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Uso da Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem na construção de protocolo de cuidados

RESUMO

Objetivos:

descrever a utilização da Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE®) na construção de protocolo de cuidados de enfermagem à criança submetida ao transplante de células-tronco hematopoiéticas.

Métodos:

relato de experiência.

Resultados:

os problemas de enfermagem foram delimitados com base em complicações identificadas em estudo anterior; posteriormente, a CIPE® possibilitou a organização e sistematização do cuidado à criança. O protocolo de cuidados é composto por 40 problemas de enfermagem, com respectivas necessidades humanas afetadas, diagnósticos e intervenções de enfermagem. Os eixos Foco, Julgamento, Localização, Ação, Meios, Tempo e Cliente foram utilizados na elaboração de diagnósticos e intervenções propostos no protocolo. Considerações Finais: o uso da classificação permitiu o estabelecimento de intervenções de enfermagem compatíveis com as necessidades da criança submetida ao transplante, fornecendo sustentação ao protocolo de cuidados. Possibilitou incitar o uso da classificação nesse contexto, contribuir com a segurança do paciente e fortalecer a prática profissional.

Descritores:
Terminologia Padronizada em Enfermagem; Cuidados de Enfermagem; Transplante de Células-Tronco Hematopoiéticas; Protocolos Clínicos; Assistência Centrada no Paciente

ABSTRACT

Objectives:

to describe the use of the International Classification for Nursing Practice (ICNP®) in the construction of a nursing care protocol for children undergoing hematopoietic stem cell transplantation.

Methods:

experience report.

Results:

nursing problems were defined based on complications identified in a previous study; later, the ICNP® enabled the organization and systematization of childcare. The care protocol consists of 40 nursing problems, with their human needs affected, diagnoses and nursing interventions. The axes Focus, Judgment, Location, Action, Means, Time, and Client were used in the elaboration of diagnoses and interventions proposed in the protocol. Final Considerations: the use of the classification allowed the establishment of nursing interventions compatible with the needs of the child undergoing transplantation, providing support for the care protocol. It made it possible to encourage the use of classification in this context, contribute to patient safety and strengthen professional practice.

Descriptors:
Standardized Nursing Terminology; Nursing Care; Hematopoietic Stem Cell Transplantation; Clinical Protocols; Patient-Centered Care

RESUMEN

Objetivos:

describir utilización de la Clasificación Internacional para la Práctica de Enfermería (CIPE®) en la construcción de protocolo de cuidados de enfermería al niño sometido al trasplante de células madre hematopoyéticas.

Métodos:

relato de experiencia.

Resultados:

los problemas de enfermería delimitados basados en complicaciones identificadas en estudio anterior; posteriormente, la CIPE® posibilitó la organización y sistematización del cuidado al niño. Protocolo de cuidados es compuesto por 40 problemas de enfermería, con respectivas necesidades humanas afectadas, diagnósticos e intervenciones de enfermería. Ejes Enfoque, Juicio, Ubicación, Acción, Medios, Tiempo y Cliente utilizados en la elaboración de diagnósticos e intervenciones propuestos en el protocolo. Consideraciones Finales: utilización de la clasificación permitió el establecimiento de intervenciones de enfermería compatibles con las necesidades del niño sometido al trasplante, ofreciendo sostenimiento al protocolo de cuidados. Posibilitó incitar el uso de la clasificación en ese contexto, contribuir con la seguridad del paciente y fortalecer la práctica profesional.

Descriptores:
Terminología Normalizada de Enfermería; Atención de Enfermería; Trasplante de Células Madre Hematopoyéticas; Protocolos Clínicos; Atención Dirigida al Paciente

INTRODUÇÃO

A Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE®) é uma terminologia enumerativa e combinatória, que caracteriza a prática profissional, sendo reconhecida, validada e utilizada mundialmente. Diante das necessidades de pessoas, famílias ou comunidades, a CIPE® elenca termos que representam os principais elementos da prática de enfermagem: os diagnósticos, resultados e intervenções de enfermagem(11 Garcia TR, Nóbrega MML, Cubas MR. CIPE®: uma linguagem padronizada para a prática profissional. In: Garcia TR, (Org.). Classificação internacional para a prática de enfermagem: versão 2019/2020. Porto Alegre: Artmed; 2020, p. 21-34.-22 Beserra PJF, Gomes GLL, Santos MCF, Bittencourt GKGD, Nóbrega MML. Scientific production of the International Classification for Nursing Practice: a bibliometric study. Rev Bras Enferm. 2018;71(6):2860-8. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-041
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).

O uso da CIPE® deve ser estimulado na prática profissional de enfermeiros, seja no ensino, seja na assistência ou pesquisa em enfermagem. Dessa forma, a elaboração de protocolo de cuidados pautado na CIPE® pode auxiliar na propagação da terminologia, bem como no registro padronizado do processo de enfermagem e tomada de decisão clínica pelo enfermeiro, direcionando a assistência realizada pela equipe de enfermagem. Ademais, o uso da CIPE® pode contribuir para prática segura do cuidado(33 Querido DL, Christoffel MM, Nóbrega MML, Almeida VS, Andrade M, Esteves APVS. Terminological subsets of the International Classification for Nursing Practice: an integrative literature review. Rev Esc Enferm USP. 2019;53:e03522. https://doi.org/10.1590/S1980-220X2018030103522
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). Ressalta-se que um protocolo de cuidados é instrumento que pode contribuir com a segurança do paciente por meio da sistematização do cuidado e que objetiva prevenir danos evitáveis ou mesmo reais, além de reduzir o risco de eventos adversos(44 Santos T, Cruz EDA, Pontes L, Abi AXCF. Protocol for the safe use of medications in a bone marrow transplant service. Cogitare Enferm. 2020;25:e63859. https://doi.org/10.5380/ce.v25i0.63859
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).

Pautando-se no entendimento de que a CIPE® é aplicável nos diferentes cenários da prática de enfermagem, sua utilização no transplante de células-tronco hematopoiéticas (TCTH), especificamente para a criança, foi ponderada. A diversidade de possibilidades para construção de diagnósticos e intervenções de enfermagem proporcionados pela CIPE®, compatíveis com o perfil de paciente com múltiplas necessidades, motivou a escolha dessa terminologia para elencar diagnósticos e cuidados incluídos em um protocolo. Soma-se a isso, o fato de que a prática de enfermagem em TCTH carece de instrumental capaz de nortear o cuidado(55 Rodrigues JAP, Lacerda MR, Gomes IM, Paes MR, Ribeiro RP, Bonfim CMS. Clinical profile of children undergoing hematopoietic stem cell transplantation. Cogitare Enferm. 2019;24:e55967. https://doi.org/10.5380/ce.v24i0.55967
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).

Cabe destacar que o paciente submetido ao TCTH apresenta risco elevado de complicações, impactos físicos e sociais decorrentes do tratamento, assim como demanda intervenções de enfermagem específicas e qualificadas(55 Rodrigues JAP, Lacerda MR, Gomes IM, Paes MR, Ribeiro RP, Bonfim CMS. Clinical profile of children undergoing hematopoietic stem cell transplantation. Cogitare Enferm. 2019;24:e55967. https://doi.org/10.5380/ce.v24i0.55967
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). Por isso, o estabelecimento de diagnósticos e intervenções pautados na CIPE® pode ajudar no processo de recuperação nas diferentes esferas (psicobiológica, psicossocial e psicoespiritual). Além disso, aponta-se a escassez de estudos que exemplifiquem o uso da CIPE® na construção de diagnósticos e intervenções de enfermagem para compor protocolo de cuidados.

OBJETIVOS

Descrever a utilização da CIPE® na construção de protocolo de cuidados de enfermagem à criança submetida ao TCTH.

MÉTODOS

Aspectos éticos

Os preceitos éticos das resoluções 466/2012 e 510/2016, como sigilo e anonimato, foram respeitados; e o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa, para as fases que envolveram a participação de profissionais.

Tipo de estudo

Trata-se de relato de experiência da estruturação teórica de conhecimento produzido pela Teoria das Necessidades Humanas Básicas (TNHB) e pela CIPE®, em que problemas de enfermagem, identificados em crianças, foram correlacionados a diagnósticos e intervenções.

Referencial teórico

Além da CIPE®, a construção de diagnósticos e intervenções de enfermagem foi pautada nas necessidades humanas básicas afetadas, correlacionadas às principais intercorrências e complicações encontradas em crianças submetidas ao TCTH, as quais foram identificadas em estudo de perfil clínico anterior, que fez parte de pesquisa relatada em dissertação de mestrado(5).

As necessidades humanas básicas, conforme propõe Wanda Horta, foram divididas em psicobiológicas, psicossociais e psicoespirituais. Dessa forma, o modelo de Wanda Horta, utilizado como referencial na instituição de saúde onde o estudo anterior de perfil foi conduzido, permitiu organizar os problemas e diagnósticos, sendo, posteriormente, apontadas as intervenções de enfermagem para o atendimento das necessidades afetadas.

Cenário do estudo

A elaboração do protocolo de cuidados de enfermagem ocorreu em Serviço de Transplante de Medula Óssea de hospital universitário localizado na Região Sul do Brasil. A população-alvo são crianças submetidas ao TCTH, com até 12 anos incompletos.

Coleta e organização dos dados

Para organização e desenvolvimento da etapa de construção do protocolo de cuidados, um quadro com as necessidades humanas básicas primárias foi elaborado, de acordo com a descrição na TNHB.

Em sequência, os problemas de enfermagem (representados pelas principais intercorrências e complicações identificadas em crianças transplantadas), as necessidades humanas afetadas em decorrência da necessidade primária, os diagnósticos (com uso da ISO 18.104), bem como intervenções/cuidados de enfermagem foram elencados com base em leitura minuciosa de todos os eixos constantes na CIPE® e seleção daqueles que apresentavam consonância com os problemas de enfermagem inicialmente identificados. Essa etapa contou com a experiência de enfermeira especialista da prática em TCTH e foi realizada em setembro de 2019.

Destaca-se que, embora a CIPE® adote o termo-conceito “intervenção de enfermagem”, optou-se, na construção do protocolo de cuidados à criança submetida ao TCTH, pelo uso da terminologia “cuidado de enfermagem”, por se considerar menos técnico e mais compatível com o contexto do TCTH. Além disso, foi realizada uma adaptação, com uso de termos sinônimos, de acordo com o cenário e instituição, a fim de tornar os termos mais claros e compatíveis com os já utilizados pela instituição.

Após essa construção, uma primeira versão do protocolo de cuidados foi submetida à análise semântica ou de compreensão dos itens por comitê de especialistas, composto por três enfermeiras atuantes em TCTH, além de uma das autoras deste relato. Nessa fase, houve a nova adaptação do vocabulário do protocolo de cuidados, para facilitar o entendimento por enfermeiros de TCTH, população que utilizará a tecnologia. Posteriormente, o protocolo foi submetido a juízes para validação de conteúdo.

RESULTADOS

O protocolo de cuidados construído é composto por 40 problemas de enfermagem, com as respectivas necessidades humanas afetadas, diagnósticos e intervenções de enfermagem, elencados com auxílio da CIPE®.

A versão da CIPE® utilizada na construção foi a de 2017, sendo lida na íntegra e exaustivamente. Ela mantém o modelo de sete eixos: Foco, Julgamento, Meios, Ação, Tempo, Localização e Cliente. Da composição da terminologia, fazem parte dez conceitos organizadores; 1.915 conceitos pré-coordenados (que incluem diagnósticos/resultados de enfermagem e intervenções de enfermagem) e 2.401 conceitos primitivos (que incluem Foco, Julgamento, Ação, Localização, Meios, Tempo e Cliente)(11 Garcia TR, Nóbrega MML, Cubas MR. CIPE®: uma linguagem padronizada para a prática profissional. In: Garcia TR, (Org.). Classificação internacional para a prática de enfermagem: versão 2019/2020. Porto Alegre: Artmed; 2020, p. 21-34.). Em virtude da publicação da versão 2019-2020, todos os diagnósticos e intervenções construídos foram revistos e adaptados à nova versão.

Dos eixos constantes na CIPE®, Foco é definido como área de atenção importante para a enfermagem; Julgamento é a opinião clínica relacionada ao foco da prática de enfermagem; Meios é a forma ou método de realizar uma intervenção; Ação é o processo intencional aplicado ou desempenhado por um cliente; Tempo é o instante, momento, período, duração ou intervalo de uma ocorrência; Localização é a orientação anatômica ou espacial de um diagnóstico ou intervenção; Cliente é o indivíduo a quem o diagnóstico se refere e que é o beneficiário de uma intervenção de enfermagem(11 Garcia TR, Nóbrega MML, Cubas MR. CIPE®: uma linguagem padronizada para a prática profissional. In: Garcia TR, (Org.). Classificação internacional para a prática de enfermagem: versão 2019/2020. Porto Alegre: Artmed; 2020, p. 21-34.).

O diagnóstico de enfermagem é um nome dado a um evento, achado, situação ou outra condição de saúde que indica a necessidade de atenção por parte do enfermeiro. Assim, o diagnóstico pode ser expresso como o julgamento sobre um foco ou uma simples expressão de achado clínico que representa um processo, estado, função, comportamento ou estrutura alterados observada em um indivíduo(11 Garcia TR, Nóbrega MML, Cubas MR. CIPE®: uma linguagem padronizada para a prática profissional. In: Garcia TR, (Org.). Classificação internacional para a prática de enfermagem: versão 2019/2020. Porto Alegre: Artmed; 2020, p. 21-34.,66 Silva RS, Pereira A, Nóbrega MML, Mussi FC. Construction and validation of nursing diagnoses for people in palliative care. Rev Latino-Am Enfermagem. 2017;25:e2914. https://doi.org/10.1590/1518-8345.1862.2914
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).

Um exemplo de julgamento sobre um foco seria Integridade da Pele Prejudicada. O foco pode ainda seguir pelo local em que ocorre (p.ex., calcâneo esquerdo). Uma afirmativa diagnóstica de enfermagem pode ainda vir acompanhada de um potencial associado (risco de ou chance de), no qual o “risco” está associado a um potencial de ocorrência de um diagnóstico negativo, e “chance de”, a um diagnóstico positivo(11 Garcia TR, Nóbrega MML, Cubas MR. CIPE®: uma linguagem padronizada para a prática profissional. In: Garcia TR, (Org.). Classificação internacional para a prática de enfermagem: versão 2019/2020. Porto Alegre: Artmed; 2020, p. 21-34.), sendo que ambos os potenciais associados são utilizados no protocolo.

O diagnóstico pode também ser acompanhado do sujeito da informação (p.ex., estresse do cuidador)(11 Garcia TR, Nóbrega MML, Cubas MR. CIPE®: uma linguagem padronizada para a prática profissional. In: Garcia TR, (Org.). Classificação internacional para a prática de enfermagem: versão 2019/2020. Porto Alegre: Artmed; 2020, p. 21-34.). Nessa perspectiva, o entendimento foi de que os sujeitos das intervenções são as crianças e seus cuidadores, os quais são personagens inerentes ao processo do TCTH.

Quanto à ação de enfermagem, a afirmativa de uma ação deve englobar um descritor para a ação e um descritor-alvo, minimamente (p.ex., remover o curativo da ferida)(11 Garcia TR, Nóbrega MML, Cubas MR. CIPE®: uma linguagem padronizada para a prática profissional. In: Garcia TR, (Org.). Classificação internacional para a prática de enfermagem: versão 2019/2020. Porto Alegre: Artmed; 2020, p. 21-34.).

Na construção de diagnósticos, os eixos que puderam ser utilizados foram Foco, Julgamento, Localização e Cliente, os quais permitiram o direcionamento e planejamento das intervenções. Na construção das intervenções, puderam ser utilizados os eixos Ação, Foco, Localização, Meios, Tempo e Cliente, a fim de que a intervenção fosse descrita de forma clara.

Com base nas complicações do TCTH, os problemas de enfermagem foram considerados, e os diagnósticos, estabelecidos, havendo correspondência entre eles pelo próprio termo ou por atributo de sua definição. Ao estabelecer o diagnóstico, apoiando-se em termos da CIPE®, as intervenções foram delimitadas. Elas direcionaram o cuidado para o atendimento da necessidade afetada, numa perspectiva de complexidade de problemas humanos e interdependência entre eles, inerente ao TCTH, buscando-se manter a base de termos da classificação.

Os cuidados foram divididos em cuidados gerais, quando cabíveis, sendo realizados pela equipe de enfermagem; e cuidados de orientação, que são orientados pela equipe para serem realizados pelos cuidadores, em domicílio. Um exemplo de diagnósticos e cuidados de enfermagem estabelecidos com base na CIPE® pode ser visualizado no Quadro 1.

Quadro 1
Exemplo de diagnósticos e cuidados de enfermagem à criança no pós-transplante de células-tronco hematopoiéticas, estruturados com base na Teoria das Necessidades Humanas Básicas e na Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem, Curitiba, Paraná, Brasil, 2020

DISCUSSÃO

A inclusão de terminologia padronizada em protocolo de cuidados pode ser considerada como estratégia tecnológica de uso da classificação. Na literatura, as evidências geradas indicam que o uso da CIPE® colabora com a evolução e fortalecimento da terminologia, reconhecimento e visibilidade profissional, bem como com a promoção de intercâmbio de informações entre os enfermeiros e outras categorias profissionais. Ademais, favorece a prática de enfermagem embasada cientificamente, a aplicação do processo de enfermagem e a validação da eficácia dos serviços de enfermagem(22 Beserra PJF, Gomes GLL, Santos MCF, Bittencourt GKGD, Nóbrega MML. Scientific production of the International Classification for Nursing Practice: a bibliometric study. Rev Bras Enferm. 2018;71(6):2860-8. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-041
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,77 Clares JWB, Guedes MVC, Freitas MC. International classification for nursing practice in Brazilian dissertations and theses. Rev Eletron Enferm. 2020;22:56262. https://doi.org/10.5216/ree.v22.56262
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-88 Oreofe AI, Oyenike AM. Transforming practice through nursing innovative patient centered care: standardized nursing languages. Intern J Caring Sci. 2018[cited 2020 Jul 20];11(2):1319-22. Available from: https://search.proquest.com/docview/2148638685?pq-origsite=gscholar&fromopenview=true
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).

O uso da CIPE® foi investigado por meio de estudos que foram desenvolvidos em programas de pósgraduação stricto sensu (dissertações e teses) e que estão direcionados para a prática assistencial e do tipo pesquisa metodológica. Há evidências sobre a carência do uso da CIPE® em áreas críticas, como o TCTH, estudos com a população de crianças e produzidos nas Regiões Norte e Sul do país(22 Beserra PJF, Gomes GLL, Santos MCF, Bittencourt GKGD, Nóbrega MML. Scientific production of the International Classification for Nursing Practice: a bibliometric study. Rev Bras Enferm. 2018;71(6):2860-8. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-041
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,77 Clares JWB, Guedes MVC, Freitas MC. International classification for nursing practice in Brazilian dissertations and theses. Rev Eletron Enferm. 2020;22:56262. https://doi.org/10.5216/ree.v22.56262
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).

A CIPE® também foi utilizada para a construção de diagnósticos de enfermagem no cenário de cuidados paliativos, conforme recomenda a ISO 18.104. Os diagnósticos incluíram desde sintomas físicos (dor, náusea, fadiga, respiração prejudicada) a psicológicos (desesperança, falta de apoio da família, tristeza crônica)(66 Silva RS, Pereira A, Nóbrega MML, Mussi FC. Construction and validation of nursing diagnoses for people in palliative care. Rev Latino-Am Enfermagem. 2017;25:e2914. https://doi.org/10.1590/1518-8345.1862.2914
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), conforme também ocorreu na construção do protocolo de cuidados mencionado neste relato. Nesse sentido, a CIPE® permite integrar as diferentes esferas de necessidades apresentadas por pacientes com demanda de cuidados considerada complexa.

Ainda, destaca-se que o estabelecimento de diagnósticos de enfermagem pautados na terminologia CIPE® permite a definição de intervenções e resultados adequados(99 Vieira MM, Oliveira DMN, Carvalho MWA, Nóbrega MML. Diagnostics, results and nursing interventions for patients in the surgical clinic of a university hospital. J Nurs UFPE. 2016;10(12):4517-23. https://doi.org/10.5205/1981-8963-v10i12a11518p4517-4523-2016
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), sendo considerada etapa crucial para o cuidado integral e individualizado.

Em outra pesquisa, os diagnósticos, intervenções e resultados de enfermagem com base na CIPE® foram identificados em adultos hospitalizados em clínica cirúrgica, os quais foram divididos segundo necessidades psicobiológicas, psicossociais e psicoespirituais. Entre os diagnósticos estabelecidos, ressaltam-se Risco de Infecção, Deambulação Prejudicada, Integridade da Pele Prejudicada, Ansiedade, Sono e Repouso Prejudicados. A monitorização dos sinais vitais e sintomas de infecção, uso de técnicas assépticas, supervisão da pele, oferecimento de apoio psicológico e ensino da técnica de relaxamento foram algumas das intervenções apontadas(99 Vieira MM, Oliveira DMN, Carvalho MWA, Nóbrega MML. Diagnostics, results and nursing interventions for patients in the surgical clinic of a university hospital. J Nurs UFPE. 2016;10(12):4517-23. https://doi.org/10.5205/1981-8963-v10i12a11518p4517-4523-2016
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). A relação entre distintos cenários de prática da enfermagem com a TNHB encontra representação na diversidade de termos dispostos pela CIPE®, a qual, por princípio, não se baseia em modelo teórico definido previamente.

A CIPE® é considerada terminologia complexa, pois inclui os diagnósticos, intervenções e resultados de enfermagem. Além disso, permite a melhoria da precisão na documentação dos cuidados de enfermagem. Contudo, aponta-se que é pouco utilizada, sendo seu uso, por vezes, não reconhecido pela categoria. Destaca-se que o enfermeiro deve ter conhecimento sobre terminologias padronizadas para registro do processo de enfermagem, bem como identificar as necessidades de ajustes dos termos padronizados à situação específica do paciente(1010 De Groot K, De Veer AJE, Paans W, Francke AL. Use of electronic health records and standardized terminologies: a nationwide survey of nursing staff experiences. Int J Nurs Stud. 2020;104:103523. https://doi.org/10.1016/j.ijnurstu.2020.103523
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), desde que respeitada a estrutura hierárquica e suas definições.

No TCTH, diferentes intercorrências são esperadas, como a toxicidade do condicionamento (preparação para o transplante) e alterações hepáticas. Nesse sentido, a inclusão do monitoramento do funcionamento dos diferentes sistemas corporais — com base nas opções constantes no eixo Foco da classificação, bem como os verbos, pertencentes ao eixo Ação — permitiu os ajustes necessários para o protocolo de cuidados, sendo fundamental para a avaliação da condição clínica da criança submetida ao transplante.

Nota-se que existe preocupação em sustentar teoricamente e na prática clínica a assistência de enfermagem por meio do uso da CIPE®, o que pode contribuir com a melhoria do cuidado. A classificação é versátil, possibilita padronizar a documentação do cuidado de enfermagem e a interpretação de dados em âmbito internacional, bem como torna o processo de enfermagem claro e compreensível para os enfermeiros de diferentes áreas de atuação(22 Beserra PJF, Gomes GLL, Santos MCF, Bittencourt GKGD, Nóbrega MML. Scientific production of the International Classification for Nursing Practice: a bibliometric study. Rev Bras Enferm. 2018;71(6):2860-8. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-041
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).

Limitações do estudo

A ausência de implementação do protocolo de cuidados no serviço de saúde, sustentado na CIPE®, para avaliar seu potencial na prática profissional é etapa ainda não realizada, portanto pode ser considerada como limitação do presente relato.

Contribuições para a área da enfermagem

Este relato demonstra como a CIPE®, terminologia validada e reconhecida internacionalmente, pode ser adaptada e utilizada na prática profissional de enfermagem em TCTH, compondo uma ferramenta para o cuidado, a fim de sustentá-lo teórica e cientificamente — além do fato de que ela é compatível com as necessidades do perfil de pacientes em questão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A construção de protocolo de cuidados baseado na CIPE® possibilitou o embasamento técnico e científico da ferramenta, bem como a apropriação da nomenclatura e subsídios para a melhoria do cuidado de enfermagem no TCTH. Permitiu, ainda, propagar para a comunidade acadêmica e profissional as necessidades da criança submetida ao transplante.

Como limitação, pontua-se o uso da CIPE® em protocolo de cuidados específico, no cenário do TCTH, no qual o paciente tem comportamento característico no processo de adoecimento, tratamento e cuidados. Diante do exposto, aponta-se a necessidade da implementação do protocolo de cuidados elaborado, a fim de verificar a exequibilidade de uso da terminologia.

Destaca-se que o registro padronizado com uso da CIPE® confere potencialidade à segurança do paciente, aos resultados da assistência de enfermagem e à visibilidade profissional.

MATERIAL SUPLEMENTAR

O manuscrito tem dados de pesquisa disponíveis no URL: https://www.prppg.ufpr.br/siga/visitante/trabalhoConclusaoWS?idpessoal=28439&idprograma=40001016045P7&anobase=2020&idtc=129

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Editado por

EDITOR CHEFE: Antonio José de Almeida Filho
EDITOR ASSOCIADO: Alexandre Balsanelli

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Mar 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    04 Ago 2021
  • Aceito
    01 Dez 2021
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