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Construção de escalas de figuras à luz da filosofia

Construcción de escalas de figuras según la filosofia

Construction of optometric scales in the light of philosophy

Resumos

É por meio do caminhar que surge o novo. Objetiva-se fundamentar os novos aspectos encontrados na construção das escalas optométricas de figuras conforme a sua forma e conteúdo. Trata-se de uma reflexão (bibliográfico-analítica), feita a partir da dissertação de Dantas. Observa-se que a matéria é a escala optométrica pronta para uso. Já a forma é o que foi desenvolvido até gerar a matéria, cálculos ópticos e a lei da refração, além da anatomia e fisiologia ocular. O novo aspecto desenvolvido é a cultura. A questão filosófica demonstra a infinitude do conhecimento e revela que a visão de determinada pesquisa em um momento pode ser redimensionada em outro.

Optometria; Filosofia; Conhecimento


A través del andar es que surge lo nuevo. Se objetiva basar los nuevos aspectos encontrados en la construcción de las escalas de optometría de figuras según su forma y contenido. Es uma reflexión (bibliográfico analítica), basada en la dissertación de Dantas. Se observa que la materia es la escala de optometría pronta para el uso. Ya la forma es lo que fue desarrollado hasta generar materia, cálculos ópticos y la ley de refracción, además de anatomía y fisiología ocular. El nuevo aspecto desarrollado o sea la cultura. La cuestión filosófica muestra la infinidad de conocimiento y revela que la visión de determinada pesquisa puede ser dimensionada, en un momento, en otra.

Optometría; Filosofía; Conocimiento


It is by walking that the new arises. This study aims at establishing new issues in the construciton of optometric scales of pictures accordingly to their shape and content. It is a reflection (bibliographic-analytical) based on Danta's dissertation. It is observed that the matter is the optonometric scale ready for use. The shape, in turn, is what was developed until the generation of the matter, the optical calculations and the law of refraction, apart from the ocular anatomy and physiology. The new aspect developed is culture. The philosophical question shows the infinity of knowledge and reveals that the view of certain research at a certain time can be rebuilt in another.

Optometry; Philosophy; Knowledge


REFLEXÃO

Construção de escalas de figuras à luz da filosofia

Construction of optometric scales in the light of philosophy

Construcción de escalas de figuras según la filosofia

Rosane Arruda DantasI; Lorita Marlena Freitag PagliucaII; Rui Verlaine Oliveira MoreiraIII

IEnfermeira. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem. Professora Substituta. Universidade Federal do Ceará. rosane_dantas@yahoo.com

IIEnfermeira. Professora Doutora Titular. Universidade Federal do Ceará. Coordenadora do Projeto Saúde Ocular/CNPq. pagliuca@ufc.br

IIIFilósofo. Professor Pós-Doutor Titular. Universidade Federal do Ceará. ruiverlaine@yahoo.com.br

RESUMO

É por meio do caminhar que surge o novo. Objetiva-se fundamentar os novos aspectos encontrados na construção das escalas optométricas de figuras conforme a sua forma e conteúdo. Trata-se de uma reflexão (bibliográfico-analítica), feita a partir da dissertação de Dantas. Observa-se que a matéria é a escala optométrica pronta para uso. Já a forma é o que foi desenvolvido até gerar a matéria, cálculos ópticos e a lei da refração, além da anatomia e fisiologia ocular. O novo aspecto desenvolvido é a cultura. A questão filosófica demonstra a infinitude do conhecimento e revela que a visão de determinada pesquisa em um momento pode ser redimensionada em outro.

Descritores: Optometria; Filosofia; Conhecimento.

ABSTRACT

It is by walking that the new arises. This study aims at establishing new issues in the construciton of optometric scales of pictures accordingly to their shape and content. It is a reflection (bibliographic-analytical) based on Danta's dissertation. It is observed that the matter is the optonometric scale ready for use. The shape, in turn, is what was developed until the generation of the matter, the optical calculations and the law of refraction, apart from the ocular anatomy and physiology. The new aspect developed is culture. The philosophical question shows the infinity of knowledge and reveals that the view of certain research at a certain time can be rebuilt in another.

Descriptors: Optometry; Philosophy; Knowledge.

RESUMEN

A través del andar es que surge lo nuevo. Se objetiva basar los nuevos aspectos encontrados en la construcción de las escalas de optometría de figuras según su forma y contenido. Es uma reflexión (bibliográfico analítica), basada en la dissertación de Dantas. Se observa que la materia es la escala de optometría pronta para el uso. Ya la forma es lo que fue desarrollado hasta generar materia, cálculos ópticos y la ley de refracción, además de anatomía y fisiología ocular. El nuevo aspecto desarrollado o sea la cultura. La cuestión filosófica muestra la infinidad de conocimiento y revela que la visión de determinada pesquisa puede ser dimensionada, en un momento, en otra.

Descriptores: Optometría; Filosofía; Conocimiento.

1. INTRODUÇÃO

A verdadeira noção de método provoca a destruição do paradigma dominante da ciência, e traz a idéia de estratégia para o conhecimento e para as ações no caminho pretendido; estratégia é diferente de programa, que é o determinado e deve ser seguido. O método da enfermagem tem de surgir dela mesma; constrói-se por si, não vem de cima para baixo para ser aplicado.

Tradicionalmente, no desenvolvimento de estudos científicos, o pesquisador parte de algo predefinido em busca de respostas. Pode partir tendo em mente o resultado previsto ou descobrir as respostas durante a investigação. Mas a realidade muda e se transforma; por isso, a idéia de um método rígido e predefinido, chamado de programa, embora necessário, é insuficiente. O método é simultaneamente programa e estratégia e, por retroação de seus resultados, pode modificar o programa; portanto o método aprende(1).

Como estratégia, o método não descarta a necessidade de se fazer um projeto; no entanto, não é preciso segui-lo à risca, é aberto e aceita a experiência como um ponto imprescindível na construção do caminho. O método como caminho se dissolve no caminhar e só pode nascer durante a pesquisa; tem início a partir de algo e prefigura um fim, utilizando-se da iniciativa, da invenção, da estratégia e da arte para alcançá-lo(1).

É por meio desse caminhar que surge o novo, o inesperado. Isto pode exigir a reformulação de todo o caminho, para justificá-lo, explicá-lo e fundamentá-lo, a exemplo do ocorrido nos estudos com a escala de figuras, a qual é utilizada em exame clínico oftalmológico e em triagens e, é um dos métodos usados para a determinação da acuidade visual de crianças de 4 a 6 anos. A acuidade visual é determinada pela menor imagem formada na retina, cuja forma pode ser percebida(2).

A escala optométrica, caracteriza-se por um quadro branco onde estão dispostas figuras de vários diâmetros e cor preta, chamadas de optótipos. A organização dos optótipos é em ordem decrescente; os de igual tamanho apresentam-se na mesma linha horizontal, correspondendo cada um à coeficiente de visão que varia de 0,1 (10%) a 1,0 (100%).

Na estruturação das fileiras deste instrumento, existem princípios científicos baseados na óptica fisiológica, tais como: ângulo visual, contraste, distância entre os optótipos na escala, espessura dos optótipos, distância da escala ao examinado, entre outros. Tais princípios determinam como e onde a figura deverá estar para ser capaz de estabelecer um coeficiente visual; a aplicação destes transforma a figura em um optótipo. Este constitui o principal fator a diferenciar as escalas que utilizam o mesmo ângulo de visão e o expoente na identificação da acuidade visual, pois é pela capacidade de enxergá-lo que ela é determinada.

No grupo das escalas de figuras, é possível incluir os hielogrifos de Carlevaro, os optótipos geométricos de Casanovas, as figuras de Fooks, os optótipos de Rossano, as figuras de Casanovas e Corominas, entre outras. A partir da idade escolar, estas podem variar em relação à direção do símbolo, como o Anillo de Landolt, a Mira de Foucalt, o optótipo de Márquez, o Anillo de Palomar Collado e a letra E de Snellen. Existem, porém, outros, formados por letras e números para indivíduos alfabetizados(3) .

Na construção destas escalas, entretanto, o maior enfoque é atribuído exatamente aos princípios ópticos, e muitas vezes não se questiona a percepção da criança diante deste instrumento. Isto pode levar um examinador inexperiente ou inabilitado para lidar com a clientela a obter falsos resultados.

Durante o uso da escala de figura algo novo surgiu: a necessidade de questionar a percepção da criança diante deste instrumento. Quando se tem como cliente a criança, é imprescindível lembrar suas peculiaridades no crescimento e desenvolvimento quanto ao sistema visual.

Ao nascer, a visão da criança é rudimentar e no decorrer do seu crescimento e desenvolvimento, evolui, recebendo influência dos fatores ambientais e psicobiológicos. A criança adquire experiência visual no que a rodeia, num processo de estimulação visual. O período sensório-motor, que se encontra entre zero e 2 anos, embasa o desenvolvimento cognitivo, dando suporte a integração de pessoas e objetos com o meio ambiente(4).

Como os pré-escolares encontram-se em uma fase de crescimento e desenvolvimento, este resultado da acuidade visual depende, da seleção de figuras adequadas. Referidas figuras devem ser encontradas no seu cotidiano. A importância de cada optótipo, para propiciar um resultado fiel do exame, é perceptível. Por isso, para identificar o optótipo, a criança precisa conhecer a figura em análise.

Ademais sem a correta compreensão da figura, o teste torna-se inviável, pois o fator cognitivo sobressairá em relação à capacidade visual. Por este motivo, a percepção dos optótipos torna-se tão importante quanto os cálculos necessários para transformar uma figura em optótipo e oferecer um resultado para acuidade visual.

O método de construção das escalas parte da lei da refração, de conhecimentos anatomo-fisiológicos das estruturas oculares e dos princípios ópticos que determinam a acuidade visual. No entanto, após o processo de formação da imagem, com a passagem do raio de luz pela estruturas ópticas, a transformação do estímulo luminoso em elétrico e sua chegada ao córtex occipital do cérebro, inicia-se o processo de percepção da imagem que envolve o aprendizado visual.

Existe a necessidade de fundamentar o novo, embasar o método de construção das escalas por meio da forma e do conteúdo. A forma permanece a mesma dentro da perspectiva da lei da refração para justificar a identificação da acuidade visual; o que se modifica é o conteúdo ante a percepção da criança. Isso surgiu da experiência com o uso da escala e da necessidade de fundamentação científica e filosófica, por meio da forma e conteúdo, justificando a presença e a importância desse novo aspecto inserido no estudo das escalas optométricas.

A relevância deste estudo encontra-se direcionamento para novos aspectos, quebrando o paradigma de método rígido e predefinido, e na valorização da experiência como ponto de partida para descobertas.

As descobertas advêm de novos conhecimentos, tanto do empírico como do científico. Conhecimento empírico é aquele sentido individualmente pelas diversas pessoas; é acentuadamente subjetivo e desorganizado. Conhecimento científico é a organização do conhecimento empírico; é o conhecimento das coisas pelas causas; é objetivo, tem uma uniformidade; o que era unicamente qualitativo passa nesse momento a ser predominantemente quantitativo. Neste caso, o conhecimento empírico direciona o científico. Existe conhecimento abstrato quando se extrai de singulares o geral; o que é igual a todos são as leis e/ou teorias, fórmulas quantitativas elaboradas pela razão. Já o concreto: qualitativo, particular, subjetivo e surgido da experiência, é o novo.

A questão da gênese diz respeito à busca do conhecimento, pois muito se tem discutido sobre a existência de fontes ideais de conhecimento. Deveria a experiência ser privilegiada, ou a razão? Como determinada concepção de método científico se apóia numa filosofia da ciência e esta numa teoria do conhecimento. Essa discussão tem dado origem a intermináveis polêmicas que se espraiam da teoria do conhecimento para a filosofia da ciência (5). Desse modo, tenta-se agora fundamentar os novos aspectos encontrados na construção das escalas optométricas de figuras conforme sua forma e conteúdo.

2. PERCURSO METODOLÓGICO

Trata-se de uma reflexão (bibliográfico-analítica), tendo como base a dissertação intitulada "Validação de figuras e seleção de optótipos para uma escala Optométrica"(6). Tenciona-se nesta seção embasar filosoficamente a forma e o conteúdo do método descrito pela autora para a construção de escalas optométricas de figuras.

Pode-se dizer que a forma reconhecida para o estudo conserva a idéia de Aristóteles na qual é a causa ou razão de ser da coisa, razão pela qual uma coisa é o que ela é; é o ato ou a atualidade da coisa mesma, isto é, o começo e o fim do seu devir. No entanto, deve-se incluir no contexto a referência de Bacon quando fala da forma como objeto próprio da ciência natural, como ato e causa eficiente, justamente como a forma aristotélica, e que se diferencia desta somente porque não se deixa agarrar, como julgava Aristóteles, pelo procedimento dedutivo ou pelo intelecto intuitivo mas só pela indução experimental. Deste conceito de forma aproxima-se o sentido com o qual a palavra é usada por Hegel; a forma nesse sentido é a maneira de manifestar a essência ou a substância de uma coisa(7).

Para tal argumentação, é importante incluir a definição de matéria e diferenciá-la da forma. Segundo Kant(7), "a matéria do conceito é o objetivo e a forma dele é a universalidade". Entretanto, a matéria também é vista como aquilo que permanece por via das mudanças opostas, das mudanças quantitativas ou nas mudanças qualitativas. Para facilitar o entendimento, tem-se respectivamente, como exemplo, o movimento de um móvel que permanece o mesmo, embora esteja ora aqui, ora lá, mude de tamanho, ou se encontre em bom estado de conservação ou não.

O conceito da matéria como potência se entrelaça em Platão e Aristóteles com aquele da matéria como sujeito. Platão diz que a matéria não perde a própria potência. Já Aristóteles identifica a matéria com a potência, refere que todas as coisas produzidas seja pela natureza, seja pela arte, possuem matéria, já que a possibilidade que cada uma tem de ser ou não ser é para cada uma delas a sua matéria. Mas a potência não é, conforme Aristóteles, somente a possibilidade pura de ser ou não ser; é uma potência operativa e ativa: uma casa, por exemplo, existe potencialmente se não houver coisa alguma em seu material que a impeça de tornar-se uma casa. E as coisas que tem em si próprias o princípio de sua gênese existirão per se quando nada de externo o impeça(7).

No referente ao novo aspecto desenvolvido durante o processo de construção das escalas de figuras representa um conteúdo a mais inserido na forma que são as escalas optométricas. O conteúdo é determinado pela forma; esta última, porém, é permanente; o que varia é o conteúdo. Assim, forma e conteúdo trabalham permanentemente juntos, cada um com sua característica.

Conforme o quadro 1, existe o aspecto formal e o aspecto material. O objeto formal é o aspecto sob o qual a coisa é estudada; por exemplo, o aspecto sob o qual cada ciência estuda a escala optométrica de figuras. O objeto material vai receber a forma; é o conteúdo que é estudado, no caso, a enfermagem quando estuda a percepção da criança em face da escala de figuras. A matéria é o conteúdo e a forma. A forma (variante e invariante) deve acompanhar o conteúdo que muda com o tempo. A escala, que é a forma, deve acompanhar as mudanças do conteúdo. Na forma, existem aspectos invariáveis e variáveis; estes últimos devem representar o conteúdo, desenvolvido de acordo com o conhecimento.


Nesta questão, o método de construção das escalas optométricas de figuras foi fundamentado na filosofia da ciência e no ato do conhecimento. Este último é uma atividade do intelecto, um motor contínuo e efetivo que interliga o homem ao mundo, visando a explicação e compreensão de tudo que o cerca. Sendo assim, a epistemologia busca a objetividade e validade universais; por meio de duas vertentes distintas: a analítica e a histórica(8).

Como se viu, o estudo até então abrangeu uma revisão bibliográfica sobre as escalas optométricas, associada a estudos reflexivos sobre sua utilização e pertinentes a leituras sobre a filosofia, a estrutura do conhecimento e a epistemologia. Para a continuação do enfoque referenciado, a base será o resumo do ensaio de mestrado e a argumentação de sua validade segundo os aspectos que envolvem sua forma e conteúdo.

4. O MÉTODO DE CONSTRUÇÃO COM A FORMA E O CONTEÚDO DAS ESCALAS OPTOMÉTRICAS

Ante a constatação da necessidade de respeitar os aspectos culturais de determinada região, foi elaborada uma escala de figuras obedecendo um método para a seleção dos optótipos. Foram identificadas e validadas figuras conhecidas no cotidiano de crianças de 4 a 6 anos. Tais figuras, depois de enquadradas nos princípios ópticos para transformar figuras, tornaram-se optótipos(6).

A experiência revelou-se fundamental na construção do caminho, pois segundo o uso das escalas optométricas em triagens no Projeto Saúde Ocular, permitiu constatar, as tabelas existentes possuíam fatores que dificultavam esta tarefa. Por isso, integrantes do projeto afirmam que, sem a correta compreensão da figura, o teste torna-se inviável, porque o fator cognitivo sobressairá em relação à capacidade visual(9).

"O exercício de abstrair os fenômenos da prática, no processo de refletir, conceituar e definir os elementos que compõem a assistência, estimula e impulsiona a reflexão científica a respeito do fazer . É necessário realizar revisões teóricas, buscar experiências na área, criar, imaginar, refletir sobre a sua própria visão de mundo, reformulando ou propondo novos caminhos"(10).

Por este motivo, considerou-se que uma figura adequada torna-se tão importante quanto os cálculos exigidos para transformar uma figura em optótipo e oferecer um resultado para acuidade visual(6). O método descrito na elaboração do trabalho para fundamentar o crescimento e o desenvolvimento da criança no processo de construção das escalas de figuras reflete os novos aspectos abordados sobre o tema.

"A construção do saber profissional, voltado à intervenção, escolhe um olhar crítico, no exercício de trazer a prática para a teoria, aplicando-lhe o choque da crítica. Isto faz com que a prática se renove através de retroalimentação teórica, voltando à pratica com um novo dimensionamento"(10).

Reformulando a idéia inicial observa-se que a matéria no caso das escalas é o material do qual esta se constitui, ou seja, madeira, papel ou figura projetada. Observa-se que a matéria inicial é modificada com base em uma forma que reflete a escala.

A matéria-prima é pura potência, quer dizer, é capaz de converter-se em qualquer corpo, graças a sua absoluta indeterminação original. Por sua vez, a forma substancial é ato. Porquanto é por ela que a matéria se torna corpo. E por isto se diz que a forma é ato da matéria. Ao contrário, recebendo a forma, a matéria, por estar dotada de quantidade, quer dizer, de dimensões e, por conseguinte, de finitude, limita e restringe a forma, determina-a, e portanto, a individualiza(11) .

Vê-se, pois, que o termo de matéria reflete ao sentido amplo da linguagem corrente, para alguns filósofos, a matéria é a substância transcendental porque se reporta ao ser, superando qualquer categoria. Aristóteles inventou a teoria hilemórfica da matéria prima e forma, para resolver a antimonia grega da mudança ou devir cósmico. Ao sujeito preexistente da mudança substancial, Aristóteles chama-lhe também substrato e natureza subjacente(12) .

Assim, a matéria como sujeito do devir não é ainda o ente (ser atual), mas um princípio ou componente de ser. É ser apenas potencialmente, porque está indeterminada. Não pode existir sem a forma determinante. O conceito de matéria-prima é, pois, abstrato e correlato do conceito de forma(13).

É por isso que Aristóteles ao introduzir a noção de forma, em muitas passagens de suas obras, especialmente na física e na metafísica, a considera como a causa material. Afirma que a matéria é aquilo com o qual se faz algo, enquanto a forma é aquilo que determina a matéria para ser algo, isto é, aquilo pelo qual algo é o que é. Assim, em uma mesa de madeira, a madeira é a matéria constituinte da mesa, e o modelo que seguiu o carpinteiro é sua forma(12).

Deste ponto de vista, a relação entre matéria e forma pode ser comparada com a relação entre potência e ato. Efetivamente, sendo a forma aquilo que é, a forma será a atualidade do que era potencialmente. Ainda que a relação matéria-forma se aplique a realidade em um sentido muito geral e, por assim dizer, estático, a relação potência-ato se aplica a realidade que está em movimento. A relação potência-ato nos faz compreender como cabem (ontologicamente) as coisas; a relação matéria-forma nos permite entender como estão compostas as coisas(14).

Embasando-se nas noções de matéria e forma, como mostra o quadro 2, observa-se que a matéria é a escala optométrica em si, ou seja, depois de construída e pronta para uso. Já a forma é o que foi desenvolvido até gerar a matéria e que pode ser modificado conforme os novos conhecimentos adquiridos. Envolve os cálculos ópticos e a lei da refração, além da anatomia e fisiologia ocular.


Durante o uso da escala de figuras, a forma poderá ser modificada para adequar-se à realidade encontrada. Alguns aspectos do método que define a forma permanecem invariáveis, tais como as leis da refração que embasam os cálculos ópticos; entretanto, a adequação regional dos optótipos de acordo com o aspecto cultural é um aspecto da forma variável.

O conteúdo que neste caso determina a forma da nova escala é a cultura já que o conteúdo de um conceito é a sua compreensão. No caso da percepção da criança diante das figuras da escala optométrica, está relacionada ao seu contexto ambiental, visão de mundo e estrutura social. Duas pessoas podem ler uma mesma realidade e chegar a conclusões bem diferentes, pois o que o sujeito apreende em relação ao objeto depende dos instrumentos de registro, das estruturas mentais, das estruturas orgânicas específicas para o ato de conhecer, disponíveis naquele momento.

"Os corpos aparecem ao mesmo tempo como ativos e passivos. Estão sujeitos ao que a ciência chama inércia, quer dizer, a uma impotência para modificar por si mesmo seu estado, e ao mesmo tempo manifestam, sob a provocação de agentes físicos, atividades determinadas: estes dois aspectos contrários das realidades corporais se explicam pelo duplo princípio que os constitui: a matéria é, assim, princípio de passividade e de inércia, enquanto que a forma é princípio de atividade"(15) .

O conteúdo ora apresentado é atual no referente a escala, no entanto, não pode ser visto como finito, deve ser trabalhado e embasado, permanecendo aberto a novas concepções.

Assim, a complexidade existente no processo de mediação entre a construção teórica e a intervenção na prática, entre o pensamento e a ação, explica que o contato com a realidade profissional requer se analisar o que acontece, além do que, é preciso lançar um olhar crítico, tomar uma posição e decidir por um caminho para intervir. A maneira como este processo é conduzido é que define a relação que os profissionais estabelecem, entre o pensar e o fazer Por outro lado o estimulo à revisão, ampliação e inovação das formas tradicionais de assistir, alarga os horizontes e, muitas vezes, abre novos espaços de atuação para os profissionais e, principalmente, para assumir a responsabilidade pela prática profissional(10).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A questão filosófica direcionada para a matéria, a forma e o conteúdo demonstra a infinitude do conhecimento e revela que a visão de determinada pesquisa em um momento pode ser redimensionada em outro. A percepção do homem de determinada matéria é limitada e à medida que o indivíduo encontra-se aberto a questionar ou aceitar mudanças, a matéria pode ser modificada pela forma por meio de vários conteúdos, conforme a visão do pesquisador.

O estudo empírico foi importante para mostrar que a experiência é sim ponto crucial para questionamentos e direcionamento da prática, que pode envolver a enfermagem ou diversas ciências(6).

No entanto, nos desenhos dos escolares, sempre haverá uma parte desconhecida que poderá contribuir para um resultado diferente; além disso, a realidade é dinâmica e pode levar a uma mudança nos desenhos infantis. Por isso, é necessário explicar que a nova escala poderá ser aplicada para o grupo de pré-escolares de Fortaleza, desde que estes permaneçam com as mesmas características; se o grupo não apresentar as mesmas características não se pode deformá-lo para encaixá-lo na teoria. Se servir só para alguns, é preciso considerar aqueles que fogem à regra.

É importante lembrar que, apesar das fases do crescimento e do desenvolvimento infantil determinarem características comuns nos desenhos a serem encontrados segundo a idade, até os desenhos de uma casa feitos por uma criança de 4 anos, por exemplo, terão características peculiares conforme a sua cultura e o seu aprendizado visual; por isso, o método de construção da escala permanece válido, desde que se tenha a clientela definida. E, não é necessário seguir todo esse método, apenas validar a escala, observando as características da clientela a ser examinada e a adequação desta tabela; caso contrário, o ideal é modificar, redimensionar a forma da mesma.

Algo considerado verdade hoje pode em outro momento ser desvelado e desacreditado, isso instiga o pesquisador a estar aberto para receber o novo, mesmo de forma inesperada, devendo permanecer sempre atento para percebê-lo. Além disso, é importante diferenciar matéria, forma e conteúdo no intuito de aprimorar os estudos geradores de fatos novos para a ciência.

Data do recebimento: 21/02/2005

Data da aprovação: 23/08/2005

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Jun 2008
  • Data do Fascículo
    Dez 2005

Histórico

  • Aceito
    23 Ago 2005
  • Recebido
    21 Fev 2005
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