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Espécies de Thrips (Thysanoptera: Thripidae) no Brasil

Species of Thrips (Thysanoptera: Thripidae) in Brazil

Resumos

Quatro espécies de Thrips: T. australis, T. palmi, T. simplex e T. tabaci. estão presentes no Brasil. Três delas são pragas de culturas e T. australis está normalmente associada a flores de Eucalyptus spp. Além de polífagas, T. palmi e T. tabaci também são vetoras de viroses. Uma chave para diferenciar essas espécies é apresentada, assim como a sua caracterização morfológica.

Insecta; tripes; chave; caracterização; culturas


Four Thrips species: T. australis, T. palmi, T. simplex e T. tabaci are recorded in Brazil. Three of them are crop pests and T. australis is commonly associated to Eucalyptus spp. flowers. Besides being polyphagous, T. palmi and T. tabaci are also virus-vector. A key to distinguish these species is provided, as well as their characterization.

Insecta; thrips; key; characterization; crops


SISTEMÁTICA, MORFOLOGIA E FISIOLOGIA

Espécies de Thrips (Thysanoptera: Thripidae) no Brasil

Species of Thrips (Thysanoptera: Thripidae) in Brazil

Renata C. MonteiroI; Laurence A. MoundII; Roberto A. ZucchiI

IDepartamento de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola, ESALQ/USP, Caixa postal 9, 13418-900, Piracicaba, SP

IICSIRO Entomology, GPO Box 1700, Camberra, ACT, 2601, Austrália

RESUMO

Quatro espécies de Thrips: T. australis, T. palmi, T. simplex e T. tabaci. estão presentes no Brasil. Três delas são pragas de culturas e T. australis está normalmente associada a flores de Eucalyptus spp. Além de polífagas, T. palmi e T. tabaci também são vetoras de viroses. Uma chave para diferenciar essas espécies é apresentada, assim como a sua caracterização morfológica.

Palavras-chave: Insecta, tripes, chave, caracterização, culturas.

ABSTRACT

Four Thrips species: T. australis, T. palmi, T. simplex e T. tabaci are recorded in Brazil. Three of them are crop pests and T. australis is commonly associated to Eucalyptus spp. flowers. Besides being polyphagous, T. palmi and T. tabaci are also virus-vector. A key to distinguish these species is provided, as well as their characterization.

Key words: Insecta, thrips, key, characterization, crops.

O gênero Thrips é o mais antigo da Ordem Thysanoptera e apresenta aproximadamente 280 espécies (Nakahara 1994), na sua maioria da região Holártica e do Velho Mundo. Nenhuma das espécies de Thrips é endêmica ao sul do México, sendo T. addendus (Priesner, 1933) a única espécie nativa do México (Mound & Marullo 1996). Na América do Norte, há aproximadamente 62 espécies de Thrips (43 endêmicas), enquanto apenas oito foram registradas nas Américas Central e do Sul (Mound & Marullo 1996). No Brasil, quatro espécies estão presentes: T. australis (Bagnall, 1915), T. palmi Karny, 1925, T. simplex (Morison, 1930) e T. tabaci Lindeman, 1889 (Nakahara 1994, Monteiro et al. 1995, Mound & Marullo 1996, Monteiro 1999, Monteiro et al. 1999). T. minutus v. puttemansi Lima, 1926 e T. saccharoni Moulton, 1933, espécies também registradas (Silva et al. 1968), foram ambas consideradas representantes de Stenchaetothrips minutus (van Deventer, 1906) (Nakahara 1994). O mesmo ocorreu com T. oryzae (Williams, 1916), sinonimizado com Stenchaetothrips biformis Bagnall, 1913 (Bhatti 1982). Embora não seja em sua maioria um gênero do Novo Mundo, possivelmente o número reduzido de espécies registradas no Brasil esteja relacionado à ausência de levantamentos.

Das quatro espécies de tripes constatadas no Brasil, três são pragas de uma ou mais culturas e T. australis encontra-se associada a flores de Eucalyptus spp. T. simplex é praga de gladíolo (palma de Santa Rita) e encontra-se amplamente distribuída. Além dos danos diretos que causam, T. palmi e T. tabaci são polífagos e também vetores de vírus (Mound 1996, Nagata et al. 1999). T. tabaci parece ter preferência por liliáceas (alho, aspargo, cebola e cebolinha) (Monteiro 1994, Monteiro et al. 1999) e, embora tenha sido comumente relatada como praga do algodoeiro na literatura agrícola brasileira, nenhum indivíduo foi coletado recentemente na cultura (Monteiro et al. 1998). Representando uma das espécies mais importantes para a horticultura atualmente, T. palmi está presente no Estado de São Paulo pelo menos desde 1992 e hoje distribui-se por várias localidades, tendo sido constatada em todas as regiões geográficas brasileiras, em várias culturas, como batata, melancia, melão, pimentão, berinjela e feijoeiro, mas particularmente em cucurbitáceas e solanáceas (Monteiro et al. 1995, 1999, Monteiro - no prelo).

Poucos são os estudos taxonômicos sobre tripes no Brasil, mesmo em se tratando de espécies economicamente importantes, particularmente aquelas vetoras de tospovirus, responsáveis por sua transmissão e disseminação. O reconhecimento das quatro espécies de Thrips presentes no Brasil é fundamental na determinação de hospedeiros verdadeiros, nos quais os tripes estão presentes e se reproduzem, na adoção de medidas de controle de espécies-pragas e em várias áreas aplicadas, com destaque para o estudo de transmissão de fitopatógenos.

Material e Métodos

Os exemplares foram coletados nas plantas com o auxílio de um pincel, preservados em AGA (10 partes de álcool etílico 60%, 1 parte de glicerina e 1 parte de ácido acético glacial) ou álcool etílico 60%, preparados e montados em lâminas de microscopia segundo Mound & Marullo (1996), cuja metodologia consiste na maceração dos espécimes em solução de hidróxido de sódio a 10% e desidratação em vários álcoois. O meio de montagem utilizado foi o Hoyer ou o bálsamo-do-canadá. A terminologia adotada foi baseada em Mound & Marullo (1996). Os exemplares examinados encontram-se depositados na coleção do Departamento de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola, da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (ESALQ), Universidade de São Paulo.

Resultados e Discussão

A diferenciação das fêmeas de T. australis, T. palmi, T. simplex e T. tabaci é baseada principalmente em caracteres morfológicos simples e de fácil visualização, como a primeira nervura da asa anterior e o número de segmentos antenais, mas também em outros caracteres que dependem do preparo adequado e de boa montagem, como a inserção das cerdas ocelares III, número de cerdas laterais no tergito abdominal II e número de póros no IX. Ainda, há alguns caracteres distintivos, mas que são melhor visualizados em material recém-coletado ou bem preservado, como a coloração do crescente ocelar e do corpo.

Chave para Auxiliar a Identificação das Espécies de Thrips (fêmeas)

1. Primeira nervura de cerdas da asa anterior quase completa, sem interrupação na metade distal ................................................................................. T. australis

1'. Primeira nervura de cerdas da asa anterior incompleta, interrompida na metade distal ......................................................................................................... 2

2. Antena com 8 segmentos; corpo de coloração marrom-escura; metanoto com esculturação reticulada; asa anterior com 5-8 cerdas distais .................... T. simplex

2'. Antena com 7 segmentos; corpo de coloração amarela, amarela-amarronzada ou marrom; esculturação do metanoto diferente; asa anterior com 2-4 cerdas distais ... 3

3. Cerdas ocelares III fora do triângulo ocelar; tergito abdominal II com 4 cerdas marginais; tergito abdominal IX com dois pares de póros; pleurotergitos abdominais sem microtríquias; crescente ocelar vermelho e corpo de coloração amarela ... T. palmi

3'. Cerdas ocelares III dentro do triângulo ocelar; tergito abdominal II com 3 cerdas marginais; tergito abdominal IX com um par de póros (par anterior ausente); pleurotergitos abdominais com numerosas fileiras de microtríquias; crescente ocelar acinzentado e corpo de coloração variável, amarela ou marrom .................. T. tabaci

Caracterização Morfológica das Espécies de Thrips

T. australis. Comprimento do corpo: 1,4 a 1,6 mm. Coloração do corpo amarela e marrom; parte posterior da cabeça e região ocelar marrons; tórax marrom e amarelo; parte mediana dos tergitos abdominas I-VIII, todo tergito IX e X marrons; pernas amareladas; asas anteriores claras; cerdas do corpo escuras; crescente ocelar vermelho; antena marrom, exceto 1/2 basal do segmento III e parte basal dos segmentes IV e V, que são amarelos. Antena: segmentos III, IV e VI com lados paralelos. Pronoto com cerdas curtas e conspícuas. Asas anteriores com cerdas curtas e primeira nervura de cerdas quase completa, sem interrupção na metade distal. Metanoto com reticulação poligonal. Abdome: numerosas cerdas acessórias nos esternitos e pleurotergitos abdominais.

T. palmi. Comprimento do corpo: 1,0 a 1,2 mm. Coloração do corpo amarelo-dourado e cerdas principais marrons; crescente ocelar vermelho; asas anteriores claras, amareladas; cerdas escuras (marrons). Cabeça: cerdas ocelares III fora do triângulo ocelar, na posição 1 ou 1/2; segmento antenal I amarelo-claro, II amarelo mais escuro, III amarelo nos 2/3 basais e marrom no 1/3 apical, IV e V amarelos na metade basal e marrons na apical, VI marrom, com a base clara algumas vezes, e VIII marrom. Metanoto com esculturação convergendo posteriormente. Abdome completamente amarelo; tergito II com quatro cerdas laterais, tergito VIII com pente póstero-marginal completo, esternito I com três cerdas ântero-medianas.

T. simplex. Comprimento do corpo: 1,5 - 1,8 mm. Coloração do corpo marrom-escura; pernas marrons, exceto os tarsos, tíbias anteriores, ápice das tíbias medianas e posteriores e base dos fêmures, que são marrom-amarelados; crescente ocelar vermelho; asas anteriores marrom-claras, com o 1/4 basal distintamente mais claro; cerdas principais do corpo escuras; antena marrom, exceto a extremidade apical do segmento II e todo o segmento III, que são marrons-amarelados. Antena com 8 segmentos. Asas anteriores com 5-8 cerdas distais na primeira nervura. Metanoto reticulado, com marcas internas nos retículos. Abdome: esternitos com cerdas acessórias.

T. tabaci. Comprimento do corpo 1,0 a 1,3 mm. Coloração do corpo variável, do amarelo-claro com manchas nos tergitos abdominais ao marrom; pernas mais claras que o tórax; crescente ocelar acinzentado; asas anteriores amareladas ou levemente sombreadas; cerdas escuras (marrons ou marrom-amareladas); antena marrom, exceto segmento I, que varia do amarelo-claro ao marrom, segmento II marrom, mais escuro que I, e base dos segmentos III e IV e todo o segmento V amarelados e com extremidade apical marrom. Asas anteriores com 4-6 cerdas distais. Metanoto reticulado medianamente e sem sensilo campaniforme. Abdome: tergito IX sem o par de sensilos anteriores, tergito VIII com pente póstero-marginal completo e com microtríquias bem desenvolvidas.

Agradecimentos

Ao Dr. Sueo Nakahara (Systematic Entomology Laboratory, ARS/USDA, Beltsville, Maryland, U.S.A.), pelo apoio.

Literatura Citada

Recebido em 26/11/99

Aceito em 15/11/2000

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Ago 2004
  • Data do Fascículo
    Mar 2001

Histórico

  • Aceito
    15 Nov 2000
  • Recebido
    26 Nov 1999
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