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Lesões molusco-símiles em paciente com esporotricose

Resumos

Esporotricose é uma infecção fúngica subcutânea, adquirida por inoculação direta, causada pelo Sporothrix schenckii. Embora a apresentação clássica linfocutânea represente a maioria dos casos, as formas clínicas atípicas e graves têm aumentado em ocorrência. Esporotricose sistêmica e esporotricose cutânea disseminada são variantes raras, usualmente associadas à imunodeficiência celular ou a estados debilitantes. Relatamos o primeiro caso na literatura de lesões molusco-símiles em esporotricose cutaneomucosa múltipla. Os exames micológico direto e histopatológico apresentavam-se ricos em células leveduriformes.

Esporotricose; Itraconazol; Micoses; Molusco contagioso


Sporotrichosis is a subcutaneous fungal infection caused by Sporothrix schenckii and acquired by direct inoculation. Although the majority of cases consist of the classic lymphocutaneous presentation, the frequency of atypical and severe clinical forms of the disease has increased progressively. Systemic and disseminated cutaneous sporotrichosis constitute rare variants and such cases are generally associated with cellular immunodeficiency or debilitated states. The present paper describes the first published case of molluscum-like lesions in disseminated mucocutaneous sporotrichosis. Direct mycological examination and histopathology revealed numerous yeast cells.

Itraconazole; Mycoses; Molluscum contagiosum; Sporotrichosis


IMAGENS EM DERMATOLOGIA TROPICAL

Lesões molusco-símiles em paciente com esporotricose* * Trabalho realizado no Instituto de Dermatologia Professor Rubem David Azulay - Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro (RJ), Brasil.

Regina Casz SchechtmanI; Giselly Silva Neto De CrignisII; Mercedes Prates PockstallerIII; Luna Azulay-AbulafiaIV; Leonardo Pereira QuintellaV; Márcia BeloVI

IDoutora em dermatologia pela Universidade de Londres; coordenadora da pós-graduação em dermatologia e chefe do setor de micologia do Instituto de Dermatologia Professor Rubem David Azulay - Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro (RJ), Brasil

IIEspecialista em clínica médica; pós-graduanda do Instituto de Dermatologia Professor Rubem David Azulay - Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro (RJ), Brasil

IIIMestre em dermatologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); professora auxiliar do Instituto de Dermatologia Professor Rubem David Azulay - Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro (RJ), Brasil

IVDoutora em dermatologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); professora adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e do curso de pós-graduação do Instituto de Dermatologia Professor Rubem David Azulay - Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro (RJ), Brasil

VMestre em anatomia patológica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); médico patologista do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho - Universidade Federal do Rio de Janeiro (HUCFF-UFRJ) - e do Instituto de Dermatologia Professor Rubem David Azulay - Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro (RJ), Brasil

VIMestre em clínica médica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); professora assistente de clínica médica da Universidade Gama Filho (UGF) e da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques (FTESM) - Rio de Janeiro (RJ), Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Regina Casz Schechtman Rua Vonluntários da Pátria, 435 / 5º andar, Botafogo 22270-000 Rio de Janeiro, RJ Telefones: (21) 2527-2103 E-mail: regina.schechtman@gmail.com

RESUMO

Esporotricose é uma infecção fúngica subcutânea, adquirida por inoculação direta, causada pelo Sporothrix schenckii. Embora a apresentação clássica linfocutânea represente a maioria dos casos, as formas clínicas atípicas e graves têm aumentado em ocorrência. Esporotricose sistêmica e esporotricose cutânea disseminada são variantes raras, usualmente associadas à imunodeficiência celular ou a estados debilitantes. Relatamos o primeiro caso na literatura de lesões molusco-símiles em esporotricose cutaneomucosa múltipla. Os exames micológico direto e histopatológico apresentavam-se ricos em células leveduriformes.

Palavras-chave: Esporotricose; Itraconazol; Micoses; Molusco contagioso

O aumento da incidência da esporotricose no Brasil tem feito com que cada vez mais sejam observados casos de localizações inusitadas, lesões morfologicamente diferentes das formas clássicas, generalização e sistematização do acometimento pelo Sporothrix schenckii.1-4 Relatamos o caso de paciente masculino, 52 anos, com antecedentes de hepatopatia alcoólica, há três meses apresentando mialgia, febre noturna, sudorese e emagrecimento de 23 quilos. Há 30 dias, notou pápula eritematosa na coxa esquerda, posterior ulceração e disseminação rápida de lesões para todo o tegumento. Ao exame dermatológico, foram observadas pápulas, nódulos e ulcerações com crostas melicéricas e superfície rupioide em toda a superfície corporal (Figura 1), além de lesões de aspecto molusco-símile na face e região cervical, sialorreia e ulcerações nos pilares amigdalianos e na mucosa nasal (Figura 2). O exame micológico direto demonstrou numerosas células leveduriformes. A histopatologia evidenciou dermatite granulomatosa crônica e numerosas formas "em charuto" ou em forma de clava (Figuras 3 e 4). S. schenckii foi identificado na cultura dos fragmentos cutâneo e da mucosa nasal, e a micromorfologia mostrou microconídeos em gotas com arranjo floral. Sorologias para HIV, hepatites B e C e lues (VDRL) foram negativas. Na investigação laboratorial, não foi evidenciado acometimento sistêmico, e os achados foram compatíveis com esporotricose cutaneomucosa disseminada.5-8 Foi instituído tratamento com anfotericina B por 10 dias, sendo suspenso em decorrência de hipocalemia refratária. Foi introduzido, assim, itraconazol 400 mg/dia por 40 dias, porém houve recrudescência do quadro, sendo reinstituída a anfotericina B por mais 10 dias. O paciente, entretanto, evoluiu para óbito. Este é o primeiro caso descrito na literatura de esporotricose com lesões molusco-símiles.9





Recebido em 11.04.2010.

Aprovado pelo Conselho Editorial e aceito para publicação em 22.10.2010.

Conflito de interesse: Nenhum

Suporte financeiro: Nenhum

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  • Endereço para correspondência:
    Regina Casz Schechtman
    Rua Vonluntários da Pátria, 435 / 5º andar, Botafogo
    22270-000 Rio de Janeiro, RJ
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    Trabalho realizado no Instituto de Dermatologia Professor Rubem David Azulay - Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro (RJ), Brasil.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      23 Jan 2012
    • Data do Fascículo
      Dez 2011

    Histórico

    • Recebido
      11 Abr 2010
    • Aceito
      22 Out 2010
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