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Imagens do álcool na vida de adolescentes de uma comunidade quilombola

RESUMO

Objetivo:

Analisar, com os adolescentes de uma comunidade quilombola, as imagens do álcool em seus ritos de passagem.

Método:

Estudo qualitativo e participativo, com o Método Criativo e Sensível, conduzido pelas questões: “Na minha casa a bebida alcoólica está...”; “Perto da minha casa eu vejo a bebida alcoólica em...” Dez adolescentes residentes em comunidade quilombola do norte do Espírito Santo participaram das dinâmicas. Os materiais foram submetidos a análise temática.

Resultados:

Imagens da bebida alcoólica são constantes no cotidiano do adolescente e estão presentes nos botecos, na casa, no campo de futebol; em diferentes momentos da comunidade (churrasco de fim de semana, festas da igreja, depois do futebol); e, nos ritos de passagem, experimentando álcool entre pares ou usando socialmente com adultos.

Considerações Finais:

O álcool na comunidade quilombola é cultural e socialmente aceito, tornando-se um desafio para os profissionais de saúde na promoção e na educação em saúde com esses adolescentes.

Descritores:
Adolescente; Grupo com Ancestrais do Continente Africano; Enfermagem Pediátrica; Saúde Pública; Álcool

ABSTRACT

Objective:

To analyze the images of alcohol in the rite of passage of adolescents of a quilombola community.

Method:

Qualitative and participatory study was developed by Creative and Sensitive Method, and guided by generated questions: “In my house, alcohol is...”; “Near my house, I see alcohol in...” Ten adolescents who live in a quilombola community in the north of the state of Espírito Santo, Brazil, participated in the group dynamics. The material was submitted to a thematic analysis.

Results:

Images of alcohol are common in the daily life of adolescents and can be seen in bars drinks, in their homes or in soccer fields; in different moments within the community (weekend barbecues, church celebrations, after soccer); and also in rites of passage, where adolescents first sipped or tasted alcohol with friends or socially with adults.

Final Consideration:

Alcohol in quilombola communities is cultural, and socially accepted, which turns it into a challenge for health professionals to promote health education with these adolescents.

Descriptors:
Adolescent Behavior; African Continental Ancestry Group; Pediatric Nursing; Public Health; Ethanol

RESUMEN

Objetivo:

Analizar con los adolescentes de una comunidad “quilombola” las imágenes del alcohol en sus ritos de iniciación.

Método:

Estudio cualitativo, participativo, aplicando el Método Creativo y Sensible, orientado por las cuestiones: “En casa, la bebida alcohólica está…”; “Cerca de casa, veo la bebida alcohólica en…”. Diez adolescentes residentes en comunidad “quilombola” del norte de Espírito Santo participaron en las dinámicas. Materiales sometidos a análisis temático.

Resultados:

Las imágenes del alcohol son constantes en el día a día del adolescente, están presentes en bares, casa, campo de fútbol; en diferentes momentos comunitarios (asado de fin de semana, fiestas religiosas, luego del fútbol); y en los ritos de iniciación, probando el alcohol con amigos o consumiéndolo socialmente con adultos.

Consideraciones Finales:

El alcohol en la comunidad “quilombola” es cultural y socialmente aceptado, convirtiéndose en desafío para los profesionales de salud en la promoción y la educación en salud de estos adolescentes.

Descriptores:
Adolescente; Grupo de Ascendencia Continental Africana; Enfermería Pediátrica; Salud Pública; Etanol

INTRODUÇÃO

O álcool é a droga lícita mais consumida no mundo. Sua venda é permitida legalmente para pessoas maiores de 18 anos de idade e com autodeterminação(11 Presidência da República (BR). Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências [Internet]. Brasília: Presidência da República: 1990[cited 2018 Sep 05]. Available from: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm.
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). No entanto, a idade de experimentação seguida da regularidade no uso está acontecendo, cada vez mais cedo, por adolescentes e jovens. Segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar de 2015, divulgados, 55,5% dos estudantes do 9º ano do ensino fundamental, com idade de 13 a 15 anos, relataram já terem experimentado alguma bebida alcoólica e 21,4% já sofreram algum episódio de embriaguez na vida(22 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar [Internet]. 2016[cited 2018 Sep 05]. Available from: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv97870.pdf
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). No Brasil, o uso e a comercialização do álcool, durante a adolescência, são proibidos por lei(11 Presidência da República (BR). Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências [Internet]. Brasília: Presidência da República: 1990[cited 2018 Sep 05]. Available from: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm.
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); no entanto, os dados da pesquisa revelam um amplo consumo e risco de o seu uso continuado provocar dependência física ou psíquica.

Adicionalmente, o álcool pode causar mortes violentas, baixo desempenho escolar, dificuldades de aprendizagem e prejuízos no desenvolvimento. Em todos os grupos culturais, a quantidade usual de álcool consumida varia conforme o sexo, renda familiar, frequência à escola, tipo de família, religião e características sociodemográficas em que o adolescente está inserido(22 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar [Internet]. 2016[cited 2018 Sep 05]. Available from: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv97870.pdf
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3 Cardoso LRD, Malbergier A. Problemas escolares e o consumo de álcool e outras drogas entre adolescentes. Psicol Esc Educ [Internet]. 2014[cited 2017 Aug 20];18(1):27-34. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-85572014000100003
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-44 Reis TGR, Oliveira LCM. Pattern of alcohol consumption and associated factors among adolescents students of public schools in an inner city in Brazil. Rev Bras Epidemiol [Internet]. 2015[cited 2017 Aug 03];18(1):13-24. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rbepid/v18n1/en_1415-790X-rbepid-18-01-00013.pdf
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,77 Gomes MRB, Nascimento LC, Silva MAI, De Campos EA. The context of alcohol consumption among adolescents and their families. Int J Adolesc Med Health [Internet]. 2014[cited 2017 Sep 22];26(3):393-402. Available from: https://www.degruyter.com/doi/10.1515/ijamh-2013-0312
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).

Tais pesquisas enfocam o uso/consumo de álcool na adolescência, porém foram desenvolvidas em grandes capitais, deixando de fora adolescentes de área rural, particularmente aqueles que se autodeclaram pretos e aqueles que vivem em comunidades quilombolas. Nesse sentido, questões étnico-raciais são pouco abordadas(55 Malta DC, Mascarenhas MDM, Porto DL, Barreto SM, Neto OLM. Exposure to alcohol among adolescent students and associated factors. Rev Saúde Pública [Internet] 2014[cited 2017 Aug 22];48(1):52-62. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rsp/v48n1/en_0034-8910-rsp-48-01-0052.pdf
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).

Segundo o censo demográfico de 2010, 47,7% dos brasileiros se definem como brancos, 51% como pretos e pardos e 1,3% como indígenas e amarelos. Constata-se ainda que a participação percentual das populações autodeclaradas pretas superou as projeções realizadas com base no censo de 2000(66 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Censo demográfico 2010: características da população e dos domicílios [Internet]. 2010[cited 2016 May 13]. Available from: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/caracteristicas_da_populacao/tabelas_pdf/tab1.pdf
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).

O consumo de álcool na adolescência consiste numa problemática atual e tem sido objeto de estudo em várias áreas de conhecimento, porém os estudos disponíveis não individualizam os componentes raça/cor entre os seus resultados. Consequentemente, podem manter oculta as desigualdades raciais(22 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar [Internet]. 2016[cited 2018 Sep 05]. Available from: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv97870.pdf
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,55 Malta DC, Mascarenhas MDM, Porto DL, Barreto SM, Neto OLM. Exposure to alcohol among adolescent students and associated factors. Rev Saúde Pública [Internet] 2014[cited 2017 Aug 22];48(1):52-62. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rsp/v48n1/en_0034-8910-rsp-48-01-0052.pdf
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6 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Censo demográfico 2010: características da população e dos domicílios [Internet]. 2010[cited 2016 May 13]. Available from: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/caracteristicas_da_populacao/tabelas_pdf/tab1.pdf
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-77 Gomes MRB, Nascimento LC, Silva MAI, De Campos EA. The context of alcohol consumption among adolescents and their families. Int J Adolesc Med Health [Internet]. 2014[cited 2017 Sep 22];26(3):393-402. Available from: https://www.degruyter.com/doi/10.1515/ijamh-2013-0312
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) relacionadas a experimentação e uso continuado do álcool na adolescência entre os determinantes sociais em saúde que são objetos de implementação de políticas públicas voltadas para as reais necessidades da população. Nem mesmo a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PENSE)(22 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar [Internet]. 2016[cited 2018 Sep 05]. Available from: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv97870.pdf
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,88 Oliveira MM, Campos MO. Andreazzi MAR, Malta DC. Características da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar - PeNSE. Epidemiol Serv Saúde [Internet]. 2017[cited 2018 Sept 30];26(3):605-16. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ress/v26n3/2237-9622-ress-26-03-00605.pdf
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), realizada no país em 2015, ao investigar escolares que informaram ter experimentado bebida alcoólica alguma vez na vida ou pelo menos uma vez nos últimos 30 dias antes da realização da pesquisa, considerou raça/cor entre as características investigáveis.

OBJETIVO

Analisar, com os adolescentes de uma comunidade quilombola, o lugar das imagens do álcool em seus ritos de passagem.

MÉTODO

Aspectos éticos

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem Anna Nery/Hospital Escola São Francisco de Assis da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Todos os participantes assinaram o Termo de Assentimento Livre e Esclarecido, e a família ou responsável legal assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Para garantir o anonimato dos participantes, no presente manuscrito, as unidades de registro foram identificadas com a letra A, de adolescente, seguida pela letra M, de masculino e F, de feminino, para designar o sexo, a sequência numérica (1, 2, 3...) e a idade. Por exemplo, para designar os adolescentes do sexo masculino, atribuiu-se A.M1, 13 anos; A.M2, 12 anos... A.M4, 10 anos; e para o sexo feminino, A.F1, 11 anos, A.F2, 13 anos... A.F5, 14 anos.

Tipo de estudo

Pesquisa participativa(99 Hardy LJ, Hughes A, Hulen E, Figueroa A, Evans C, Begay R C. Hiring the experts: best practices for community-engaged research. Qual Res [Internet]. 2015[cited 2017 Set 25];16(5):592-600. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5100673/
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-1010 Dias S, Gama A. Community-based participatory research in public health: potentials and challenges. Rev Panam Salud Pública [Internet]. 2014[cited 2017 Sept 25];35(2):150-4. Available from: http://www.scielosp.org/pdf/rpsp/v35n2/a10v35n2.pdf.
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) com abordagem qualitativa desenvolvida no espaço grupal do Método Criativo Sensível (MCS), um tipo de pesquisa baseada em arte(1111 Soratto J, Pires DEP, Cabral IE, Lazzari DD, Witt Regina R, Sipriano CAS. A maneira criativa e sensível de pesquisar. Rev Bras Enferm [Internet]. 2014[cited 2017 Sept 06];67(6):994-9. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167.2014670619
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). Na pesquisa participativa, se produz conhecimento no espaço coletivo, compartilham-se experiências, vivências e saberes do conhecimento, e os participantes atuam ativamente na sua realidade social. Pesquisador e participantes aproximam-se e distanciam-se do cenário onde a pesquisa está acontecendo, para desenvolver estratégias de mudança social(1010 Dias S, Gama A. Community-based participatory research in public health: potentials and challenges. Rev Panam Salud Pública [Internet]. 2014[cited 2017 Sept 25];35(2):150-4. Available from: http://www.scielosp.org/pdf/rpsp/v35n2/a10v35n2.pdf.
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-1111 Soratto J, Pires DEP, Cabral IE, Lazzari DD, Witt Regina R, Sipriano CAS. A maneira criativa e sensível de pesquisar. Rev Bras Enferm [Internet]. 2014[cited 2017 Sept 06];67(6):994-9. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167.2014670619
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). Ao desenvolvê-la conjugada com o MCS, a expressão artística serviu como via de acesso à experiência humana, conferindo mais liberdade para refletir e agir mediado pela arte(1111 Soratto J, Pires DEP, Cabral IE, Lazzari DD, Witt Regina R, Sipriano CAS. A maneira criativa e sensível de pesquisar. Rev Bras Enferm [Internet]. 2014[cited 2017 Sept 06];67(6):994-9. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167.2014670619
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).

Procedimentos metodológicos

Participantes e cenário do estudo

Para a formação do grupo, adotaram-se os seguintes critérios de inclusão: adolescente cursando o ensino fundamental e/ou médio em uma escola pública da zona rural; ter adolescentes de ambos os sexos; ter idade entre 10 e 19 anos completos, segundo classificação da Organização Mundial de Saúde; e habilidades cognitiva e motora preservadas. Excluíram-se aqueles com doenças agudas e crônicas, fora do sistema escolar na área rural e que não moravam naquela comunidade.

Para a captação dos participantes, contou-se com a liderança da comunidade e uma Agente Comunitária de Saúde que distribuiu os convites às famílias dos adolescentes para uma reunião agendada para o primeiro domingo do mês de fevereiro de 2015. Nessa reunião, a primeira autora apresentou a pesquisa, leu e explicou o conteúdo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para os pais/responsáveis e do Termo de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE) para os adolescentes.

O cenário da pesquisa foi a zona rural de uma comunidade quilombola (a 44 km do município de São Matheus) localizada no norte do Estado do Espírito Santo.

Fonte de dados

Para capturar as imagens do álcool que expressam vivências e experiências dos participantes no ambiente onde vivem, aplicaram-se três Dinâmicas de Criatividade e Sensibilidade (DCS) do MCS(1111 Soratto J, Pires DEP, Cabral IE, Lazzari DD, Witt Regina R, Sipriano CAS. A maneira criativa e sensível de pesquisar. Rev Bras Enferm [Internet]. 2014[cited 2017 Sept 06];67(6):994-9. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167.2014670619
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).

Os dados foram obtidos nos grupos cujos adolescentes assinaram o TALE e legalmente foram autorizados por seus responsáveis legais, por meio de assinatura do TCLE.

As dinâmicas foram conduzidas pelo primeiro autor, após treinamento com a segunda autora, e implementadas em cinco momentos. No primeiro, os participantes se apresentaram, foram explicados os objetivos, os materiais para uso no dia e os produtos esperados. No segundo, apresentou-se a Questão Geradora de Debate (QGD) para desenvolvimento da produção do tipo artística individual. No terceiro momento, iniciaram-se as apresentações individuais das produções para, na análise coletiva, proceder-se à codificação temática mediada por intenso diálogo grupal. Nesse momento, foram-se registrando os assuntos convergentes e singulares para codificarem-se os temas geradores. Como houve uma pluralidade de temas codificados, no quarto momento, negociou-se, com os participantes, sobre quais seriam debatidos no grupo, descodificando-se temas em subtemas. Esse processo se deu na medida em que o movimento do diálogo transitou do intra para o interpessoal, retornando ao intrapessoal novamente. No quinto momento, ocorreu a recodificação temática com a síntese e validação dos dados da pesquisa produzidos no encontro.

Produção e organização dos dados

A produção dos dados ocorreu no mês de março de 2015, em 4 encontros, com duração média de uma hora cada. Todos os encontros foram filmados, gravados e fotografados gerando textos escritos e imagéticos.

As dinâmicas implementadas - “Minha casa... meu mundo...” e “Construindo meu mundo...” - foram conduzidas, respectivamente, pelas QGDs: “Na minha casa a bebida alcoólica está...” e “Perto da minha casa eu vejo a bebida alcoólica em...”

Além disso, aplicou-se um formulário de caracterização dos participantes da pesquisa contendo informações pessoais, familiares e situação socioeconômica.

Análise dos dados

Para classificar, ordenar e sistematizar o material empírico (textos escritos e imagéticos), adotou-se a Análise de Conteúdo Temática(1212 Mendes RM, Miskulin RGS. A análise de conteúdo como uma metodologia. Cad Pesqui [Internet]. 2017[cited 2018 Feb 17];47(165):1044-66. Available from http://dx.doi.org/10.1590/198053143988
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). Realizaram-se sucessivas leituras de impregnação do material, codificaram-se palavras, expressões, fragmentos textuais das vivências e experiências do álcool que foram agrupadas nos temas: Bebida alcoólica em família; Bebida alcoólica na vida social (no boteco e nas festas e comemorações da comunidade) e Bebida alcoólica e eu. Para o encerramento do trabalho de campo, adotaram-se dois princípios de saturação dos dados: a repetição e a pertinência das narrativas dos participantes(1212 Mendes RM, Miskulin RGS. A análise de conteúdo como uma metodologia. Cad Pesqui [Internet]. 2017[cited 2018 Feb 17];47(165):1044-66. Available from http://dx.doi.org/10.1590/198053143988
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).

RESULTADOS

Os cinco meninos e as cinco meninas tinham idades entre 10 e 14 anos. Oito eram católicos, um evangélico e um não professava nenhuma religião. Seis estudavam na escola pluridocente da comunidade e quatro em Escola Família Agrícola. Seis pertenciam a famílias com renda de um a três salários mínimos, três com menos de um salário mínimo e um não soube informar. O sustento das famílias advinha do trabalho no campo, do benefício social do Programa de Transferência de Rendas do Governo Federal (Bolsa Família), do Benefício da Prestação Continuada, do Sistema Único de Assistência Social e aposentadoria rural da seguridade social. Eram adolescentes que residiam com a família natural cujas estruturas variaram entre biparental estendida (cinco), nuclear tradicional (duas), monoparental estendida (duas) e monoparental (uma). A intergeracionalidade é uma característica dessa comunidade quilombola, uma vez que irmãos e irmãs, primos e primas, avôs e avós, tios e tias foram parentes mencionados por eles e elas.

No tema ‘Bebida alcoólica em família’, as imagens capturadas na dinâmica “Minha casa... meu mundo...” revelam que a bebida alcoólica está ausente na geladeira da casa de alguns adolescentes e presente em outras. Quatro adolescentes registraram que essas imagens estão ausentes, três destacaram a prática de armazenamento de bebida alcoólica em casa. Três não incluíram, em suas produções artísticas (Figura 1. De A a C), imagens relacionadas à presença constante do álcool dentro de casa.

Figura 1
Fragmentos da Produção Artística da Dinâmica de Criatividade e Sensibilidade “Minha casa... meu mundo...”, São Mateus, Espírito Santo, Brasil, março de 2015

No ambiente interno da casa, há imagens de frascos de refrigerante e alimentos, de bebida alcoólica na geladeira, junto com refrigerantes e comida. Externamente, destacam-se imagens de uma mulher segurando um copo de bebida e bebidas fermentadas (garrafa de espumante e latas de cerveja). Em ambos os ambientes, observa-se o consumo de álcool como uma prática comum a homens e mulheres. Os adolescentes problematizaram os efeitos do consumo excessivo do álcool (embriaguez) a partir da imagem de um homem aparentemente triste (Figura 1. De A a C).

As unidades de registros foram significadas como tendo ou não bebida fermentada na geladeira e na dispensa, com exposição de imagens do álcool no interior e exterior da casa.

Na minha casa não tem bebida alcoólica.(A.M1, 13 anos)

Na minha casa não tem bebida alcoólica, só refrigerante. (A.M2, 12 anos)

Tem geladeira com alimentos.... refrigerante. (A.M3, 10 anos)

Na geladeira de casa não tem bebida alcoólica, tem comida... tem vinho também. (A.M4, 10 anos)

Na geladeira da minha casa não tem bebida alcoólica. (A.F1, 11 anos)

Na minha casa tem geladeira com cerveja e refrigerante. O vinho fica na dispensa trancada com chave porque tem crianças [...]. (A.F2, 13 anos)

Na minha casa tem uma geladeira com cerveja, refrigerante e comida. (A.F3, 11 anos)

[...] Meu pai bebe cerveja e cachaça quando está em casa. [...] (A.M2, 12 anos)

Os pais bebem sozinhos no quintal de casa ou em companhia de alguém da família (avô, tio) e do próprio adolescente, significando uma dimensão intrafamiliar e intergeracional do consumo de bebida alcoólica em famílias com estrutura estendida. Entre aqueles que registraram imagens de geladeira sem armazenamento de álcool, tanto a disponibilidade como o acesso a bebida alcoólica em casa tornam mais difícil o consumo dentro de casa. Em geral, a bebida fermentada ou destilada é comprada para consumo imediato.

Meu pai bebe vinho, meu irmão cerveja e, de vez em quando, Eu bebo [...]. (A.F2, 13 anos)

Só meu pai bebe cerveja, ele compra e bebe na hora sem deixar na geladeira. Às vezes, meu pai bebe com o pai dele [o avô da adolescente] na casa da minha avó. No final de semana ou durante a semana também. (A.F1, 11 anos)

Meu pai, tio e avô bebem cerveja, cachaça e vinho. (A.F3, 11 anos)

Meu pai, meu avô e meu tio bebem cerveja ... Só meu avô bebe cachaça de vez em quando. (A.M3, 10 anos)

O consumo durante e no final de semana é, principalmente, externo à casa, independentemente de haver armazenamento em geladeira ou não. Eventualmente, celebram a vitória do time de futebol com bebida alcoólica, durante a semana ou no final de semana. O mais comum são as comemorações em família, como festas e churrascos de final de semana que acontecem no quintal de casa, nas saídas aos botecos e bares da comunidade. A bebida alcoólica, principalmente as fermentadas (cerveja) e destiladas (cachaça), está sempre presente, por sua franca disponibilidade e baixo custo, além de socialmente aceita. As festas em família e na comunidade constituem-se em espaços sociais onde os adolescentes transitam para a fase adulta convivendo com a bebida alcoólica em uma atmosfera social gregária, de celebração de vitórias e conquistas. Gradualmente, o adolescente vai sendo introduzido no mundo da experimentação e do uso da bebida alcoólica como natural e de pertencimento a seu grupo cultural.

Minha família se reúne em casa, às vezes dia de [durante a] semana e final de semana para beber cerveja em comemoração à vitória do time de futebol. (A.F3, 11 anos)

Eles bebem quando fazem churrasco ou quando saem para algum lugar (boteco). (A.M3, 10 anos)

Na minha casa só tem bebida alcoólica, ... quando tem festa ou quando fazem churrasco em casa. (AM.1, menino, 13 anos)

Meu pai bebe só dois litros de cerveja no sábado. (A.M3, 10 anos)

Entre as imagens que lhes chamam atenção, está a embriaguez como efeito do excesso de consumo de bebida alcoólica pelos membros da família. As mudanças comportamentais por eles observadas são a perda de equilíbrio, sonolência e tristeza. Destacam também a internação hospitalar para tratamento, a ausência de relação entre o alto consumo de álcool e a presença da violência no grupo social com o qual convive.

Meu cunhado bebia e caía de bêbado. Agora ele não bebe mais porque ficou doente e foi parar no Hospital Roberto Silvares [...]. (A.F2, 13 anos)

Às vezes, meu avô e meu tio ficam bêbados, tipo cochilando em pé, caindo. Não tem nenhum problema, como violência, por conta da bebida. (A.F3, 11 anos)

Uma vez, ele [o pai] caiu de bêbado. Bebe no final de semana, às vezes na sexta-feira. (A.M2, 12 anos)

[...] tem um homem triste, porque ele bebeu cachaça... (A.M3, 10 anos)

Em ‘Bebida alcoólica em sociedade’, as imagens da dinâmica “Construindo meu mundo...” permitem compreender o modo de vida rural desse grupo quilombola, marcada pela presença de pessoas (amigos) bebendo no boteco, adolescente bebendo escondido dos pais sob a árvore e a experimentação de bebida na infância. Mais uma vez, a embriaguez é uma parte da leitura de imagens que são comuns em seu mundo social. No cotidiano social dos adolescentes, eles veem pais oferecendo bebidas às crianças, grávidas bebendo cerveja e cachaça e mulheres comprando bebida para os maridos (Figura 2. A e B).

Figura 2
Fragmentos da Produção Artística da Dinâmica de Criatividade e Sensibilidade “Construindo meu mundo...”, São Mateus, Espírito Santo, Brasil, março de 2015

Nos bares próximos e distantes das casas dos adolescentes, os homens se reúnem para beber. Nessa comunidade, o bar é o lugar social de encontro de homens e meninos, sendo pouco frequentado pelas mulheres. Portanto, esses adolescentes são expostos a imagens em que o consumo social de bebida alcóolica forja uma identidade do masculino na construção social de gênero.

Eu fiz o bar do T. que fica perto da minha casa, com vários amigos bebendo. Ao lado do pé de mato, tem uma bebida porque tem alguns adolescentes que bebem às escondidas, sem o pai e a mãe ver. (A.M2, 12 anos)

Perto da minha casa, tem um bar com o homem e o menino bebendo cerveja. Às vezes, os pais dão bebida às crianças. Aqui, é a mulher grávida bebendo cachaça e cerveja, o que é proibido, mas, para os adultos, não. A mulher comprando cerveja no boteco para o marido. Quando minha mãe vai à igreja, meu pai pede para ela comprar bebida no boteco e levar para ele. (A.M3, 10 anos)

No boteco, tem grávida que bebe cerveja, cachaça e usa droga. (A.F4, 12 anos)

Foi recorrente a seleção de imagens relacionadas ao consumo da bebida alcoólica com pessoas colocando bebida no copo, bebendo no gargalo da garrafa, bebendo no espaço da rua e na direção de carro (Figura 2. C). As imagens foram reforçadas com as unidades de registro dos participantes.

Tem o pessoal no bar. Tem homem botando a bebida no copo para beber, o homem bebendo na garrafa e pessoas bebendo. Aqui são os homens indo embora porque eles já estão quase bêbados. Não está correto pegar o carro para dirigir, ele vai para a cadeia. (A.M4, 11 anos)

Tem um homem bebendo cachaça ou cerveja, no litro. Tem uma criança com um litro de cerveja ou cachaça na mão e umhomem saindo dirigindo e bebendo cerveja, o que é proibido. (A.F1, 11 anos)

Os bares e botecos da comunidade possuem placas com mensagens de alertas, como: “Álcool zero, eu colaboro”, “Não deixe a bebida mudar seu destino” e “Bebida nunca foi boa companhia ao volante”, as quais foram registradas nas produções artísticas de meninos e meninas; adultos mais velhos bebendo nos cinco botecos distribuídos na comunidade, que passam de bar em bar bebendo até se embriagarem (Figura 2. D).

Dentro da casa está escrito “ Álcool zero, eu colaboro”.Perto da minha casa tem um boteco e pessoas bebendo. Os adultos mais velhos vão passando de bar em bar... até cair no chão. (A.M1, 13 anos)

A placa “Não deixe a bebida mudar seu destino” mobilizou o grupo para problematizar o risco de violência como resultado do uso abusivo do álcool, algo inexistente entre os membros da comunidade. A imagem do boteco com várias garrafas e latas de cerveja além de pessoas embriagadas na direção de carro ilustram o cotidiano de vida desse grupo social (Figura 2. C e D).

Perto da minha casa tem o bar do tio M. e do tio C., que não é tão perto, com pessoas bebendo. Tem garrafas de bebida e também refrigerante. Pessoas embriagadas no carro e na direção. Aqui eu fiz uma placa : “ Não deixe a bebida mudar seu destino”.Não tem violência. (A.M3, 10 anos).

A imagem de um homem que consome cerveja, deixa o ambiente do bar e dirige um veículo é acompanhada pela de um acidente de carro com uma manchete Bebida a mais, vida a menos”. Esse imaginário social internalizado reforça a relação entre bebida alcoólica, direção e risco de vida, problematizado pelos adolescentes (Figura 2. E).

Eu fiz um bar, do Tio C., que não fica muito perto da minha casa, tem árvores ao redor e um homem que lê a placa : “ Bebida a mais, vida a menos”. Não tem nenhum problema de violência por conta da bebida. (A.F3, 11 anos)

Imagens de placas expostas nos bares assumiram a centralidade nas produções de meninos e meninas que, na leitura de seu mundo social, criticizaram a prática de consumo de bebida alcoólica e de dirigir automóvel ou motocicleta. A criticidade foi mais bem estruturada entre aqueles que foram influenciados pelas campanhas em mídia de rádio e televisão do que o que realmente existe na comunidade. É mais comum a presença de motocicletas do que carro, mas sua referência imagética foram os carros, como resultado de um processo de endoculturação da própria comunidade.

A DCS “Construindo meu mundo...” permitiu ainda selecionar palavras ou expressões relacionadas a festas e comemorações na comunidade. As meninas trouxeram a imagem de festas com pessoas dançando, bebendo e se embriagando, festa no campo de futebol, adolescentes que bebem nas festas e adultos que parecem aprovar essa conduta como parte do rito de passagem da adolescência para a vida adulta (Figura 3).

Figura 3
Fragmentos da Produção Artística da Dinâmica de Criatividade e Sensibilidade “Construindo meu mundo...”, São Mateus, Espírito Santo, Brasil, março de 2015

[...] Tem festa que acontece próximo à igreja católica, com pessoas dançando e se divertindo; tem algumas garrafas de bebidas. No campo de futebol, sempre tem festa e muita bebida. Tem adolescente que bebe e os adultos não falam nada. Também tem criança que bebe cerveja. (A.F5, 14 anos)

[...] De vez em quando, fazem festa e as pessoas bebem e saem embriagadas e caem no meio da estrada. (A.F2, 13 anos)

[...] Já vi criança bebendo cerveja. (A.M3, 10 anos)

O conjunto de imagens selecionadas significa que é comum haver venda e consumo de bebidas alcoólicas nas festas da comunidade próxima à igreja e ao campo de futebol, com música, dança, diversão e embriaguez. Tais eventos sociais são mais frequentes em fins de semana, feriados e eventualmente à noite, durante a semana.

O tema ‘Bebida alcoólica e eu’ foi construído a partir das dinâmicas “Minha casa... meu mundo...” e “Construindo meu mundo...”. Primos e irmãos experimentaram, passando a fazer uso regular de cerveja e vinho, quando no quintal de casa, nas celebrações em família e no fim de semana. Imagens de garrafa de bebida (destilada ou não) sendo despejada no copo ou bebendo-se direto da garrafa e latas de cerveja compõem as cenas das produções das dinâmicas. Essas cenas demonstram que adultos e adolescentes têm fácil acesso e apreciam o álcool no cotidiano social (Figuras 3 e 4).

Figura 4
Fragmentos da Produção Artística das Dinâmicas de Criatividade e Sensibilidade “Minha casa... meu mundo...” e “Construindo meu mundo...”, São Mateus, Espírito Santo, Brasil, março de 2015

Quatro meninos experimentaram a bebida alcoólica, mas um não gostou do sabor, e um menino está incerto se continuará a consumi-la ou não; uma menina faz uso social de cerveja e vinho e já experimentou espumante. A não aprovação do sabor os levou a não prosseguir consumindo-a, exceto uma menina (A.F2, 13 anos) que consumia eventualmente bebidas destilada e fermentada.

[...] Eu experimentei cerveja uma vez quando eu era bem pequeno. Peguei escondido do meu primo. Cerveja é muito ruim. (A.M2, 12 anos)

[...] Eu experimentei vinho, por enquanto. // Eu não sei depois. (A.M3, 10 anos)

[...] Eu bebo, minha mãe bebe cerveja, às vezes, bebe vinho no quintal de casa e no final de semana. (A.M4, 11 anos)

[...] Tem a cerveja que eu mais gosto de beber, a B. (A.M3, 10 anos)

[...] Eu, de vez em quando, bebo cerveja, vinho e já experimentei espumante [...]. (A.F2, 13 anos)

Entre aqueles e aquelas que experimentaram a bebida alcoólica, o fizeram nas fases de vida da infância e adolescência, às escondidas de membros da família ou juntos com eles; para alguns a experiência foi agradável e para outros, desagradável porque o sabor era ruim.

DISCUSSÃO

O material produzido nas dinâmicas demonstrou que o álcool na comunidade quilombola é cultural e socialmente aceito. O consumo de bebida alcoólica foi mais recorrente nas unidades de registro entre os homens, representados pela imagem do pai, tio e avô, do que entre as mulheres. Na comunidade, há famílias que compram bebidas e consomem na hora, sem deixar estocadas na geladeira, e aquelas que armazenam as bebidas na geladeira, ao lado de comidas e refrigerante, particularmente a cerveja; nas despensas, armazenam vinho trancado à chave para impedir o acesso de crianças.

As imagens representadas pelos e pelas adolescentes, em suas produções artísticas, revelam que os membros das famílias (pai, tio, avô) estão habituados a consumir álcool nos quintais de suas casas, nos botecos e nas festas da comunidade e no campo de futebol. Entretanto, não há registro de violência, no interior da família e nem na comunidade, como resultado do consumo excessivo de bebidas alcóolicas. Meninos e meninas exemplificaram os efeitos do álcool com a imagem de um homem triste após consumir bebida destilada (cachaça), associando-a a queda como uma complicação da embriaguez. Cenas de homens que bebem até cair estão registradas no imaginário do grupo como um estereótipo de gênero socialmente construído no meio rural, cujas relações sociais pautam-se em valores patriarcais, que definem os papéis de gênero forjados pelo masculino.

Enquanto papel de gênero refere-se ao conjunto de normas e prescrições estabelecidas pela sociedade e cultura sobre o comportamento que o feminino e masculino devem assumir na sociedade, estereótipos de gênero são concepções preconcebidas sobre como são e como devem comportar-se as mulheres e os homens nas relações sociais(1313 Thomas Thurnell-Read. ‘Yobs’ and ‘Snobs’: embodying drink and the problematic male drinking body. Sociol Res Online [Internet]. 2013[cited 2017 Set 25];18(2):1-10. Available from: http://journals.sagepub.com/doi/pdf/10.5153/sro.3000#articleCitationDownloadContainer
http://journals.sagepub.com/doi/pdf/10.5...
).

Portanto gênero é uma variável sociocultural com interferências e influências de categorias como raça/etnia, classe social, religião e geração e, por isso, precisa ser compreendido como conceito estruturante cujas diferenças entre homens e mulheres são construções que permeiam a vida dos indivíduos(1212 Mendes RM, Miskulin RGS. A análise de conteúdo como uma metodologia. Cad Pesqui [Internet]. 2017[cited 2018 Feb 17];47(165):1044-66. Available from http://dx.doi.org/10.1590/198053143988
http://dx.doi.org/10.1590/198053143988...
). Dessa forma, compreende-se que a vida rural na comunidade quilombola apresenta aspectos próprios que permeiam e orientam o cotidiano das famílias. As representações, relações sociais e de gênero são construções próprias transmitidas de geração a geração, marcadas por identidade e relações sociais, não somente nesta comunidade quilombola, mas que são comuns a outras formas de comunidades tradicionais como a indígena, nômade e de assentamentos(1414 Costa KA. As representações, relações sociais e de gênero entre os jovens rurais dos assentamentos do estado de Mato Grosso do Sul. Diásporas, Diversidades, Deslocamentos [Internet]. 2010[cited 2018 Mar 25];1-10. Available from: http://www.fazendogenero.ufsc.br/9/resources/anais/1278075924_ARQUIVO_Artigo_FazendoGenero9_Katia_.pdf
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15 Cariaga D. Gênero e sexualidades indígenas: alguns aspectos das transformações nas relações a partir dos Kaiowa no Mato Grosso do Sul. Cadernos de campo [Internet]. 2015[cited 2018 Mar 25];24:441-64. Available from: http://www.revistas.usp.br/cadernosdecampo/article/view/108628
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-1616 Abrantes GB, Gomes DJ, Loiola MVC, Ferreira AGA, Medeiros OQ. O modo de vida da comunidade cigana em Sousa-PB. INTESA [Internet]. 2016[cited 2018 Mar 02];10(1):77-91. Available from: http://www.gvaa.com.br/revista/index.php/INTESA/article/view/4606
http://www.gvaa.com.br/revista/index.php...
).

As mulheres que vivem na comunidade consomem bebida alcoólica principalmente nas festas da comunidade, enquanto os homens a consomem no quintal de casa, nos botecos e no campo de futebol da comunidade. Pode-se perceber que as mulheres possuem poder na comunidade, principalmente em relação à transmissão da cultura e dos costumes, mas, em geral, os homens detêm o poder de decisão em relação às famílias. Nesse sentido, a experimentação e uso do álcool entre os adolescentes são atitudes que especialmente os meninos reproduzem como parte dos ritos de passagem para a vida adulta, na construção de suas masculinidades, tomando-se como modelo de referência o viver dentro de um ambiente de consumo permissivo(1717 Maggs JL, Staff JA. Parents who allow early adolescents to drink. J Adolesc Health. 2018; 62:245-247. doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.jadohealth.2017.09.016
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).

Entre os meninos e meninas da comunidade quilombola, alguns experimentaram cerveja, vinho e espumante, pela primeira vez, quando eram crianças; outros, na adolescência e não gostaram; e ainda outros continuaram consumindo, às escondidas, com os pares, ou supervisionados por adultos em bares/botecos da comunidade, ou em celebrações no churrasco no quintal da casa, em família.

Trata-se de uma prática comum, embora a venda, o fornecimento e a entrega da bebida alcoólica para crianças e adolescentes sejam proibidos no Brasil para todas as pessoas com menos de 18 anos, devido aos efeitos negativos sobre o crescimento e desenvolvimento(11 Presidência da República (BR). Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências [Internet]. Brasília: Presidência da República: 1990[cited 2018 Sep 05]. Available from: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm.
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). A cerveja, uma bebida fermentada, foi a imagem de bebida mais registrada nas produções artísticas e nas narrativas dos adolescentes, um indicativo de que é a mais comum entre eles, com franca disponibilidade no ambiente da família, dos botecos e das festas da comunidade, apesar de ter custo superior ao da cachaça, uma bebida destilada mais tradicional em comunidades quilombolas.

A permissividade e a circulação de bebida alcoólica em casa, sendo consumida pelos familiares, estimulam a curiosidade para experimentar algo novo, aliada aos efeitos iniciais do álcool, como prazer e desinibição, uma alegria social gerada pelo consumo de álcool no quintal de casa e nos bares/botecos. Tudo isso são motivadores que impulsionam os meninos e meninas a experimentarem e a usarem o álcool no rito de passagem da adolescência para a fase adulta da vida(44 Reis TGR, Oliveira LCM. Pattern of alcohol consumption and associated factors among adolescents students of public schools in an inner city in Brazil. Rev Bras Epidemiol [Internet]. 2015[cited 2017 Aug 03];18(1):13-24. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rbepid/v18n1/en_1415-790X-rbepid-18-01-00013.pdf
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-55 Malta DC, Mascarenhas MDM, Porto DL, Barreto SM, Neto OLM. Exposure to alcohol among adolescent students and associated factors. Rev Saúde Pública [Internet] 2014[cited 2017 Aug 22];48(1):52-62. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rsp/v48n1/en_0034-8910-rsp-48-01-0052.pdf
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). O álcool torna-se uma forma de representação no meio social onde os adolescentes, que estão na fase de transição (recém-saídos do mundo da infância), utilizam-no como algo que indica o valor de seus atos e de suas palavras em relação aos adultos(1818 Gurski R, Pereira MR. The experience and the time during the passage to the contemporary adolescence. Psicologia USP [Internet]. 2016[cited 2018 Mar 05];27(3):429-40. Available from: https://www.revistas.usp.br/psicousp/article/view/133125/129206
https://www.revistas.usp.br/psicousp/art...
).

A experimentação da bebida alcoólica como parte do rito de passagem parece ser um fenômeno singular a esse grupo social que vive na zona rural. A relação do uso de drogas (como o álcool e o crack) por crianças e por adolescentes é um fenômeno complexo que necessita de entendimento, compreensão, interpretação e aprendizado mais profundo. Em um estudo realizado com famílias, observou-se que a violência resultante desse uso representa um desafio para a família(1919 David HB, Santos RA Márcia, Arial ALF, Ricardo MT, Silva LM, et al. The use of crack and other drugs by children and adolescents and their repercussions in the family environment. Esc Anna Nery [Internet]. 2016[cited 2018 Apr 06];20(4):e20160105. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ean/v20n4/en_1414-8145-ean-20-04-20160105.pdf
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).

O uso do álcool na adolescência é um problema de saúde pública, sendo necessárias políticas públicas para trabalhar essa temática. Sendo assim, o uso de álcool pelos adolescentes representa um grande desafio a ser superado pelas políticas e pelos profissionais de saúde e de educação(1919 David HB, Santos RA Márcia, Arial ALF, Ricardo MT, Silva LM, et al. The use of crack and other drugs by children and adolescents and their repercussions in the family environment. Esc Anna Nery [Internet]. 2016[cited 2018 Apr 06];20(4):e20160105. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ean/v20n4/en_1414-8145-ean-20-04-20160105.pdf
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-2020 Brasil EGM, Amorim DU, Queiroz MVO. Atuação do agente comunitário de saúde no cuidado ao adolescente: propostas educativas. Adolesc Saúde [Internet]. 2013[cited 2017 Dec 10];10(3):28-35. Available from: http://adolescenciaesaude.com/detalhe_artigo.asp?id=378#
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), devido a sua ampla aceitação social, fácil disponibilidade e baixo custo. Seu uso está associado a um modo de afirmação entre os pares, como parte do ritual de passagem da infância para a vida adulta. Nesse sentido, o tema álcool na adolescência requer uma forma criativa e sensível de abordagem.

Uma das formas de prestar cuidado integral ao adolescente é leva-lo a exercitar sua autonomia, estimulando a construção de práticas de saúde que favoreçam o reconhecimento, pelo grupo, de suas próprias potencialidades para decidir e responsabilizar-se por sua saúde, segundo valores éticos de solidariedade e equidade(2121 Martins PAF, Alvim NAT. Plano de Cuidados Compartilhado: convergência da proposta educativa problematizadora com a teoria do cuidado cultural de enfermagem. Rev Bras Enferm [Internet]. 2012[cited 2017 Aug 10];65(2):368-73. Available from: http://www.redalyc.org/pdf/2670/267028449025.pdf
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). Freirianamente pensando(2222 Partelli ANM, Cabral IE. Stories about alcohol drinking in a quilombola community: participatory methodology for creating validating a comic book by adolescents. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2017[cited 2018 Feb 20];26(4):1-12. Available from: http://www.scielo.br/pdf/tce/v26n4/en_0104-0707-tce-26-04-e2820017.pdf
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), o ser humano está imerso em condições espaço-temporais, portanto, quanto mais reflete sobre a sua existência temporalmente situada e mais intensamente o fizer de maneira crítica, maior será a sua propensão a libertar-se da condição determinante da vulnerabilidade. Assim, as práticas do cuidado, quando tomadas de fonte de criatividade, respeito aos saberes, vivências e críticas, podem potencializar ações emancipatórias e de liberdade tanto do conhecimento científico – que está aprisionado ao método que o legitima e lhe confere autoridade – quanto da própria sociedade, ao possibilitar-lhe a expressão de sua participação ativa e constituinte de novos e críticos saberes sobre sua saúde e de fontes de sua construção(2222 Partelli ANM, Cabral IE. Stories about alcohol drinking in a quilombola community: participatory methodology for creating validating a comic book by adolescents. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2017[cited 2018 Feb 20];26(4):1-12. Available from: http://www.scielo.br/pdf/tce/v26n4/en_0104-0707-tce-26-04-e2820017.pdf
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).

Os achados desta pesquisa reuniram imagens e narrativas as quais foram traduzidas em uma história em quadrinhos(2222 Partelli ANM, Cabral IE. Stories about alcohol drinking in a quilombola community: participatory methodology for creating validating a comic book by adolescents. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2017[cited 2018 Feb 20];26(4):1-12. Available from: http://www.scielo.br/pdf/tce/v26n4/en_0104-0707-tce-26-04-e2820017.pdf
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), a exemplo de outros materiais educativos que partiram da escuta das demandas do educando final(2323 Berardinell LM, Guedes NA, Ramos JP, Silva MG. Educational technology as a strategy for the empowerment of people with chronic illnesses. Rev Enferm UERJ [Internet]. 2014[cited 2017 Jan 20];22(5):603-9. Available from: http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/enfermagemuerj/article/view/15509/12234
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).

Limitações do estudo

Os achados restringem-se a uma das 18 comunidades quilombolas da região norte de um município de um estado da região sudeste, com características sociais e geográficas distintas de outras partes do Brasil. Embora apresentem semelhanças étnicas de outras comunidades, os achados desse estudo participativo não são passíveis de generalização, sendo necessário desenvolver outras pesquisas, como, por exemplo: álcool na construção de masculinidades e feminilidades, campanhas de combate ao álcool de natureza endoculturantes, exclusão de populações da zona rural que usam transporte de animais e motocicletas, entre outros.

Contribuições para a área da saúde

Nas atividades de promoção da saúde na atenção primária, a abordagem sobre experimentação e uso de álcool entre adolescentes que vivem em comunidades quilombolas pode ser mediada por imagens como estratégia problematizadora e de construção de novas consciências. A compreensão de que a bebida alcoólica, nessas comunidades, possui componente intergeracional e de gênero, requer uma extensão dessa abordagem de educação em saúde para toda a família e um diálogo sobre construção de masculinidades e feminilidades.

Para o público que vive na zona rural, destaca-se a necessidade de campanhas sobre os riscos de conduzir motocicletas e estar alcoolizado. Além disso, os achados dessa pesquisa podem ser traduzidos na forma de outros materiais educativos (jogos e filmes) sobre a temática álcool entre adolescentes residentes em comunidades quilombolas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O álcool na comunidade quilombola é cultural e socialmente aceito, tornando-se um desafio para os profissionais de saúde na promoção e na educação em saúde com esses adolescentes. O consumo de bebida por adolescentes, desde a infância, sugere uma aceitação social e permissividade com a experimentação de álcool nos ritos de passagem na comunidade e em família. Enquanto as meninas usaram mais imagens de bebidas nas festas da comunidade, os meninos incluíram o boteco como referência para o local de consumo de álcool, porque esses últimos são lugares mais frequentados por homens. A bebida alcoólica faz parte dos ritos de passagem do mundo masculino e os bares são os locais onde os homens celebram sua masculinidade. A produção de espaços coletivos de troca de vivências e saberes favorece a compreensão do mundo onde se vive, contribuindo para a superação de situações de vulnerabilidades em saúde que atingem parte significativa da população brasileira, principalmente as pessoas que se autodeclaram pretas e vivem em situação de vulnerabilidade e maior exposição a morbimortalidade.

As campanhas educativas reveladas nas imagens selecionadas pelos adolescentes têm como público alvo prioritário o residente urbano, e não o rural, sendo desconhecidas por eles/as propagandas que relacionam ingestão de bebida alcoólica e direção de motocicleta ou condução de animais.

  • FINANCIAMENTO
    Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo – FAPES (Termo de Outorga: 0494/2015) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pesquisa de Nível Superior – CAPES (AUXPE 0266/2013), respectivamente pelo financiamento da pesquisa e pela concessão de bolsa de doutorado.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Abr 2019
  • Data do Fascículo
    Mar-Apr 2019

Histórico

  • Recebido
    11 Maio 2018
  • Aceito
    20 Out 2018
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