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Teatro do Oprimido e bullying: atuação da Enfermagem na saúde do adolescente escolar

RESUMO

Objetivo:

avaliar os efeitos de uma intervenção baseada no Teatro do Oprimido na redução do bullying escolar.

Método:

estudo quase-experimental, realizado com 232 estudantes do primeiro ano do Ensino Médio de duas escolas públicas da cidade de Cuiabá-MT. Realizou-se uma intervenção com o Teatro do Oprimido, metodologia teatral criada por Augusto Boal e inspirada na obra “Pedagogia do Oprimido” de Paulo Freire, em que uma escola compôs o grupo de intervenção, e a outra escola, o grupo de comparação. Ambos os grupos foram avaliados quanto ao envolvimento em situações de bullying antes e depois da realização da intervenção. Para análise dos dados, utilizaram-se modelos de Regressão de Poisson com efeito aleatório.

Resultados:

o grupo de intervenção apresentou redução significativa na vitimização direta (agressões físicas e verbais).

Conclusão:

o Teatro do Oprimido representa uma estratégia importante na redução da vitimização por bullying entre adolescentes escolares.

Descritores:
Bullying; Violência; Enfermagem; Adolescente; Saúde do Adolescente

ABSTRACT

Objective:

to assess the effects of an intervention based on the Theater of the Oppressed in reducing school bullying.

Method:

a quasi-experimental study with 232 first-year high school students from two public schools in the city of Cuiabá, Mato Grosso State, Brazil. An intervention was performed with the Theater of the Oppressed, a theatrical methodology created by Augusto Boal and inspired by Paulo Freire’s “Pedagogy of the Oppressed”, in which one school composed the intervention group, and another school, the comparison group. Both groups were assessed for involvement in bullying situations before and after intervention. For data analysis, Poisson Regression models with random effect were used.

Results:

intervention group presented a significant decrease in direct victimization (physical and verbal aggression).

Conclusion:

the Theater of the Oppressed represents an important strategy in reducing bullying victimization among school adolescents.

Descriptors:
Bullying; Violence; Nursing; Adolescent; Adolescent Health

RESUMEN

Objetivo:

evaluar los efectos de una intervención basada en el Teatro del Oprimido para reducir el bullyig escolar.

Método:

un estudio cuasi experimental con 232 estudiantes de primer año de secundaria de dos escuelas públicas en la ciudad de Cuiabá, estado de Mato Grosso. Se realizó una intervención con el Teatro del Oprimido, una metodología teatral creada por Augusto Boal e inspirada en la “Pedagogía del Oprimido” de Paulo Freire, en la que una escuela compuso el grupo de intervención y otra escuela, el grupo de comparación. Ambos grupos fueron evaluados por su participación en situaciones de bullying antes y después de la intervención. Para el análisis de los datos, utilizamos modelos de regresión de Poisson con efecto aleatorio.

Resultados:

el grupo de intervención presentó una reducción significativa en la victimización directa (agresión física y verbal).

Conclusión:

el Teatro del Oprimido representa una estrategia importante para reducir la victimización por bullying entre los adolescentes escolares.

Descriptores:
Bullying; Violencia; Enfermería; Adolescente; Salud del Adolescente

INTRODUÇÃO

A adolescência envolve diversas mudanças nos aspectos físicos, emocionais e sociais(11 Pigozi PL, Machado AL. Bullying during adolescence in Brazil: an overview. Ciênc Saúde Colet. 2015;20(11):3509-22. doi: 10.1590/1413-812320152011.05292014
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). O processo de adolescer possui diferentes interpretações, conceituações variadas que destacam suas vulnerabilidades e potencialidades. Trata-se de um período de desenvolvimento complexo e construído histórica e socialmente, no qual podem se manifestar comportamentos de risco, tais como uso de substâncias ilícitas, relação sexual desprotegida, situações de violência, comportamentos infracionais, entre outros(22 Fonseca FF, Sena RKR, Santos RLA, Dias OV, Costa SM. The vulnerabilities in childhood and adolescence and the Brazilian public policy intervention. Rev Paul Pediatr. 2013;31(2):258-64. Doi: 10.1590/S0103-05822013000200019
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-33 Zappe JG, Dell'Aglio DD. Variáveis pessoais e contextuais associadas a comportamentos de risco em adolescentes. J Bras Psiquiatr. 2016;65(1):44-52. doi: 10.1590/0047-2085000000102
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). Dentre esses comportamentos, a violência entre pares no contexto escolar destaca-se devido à sua elevada ocorrência(44 Nesello F, Sant'Anna FL, Santos HG, Andrade SM, Mesas AE, González AD. Características da violência escolar no Brasil: revisão sistemática de estudos quantitativos. Rev Bras Saúde Matern Infant. 2014;14(2):119-36. doi: 10.1590/S1519-38292014000200002
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). Como os adolescentes passam grande parte de seu tempo diário na escola, situações de conflitos e intimidação sistemática (bullying) podem se tornar recorrentes nas interações com seus pares(55 Zequinão MA, Cardoso AA, Silva JL, Medeiros P, Silva MAI, Pereira B, et al. Academic performance and bullying in socially vulnerable students. J Hum Growth Dev. 2017;27(1):19-27. doi: 10.7322/jhgd.127645
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).

O bullying é um tipo de violência escolar caracterizado por ações repetitivas, intencionais, sem motivação aparente e que envolvem desequilíbrio de poder entre vítimas e agressores(66 Olweus D. School bullying: development and some important challenges. Annu Rev Clin Psychol. 2013;9:751-80. doi: 10.1146/annurev-clinpsy-050212-185516
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). Ele pode se manifestar por meio de agressão e vitimização diretas, que são representadas pela ação de se praticar e/ou se sofrer: provocações, brigas, empurrões, socos, chutes e xingamentos. A agressão e a vitimização relacionais são caracterizadas por ações de excluir de grupos e/ou brincadeiras, apelidar, espalhar boatos sobre colegas para fazerem os outros rirem e incentivar brigas. A agressão e a vitimização indiretas são caracterizadas pelas ações de roubar ou de mexer nos pertences de colegas(77 Weber LND, Dessen MA. Pesquisando a família: instrumentos para a coleta e análise de dados. Curitiba: Juruá; 2009.). A ocorrência média de bullying nas escolas brasileiras é de 28%(88 Oliveira WA, Silva MAI, Silva JL, Mello FCM, Prado RR, Malta DC. Associations between the practice of bullying and individual and contextual variables from the aggressors' perspective. J Pediatr (Rio J). 2016;92(1):32-9. doi: 10.1016/j.jped.2015.04.003
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), acima da média de países como Grécia (16,0%), Espanha (17,4%), Finlândia (18,2%) e Estados Unidos (24,5%)(99 Craig W, Harel-Fisch Y, Fogel-Grinvald H, Dostaler S, Hetland J, Simons-Morton B, et al. A cross-national profile of bullying and victimization among adolescents in 40 countries. Int J Public Health. 2009;54(Suppl 2):216-24. doi: 10.1007/s00038-009-5413-9
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).

Estudos ressaltam que os efeitos negativos do bullying podem afetar diretamente os estudantes envolvidos com acometimentos na saúde física (machucados e lesões, por exemplo) e mental (tristeza, depressão, baixa autoestima e pensamentos suicidas, entre outros), bem como nas relações sociais (isolamento) e no desempenho escolar (não aprendizagem, notas baixas e evasão escolar)(66 Olweus D. School bullying: development and some important challenges. Annu Rev Clin Psychol. 2013;9:751-80. doi: 10.1146/annurev-clinpsy-050212-185516
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,1010 Silva JL, Oliveira WA, Braga IF, Farias MS, Lizzi EAS, Fagundes MG, et al. The effects of a skill-based intervention for victims of bullying in Brazil. Int J Environ Res Public Health. 2016;13(11):1042. doi: 10.3390/ijerph13111042
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). Diante deste cenário, destaca-se a importância do desenvolvimento de estratégias que auxiliem na redução e prevenção deste tipo de violência por meio de intervenções que promovam o bom convívio social, a autoestima e a resolução cooperativa de conflitos(1111 Garaigordobil M, Martínez-Valderrey V, Maganto C, Bernarás E, Jaureguizar J. Efectos de Cyberprogram 2.0 en factores del desarrollo socioemocional. Pensam Psicol. 2016;14(1):33-47. doi: 10.11144/Javerianacali.PPSI14-1.ecfd
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).

Considerando a magnitude e os resultados apresentados nos atuais estudos sobre bullying no contexto escolar(88 Oliveira WA, Silva MAI, Silva JL, Mello FCM, Prado RR, Malta DC. Associations between the practice of bullying and individual and contextual variables from the aggressors' perspective. J Pediatr (Rio J). 2016;92(1):32-9. doi: 10.1016/j.jped.2015.04.003
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,1212 Mello FCM, Malta DC, Prado RR, Farias MS, Alencastro LCS, Silva MAI. Bullying and associated factors in adolescents in the Southeast region according to the National School-based Health Survey. Rev Bras Epidemiol. 2016;19(4):866-77. doi: 10.1590/1980-5497201600040015
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-1313 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PENSE) 2015 [Internet]. Rio de Janeiro: IBGE; 2016 [cited 2017 Aug 30]. Available from: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv97870.pdf
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), e entendendo a Enfermagem enquanto uma prática social, propomos o presente estudo, o qual entra no campo de algumas tensões pouco exploradas.

A primeira delas situa-se no próprio trabalho do enfermeiro na escola, na atuação da equipe de saúde e enfermagem, com o tema “violência”, na perspectiva da prevenção deste agravo na escola e da promoção de saúde. A segunda refere-se ao fato de que, historicamente, viemos trabalhando no espaço escolar com as questões da atenção individual e curativa em detrimento a processos de transformação social que conjugam o bem coletivo; e, por fim, a concepção normalizada e banalizada da violência entre pares, obscurecida pela roupagem dos estilos educativos, dos comportamentos supostamente esperados e pela tolerância a comportamentos negativos.

É a partir da tendência que busca incluir o bullying dentro dos programas mais amplos de prevenção da violência, compreendendo sua gênese nos processos socioculturais(1414 Pereira BO, Cost PJ, Melim FM, Farenzena RC. Bullying escolar: programas de intervenção preventiva. In: Gisi ML, Ens RT, organizadores. Bullying nas escolas - Estratégias de intervenção e formação de professores. Ijuí: Editora UNIJUÍ; 2011. p.135-55.), que podemos associar a propositura de um programa de intervenção vinculado à estratégia de promoção da saúde e à integralidade do cuidado no trabalho do enfermeiro na escola, modelo este denominado como emancipatório, uma vez que busca o empoderamento e a participação dos sujeitos envolvidos.

Uma modalidade de intervenção que internacionalmente tem sido desenvolvida por enfermeiros, visando à prevenção e ao enfrentamento do bullying escolar, é a dramatização. Ela possibilita o envolvimento dos sujeitos na socialização de vivências, e emprega recursos, como a fala, a arte, os movimentos corporais que favorecem acesso a níveis afetivos e emocionais por meio da linguagem artística, corporal e verbal, além de ser capaz de decodificar as informações transmitidas e a percepção do participante(1515 França CB. O Jornal Vivo como aquecimento no role-playing do papel de educador. Rev Bras Psicodrama [Internet]. 2015 [cited 2017 Aug 30];23(1):75-81. Available from: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psicodrama/v23n1/n1a10.pdf
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-1616 Kalinowski CE, Massoquetti RMD, Peres AM, Larocca LM, Cunha ICKO, Gonçalves LS, et al. Metodologias participativas no ensino da administração em Enfermagem. Interface (Botucatu). 2013;17(47):959-67. doi: 10.1590/S1414-32832013005000029
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). Uma intervenção baseada em teatro desenvolvida na Finlândia com estudantes do quinto ano melhorou a empatia, o comportamento pró-social, a compreensão da diversidade e das consequências do bullying(1717 Joronen K, Häkämies A, Astedt-Kurki P. Children's experiences of a drama programme in social and emotional learning. Scand J Caring Sci. 2011;25(4):671-8. doi: 10.1111/j.1471-6712.2011.00877.x
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). Um estudo similar foi desenvolvido nos Estados Unidos, com o objetivo de promover relações saudáveis entre os estudantes do oitavo ano, prevenir o bullying e a violência no namoro. Os estudantes apontaram que a intervenção mudaria os seus comportamentos futuros em relação às temáticas trabalhadas nas apresentações(1818 Belknap RA, Haglund K, Felzer H, Pruszynski J, Schneider J. A Theater Intervention to prevent teen dating violence for Mexican-American Middle School students. J Adolesc Health. 2013;53(1):62-7. doi: 10.1016/j.jadohealth.2013.02.006
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).

Porém, nenhuma das intervenções relatadas foi desenvolvida com base no Teatro do Oprimido, técnica teatral criada por Augusto Boal na década de 70, com intuito de romper a dicotomia entre teatro e plateia e, assim, promover um teatro com envolvimento de todos(1919 Oliveira ECS, Araújo MF. Aproximações do Teatro do Oprimido com a psicologia e o psicodrama. Psicol Ciênc Prof. 2012;32(2):340-55. doi: 10.1590/S1414-98932012000200006
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). Essa técnica foi inspirada na obra “Pedagogia do Oprimido” de Paulo Freire, que analisa as consequências políticas, sociais e pedagógicas das diferentes formas de relações humanas, concebendo um método pedagógico humano e libertador, em que os oprimidos desvelam o mundo da opressão por meio da transformação de sua prática e, em um segundo momento, transformam a realidade opressora(2020 Baraúna, T. Considerações sobre a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire a Metodologia do Oprimido de Augusto Boal. In: Ligério Z, Turle L, Andrade C, organizadores. Augusto Boal: arte, pedagogia e política. Rio de Janeiro: Mauad X; 2013. p. 187-206.). O Teatro do Oprimido, ao incorporar os pensamentos de Freire, defende o diálogo e a cooperação na busca de problematizar, compreender e transformar a realidade(2020 Baraúna, T. Considerações sobre a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire a Metodologia do Oprimido de Augusto Boal. In: Ligério Z, Turle L, Andrade C, organizadores. Augusto Boal: arte, pedagogia e política. Rio de Janeiro: Mauad X; 2013. p. 187-206.), tendo como proposta dar voz e poder a qualquer pessoa ou grupo que sofra algum tipo de opressão(2121 Boal A. Teatro do Oprimido e outras poéticas políticas. São Paulo: Cosac Naify; 2013.), como as vítimas de bullying.

OBJETIVO

Avaliar os efeitos de uma intervenção baseada no Teatro do Oprimido na redução do bullying escolar.

MÉTODO

Aspectos éticos

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP/USP). Os responsáveis pelos adolescentes menores de 18 anos permitiram a participação dos mesmos por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Os adolescentes manifestaram a anuência em participar do estudo por meio da assinatura do Termo de Assentimento.

Desenho, local de estudo e período

Trata-se de um estudo com delineamento quase-experimental, pois não comtempla todas as características de um estudo experimental, principalmente no que se refere à randomização e à composição equivalente entre grupo experimental e grupo controle(2222 Dutra HS, Reis VN. Experimental and quasi-experimental study designs: definitions and challenges in nursing research. J Nurs UFPE On Line. 2016;10(6):2230-41. doi: 10.5205/reuol.9199-80250-1-SM1006201639
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). A coleta de dados foi realizada em duas escolas públicas da cidade de Cuiabá, capital do estado de Mato Grosso. Uma escola constituiu o grupo de intervenção, na qual foi desenvolvida a técnica do Teatro do Oprimido. A outra escola constituiu o grupo de comparação, que não participou das atividades propostas na intervenção. Ambos os grupos foram avaliados quanto ao envolvimento dos estudantes em situações de bullying antes e depois da ação educativa de dramatização com o Teatro do Oprimido na escola-intervenção, com vistas a avaliar o efeito da intervenção na redução do bullying. A coleta de dados ocorreu no ano de 2016, a avaliação pré-intervenção foi realizada no mês de outubro, o Teatro do Oprimido foi realizado no período de outubro a novembro, e a avaliação pós-intervenção foi realizada no mês de dezembro.

População do estudo e critérios de inclusão

Participaram do estudo 232 estudantes do primeiro ano do Ensino Médio, por ser esse um período de transição escolar do Ensino Fundamental para o Ensino Médio, no qual se evidencia maior ocorrência de bullying(1010 Silva JL, Oliveira WA, Braga IF, Farias MS, Lizzi EAS, Fagundes MG, et al. The effects of a skill-based intervention for victims of bullying in Brazil. Int J Environ Res Public Health. 2016;13(11):1042. doi: 10.3390/ijerph13111042
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). Como critérios de inclusão, foram definidos: estar presente no momento pré-intervenção da coleta de dados, ser adolescente (idade compreendida entre 10 a 19 anos de acordo com Organização Mundial da Saúde - OMS) e ter uma autorização dos pais ou responsável, em caso de adolescentes menores de 18 anos. Assim, foram elegíveis para o estudo todos os adolescentes que atenderam aos critérios de inclusão e que desejaram participar da pesquisa. Não houve perda entre a fase pré e pós-intervenção.

Protocolo

A intervenção foi composta por duas fases, sendo a primeira um momento de aproximação entre a pesquisadora e os sujeitos do estudo e de sensibilização destes em relação ao bullying. Nessa etapa, os adolescentes participaram de jogos grupais pertencentes ao Teatro do Oprimido, que foram aplicados em uma única vez, em formato de oficinas, com cada uma das 10 turmas de primeiro ano do Ensino Médio da escola intervenção, com duração média de uma hora e vinte minutos em cada turma.

Augusto Boal, em seu livro “Jogos para atores e não atores” dividiu seus jogos em cinco categorias: a primeira procura diminuir a distância entre sentir e tocar; a segunda, entre escutar e ouvir; a terceira busca desenvolver os vários sentidos ao mesmo tempo; na quarta, tenta-se ver tudo que se olha e, na quinta categoria, a finalidade é despertar e trabalhar a memória(2323 Boal A. Jogos para atores e não atores. São Paulo: Cosac Naify; 2015.). Nesse sentido, a primeira fase da intervenção contemplou, em uma escala crescente, jogos de todas as categorias. Logo, após a aplicação dos jogos teatrais, foi realizada uma lista com os nomes dos alunos interessados em participar da estruturação e apresentação da encenação que compôs o segundo momento da intervenção.

A partir da lista de alunos interessados em participar da encenação, foram formadas duas equipes organizadoras, sendo que cada uma apresentou sua representação teatral para as cinco turmas, das quais eles não faziam parte, oferecendo-lhes a oportunidade de ser “espect-atores” (denominação criada por Boal para espectadores que podem intervir na encenação) na outra apresentação. Desse modo, o segundo momento da intervenção constituiu a organização de uma peça teatral sobre o bullying, de autoria dos próprios adolescentes, na qual os temas e as situações encenadas tiveram origem na própria experiência dos participantes. O mais importante era envolver os adolescentes na dramatização e problematização de situações por eles vivenciadas, que partissem de suas necessidades e que fizessem sentido para eles.

Assim, foram apresentadas as principais situações por eles vivenciadas, os desafios que enfrentaram para superarem a situação, o modo como se sentiam, as consequências negativas da violência, bem como formas de superá-las. Para tal, dentre as demais modalidades do Teatro do Oprimido, foi selecionada a técnica do Teatro Fórum, que se refere à dramatização de situações reais, permeadas por conflitos, na qual os espectadores, denominados por Augusto Boal como “espect-atores”, são convidados a participar da encenação, com vistas a construírem soluções, formas de superarem a opressão da situação vivenciada em cena(2121 Boal A. Teatro do Oprimido e outras poéticas políticas. São Paulo: Cosac Naify; 2013.).

Desta forma, a encenação, em um primeiro momento, foi apresentada de forma convencional, em que se mostrou determinada situação de bullying, como uma opressão que se deseja combater. Perguntou-se, em seguida, se os “espect-atores”, estavam de acordo com a solução proposta pelo protagonista na cena. A partir daí, deu-se início ao revezamento com o protagonista, em que foram apresentadas as ideias, as experiências, as vivências e as soluções de enfrentamento propostas pelos “espect-atores”. A intervenção teve duração total de dois meses, realizada em dias alternados. Assim, foram dezesseis dias efetivos de intervenção, em que quatro deles foram destinados aos encontros/reuniões com os grupos de organização da encenação. A realização dos jogos ocorreu em dez dias, e a encenação foi apresentada em dois. Todo o processo de encenação do Teatro Fórum, desde a elaboração até a apresentação, foi mediado por uma das pesquisadoras que possui formação em Teatro do Oprimido.

Para avaliar o envolvimento dos estudantes em situações de bullying, foi utilizada a Escala de Agressão e Vitimização entre Pares - EVAP(77 Weber LND, Dessen MA. Pesquisando a família: instrumentos para a coleta e análise de dados. Curitiba: Juruá; 2009.). Trata-se de um instrumento validado no Brasil, composta por 18 questões relacionadas a comportamentos de bullying no ambiente escolar, cuja aplicação pode ser realizada com alunos desde o 6º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio. Foi aplicado um questionário de caracterização sociodemográfica elaborado para esta pesquisa.

Análise dos resultados e estatística

A análise dos dados foi realizada por meio de estatística descritiva (média e Desvio Padrão). O teste de associação Qui-Quadrado foi utilizado para mensurar a associação entre variáveis categóricas. Para se comparar as variáveis de agressão e vitimização com relação ao tempo (pré e pós) e as escolas (comparação e intervenção), utilizou-se o modelo de Regressão de Poisson, com efeito aleatório. As análises foram realizadas com auxílio do programa SAS 9.3. Considerou-se para todas as análises um nível de significância de 5%, p<0,05.

RESULTADOS

Dentre os 232 adolescentes investigados, 134 (57,8%) compuseram o grupo de intervenção (GI) e 98 (42,2%) constituíram o grupo de comparação (GC). Os dois grupos foram equivalentes em relação à quantidade de meninos, sendo 54,5% no GI e 55,1% no GC. Em relação à idade, a maioria dos participantes do GI tinha 15 anos (57,1%). Já no GC, a idade prevalente foi de 16 anos (44.33%), diferença que não foi estatisticamente significativa (p=0,0666). A cor da pele foi semelhante nos grupos (p=0,0823). GI: pardos (55,6%), negros (27,1%), brancos (15,0%) e amarelos (2,3%). GC: pardos (59,8%), negros (21,6%), brancos (11,3%), amarelos (2,1%) e indígenas (2,2%).

A Tabela 1 apresenta as diferenças obtidas pelo modelo de Regressão de Poisson para as variáveis em relação à agressão e vitimização nos momentos pré e pós-intervenção.

Tabela 1
Comparação entre os grupos (de intervenção e comparação) em relação à agressão e vitimização nos momentos pré e pós-intervenção por meio da Regressão de Poisson, Cuiabá, Mato Grosso, Brasil, 2016

Os resultados indicaram redução não significativa na agressão direta no GI e no GC. A agressão relacional também não reduziu significativamente em ambos os grupos. Porém, agressão indireta diminuiu no GI e aumentou no GC, mas em níveis não significativos. Destaca-se que o GI apresentou redução significativa na vitimização direta (β=0,102, SE=0,045, p=0,02), enquanto que no GC houve aumento, embora sem significância. A vitimização relacional aumentou para os GI e GC em níveis não significativos. A vitimização indireta diminuiu não significativamente nos dois grupos.

DISCUSSÃO

O objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos de uma intervenção baseada no Teatro do Oprimido, na redução do bullying escolar. Os resultados indicaram que a ocorrência de agressão e vitimização direta foi maior em relação à agressão e vitimização relacionais e indiretas, em ambos os grupos investigados (intervenção e comparação). Resultados semelhantes foram identificados por outro estudo nacional realizado em escolas públicas de um estado da região Sul do Brasil, que identificou que as agressões diretas (físicas) foram mais prevalentes do que as agressões psicológicas (relacionais)(2424 Trevisol MTC, Uberti L. Bullying na escola: a compreensão do aluno no papel de testemunha. Psicol Teor Prát. 2015;17(3):164-76. doi: 10.15348/1980-6906/psicologia.v17n3p00-00
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). Situação diferente à identificada em dois estudos realizados nos Estados Unidos, com estudantes de escolas públicas, nos quais as médias de vitimização e agressão relacionais foram superiores às médias de vitimização e agressão físicas(2525 Becker SP, Mehari KR, Langberg JM, Evans SW. Rates of peer victimization in young adolescents with ADHD and associations with internalizing symptoms and self esteem. Eur Child Adolesc Psychiatry. 2017;26(2):201-14. doi: 10.1007/s00787-016-0881-y
https://doi.org/10.1007/s00787-016-0881-...
-2626 Arango A, Opperman KJ, Gipson PY, King CA. Suicidal ideation and suicide attempts among youth who report bully victimization, bully perpetration and/or low social connectedness. J Adolesc. 2016;51:19-29. doi: 10.1016/j.adolescence.2016.05.003
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).

De modo geral, a forma como os estudantes praticam e sofrem bullying se altera ao longo do desenvolvimento. Na infância, prevalecem as agressões físicas. Na adolescência, ocorreram mais as agressões relacionais e indiretas(2727 Silva JL, Oliveira WA, Bazon MR, Cecílio S. Bullying na sala de aula: percepção e intervenção de professores. Arq Bras Psicol [Internet]. 2013 [cited 2017 Sep 12];65(1):121-37. Available from: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-52672013000100009
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
). Talvez isso ocorra porque os adolescentes compreendem melhor a natureza prejudicial do bullying ou porque as agressões por eles praticadas possam ser interpretadas pelos professores como possuindo maior gravidade e, assim, receberem punições mais severas(2828 Mello FCM, Silva JL, Oliveira WA, Prado RR, Malta DC, Silva MAI. The practice of bullying among Brazilian schoolchildren and associated factors, National School Health Survey 2015. Ciênc Saúde Colet. 2017;22(9):2939-48. doi: 10.1590/1413-81232017229.12762017
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), o que colabora para que as agressões ocorram de forma cada vez mais sutil e implícita, o que dificulta a sua identificação e, consequentemente, a responsabilização dos agressores. A constatação de que a agressão física é praticada em maior quantidade nas escolas investigadas neste estudo pode indicar que ela talvez não seja interpretada por um viés normativo pelas autoridades escolares e pelos colegas que não a consideram prejudicial e, por conta disso, não repudiam a sua ocorrência. Assim sendo, são necessárias iniciativas interventivas visando conscientizar professores e colegas sobre os aspectos negativos da violência, bem como sensibilizá-los para que se posicionem a favor da não violência(2929 Silva JL, Oliveira WA, Mello FCM, Andrade LS, Bazon MR, Silva MAI. Anti-bullying interventions in schools: a systematic literature review. Ciênc Saúde Colet. 2017;22(7):2329-40. doi: 10.1590/1413-81232017227.16242015
https://doi.org/10.1590/1413-81232017227...
), tal como a proposta do Teatro do Oprimido.

A esse respeito, um estudo sobre a violência no namoro, que utilizou o Teatro do Oprimido como estratégia de intervenção, identificou aumento das autorreflexões acerca do tema e promoção de respostas não violentas, caracterizando-se como uma estratégia recomendada para utilização em estudos que visem à redução das violências entre os adolescentes(1818 Belknap RA, Haglund K, Felzer H, Pruszynski J, Schneider J. A Theater Intervention to prevent teen dating violence for Mexican-American Middle School students. J Adolesc Health. 2013;53(1):62-7. doi: 10.1016/j.jadohealth.2013.02.006
https://doi.org/10.1016/j.jadohealth.201...
). O Teatro do Oprimido induz o participante a refletir sobre seus conflitos, a melhorar a expressão dialógica e corporal, além de estimular a participação ativa e a autonomia(1919 Oliveira ECS, Araújo MF. Aproximações do Teatro do Oprimido com a psicologia e o psicodrama. Psicol Ciênc Prof. 2012;32(2):340-55. doi: 10.1590/S1414-98932012000200006
https://doi.org/10.1590/S1414-9893201200...
,3030 Silva JJS, Silva PMC, Azevedo EB, Ferreira Filha MO, Cordeiro RC. Desvelando os caminhos do teatro do oprimido como estratégia de reabilitação psicossocial. Rev Pesqui Cuid Fundam Online. 2011;(Supl.):164-75. doi: 10.9789/2175-5361.2011.v0iSupl..164-175
https://doi.org/10.9789/2175-5361.2011.v...
-3131 Oliveira ECS, Araújo MF. O Teatro Fórum como dispositivo de discussão da violência contra a mulher. Estud Psicol (Campinas). 2014;31(2):257-67. doi: 10.1590/0103-166X2014000200011
https://doi.org/10.1590/0103-166X2014000...
). Assim, a participação ativa dos envolvidos, a promoção de criatividade, o pensamento crítico/reflexivo e a expressão da singularidade do adolescente promovem o seu empoderamento como sujeito protagonista de suas ações, mais ativo e autônomo na superação de suas dificuldades. Os resultados do presente estudo comprovaram essas afirmações, uma vez que a vitimização direta (física e verbal) reduziu significativamente no GI após a realização do Teatro do Oprimido.

O Teatro do Oprimido de Boal, por estar diretamente conectado à Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire, tem como principal mecanismo de ação a libertação do oprimido(2020 Baraúna, T. Considerações sobre a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire a Metodologia do Oprimido de Augusto Boal. In: Ligério Z, Turle L, Andrade C, organizadores. Augusto Boal: arte, pedagogia e política. Rio de Janeiro: Mauad X; 2013. p. 187-206.). Assim, o primeiro momento de uma transformação social é marcado, incialmente, pela ação do oprimido em desvelar o mundo da opressão por meio de sua prática e alteração de conduta(2020 Baraúna, T. Considerações sobre a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire a Metodologia do Oprimido de Augusto Boal. In: Ligério Z, Turle L, Andrade C, organizadores. Augusto Boal: arte, pedagogia e política. Rio de Janeiro: Mauad X; 2013. p. 187-206.). Nesta perspectiva, a redução da vitimização pode estar diretamente relacionada à mudança de conduta das vítimas de bullying, após a intervenção, que passaram a desvelar sua opressão, descobrindo a natureza do bullying, os meios pelos quais ele pode ser enfrentado e liberando-se do medo de agir contra a opressão por meio das soluções apresentadas e disponíveis em seu cotidiano(3232 Mavroudis N, Bournelli P. The role of drama in education in counteracting bullying in schools. Cogent Educ. 2016;3(1):1233843. doi: 10.1080/2331186X.2016.1233843
https://doi.org/10.1080/2331186X.2016.12...
).

É importante destacar também que o fato de a intervenção, no presente estudo, não ter apresentado um efeito significativo na redução das agressões e vitimizações físicas indiretas e relacionais, pode ser justificado pelo contexto local da escola pertencente ao GI. Durante a intervenção, observou-se uma tendência ao bullying em sua forma física direta. Os temas e cenas sugeridas e encenadas pelos adolescentes na peça Fórum apresentaram, principalmente, situações de agressões e vitimizações físicas diretas, talvez por essas serem consideradas mais graves pelos estudantes e pela equipe escolar. A esse respeito, outros pesquisadores destacam que a agressão direta representa uma forma de bullying mais evidente na comunidade escolar, provavelmente por suas manifestações serem mais visíveis aos olhos de quem o pratica, sofre suas consequências ou o testemunha(3333 Dalosto MM, Alencar EMLS. Manifestações e prevalência de bullying entre alunos com altas habilidades/superdotação. Rev Bras Educ Espec. 2013;19(3):363-78. doi: 10.1590/S1413-65382013000300005
https://doi.org/10.1590/S1413-6538201300...
-3434 Paixão GPN, Santos NJS, Matos LSL, Santos CKF, Nascimento DE, Bittencourt IS, et al. Violência escolar: percepções de adolescentes. Rev Cuid. 2014;5(2):717-22. doi: 10.15649/cuidarte.v5i2.83
https://doi.org/10.15649/cuidarte.v5i2.8...
).

No que se refere ao efeito da intervenção na agressão direta, no México, identificou-se situação semelhante no presente estudo. Após a intervenção, houve uma redução do bullying em frequência e intensidade, porém a agressão em sua forma direta não diminuiu(3535 Sánchez RY. Intervención educativa para resolver un caso de acoso escolar. Psicol Esc Educ. 2013;17(2):339-54. doi: 10.1590/S1413-85572013000200016
https://doi.org/10.1590/S1413-8557201300...
). No Brasil, pesquisadores identificaram uma redução das agressões em sua forma direta, porém a intervenção teve efeito paliativo, reduzindo as situações de bullying apenas por alguns dias e semanas(3636 Santos AM, Grossi PK, Scherer PT. Bullying nas escolas: a metodologia dos círculos restaurativos. Educação (Porto Alegre) [Internet]. 2014 [cited 2018 Jul 03]; 37(2):278-87. Available from: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/faced/article/view/14495
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/...
). No entanto, outros pesquisadores que utilizaram intervenções antibullying multidimensionais, incluindo outras atividades além da dramatização e envolvimento de outros atores sociais além dos adolescentes, tais como professores, pais e demais profissionais, identificaram uma redução da agressão direta logo após a intervenção(3737 Mendes CS. Preventing school violence: an evaluation of an intervention program. Rev Esc Enferm USP. 2011;45(3):580-7. doi: 10.1590/S0080-62342011000300005
https://doi.org/10.1590/S0080-6234201100...

38 Nese RNT, Horner RH, Dickey CR, Stiller B, Tomlanovich A. Decreasing Bullying Behaviors in Middle School: Expect Respect. Sch Psychol Q. 2014;29(3):272-86. doi: 10.1037/spq0000070
https://doi.org/10.1037/spq0000070...
-3939 Stelko-Pereira AC, Williams LCA. Evaluation of a Brazilian School Violence Prevention Program (Violência Nota Zero). Pensam Psicol. 2016;14(1):63-76. doi: 10.11144/Javerianacali.PPSI14-1.ebsv
https://doi.org/10.11144/Javerianacali.P...
).

Em nível nacional, o Brasil tem avançado na realização de estudos, com o intuito de testar formas e estratégias de combater e prevenir a violência escolar. No entanto, ainda apresenta uma lacuna no que concerne a realização de estudos de intervenção na prevenção do bullying, especificamente(11 Pigozi PL, Machado AL. Bullying during adolescence in Brazil: an overview. Ciênc Saúde Colet. 2015;20(11):3509-22. doi: 10.1590/1413-812320152011.05292014
https://doi.org/10.1590/1413-81232015201...
). O Teatro do Oprimido, portanto, pode ser assumido como uma possibilidade concreta de prevenção e enfrentamento desse fenômeno nas escolas, especialmente considerando-se que as consequências do bullying vão além dos danos físicos, incluindo outros prejuízos emocionais, como depressão, ideação suicida, abandono escolar, déficit de atenção, transtornos de ansiedade, interferência nas relações sociais e familiares, entre outros que podem perdurar até a vida adulta(4040 Silva JL, Oliveira WA, Bono EL, Dib MA, Bazon MR, Silva MAI. Associações entre bullying escolar e conduta infracional: revisão sistemática de estudos longitudinais. Psic Teor Pesq. 2016;32(1):81-90. doi: 10.1590/0102-37722016012241081090
https://doi.org/10.1590/0102-37722016012...
). Outras intervenções antibullying desenvolvidas com dramatização também apresentaram resultados positivos(1717 Joronen K, Häkämies A, Astedt-Kurki P. Children's experiences of a drama programme in social and emotional learning. Scand J Caring Sci. 2011;25(4):671-8. doi: 10.1111/j.1471-6712.2011.00877.x
https://doi.org/10.1111/j.1471-6712.2011...
,4141 Fredland NM. Nurturing healthy relationships through a community-based Interactive Theater Program. J Community Health Nurs. 2010;27(2):107-18. doi: 10.1080/07370011003705013
https://doi.org/10.1080/0737001100370501...
) comprovando a eficácia deste tipo de intervenção.

Limitações do estudo

Os resultados do presente estudo devem ser interpretados considerando-se algumas limitações. A primeira elas é que a avaliação pós-intervenção ocorreu imediatamente após o término das ações do Teatro do Oprimido. O mais indicado seria a existência de um intervalo de tempo maior, uma vez que mudanças comportamentais demandam maior tempo para se efetivarem nas relações sociais. Outra limitação relaciona-se ao instrumento utilizado na coleta de dados que não inclui o cyberbullying entre as variáveis investigadas, um tipo de agressão que tem aumentado na atualidade, devido ao maior acesso dos estudantes à internet e ao maior anonimato que esse tipo de agressão proporciona(4242 Lee C, Shin N. Prevalence of cyberbullying and predictors of cyberbullying perpetration among Korean adolescents. Comput Human Behav. 2017;68:352-8. doi: 10.1016/j.chb.2016.11.047
https://doi.org/10.1016/j.chb.2016.11.04...
). Pesquisas futuras podem superar estas limitações, ao adotarem um tempo maior entre as medidas pré-intervenção e pós-intervenção e ao utilizarem instrumentos para coleta de dados que também mensurem a ocorrência de cyberbullying. Além disso, o presente estudo não contemplou uma análise das impressões dos adolescentes em relação à intervenção e quais foram as estratégias de enfrentamento do bullying, após a prática educativa com a metodologia teatral utilizada. Apesar das limitações identificadas, a intervenção baseada no Teatro do Oprimido foi estatisticamente bem-sucedida na redução do bullying a curto prazo, especialmente considerando-se que no período de transição escolar, como o abordado neste estudo, ocorrem mais agressões.

Contribuições para a área da Enfermagem e Saúde

É importante ressaltar que a qualidade das interações sociais entre crianças e adolescentes na escola e as situações de violência, como o bullying, são temas relevantes não somente para a educação, mas também para a Saúde e a Enfermagem. O bullying desponta, assim, como um tema transversal que requer a adoção de estratégias de intervenção que promovam o empoderamento individual dos estudantes, alterando o modo como as relações são estabelecidas no ambiente educacional enquanto espaço coletivo(4343 Silva MAI, Silva JL, Pereira BO, Oliveira WA, Medeiros M. The view of teachers on bullying and implications for nursing. Rev Esc Enferm USP. 2014;48(4):723-30. doi: 10.1590/S0080-623420140000400021
https://doi.org/10.1590/S0080-6234201400...
). Trata-se de uma perspectiva importante para as práticas de educação e promoção de saúde na escola, pois o empoderamento individual permite o desenvolvimento do empoderamento comunitário (coletivo), exercendo efeitos positivos na aprendizagem, saúde e qualidade de vida dos estudantes(4444 Carlos DM, Pádua EMM, Silva LMP, Silva MAI, Marques WEU, Leitão MNC, et al. The care network of the families involved in family violence against children and adoles-cents: the Primary Health Care perspective. J Clin Nurs. 2017;26(15-16):2452-67. doi: 10.1111/jocn.13692
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). Melhorias na qualidade das interações sociais dos estudantes podem ser desenvolvidas por enfermeiros como estímulo ao estabelecimento de uma cultura de não violência na escola e, assim, reduzir a ocorrência de bullying, especialmente considerando-se que a atuação intersetorial desses profissionais na área de violência contra crianças e adolescentes ainda representa um desafio(4444 Carlos DM, Pádua EMM, Silva LMP, Silva MAI, Marques WEU, Leitão MNC, et al. The care network of the families involved in family violence against children and adoles-cents: the Primary Health Care perspective. J Clin Nurs. 2017;26(15-16):2452-67. doi: 10.1111/jocn.13692
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). Acreditamos que este estudo traz novas contribuições, à medida que insere a possibilidade da atuação do enfermeiro por meio de uma prática intersetorial direcionada pelo cuidado integral que se baseia em ações dentro de um modelo dialógico e crítico de educação em saúde. O Teatro do Oprimido desponta, desse modo, como uma estratégia que pode ser incorporada à prática dos profissionais da Enfermagem em atuação intersetorial.

CONCLUSÃO

A vitimização direta reduziu significativamente no grupo que participou da intervenção baseada no Teatro do Oprimido. Evidenciou-se que ele representa uma metodologia que pode auxiliar positivamente nas ações de prevenção e enfrentamento do bullying entre adolescentes escolares, por favorecer o empoderamento dos estudantes mediante a melhoria de suas interações e qualidade de vida na escola. Assim, é necessário que as áreas de educação e saúde, em especial a Enfermagem na Atenção Básica, enquanto práticas sociais, contribuam para a produção do conhecimento científico no campo de violência escolar, ampliem seus conhecimentos, apropriem de novas teorias e práticas. Na escola, (re)construam um modelo de atenção à criança e ao adolescente que atue na prevenção e minimização do bullying.

  • FOMENTO
    Este estudo teve auxílio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso – FAPEMAT, por meio de bolsa na modalidade Doutorado (Processo nº 152854/2015) e foi financiado pelo processo nº 2018/04570-0 da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

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Editado por

EDITOR CHEFE: Dulce Aparecida Barbosa
EDITOR ASSOCIADO: Cristina Parada

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Fev 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    16 Jan 2018
  • Aceito
    18 Ago 2018
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