13% das questões, que se referiam aos fatores de risco e vulnerabilidade para a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) em usuários de drogas injetáveis (UDI) e o material biológico para o diagnóstico de AIDS. Os alunos possuíam conhecimento sobre AIDS e drogas, porém, insuficiente, demonstrando falta de informação e lacunas no ensino, com dissociação de conteúdos interdisciplinares e intercurriculares.

Descritores: adolescente; AIDS; conhecimento; drogas

INTRODUÇÃO

No decorrer dos dezoito anos de docência no ensino superior, percebeu-se que parcela significativa de jovens passa por mudanças comportamentais visíveis e rápidas que podem comprometer potencialmente suas vidas. Essas mudanças compreendem a aquisição de responsabilidades como autonomia financeira e poder de direcionamento de seus atos e decisões, mas, também, a possibilidade de contato e uso do álcool, tabaco e a prática de sexo inseguro.

Através de observação e de conversa informal com alunos, especialmente aqueles do curso de Enfermagem, percebeu-se que os mesmos não se preocupam muito com a possibilidade de aquisição de doenças sexualmente transmissíveis (DST), porém, não poderiam atribuir essa despreocupação à falta de informação ou desconhecimento sobre a eminente probabilidade de transmissão dessas doenças.

A proximidade entre portadores do vírus da imunodeficiência humana (HIV) e pessoas vivendo com a síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) com o tema "drogas" é reconhecida. A dupla epidemia, uso de drogas e a infecção pelo HIV, tem sido motivo de preocupação para a sociedade, principalmente sob o ponto de vista da saúde pública. O uso de drogas e os comportamentos associados teriam potente efeito catalisador na disseminação do HIV através dessa população(1-2).

Encontra-se maior evidência de vulnerabilidade entre os jovens, pelo fato de eles passarem por experiências numa fase da vida em que as transformações biológicas, sociais e econômicas ocorrem com maior intensidade.

Quando o jovem passa do ensino médio para o ensino superior, todos os parâmetros de vulnerabilidade aumentam, ou seja, aumenta o consumo de álcool e outras drogas, bem como a exposição às situações de risco, como o sexo inseguro. Esses jovens fazem parte de um grupo social que se acha suficientemente informado, a ponto de não correr risco de adquirir AIDS(1,3).

Pautando-se na reconhecida relação entre juventude e as práticas que aumentam o risco ao consumo de drogas lícitas e ilícitas e à infecção pelo HIV e considerando que essas práticas fazem parte do atual contexto sociocultural, é necessário que as intervenções preventivas possam gerar reflexões sobre nossa cultura e práticas.

É importante considerar nessas reflexões o conhecimento que o jovem possui, construído pela apropriação voluntária e involuntária de informações que, no decorrer da vida, provocaram modificações na forma de entender fatos novos bem como do próprio saber acumulado, pois o conhecimento das peculiaridades da epidemia de AIDS é condição fundamental para delinear as estratégias de combate à sua progressão(4). Estudos envolvendo o monitoramento do conhecimento dos fatores envolvidos na transmissão do HIV têm sido reconhecidos como importantes instrumentos para o compreensão da disseminação do vírus(5).

Estudo entre estudantes universitários da área da saúde, abrangendo alunos dos cursos de Enfermagem, Odontologia e Farmácia, cujo foco estava voltado para o conhecimento das medidas preventivas relacionadas à AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis (DST), concluiu que, embora os itens citados pelos universitários como medidas preventivas contra o HIV/AIDS e DST se enquadrarem dentro das medidas importantes para a prevenção das mesmas, o conhecimento desses universitários sobre a temática era precário(6).

Outro estudo, que procurou identificar e comparar os fatores psicossociais e comportamentais associados ao risco de DST/AIDS entre estudantes do curso de enfermagem e medicina, constatou que os mesmos apresentavam-se bem informados sobre a transmissão da AIDS, no entanto, constatou-se também alguns fatores de risco como a percepção de invulnerabilidade pessoal(3).

Investigar o conhecimento dos alunos sobre a interface AIDS e drogas, justifica-se pela carência de estudos abordando essa vertente temática na população universitária.

Entendendo que os jovens, ao longo de suas vidas, tenham recebido algum tipo de informação sobre AIDS e drogas, o objetivo deste trabalho foi identificar o conhecimento sobre infecção pelo HIV, AIDS e drogas entre os alunos de Enfermagem e os alunos dos demais cursos de graduação de uma instituição de ensino superior do Estado do Paraná.

Este estudo corrobora outros já realizados sobre a mesma temática, no que tange subsidiar as ações educativas para a população universitária, tanto para sua autoproteção como para a promoção da proteção de outrem, e na aquisição das competências necessárias para o exercício de sua profissão, de forma mais adequada à realidade(3,6).

METODOLOGIA

Trata-se de estudo descritivo e transversal, com amostra aleatória, estratificada por série e curso de graduação, de alunos da Faculdade Estadual de Educação, Ciências e Letras de Paranavaí (FAFIPA), localizada na cidade de Paranavaí, região noroeste do Estado do Paraná.

A população do estudo foi constituída pelos alunos ingressantes - regularmente matriculados na primeira série, independente do número de disciplinas que estivessem cursando -, e concluintes - regularmente matriculados na última série - dos cursos de Administração, Ciências, Ciências Contábeis, Educação Física, Enfermagem, Geografia, História, Letras, Matemática, Pedagogia e Serviço Social, matriculados no ano letivo de 2007.

Dos 1.172 alunos estimados para o ano letivo de 2007, foi extraída uma amostra de 289 alunos pelo método estatístico EpiInfo version 6. Para isso, estipulou-se erro aproximado de 5% com confiabilidade da amostra de 95%.

Os dados utilizados para seleção dos alunos foram obtidos da listagem com a relação nominal, por série e curso, dos alunos matriculados na FAFIPA no ano letivo de 2007 e da planilha do horário de aulas dos três turnos, fornecidos pela Secretaria Acadêmica.

O instrumento de coleta de dados foi um questionário modular, estruturado e autoaplicável, com questões fechadas de múltipla escolha, dividido em três partes: caracterização socioeconômica do aluno, situação escolar do aluno, e conhecimento específico sobre infecção pelo HIV, AIDS e drogas.

A terceira parte foi constituída por 30 questões, abrangendo conhecimento específico sobre infecção pelo HIV, AIDS e drogas e da correlação entre uso de drogas e transmissão do HIV. Para a elaboração dessas questões foi realizada ampla pesquisa sobre o assunto AIDS e drogas em documentos oficiais e outras fontes de pesquisa como artigos e trabalhos científicos.

Foram elaboradas, inicialmente, 4 questões e encaminhadas a quatro especialistas para serem validados: uma enfermeira, mestre e docente da Universidade Estadual de Maringá, uma enfermeira, coordenadora do Programa de DST/AIDS da Secretaria da Saúde de Paranavaí, PR, uma enfermeira, diretora do Programa de DST/AIDS da Secretaria da Saúde do Estado do Paraná, e um médico, do Centro de Tratamento dos Portadores de HIV/AIDS do Centro Regional de Especialidades de Paranavaí, PR, Brasil.

Os especialistas fizeram a avaliação de cada questão, considerando os seguintes quesitos: relação com a temática do estudo, clareza do enunciado, ambiguidade de respostas em função de elaboração inadequada, repetição ou semelhança entre questões e nível de complexidade de conhecimento que a questão exigia, classificando-a como de baixo, médio ou alto nível de complexidade.

Após essa análise, o questionário passou por reformulação embasada nas sugestões feitas pelos avaliadores, e o questionário final ficou composto por oito questões de baixa complexidade, sendo cinco sobre AIDS e três sobre drogas, 16 questões de média complexidade, sendo nove sobre AIDS e sete sobre drogas, e seis questões de alta complexidade, sendo três sobre AIDS e três sobre drogas.

A aplicação do questionário foi realizada por profissionais da área da saúde que não pertenciam ao quadro funcional da instituição. Os entrevistadores, após aceitarem o convite, participaram de um encontro de capacitação, onde ocorreu a explanação dos objetivos da pesquisa, metodologia de coleta e manuseio do instrumento de coleta de dados.

Antes do início da primeira aula das turmas em estudo, em data pré-determinada, a pesquisadora abordava os professores antes que eles se dirigissem às salas de aula e solicitava permissão para que os alunos participassem da pesquisa.

Após o consentimento dos professores, os entrevistadores dirigiam-se às salas de aula para a abordagem dos alunos. Aqueles selecionados foram encaminhados para outra sala, onde, após a apresentação do motivo da pesquisa, procedeu-se à leitura do termo de consentimento livre e esclarecido e, em seguida, à distribuição dos questionários. Não havia tempo estipulado para o preenchimento do questionário, tendo essa etapa da pesquisa duração média de 50 minutos.

A coleta aconteceu nos períodos matutino, vespertino e noturno, e os alunos selecionados eram convocados conforme as possibilidades e necessidades de cada professor, naquela data e horário, num período de dez dias.

Os dados foram compilados a partir dos questionários para a planilha do Microsoft Excel. Para avaliar o nível de conhecimento foram estabelecidos escores tendo como base o Regimento Interno da FAFIPA, que discrimina os parâmetros de rendimento escolar: até 50% de acertos das questões - conhecimento insatisfatório, de 50,1 a 70% - conhecimento pouco satisfatório e acima de 70% de acertos - conhecimento satisfatório.

A pesquisa recebeu aprovação do Comitê Permanente de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (COPEP) da UEM, pelo Parecer n. 049/2007.

RESULTADOS

Duzentos e setenta e seis alunos responderam o questionário, havendo perda amostral de 4,5%. Todos os alunos sorteados que se encontravam presentes nas salas de aula, responderam o questionário. Foram 26 alunos de Enfermagem - 14 ingressantes e 12 concluintes - 250 alunos dos cursos de Administração, Ciências, Ciências Contábeis, Educação Física, Geografia, História, Letras, Matemática, Pedagogia e Serviço Social - 147 ingressantes e 103 concluintes.

Os alunos entrevistados eram na maioria do sexo feminino, com maior predomínio de mulheres no curso de Enfermagem, e encontravam-se na faixa etária de 17 a 25 anos, sendo que 25% dos concluintes de Enfermagem tinham mais de 30 anos, já nos demais cursos apenas 10,7% tinham mais de 30 anos de idade.

A cor branca foi a mais informada pelos entrevistados, com predomínio de solteiros em todos os cursos. A renda média dos alunos oscilou entre três e sete salários mínimos, porém, 74,3% dos entrevistados tinham algum vínculo empregatício com carga horária superior a 8 horas/dia (Tabela 1).

A principal fonte de informação referida pelos alunos foi a televisão e apenas 12% deles não tinha acesso à internet. A maioria dos alunos (55,8%) raramente lia jornal e liam um livro a cada seis meses. Os alunos de Enfermagem apresentaram percentual menor para a leitura de jornal ou livros em relação aos demais, de acordo com a Tabela 1.

Para identificar e evidenciar o conhecimento dos alunos a respeito das peculiaridades sobre o tema AIDS e drogas, as questões foram estratificadas segundo o nível de complexidade, e as respostas foram analisadas segundo o índice de acertos.

Em apenas cinco questões (16,6%) houve índice de acerto acima de 90% nos dois grupos de alunos da amostra. Essas questões relacionam-se ao conhecimento sobre a exposição ambiental aos poluentes do cigarro e risco de infecção pelo HIV (questões 6 e 14), o material biológico indicado para o diagnóstico laboratorial da AIDS (questão 22), as condições de vulnerabilidade individual para a AIDS (questão 26) e a utilização de preservativo para a prevenção de outras DST (questão 17), todas classificadas no subtema AIDS e quatro delas classificadas no nível de baixa complexidade.

O índice de acerto das questões consideradas de baixa complexidade foi considerado satisfatório, com percentual acima de 70% para todas as questões nos dois grupos de alunos. Em quatro questões, 100% dos alunos de Enfermagem assinalaram corretamente e, comparando com os alunos dos demais cursos, esses obtiveram índices menores de acertos por questão - nenhuma questão obteve 100% de acerto nesse grupo de alunos.

As questões 5, 24 e 30 tinham como objeto a possibilidade de transmissão do HIV por meio de picada de inseto, o conceito de droga como termo abrangente a toda substância que, uma vez consumida, possa representar agravos à saúde e as consequências do uso de drogas entre os jovens.

Para as questões de média complexidade, o número de acertos entre os grupos de alunos estudados diminuiu. Considerando o índice de 70% de acerto para cada questão, foram encontradas cinco questões para o grupo de alunos de Enfermagem e quatro para o grupo de alunos dos demais cursos.

Nas seis questões de média complexidade com menor número de acertos, manteve-se um equilíbrio entre as relacionadas à AIDS e aquelas relacionadas a drogas, conforme demonstrado na Tabela 3.

Nas questões 1, 3, 12, 21 e 23 obteve-se menores índices de acerto entre todos os grupos de alunos. Essas questões tinham como tema as características atuais da epidemia da AIDS no Brasil, a denominação mais adequada para se referir aos grupos de pessoas susceptíveis à infecção pelo HIV, as características e efeitos da cocaína no organismo e a relação da epidemia com a área materno infantil, mais especificamente ao ciclo gravídico/puerperal e à transmissão vertical do HIV.

As questões 4, 8, 16 e 27 tratavam dos fatores de risco para o uso de drogas, o conhecimento sobre a relação entre compartilhamento de seringas por usuários de frogas injetáveis (UDI), efeitos das drogas no feto de uma mulher que faz uso de drogas na gestação e a toxidade provocada pelos xaropes, medicamentos tão utilizados pelos indivíduos sem prescrição médica.

E as questões 11, 13, 15, 19 e 28 referiam-se às formas de transmissão e características da pessoa infectada pelo HIV, formas de redução de risco para infecção com HIV, o uso do preservativo como a melhor maneira de se proteger da infecção pelo HIV numa relação sexual, manifestações clínicas da doença e as formas de transmissão do HIV.

Quanto às questões de alta complexidade, o número geral de acertos esteve abaixo dos obtidos nas questões de baixa e média complexidade. Nenhuma questão obteve índice acima de 80% de acerto no total. A questão dez, cujo teor era sobre a diferença de drogas lícitas e ilícitas, obteve resposta correta por 21 alunos do curso de Enfermagem (80,8%) e 190 alunos dos demais cursos (76%).

As questões 9, 18 e 25 abrangiam conhecimento sobre os cuidados a serem tomados perante a exposição a material biológico, período de latência da AIDS e sinais e sintomas de infecção pelo HIV. Já as questões 20 e 29 indagavam sobre os efeitos da cocaína no cérebro humano e sobre o conceito do uso social das drogas.

Nas questões de alta complexidade, os alunos de Enfermagem obtiveram mais acertos que os demais alunos, no entanto, a taxa de acertos, mesmo entre esses alunos indicou nível de conhecimento pouco satisfatório.

DISCUSSÃO

Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP, a variável que causou maior diferença no desempenho dos alunos que participaram do Exame Nacional do Ensino Médio, em 2001, foi a renda familiar, uma vez que estudantes de famílias com maior renda normalmente têm pais com mais escolaridade e possuem acesso facilitado a bens culturais como livros, computador, cinema e viagens(7).

Considerando que a maioria dos alunos da amostra trabalhava oito horas ou mais por dia, além de frequentar as aulas teóricas, estágios supervisionados e outras atividades inerentes aos cursos,, foi relevante investigar as formas utilizadas para a aquisição de informação e conhecimento considerados não didáticos e a disponibilidade de tempo para essa aquisição.

A excessiva carga de estudos dos alunos dos cursos de Ciências Biológicas e da Saúde diminui o tempo livre para lerem outros livros que não fazem parte daqueles exigidos pelos respectivos cursos. Tal situação pode explicar o baixo hábito de leitura de jornal e livros pelos alunos estudados, principalmente os de Enfermagem.

A televisão foi o meio de informação mais citado e utilizado, no tempo livre dos alunos, acompanhando a tendência nacional de que os universitários brasileiros informam-se principalmente pela televisão. Esse veículo de comunicação é atualmente importante fonte de informação, muitas vezes suprindo os espaços vazios de uma educação que deveria ser oferecida na escola e na família.

Um estudo refere que, nos EUA, a TV é a principal fonte de informação sobre sexualidade para os adolescentes e o país tem a mais alta taxa de DST entre esse grupo, se comparada a outros países ocidentais(8).

Outros estudos, que também verificavam o conhecimento sobre AIDS em estudantes, apontaram a televisão como o grande veículo informativo sobre o assunto(9-10).

O acesso a diferentes fontes de informação, principalmente televisão e internet, mostrou influenciar o conhecimento dos alunos, tanto no quadro geral de respostas quanto na análise das questões por grau de complexidade. Nas questões consideradas de baixa complexidade, por serem amplamente difundidas em campanhas do Programa Nacional de DST e AIDS, nos serviços de saúde e na mídia, esperava-se que os alunos tivessem número maior de acertos, independente de curso e série em estudo.

Os resultados encontrados, se comparados à caracterização socioeconômica dos alunos da amostra, parecem estar adequados, pois a maioria deles apontou a mídia audiovisual, principalmente televisão e internet, como principais fontes de informação. Se se levar em conta o alto índice de acertos, tal resultado pode indicar, ainda, que o conhecimento não é circunscrito apenas ao ambiente escolar, mas também ao âmbito privado, da família, e público, das outras relações sociais(11).

Nas questões consideradas de média complexidade, que exigiriam do aluno embasamento técnico-científico para a escolha da resposta mais adequada, dependente de conhecimento adquirido por meio de várias fontes de informação, incluindo leituras sobre o assunto, observou-se queda no número de respostas corretas em todos os cursos.

Para as questões de alta complexidade, que exigiriam conhecimento adquirido em cursos regulares da área da saúde ou cursos específicos sobre o tema, pois o aluno necessitaria de conhecimentos oriundos de matérias específicas sobre o assunto, seja por meio de disciplinas curriculares, cursos, palestras ou treinamentos, o número geral de acertos esteve abaixo de 50% na maioria das questões e nos dois grupos de alunos, sendo que apenas duas obtiveram mais de 80% de acerto entre os alunos de enfermagem.

O baixo índice de respostas corretas nas questões que se referiam à transmissão vertical do HIV chamou a atenção, porque a maioria dos respondentes era do sexo feminino. Considerando que a epidemia da AIDS vem passando por modificações na sua dinâmica de transmissão, com o aumento do número de casos na população feminina, o baixo conhecimento dos alunos sobre esse quesito é motivo de preocupação, pois se sabe que a transmissão materno fetal é a principal causa de infecção de crianças pelo HIV( 5,12-13).

Também o baixo conhecimento sobre drogas, observado entre os alunos do estudo, corrobora os apontamentos feitos por estudo sobre atitudes e crenças dos estudantes de Enfermagem sobre o fenômeno das drogas no Sul do Brasil, apontando para a necessidade de sensibilizar as instituições de ensino superior para investirem na inclusão de conteúdos sobre álcool e outras substâncias psicoativas aos alunos de graduação, tanto de enfermagem como de outros cursos(14).

Esse dado pode indicar ainda que os alunos responderam às questões sobre drogas com conhecimento adquirido em outras fontes de informação, fora dos conteúdos curriculares. Novamente, é possível relacionar esses achados e os meios de informação utilizados pela amostra de alunos, que utilizam muito a televisão e a internet e, raramente, o jornal e o livro como fontes de informação.

Esse conhecimento entre os alunos parece coincidir com a abordagem do assunto pela mídia, que privilegia as drogas ilícitas, muitas vezes em tom emocional e alarmista, e pode indicar, ainda, uma complementação inadequada nos currículos, seja como conteúdo obrigatório no curso de Enfermagem ou como conteúdo transversal nos demais cursos(15).

Os resultados demonstram também que os alunos estão informados sobre os riscos que profissionais de saúde e outras pessoas estão expostas ao contato com material biológico, pois assinalaram corretamente os procedimentos a serem tomados por profissional de saúde após a exposição a material biológico, que seria lavar imediatamente o local exposto com água e sabão. Tal procedimento, assim como o uso de luvas, é amplamente difundido na mídia no tocante à prevenção de doenças veiculadas pelo sangue, especialmente a AIDS, justificando o número de respostas corretas(11,16).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O acesso a diferentes fontes de informação, principalmente televisão e internet, mostrou influenciar o conhecimento dos alunos, tanto no quadro geral de respostas quanto na análise das questões por nível de complexidade. As questões consideradas de baixa complexidade, mais sensíveis à influência da mídia, tiveram índice grande de acerto entre todos os grupos de alunos.

Sabendo-se que é impossível separar a prevenção do HIV de abordagem voltada à saúde de forma mais ampla, incluindo a saúde sexual e o uso de drogas, a precariedade de conhecimento é preocupante, e justifica o (re)pensar sobre a inclusão de conteúdos específicos dentro das disciplinas curriculares, na promoção da interdisciplinaridade e atividades didáticas de integração entre os cursos, de modo a disseminar e socializar o conhecimento.

Os resultados obtidos fornecem subsídios para a reflexão acerca do processo educacional dentro da Faculdade, e mostram a necessidade de melhorar a abordagem dos temas AIDS e drogas nas disciplinas do currículo do curso de Enfermagem, bem como inseri-la como conteúdo transversal nos currículos dos demais cursos.

A instituição de ensino superior, foco deste estudo, é uma instituição promotora da educação e, portanto, tem papel fundamental no fornecimento de conhecimento que subsidiará os estudantes na sua autoproteção, bem como na promoção da proteção de outrem. Cabe a ela oferecer, no decorrer da graduação, as condições para que o aluno adquira as competências necessárias ao exercício da profissão, preparando o futuro enfermeiro para cuidar dos seres humanos que estão envolvidos nesse contexto.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Out 2009
  • Data do Fascículo
    Ago 2009

Histórico

  • Aceito
    18 Jun 2009
  • Recebido
    29 Abr 2008
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