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Os 40 anos do PPGE: o que temos a comemorar?

Segundo Cortella(101 Cortella MS. Não espere pelo Epitáfio: provocações filosóficas. Petrópolis: Vozes; 2005), a palavra comemorar remete quase sempre ao verbo festejar; entretanto, comemorar significa memorar com os outros ou, em outras palavras, lembrar junto, o que não implica exclusivamente numa recordação festiva. No entanto, na nossa sociedade, especialmente no uso cotidiano, comemorar é mais usado no seu primeiro sentido, rememorar com festa, festejar(202 Houaiss. Grande dicionário eletrônico HouaissBeta da língua portuguesa [Internet]. Rio de Janeiro: Objetiva; 2009 [citado 2014 jul. 20]. Disponível em: http://houaiss.uol.com.br/busca?palavra=comemorar
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).

Neste editorial, ao nos referirmos ao 40° aniversário do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGE), vamos fazê-lo com esse duplo sentido. E mais: atendendo ao apelo da marchinha de carnaval de autoria de Aldacir Marins e Macedo (1955), nessas breves palavras, vamos recordar e viver flagrantes de um dos programas de pós-graduação mais antigos – e históricos – da Enfermagem Brasileira.

Criado em 1973, “para cumprir a exigência legal de qualificação docente para o ensino superior, havia a necessidade política de atender a essa demanda e facilitar o acesso à educação superior nos centros urbanos mais populosos. O Programa de Pós-Graduação vinha exatamente atender a exigência de formação acadêmica daqueles que já estavam vinculados com o ensino superior ou pretendiam nele ingressar”(303 Oguisso T, Tsunechiro MA. História da Pós-Graduação na Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2005 [citado 2014 jul. 20];39(n.esp):522-34. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v39nspe/v39nspea04.pdf
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). Nunca se desviou de seu mote original, cumprindo a missão de: 1) capacitar enfermeiros e outros profissionais da saúde para os processos de produção do saber e de atualização científica, de modo a impulsionar o avanço de conhecimento inovador; 2) gerar transformações nas práticas assistenciais e gerenciais em enfermagem e saúde, integrando conhecimentos da ciência de enfermagem aos de outras disciplinas.

Para tanto, em quatro décadas, foram muitas e criativas as medidas tomadas para o enfrentamento dos desafios e das dificuldades do seu processo de implementação e desenvolvimento. Dentre elas, tentar superar a permanente contradição entre os recursos existentes – em especial, humanos – e as necessidades vinculadas à concretização das atividades de ensino e pesquisa. Como se sabe, todo crescimento implica em ampliação de compromissos na busca de horizontes mais longínquos, mas quase sempre, e quase como regra, inexistem, proporcionalmente, recursos suficientes.

A última reformulação do PPGE, em 2010, estabeleceu a sua atual estrutura, constituída por um núcleo denominado Bases teóricas e metodológicas que fundamentam o cuidado em enfermagem e em saúde e dois eixos norteadores: Políticas públicas de saúde e de recursos humanos em enfermagem e em saúde e Processo saúde-doença de indivíduos, famílias, grupos sociais e coletividade. Os eixos, que circundam o núcleo descrito, têm interfaces com a Área de Concentração: Cuidado em Saúde.

Orientado à formação de profissionais capazes de impulsionar a pesquisa e de liderar ações destinadas à produção de conhecimentos consistentes e socialmente relevantes aos desafios atuais para a saúde local e global, até julho de 2014, contabilizamos 1.106 títulos, sendo 868 mestrados e 238 doutorados concluídos, 42% na última década.. A qualificação de pessoas que se comprometam com o desenvolvimento de práticas de saúde avançadas, dentro do escopo legal e ético da profissão, pode ser constatada pela inserção de nossos egressos em instituições de ensino, no gerenciamento de serviços de saúde e em posições relevantes que definem a implementação de políticas públicas que correspondam às necessidades da sociedade.

Desde sua instituição, e coerente com os objetivos atuais, o Programa mantém seu compromisso com a formação de recursos humanos destinados a universidades do Brasil e do exterior. Assim, historicamente, tem sido também responsável pela qualificação de docentes que atuam na coordenação de importantes programas de pós-graduação em Enfermagem em todo o país, em cargos de direção de instituições de ensino e na liderança de grupos de pesquisa.

Além disso, o atual apelo da universidade de escala mundial à internacionalização tem nos impulsionado a ampliar a visibilidade para além das fronteiras sul-americanas, onde atuamos desde os primeiros tempos. Destacam-se nesse âmbito as iniciativas de aproximação com instituições europeias e norte-americanas visando à troca de experiências e conhecimentos por meio do intercâmbio de docentes e alunos. No momento histórico atual, torna-se mesmo questão de sobrevivência protagonizar experiências de investigação e ensino relevantes, para fazer frente ao desafio de tornar a enfermagem brasileira partícipe da construção global do conhecimento comprometido e ético, em prol do desenvolvimento humano. Não basta produzir conhecimento, é preciso que ele se faça relevante – útila e usávelb – para possibilitar a transformação social. Não basta produzir títulos ou pessoas tituladas, é preciso que elas efetivamente cumpram sua função social para além do que está escrito nas dissertações, teses e artigos.

Nesta edição especial da Revista da Escola de Enfermagem da USP, trazemos a público uma pequena mostra da nossa produção mais recente. Acreditamos que, por meio dela, docentes e discentes contribuem para provocar a reflexão e a transformação da prática do cuidado em saúde e em enfermagem, cada vez mais orientado para a melhoria efetiva da qualidade de vida de cada cidadão, família e grupo da nossa sociedade. Desse ponto de vista, acreditamos que temos motivos para comemorar. No entanto, considerando que o conhecimento é um produto coletivo e só tem sentido quando tem como fim o uso coletivo, deixamos a última palavra ao leitor: temos realmente o que comemorar?

References

  • 01
    Cortella MS. Não espere pelo Epitáfio: provocações filosóficas. Petrópolis: Vozes; 2005
  • 02
    Houaiss. Grande dicionário eletrônico HouaissBeta da língua portuguesa [Internet]. Rio de Janeiro: Objetiva; 2009 [citado 2014 jul. 20]. Disponível em: http://houaiss.uol.com.br/busca?palavra=comemorar
    » http://houaiss.uol.com.br/busca?palavra=comemorar
  • 03
    Oguisso T, Tsunechiro MA. História da Pós-Graduação na Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2005 [citado 2014 jul. 20];39(n.esp):522-34. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v39nspe/v39nspea04.pdf
    » http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v39nspe/v39nspea04.pdf
  • 04
    Que conceito: seu novo conceito em dicionário [Internet]. [citado 2014 jul. 20]. Disponível em: http://queconceito.com.br/utilidade#ixzz38nhNGldx
    » http://queconceito.com.br/utilidade#ixzz38nhNGldx

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Ago 2014
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