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Reflexões de enfermeiras na busca do referencial teórico para assistência na maternidade

RESUMO

Objetivo:

definir o referencial teórico para sustentar a implantação da sistematização da assistência de enfermagem em uma maternidade do sul do Brasil.

Método:

trata-se da etapa preliminar de um estudo metodológico, com abordagem qualitativa dos dados, realizada a partir de uma prática educativa, guiada pelos pressupostos de Paulo Freire, com 15 enfermeiras, no período de agosto a novembro de 2015. A análise de dados buscou identificar os temas emergentes.

Resultados:

como temas emergentes foram elencados: Conhecimento das enfermeiras sobre Teorias de Enfermagem; Dificuldades para implementação da sistematização da assistência de enfermagem; Importância do referencial para subsidiar a prática e; e A prática educativa como possibilidade para efetivação da sistematização da assistência de enfermagem.

Conclusão:

o processo de discussão para a obtenção do referencial teórico permitiu reflexões sobre a prática, reforçando a importância de um referencial teórico para guiar o processo de trabalho e fortalecimento da qualidade da assistência.

Descritores:
Teoria de Enfermagem; Maternidades; Enfermagem Materno-Infantil; Enfermagem; Educação Continuada

ABSTRACT

Objective:

To define a theoretical framework to guide the systematization of nursing care in a maternity unit in the South of Brazil.

Method:

This was the preliminary stage of a qualitative methodological study, based on an educational activity and the assumptions of Paulo Freire, involving 15 nurses, between August and November 2015. The aim of data analysis was to identify emerging themes.

Results:

The following themes emerged: knowledge of nurses about nursing theories; barriers to implementing and systematizing nursing care; the importance of a framework to guide practice and; educational activities as opportunities to systematize nursing care.

Conclusion:

The discussion process involved in establishing the theoretical framework enabled reflections about nursing practices, reinforcing the importance of theoretical frameworks to guide work processes and enhance quality of care.

Descriptors:
Nursing Theory; Maternity Wards; Maternal-Child Nursing; Nursing; Continuing Education

RESUMEN

Objetivo:

Definir el referencial teórico de respaldo para implantar la sistematización de la atención de enfermería en maternidad del sur de Brasil.

Método:

Etapa preliminar de estudio metodológico, de abordaje cualitativo de datos, realizado a partir de práctica educativa guiada por los supuestos de Paulo Freire, con 15 enfermeras, entre agosto y noviembre de 2015. El análisis de datos buscó identificar los temas emergentes.

Resultados:

Como temas emergentes fueron hallados: Conocimiento de las enfermeras sobre Teorías de Enfermería; Dificultades para implementación de sistematización de la atención de enfermería; Importancia del referencial para respaldar la práctica; y La práctica educativa como posibilidad de concreción de la sistematización de la atención de enfermería.

Conclusión:

El proceso de discusión para obtener el referencial teórico permitió reflexiones sobre la práctica, reforzando la importancia de un referencial teórico para orientar su proceso de trabajo y la optimización de la calidad de la atención.

Descriptores:
Teoría de Enfermería; Maternidades; Enfermería Maternoinfantil; Enfermería; Educación Continua

INTRODUÇÃO

O profissional de enfermagem compreende que a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) é um método utilizado para planejar, organizar e direcionar sua prática, sendo que sua operacionalização se dá a partir da elaboração do Processo de Enfermagem (PE) individualizado para cada paciente, viabilizando a melhoria nos registros e a humanização da assistência. O PE pode ser determinante na qualificação da assistência desde que esteja embasado cientificamente(11 Souza MFG, Santos ADB, Monteiro AI. O processo de enfermagem na concepção de profissionais de Enfermagem de um hospital de ensino. Rev Bras Enferm [Internet]. 2013 [cited 2016 Aug 28]; 66(2):167-73. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v66n2/03.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reben/v66n2/03....
).

Para a efetividade da implantação da SAE, é necessário que ela seja fundamentada em um referencial teórico condizente com a realidade da população atendida e com o ambiente organizacional. Nesse sentido, as teorias de enfermagem contribuem para o enfermeiro compreender a realidade, favorecem a reflexão e a crítica, incluem elementos científicos na análise da realidade, sustentam a definição de seus papéis, além de colaborar na produção de conhecimento(22 Alcântara MR, Guedes-Silva D, Freiberger MF, Coelho MPPM. Teorias de enfermagem: a importância para a implementação da sistematização da assistência de enfermagem. Rev Cienc FAEMA [Internet]. 2011 [cited 2015 Sep 01]; 2(2):115-32. Available from: http://www.faema.edu.br/revistas/index.php/Revista-FAEMA/article/view/99/78
http://www.faema.edu.br/revistas/index.p...
).

Segundo a Resolução nº 358/2009, do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), o PE deve estar sustentado em um suporte teórico que auxilie a coleta de dados, a realização de diagnósticos de enfermagem e o planejamento das ações de enfermagem, além de fornecer a base para a avaliação dos resultados de enfermagem(33 Conselho Federal de Enfermagem - COFEN. Resolução n. 358, de 15 de outubro de 2009. Dispõe sobre a Sistematização de Enfermagem e a implementação do Processo de Enfermagem em ambientes, públicos ou privados[Internet]. Diário Oficial da União 2009 [cited 2016 Jun 05]. Available from: http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-3582009_4384.html
http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-35...
).

Ao realizar um levantamento nas bases de dados SciELO (Scientific Electronic Library Online) e LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), com os descritores “processos de enfermagem”, “recém-nascido”, “obstetrícia”, “teoria de enfermagem”, “unidades de terapia intensiva neonatal” e “maternidades”, com o recorte temporal de 1990 a 2015, foram encontrados apenas três dissertações e quatro artigos que descrevem os referenciais teóricos utilizados para sustentar a prática na área materno-infantil.

Além do referencial teórico para implantação da SAE, é necessário educação permanente com a equipe, sensibilização dos profissionais quanto à importância da SAE e avaliação de sua implantação adaptando-a à realidade do serviço(44 Tavares TS, Castro AS, Figueiredo ARFF, Reis DC. Evaluation of the implementation of the systematic organization of nursing care in a pediatric ward. Rev Min Enferm [Internet]. 2013 [cited 2016 Aug 05]; 17(2):287-95. Available from: http://www.reme.org.br/artigo/detalhes/650
http://www.reme.org.br/artigo/detalhes/6...
).

Entretanto, apesar da SAE ser uma exigência legal e contribuir para a qualidade da assistência, ainda são verificadas dificuldades na sua implementação. Estudo realizado em três hospitais de um município do Sul de Minas Gerais aponta que existem mais desafios que facilidades para a operacionalização da SAE, tais como: implementar a SAE de forma sistematizada e individualizada, deficiência dos registros do enfermeiro em relação à SAE, falta de impressos e protocolos, escassez de enfermeiros, ausência de capacitações, falta de um ambiente para a passagem dos plantões, bem como registros de enfermagem incompletos(55 Soares MI, Resck ZMR, Terra FS, Camelo SHH. Systematization of nursing care: challenges and features to nurses in the care management. Esc Anna Nery Rev Enferm [Internet]. 2015 [cited 2016 Jun 04]; 9(1):47-53. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ean/v19n1/1414-8145-ean-19-01-0047.pdf
http://www.scielo.br/pdf/ean/v19n1/1414-...
).

Outras barreiras para a implantação da SAE são a falta de experiência profissional, o sentimento de desvalorização do enfermeiro e a percepção de muitos enfermeiros em relação a questões técnicas possuírem maior relevância que as científicas(66 Massaroli R, Gue Martini J, Massaroli A, Lazzari DD, Oliveira SN, Canever BP. Nursing work in the intensive care unit and its interface with care systematization. Esc Anna Nery Rev Enferm [Internet]. 2015 [cited 2016 Aug 05]; 19(2):252-8. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ean/v19n2/en_1414-8145-ean-19-02-0252.pdf
http://www.scielo.br/pdf/ean/v19n2/en_14...
).

Estudo realizado na América do Sul aponta dificuldades semelhantes na implementação do PE, tais como: difícil elaboração, formação dos docentes, oposição dos médicos e escassa atuação dos enfermeiros na gestão(77 Granero-Molina J, Fernández-Sola C, Gonzales MHP, Aguilera-Manrique G, Mollinedo-Mallea J, Castro-Sánchez AM. Proceso de enfermería: ¿qué significa para las enfermeras de Santa Cruz (Bolivia)? Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2012 [cited 2015 Dec 10]; 46(4):973-9. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v46n4/en_27.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v46n4/en...
).

Diante dessas dificuldades, apesar de a implantação da SAE ser preconizada pelo COFEN há 14 anos e já existirem vários estudos que apontam que é uma ferramenta que melhora a qualidade da assistência, sua operacionalização ainda não é realidade em muitas instituições(11 Souza MFG, Santos ADB, Monteiro AI. O processo de enfermagem na concepção de profissionais de Enfermagem de um hospital de ensino. Rev Bras Enferm [Internet]. 2013 [cited 2016 Aug 28]; 66(2):167-73. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v66n2/03.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reben/v66n2/03....
-22 Alcântara MR, Guedes-Silva D, Freiberger MF, Coelho MPPM. Teorias de enfermagem: a importância para a implementação da sistematização da assistência de enfermagem. Rev Cienc FAEMA [Internet]. 2011 [cited 2015 Sep 01]; 2(2):115-32. Available from: http://www.faema.edu.br/revistas/index.php/Revista-FAEMA/article/view/99/78
http://www.faema.edu.br/revistas/index.p...
,55 Soares MI, Resck ZMR, Terra FS, Camelo SHH. Systematization of nursing care: challenges and features to nurses in the care management. Esc Anna Nery Rev Enferm [Internet]. 2015 [cited 2016 Jun 04]; 9(1):47-53. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ean/v19n1/1414-8145-ean-19-01-0047.pdf
http://www.scielo.br/pdf/ean/v19n1/1414-...
-66 Massaroli R, Gue Martini J, Massaroli A, Lazzari DD, Oliveira SN, Canever BP. Nursing work in the intensive care unit and its interface with care systematization. Esc Anna Nery Rev Enferm [Internet]. 2015 [cited 2016 Aug 05]; 19(2):252-8. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ean/v19n2/en_1414-8145-ean-19-02-0252.pdf
http://www.scielo.br/pdf/ean/v19n2/en_14...
), como é o caso da instituição na qual foi realizado o presente estudo.

O primeiro passo para que a implantação da SAE seja efetivada na prática é a definição de um referencial teórico para sustentar as ações dos enfermeiros. Para que esta definição seja feita de maneira adequada, é fundamental o estabelecimento do diálogo com as pessoas envolvidas, para que elas possam refletir criticamente sobre suas ações e a sua realidade, buscando estabelecer a relação entre a teoria e a prática. Durante o diálogo coletivo, os sujeitos se encontram na busca de caminhos para transformar a realidade na qual estão inseridos, permeados pelo processo de ação-reflexão-ação e pela possibilidade de criar e recriar(88 Freire P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 39 ª ed. São Paulo: Paz e Terra; 2009. 148p.).

Frente a essa contextualização, apresenta-se a seguinte questão investigativa: qual referencial teórico é mais adequado para a implantação da SAE em uma Maternidade Pública do sul do Brasil, na opinião dos enfermeiros dessa instituição?

OBJETIVO

Definir o referencial teórico para sustentar a implantação da sistematização da assistência de enfermagem em uma maternidade do sul do Brasil.

Acredita-se que o desenvolvimento deste estudo trará benefícios para a Instituição, pois, a partir da escolha do referencial, poder-se-á despertar o interesse dos enfermeiros da Maternidade em implantar a SAE nas unidades.

MÉTODO

Aspectos éticos

O estudo atendeu aos preceitos éticos da Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, que garante o anonimato, o direito de voluntariedade e desistência dos participantes da pesquisa em qualquer momento ou etapa(99 Brasil. Ministério da Saúde. Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde/MS, de 12 de dezembro de 2012, sobre Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa envolvendo seres humanos. [Internet]. Ministério da Saúde, 2013. [cited 2016 Sep 10]. Available from: http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf
http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/...
). Os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, autorização para fotografias e gravação das oficinas. O desenvolvimento do estudo foi aprovado pela instituição e pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Instituição investigada. Para garantir o anonimato dos participantes, eles foram identificados pela letra “E” (enfermeiro) seguida do número sequencial, por exemplo, E1, E2 ... E15.

Tipo de estudo

Trata-se de uma pesquisa metodológica cujo objetivo final é desenvolver um protótipo de software para SAE na unidade neonatal. Neste estudo, é apresentada a primeira etapa da pesquisa, com abordagem qualitativa, na qual foi desenvolvida uma prática educativa com as enfermeiras da referida unidade.

A prática educativa foi baseada nos pressupostos da Metodologia da Problematização de Paulo Freire, pois considera que o homem, a partir de sua realidade social, histórica e cultural, pode ter consciência do lugar que ocupa na sociedade e consciência sobre o que oprime, levando-o a uma ação e reflexão da realidade para poder modificá-la. Um processo que favorece a troca de conhecimentos e experiências, tem como pressuposto as situações vivenciadas e experimentadas pelos indivíduos e consideradas problemáticas, com ponto de partida na realidade(1010 Freire P. Conscientização: teoria e prática de libertação: uma introdução ao pensamento de Freire. 3ª ed. São Paulo: Centauro; 2008. 116p.).

Cenário e participantes do estudo

O estudo foi desenvolvido com 15 enfermeiras que atuam em uma Maternidade Pública do Sul do Brasil, 100% Sistema Único de Saúde e referência terciária na atenção obstétrica e neonatal no estado de Santa Catarina. Os critérios de inclusão para seleção das enfermeiras foram: ser enfermeiro do quadro efetivo e atuante na Instituição; e como critérios de exclusão foram: enfermeiros de férias, licença prêmio e em tratamento de saúde.

Coleta e organização dos dados

A coleta deu-se a partir de estratégias distintas: busca documental, encontros com enfermeiros da instituição e espaços de discussão no cotidiano da assistência.

No primeiro momento, foi realizada uma busca documental de materiais existentes sobre iniciativas vinculadas à implantação da SAE na maternidade, no período de agosto a setembro de 2015. Nessa etapa, realizou-se contato com a Gerente de Enfermagem da Instituição para o levantamento acerca dos documentos e instrumentos que foram construídos em diferentes momentos da história da maternidade, como tentativa de implementação da SAE. Entretanto, não foi encontrado nenhum documento nesse momento. Partimos então para o contato com as enfermeiras que atuavam há mais tempo na Instituição, e uma das enfermeiras disponibilizou documentos que foram elaborados pelo grupo de estudos de projeto de Metodologia da Assistência da Instituição, em 1996 e 2001.

Em seguida, foi realizada uma prática educativa conduzida pela pesquisadora principal, no período de outubro a novembro de 2015, com 15 enfermeiras da Instituição.

O primeiro encontro com as participantes teve como objetivo apresentar o problema a ser trabalhado durante a prática educativa, ou seja, a falta de um referencial teórico que sustente a implantação da SAE na Instituição. Nesse encontro, foi realizada uma breve apresentação da pesquisa “Sistematização da Assistência em Enfermagem em Unidade Neonatal: desenvolvimento de um software-protótipo”. Depois foram feitas uma introdução da importância de um referencial teórico e uma apresentação sobre as tentativas anteriores de implementação da SAE na Maternidade, sendo disponibilizados os documentos que foram resgatados na etapa de pesquisa documental. Em seguida foi realizado um levantamento com as enfermeiras acerca do conhecimento delas em relação às teorias de enfermagem e, para isso, as participantes foram divididas em 3 grupos de 5 enfermeiras. Ao término da apresentação dos grupos, foi iniciada, pela pesquisadora, a explanação sobre os referenciais teóricos que foram encontrados na literatura para a área materno-infantil.

Após esse primeiro encontro, as enfermeiras foram motivadas a fomentar a discussão sobre o tema com suas equipes de trabalho, com o objetivo de definir, com sua equipe, qual era o referencial teórico que melhor se adaptava à realidade em que eles atuavam. E o pactuado foi que eles deixariam registrada com a gerente de enfermagem a decisão do seu grupo. Essa estratégia foi desenvolvida com o objetivo de envolver toda a equipe de enfermagem da Instituição nas reflexões sobre o tema.

No segundo encontro, foi efetuada uma exposição dialogada sobre a SAE, conduzida por um profissional experiente nesta área, em seguida, passou-se para a explanação da teoria definida pelas enfermeiras da Instituição para sustentar a implantação da SAE. Para encerramento da prática educativa, foi apresentado um vídeo sobre trabalho em equipe e planejamento e, após, foi entregue o instrumento de avaliação. Cada encontro teve duração aproximada de três horas, e todos foram registrados por meio de gravação, fotos e avaliação escrita das atividades desempenhadas.

Análise dos dados

Foi realizada em três fases: Fase 1 - Coleta e organização dos dados. Nessa fase foram feitas gravações e transcrições; Fase 2 - Codificação. Realizadas codificações do tema por similaridades; e Fase 3 - Identificação dos temas emergentes. Nessa fase, foram identificados quatro temas emergentes(1111 Morse JM, Field PA. Qualitative research methods for health professionals. 2nd ed. London: Sage; 1995.-1212 Monticelli M. Aproximações culturais entre trabalhadoras de enfermagem e famílias no contexto do nascimento hospitalar: uma etnografia de alojamento conjunto [Tese]. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem. 2003.).

RESULTADOS

Para auxiliar na definição do referencial teórico, foi realizada inicialmente a busca documental para conhecer um pouco da história dos movimentos para implantação da SAE na Instituição e partir da própria realidade, para iniciar os diálogos com as enfermeiras. Foram encontrados os instrumentos elaborados em 1996 pelo grupo de estudos do projeto de Metodologia da Assistência da Instituição, o histórico de enfermagem obstétrica e a prescrição de enfermagem para puérpera. Esses instrumentos se apresentaram na forma de check-list e utilizavam a Teoria das Necessidades Humanas Básicas. Segundo relatos de algumas enfermeiras, esses instrumentos não foram colocados em prática. Apenas em 2001, quando a enfermeira Evanguelia Kotzias Atherino dos Santos assumiu a Direção Geral da Maternidade, foram retomadas as discussões, mas também não foi possível implementar na prática e pouco se avançou até o momento deste estudo.

A partir do levantamento da literatura sobre a temática e dos resultados da busca documental, foi realizada a prática educativa com as enfermeiras da Maternidade, ancorada na pedagogia problematizadora de Paulo Freire. Os dados dessa prática foram analisados, procurando-se identificar os temas emergentes com o objetivo de mostrar o caminho percorrido para a definição do referencial teórico.

Tema 1: Conhecimento das enfermeiras sobre Teorias de Enfermagem

Em relação ao conceito/definição sobre teoria de enfermagem, as enfermeiras apontam que:

São conceitos e pressupostos que são utilizados para organizar e direcionar a assistência de enfermagem. (E1, E2, E3, E4, E5)

As teorias norteiam o cuidado de enfermagem. (E6, E7, E8, E9, E10)

Teorias são conhecimentos que vão nortear a prática da enfermagem. (E11, E12, E13, E14, E15)

As enfermeiras relataram conhecer diferentes teorias, como por exemplo: Teoria de autocuidado de Orem, Teoria de adaptação de Roy, Teoria transcultural de Leininger, Teoria das necessidades humanas básicas de Wanda de Aguiar Horta, Teoria humanística de Paterson e Zderad, Teoria ambientalista de Florence e Teoria interpessoal de Peplau. No entanto, as experiências que tiveram foram durante a formação, não tendo contato na prática da Instituição.

A teoria de Roy pode utilizar em qualquer lugar da casa [maternidade], é muito interessante porque tem a situação dos pais que têm que se adaptar porque o filho está nascendo, do filho que nasceu e está se adaptando, a vida da mulher que está morrendo e tem que se adaptar à nova situação e da família dela, é uma teoria bem abrangente. (E12)

Todas as enfermeiras tiveram contato com a Wanda Horta, que é a Teoria das Necessidades Humanas Básicas, tanto na graduação para fazer o processo de enfermagem quanto as meninas aqui da instituição, no passado, quando estavam estudando para fazer a aplicação da teoria, não foi implantada na casa, mas foi estudada pelo grupo de enfermeiras daqui. (E14)

Tema 2: Dificuldades para implementação da Sistematização da Assistência de Enfermagem

Os profissionais teceram comentários sobre as tentativas de implementação da SAE na instituição, mostrando comprometimento e apontando as dificuldades que vivenciam na prática:

Estamos tentando, o que não pode é desistir. (E12)

Na época que tentamos implantar a SAE, trabalhamos bastante, estudamos e deixamos também na gerência referências e escolhemos a Wanda. Se morreu na época, foi porque não tinha enfermeira 24 horas, se implantássemos não ia ter continuidade. (E11)

Tentamos por duas vezes implementar a SAE, mas não foi possível, apesar de todo nosso esforço. Geralmente tínhamos uma enfermeira para cobrir toda a maternidade, impossibilitando realizar a sistematização da assistência. (Diário de campo da pesquisadora)

Tema 3: Importância do referencial para subsidiar a prática

Enquanto teorista é bom pensarmos que, para aplicar, temos que estudar, entender, fazer parte da prática de todas. O que fica mais fácil é o que todo mundo conhece. É bem complicado, mas algo para pensarmos com carinho. (E12)

A teoria da Orem é usada no banco de leite, apesar de não ter a sistematização completa. Porque a Orem? Porque vai trabalhar o autocuidado, porque a mãe vai com a mama ingurgitada e vai continuar se cuidando em casa. Tem a continuidade do cuidado em casa, se adaptando à prática do setor. (E13)

Em um hospital do estado está sendo implantado a SAE, usaram a teoria de Travelbee, é muito maravilhoso, tem tudo pronto no sistema. Em outro hospital, usaram a teoria das Necessidades Humanas Básicas, tem tudo pronto no sistema. Muito legal ver na prática, o olho da gente brilha... Ver tudo que você sempre sonhou fazer, o quanto aquilo vai ser um diferencial para instituição, o quanto aquilo vai resguardar o profissional que lá trabalha, quanto vai ser importante para a equipe como um todo, para poder a enfermagem estar se mostrando. É muito legal. (E11)

Tema 4: A prática educativa como possibilidade para efetivação da Sistematização da Assistência de Enfermagem

Foi muito importante a iniciativa em ter se comprometido com a temática para implantação da SAE na instituição. (E3)

Gostei da clareza e facilidade com que o assunto foi tratado, parecendo que será possível desta vez a implantação da SAE. (E6)

Gostaria de mais encontros para construirmos os instrumentos a serem utilizados (E8)

Gostei de ter reunido as enfermeiras de diferentes setores para discutir e refletir sobre a sistematização. (E1)

Assim, ao fomentar essa discussão nas diferentes unidades da Instituição, as enfermeiras trouxeram, como referencial eleito para a Instituição, a Teoria das Necessidades Humanas Básicas, conforme voto da maioria das equipes de enfermagem (Figura 1).

Figura 1
Opinião das equipes de enfermagem sobre a definição do referencial teórico, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, 2015

Por fim, ressalta-se que as enfermeiras solicitaram a continuidade dos encontros para se discutir sobre a aplicação do referencial teórico à prática desenvolvida na maternidade e sobre como serão realizadas as etapas do PE em cada unidade.

DISCUSSÃO

Os resultados evidenciaram que os enfermeiros têm conhecimento do que é teoria, conhecem algumas teorias de enfermagem e sabem de sua importância para a prática da enfermagem. Os enfermeiros entendem a SAE como um método de trabalho que tem sustentação nos modelos teóricos aplicados à prática, por meio do PE, dando origem a uma metodologia de trabalho que o organiza e sistematiza as ações(1313 Medeiros AL, Santos SR, Cabral RWL. Sistematização da assistência de enfermagem na perspectiva dos enfermeiros: uma abordagem metodológica na teoria fundamentada. Rev Gaúcha Enferm [Internet]. 2012 [cited 2016 Sep 10]; 33(3):174-81. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rgenf/v33n3/23.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rgenf/v33n3/23....
).

Os autores vêm assinalando que as teorias de enfermagem são fundamentais para a construção do saber e da prática profissional, pois auxiliam “na orientação dos modelos clínicos da enfermagem e têm possibilitado que os profissionais descrevam e expliquem aspectos da realidade assistencial, auxiliando no desenvolvimento da tríade teoria, pesquisa e prática na área”(1414 Schaurich D, Crossetti MGO. Produção do conhecimento sobre teorias de enfermagem: análise de periódicos da área, 1998-2007. Esc Anna Nery Rev Enferm [Internet]. 2010 [cited 2016 Sep 10]; 14(1):182-8. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ean/v14n1/v14n1a27
http://www.scielo.br/pdf/ean/v14n1/v14n1...
).

As teorias de enfermagem são utilizadas para compreender e dar sentido à prática profissional, garantindo uma prática embasada na experiência pessoal e nos pressupostos científicos de cada teórico(1515 Huitzi-Egilegor JX, Elorza-Puyadena MI, Urkia-Etxabe JM, Asurabarrena-Iraola C. Implementation of the nursing process in a health area: models and assessment structures used. Rev Latino-Am Enfermagem [Internet]. 2014 [cited 2016 Sep 10]; 22(5):772-7. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4292680/
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/article...
). Também são fundamentais para descrever, predizer e explicar os fenômenos por meio da investigação, para proporcionar maior clareza e utilizar definições consistentes, com o intuito de melhorar a assistência(1616 Karnick PM. The importance of defining theory in nursing: is there a common denominator? J Nurs Sci Q[Internet]. 2013 [cited 2016 Sep 10]; 26(1):29-30. Available from: http://nsq.sagepub.com/content/26/1/29.abstract
http://nsq.sagepub.com/content/26/1/29.a...
). As teorias sustentam uma relação recíproca com as ações de enfermagem para estruturar a prática profissional(1717 Porto AR, Thofehrn MB, Pai DD, Amestoy SC, Joner LR, Palma JS. Nursing theories and models that enhance professional practice. Rev Pesq: Cuid Fundam[Internet]. 2013 [cited 2016 Aug 8]; 5(5):155-61. Available from: http://www.seer.unirio.br/index.php/cuidadofundamental/article/view/1720
http://www.seer.unirio.br/index.php/cuid...
).

“As teorias de enfermagem auxiliam a compreensão da realidade, favorecendo a reflexão e a crítica, evitando a naturalidade e a banalidade dos fenômenos, com base em elementos científicos, no entendimento e na análise da realidade”(22 Alcântara MR, Guedes-Silva D, Freiberger MF, Coelho MPPM. Teorias de enfermagem: a importância para a implementação da sistematização da assistência de enfermagem. Rev Cienc FAEMA [Internet]. 2011 [cited 2015 Sep 01]; 2(2):115-32. Available from: http://www.faema.edu.br/revistas/index.php/Revista-FAEMA/article/view/99/78
http://www.faema.edu.br/revistas/index.p...
).

Cabe destacar as diferentes tentativas de implementação da SAE e o envolvimento dos enfermeiros, apesar das dificuldades encontradas no dia a dia. Esta não é uma realidade apenas desta Instituição, outros estudos apontam dificuldades para a implantação da SAE, como: falta de tempo dos profissionais, número reduzido de enfermeiros, sobrecarga de trabalho, alta demanda de pacientes, despreparo da equipe, desvalorização por outros profissionais, falta de interesse e apoio da instituição(66 Massaroli R, Gue Martini J, Massaroli A, Lazzari DD, Oliveira SN, Canever BP. Nursing work in the intensive care unit and its interface with care systematization. Esc Anna Nery Rev Enferm [Internet]. 2015 [cited 2016 Aug 05]; 19(2):252-8. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ean/v19n2/en_1414-8145-ean-19-02-0252.pdf
http://www.scielo.br/pdf/ean/v19n2/en_14...
-77 Granero-Molina J, Fernández-Sola C, Gonzales MHP, Aguilera-Manrique G, Mollinedo-Mallea J, Castro-Sánchez AM. Proceso de enfermería: ¿qué significa para las enfermeras de Santa Cruz (Bolivia)? Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2012 [cited 2015 Dec 10]; 46(4):973-9. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v46n4/en_27.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v46n4/en...
,1818 Souza NR, Costa BMB, Carneiro DCF. Systematization of nursing care: difficulties referred by nurses of a university hospital. J Nurs UFPE [Internet]. 2015 [cited 2016 Sep 10]; 9(3):7104-10. Available from: http://www.revista.ufpe.br/revistaenfermagem/index.php/revista/article/view/6337/pdf_7399
http://www.revista.ufpe.br/revistaenferm...
-1919 Maria MA, Quadros FAA, Grassi MFA. Sistematização da assistência de enfermagem em serviços de urgência e emergência: viabilidade de implantação. Rev Bras Enferm [Internet]. 2012 [cited 2016 Aug 12]; 65(2):297-303. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v65n2/v65n2a15.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reben/v65n2/v65...
).

Em relação aos resultados desta investigação, discutiu-se sobre a importância da SAE. As enfermeiras reconhecem que a SAE é uma proposta para melhorar a qualidade da assistência, conduz um cuidado voltado para necessidades individuais de cada paciente, é uma ferramenta para aprofundar o conhecimento, confere autonomia profissional, possibilita a continuidade da assistência, resultando em um maior reconhecimento profissional(1313 Medeiros AL, Santos SR, Cabral RWL. Sistematização da assistência de enfermagem na perspectiva dos enfermeiros: uma abordagem metodológica na teoria fundamentada. Rev Gaúcha Enferm [Internet]. 2012 [cited 2016 Sep 10]; 33(3):174-81. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rgenf/v33n3/23.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rgenf/v33n3/23....
). A ausência da SAE implica diretamente na falta de visibilidade e reconhecimento da enfermagem, gerando obstáculos para avaliação de sua prática e avanços na profissão(2020 Garcia TR. Sistematização da assistência de enfermagem: aspecto substantivo da prática profissional. Esc Anna Nery Rev Enferm [Internet]. 2016 [cited 2017 Jun 23]; 20(1):5-10. Available from: http://www.redalyc.org/pdf/1277/127744318001.pdf
http://www.redalyc.org/pdf/1277/12774431...
).

Para eficácia da implantação da SAE, esta deve estar pautada em uma teoria de enfermagem que seja condizente com a realidade dos pacientes atendidos e com o ambiente organizacional(22 Alcântara MR, Guedes-Silva D, Freiberger MF, Coelho MPPM. Teorias de enfermagem: a importância para a implementação da sistematização da assistência de enfermagem. Rev Cienc FAEMA [Internet]. 2011 [cited 2015 Sep 01]; 2(2):115-32. Available from: http://www.faema.edu.br/revistas/index.php/Revista-FAEMA/article/view/99/78
http://www.faema.edu.br/revistas/index.p...
).

Apesar de a literatura científica já comprovar os benefícios da implantação da SAE, muitas instituições ainda não possuem referencial teórico, e os enfermeiros não trabalham de forma sistematizada baseada numa teoria de enfermagem.

A escolha pela Teoria das Necessidades Humanas Básicas deveu-se ao maior conhecimento das enfermeiras sobre ela, visto que todas tiveram contato na graduação. “Para uma assistência de enfermagem adequada e individualizada é necessária a adoção do PE, baseado em uma teoria específica, que seja do conhecimento de todos os profissionais da instituição que realizam o cuidado”(2121 Furtado LG, Nóbrega MML. Model of care in chronic disease: inclusion of a theory of nursing. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2013 [cited 2016 Aug 8]; 22(4):1197-204. Available from: http://www.scielo.br/pdf/tce/v22n4/en_39.pdf
http://www.scielo.br/pdf/tce/v22n4/en_39...
).

A teoria de Wanda de Aguiar Horta é o modelo teórico mais conhecido e utilizado no Brasil. Essa teoria foca as necessidades humanas básicas, sendo que seus elementos “explicam, fundamentam e dão sentido às realidades no ambiente de instituições hospitalares”(2222 Pires SMB, Méier MJ, Danski MTR. Fragmentos da trajetória pessoal e profissional de Wanda Horta: contribuições para a área da enfermagem. Hist Enferm Rev Eletron [Internet]. 2011 [cited 2016 Sep 10]; 2(1):1-15. Available from: http://pesquisa.bvsalud.org/enfermagem/resource/pt/bde-25617
http://pesquisa.bvsalud.org/enfermagem/r...
). A teoria das NHB contempla todos os pacientes internados na maternidade, tanto a parturiente, puérpera e o neonato, como a mulher que interna para realizar cirurgia ginecológica e tratamento de câncer.

O resultado do estudo demonstrou que realizar uma prática educativa com as enfermeiras foi uma boa estratégia para definir o referencial teórico que será utilizado na Maternidade. A prática educativa é um processo que ocorre a partir do diálogo coletivo entre indivíduos que se encontram para transformar, criar e recriar a realidade(88 Freire P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 39 ª ed. São Paulo: Paz e Terra; 2009. 148p.). O processo educativo é uma importante estratégia para transformar a realidade, sendo um processo interativo que modifica tanto as práticas de cuidado como os profissionais de enfermagem(2323 Santos SV. Guia para prevenção e tratamento de lesões de pele em recém-nascidos internados em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal: uma construção coletiva da equipe de enfermagem [Dissertação]. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem ; 2014.).

A prática educativa resulta de um aprendizado em que o educando e o educador se transformam em reais sujeitos da construção e reconstrução do saber(88 Freire P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 39 ª ed. São Paulo: Paz e Terra; 2009. 148p.). Esse processo deve ser uma constante no cenário da enfermagem, partindo do pressuposto de que as ações de enfermagem devem ser pensadas com o intuito de contribuir com a melhoria da qualidade da assistência.

A educação problematizadora de Paulo Freire(88 Freire P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 39 ª ed. São Paulo: Paz e Terra; 2009. 148p.) permite que os sujeitos percebam, imaginem e visualizem o problema, transformando sua realidade. Assim, acredita-se que dialogar e refletir, em conjunto, sobre a prática da enfermagem auxilia a percepção das pessoas sobre os problemas envolvidos com a prática, levantando hipóteses e buscando soluções para seus problemas, contribuindo para mudanças na realidade.

Limitações do estudo

Como limitação deste estudo apontamos o pequeno número de participantes nos encontros, uma vez que apenas 15 enfermeiras estiveram envolvidas com a instigação. Considera-se que esta baixa adesão esteja relacionada ao fato de muitos enfermeiros terem dupla jornada de trabalho, alguns por desinteresse ou desmotivação profissional e outros ainda por estarem em horário de trabalho e não conseguirem ausentar-se de suas unidades.

Contribuições do estudo

O estudo propiciou espaços de reflexão e discussão sobre o uso de um referencial para embasar a prática da enfermagem na maternidade, instrumentalizando os enfermeiros para a escolha de um referencial adequado às características de sua realidade e ao perfil de seus clientes. Espera-se que a pesquisa possa contribuir com o debate sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem que, apesar de ser uma exigência legal e contribuir para a qualidade da assistência, muitas instituições ainda não conseguiram implementar e outras ainda enfrentam dificuldade na sua operacionalização.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento do estudo possibilitou a definição do referencial teórico a ser utilizado na maternidade. A escolha pela Teoria das Necessidades Humanas Básicas é um importante passo na efetivação da implementação da SAE. Os enfermeiros precisam aprofundar os conhecimentos acerca dessa Teoria, para embasar o PE, e ainda faz-se necessário elaborar alguns conceitos (enfermagem, ser humano, ambiente, entre outros), escolher qual classificação de diagnóstico utilizar, elaborar os instrumentos do PE, entre outros.

A realização da prática educativa trouxe importantes contribuições, não só para as enfermeiras participantes, mas também para toda a equipe de enfermagem, pois fomentou discussões e reflexões sobre a temática, destacando a importância da definição de um referencial teórico para guiar o seu processo de trabalho.

A avaliação dos encontros foi positiva, as enfermeiras gostaram da iniciativa da implantação da SAE e colocaram que é um grande desafio agora possível realizar. Sugere-se que os gestores possam promover novos encontros com a equipe de enfermagem, para a continuidade deste processo, uma vez que o tema é de grande relevância para os profissionais. Destaca-se, também, a carência de estudos que abordam a questão do referencial teórico na prática da enfermagem na área materno-infantil, o que não quer dizer que a prática dos enfermeiros não esteja sustentada em Teorias de enfermagem.

  • FOMENTO
    Pesquisa com apoio da UNIEDU - Programa de bolsas universitárias de Santa Catarina.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2018

Histórico

  • Recebido
    10 Nov 2016
  • Aceito
    01 Out 2017
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