Acessibilidade / Reportar erro

A violência na relação de intimidade sob a ótica de adolescentes: perspectivas do Paradigma da Complexidade * * Extraído da dissertação: “A violência nas relações de intimidade entre os adolescentes sob a perspectiva do Paradigma da Complexidade”, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, 2018. , ** ** Autor convidado, CIAIQ 2017

Resumo

Objetivo:

Analisar as percepções de adolescentes sobre a violência nas relações de intimidade pela perspectiva do Paradigma da Complexidade.

Método:

Abordagem qualitativa, configurando-se como pesquisa social estratégica. Os participantes do estudo foram adolescentes entre 15 e 18 anos, frequentadores do ensino médio de duas escolas públicas de um município do interior do estado de São Paulo, Brasil. A coleta de dados foi realizada por meio do grupo focal e, como complementação, a entrevista semiestruturada. A análise dos dados foi fundamentada nos princípios dialógico, recurso organizacional e hologramático do Paradigma Complexo.

Resultados:

Participaram do estudo 39 adolescentes (14 do sexo masculino e 25 do sexo feminino). Por meio das categorias emergentes, percebeu-se que a violência na intimidade está atravessada pela dialógica afeto-ciúmes/controle, pela naturalização de atos violentos que permeia questões de gênero, culturais e sociais e pela tecnologia como preponderante para a violência de intimidade entre adolescentes, denotando novas formas de controle e coerção.

Conclusão:

O estudo traz aspectos presentes na violência na intimidade entre adolescentes, mostrando-os de forma articulada e interdependente. Tais aspectos se configuram em relevante contribuição para as ações de profissionais de saúde.

Descritores:
Adolescente; Violência por parceiro íntimo; Saúde do estudante; Pesquisa Qualitativa

Abstract

Objective:

To analyze adolescents’ perceptions about intimate violence from the perspective of the Complexity Paradigm.

Method:

A qualitative approach configured as strategic social study. The study participants were adolescents between 15 and 18 years old, attending high school in two public schools in a city in the interior of São Paulo State, Brazil. Data collection was performed through a focus group and a semi-structured interview as a complement. Data analysis was based on the dialogical, organizational and holographic principles of the Complex Paradigm.

Results:

The study included 39 adolescents (14 males and 25 females). Through the emerging categories, it was noticed that intimate violence occurs through dialogical affection-jealousy/control by a naturalization of violent acts which permeates gender, cultural and social issues, and by technology as preponderant for intimate violence among adolescents, denoting new forms of control and coercion.

Conclusion:

The study introduces aspects present in intimate violence among adolescents, presenting them in an articulate and interdependent way. These aspects constitute a relevant contribution to the actions of health professionals.

Descriptors:
Adolescent; Intimate Partner Violence; Student Health; Qualitative Research

Resumen

Objetivo:

Analizar las percepciones de adolescentes acerca de la violencia en las relaciones de intimidad desde el punto de vista del Paradigma de la Complejidad.

Método:

Abordaje cualitativo, configurándose como investigación social estratégica. Los participantes en el estudio fueron adolescentes entre 15 y 18 años, asistentes a la educación secundaria de dos escuelas públicas de un municipio del interior del estado de São Paulo, Brasil. La recolección de datos se llevó a cabo mediante el grupo focal y, como complementación, la entrevista semiestructurada. El análisis de datos se fundó en el principio dialógico, de recurso organizativo y hologramático del Paradigma Complejo.

Resultados:

Participaron en el estudio 39 adolescentes (14 del sexo masculino y 25 del sexo femenino). Según las categorías emergentes, se percibió que la violencia en la intimidad la cruzan la dialógica afecto-celos/control, la naturalización de actos violentos que está implicada en los temas de género, culturales y sociales y la tecnología como preponderante para la violencia de intimidad entre adolescentes, denotando nuevas formas de control y coerción.

Conclusión:

El estudio brinda aspectos presentes en la violencia en la intimidad entre adolescentes, mostrándolos de modo articulado e interdependiente. Dichos aspectos se configuran en relevante contribución para las acciones de los profesionales sanitarios.

Descriptores:
Adolescente; Violencia de Pareja; Salud del estudiante; Investigación cualitativa

INTRODUÇÃO

Na contemporaneidade, a Violência nas Relações de Intimidade (VRI), principalmente entre os adolescentes, tem ocorrido de forma constante. A Organização Mundial da Saúde classifica a adolescência como a fase correspondente à faixa etária entre 10 e 19 anos, sendo esta um período de mudanças biopsicossociais em que há maior exploração das vivências e desejo pela sensação de autonomia, assim como procuras e experiências que proporcionam maior exposição a situações e práticas de risco/vulnerabilidade e violências(11. Organização Pan-Americana da Saúde; Brasil. Ministério da Saúde. Saúde e sexualidade de adolescentes: construindo equidade no SUS Internet . Brasília; 2017 citado 2018 jul. 26 . Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_sexualidade_adolescente_construindo_equidade_sus.pdf
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoe...
)
. Dentre essas práticas, encontra-se o envolvimento em relações de intimidade abusivas, decorrentes, sobretudo, do início das relações sexuais e crença no amor romântico. A construção da identidade de gênero e a subalternidade de geração podem ser associadas a considerável vulnerabilidade à experiência de vitimização ou perpetração da VRI entre parceiros adolescentes(22. Oliveira RNG, Gessner R, Brancaglioni BC, Fonseca RMGS, Egry EY. Preventing violence by intimate partners in adolescence: an integrative review. Rev Esc Enferm USP. 2016;50(1):134-43. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/50080-623420160000100018
https://doi.org/10.1590/50080-6234201600...
)
.

Além desses aspectos, a falta de habilidades dos adolescentes para responderem à violência torna-os mais suscetíveis a danos físicos, psicológicos e emocionais a curto e a longo prazo, em comparação à idade adulta(33. Beserra MA, Leitão MNC, Fernandes MID, Scatena L, Vidinha TSS, Silva LMP, et al. Prevalência de violência no namoro entre adolescentes de escolas públicas de Recife/Pe -Brasil. Rev Enf Ref. 2015;4(7):91-9.

4. Beserra MA, Leitão MNC, Fernandes MID, Scatena L, Vidinha TSS, Silva LMP, et al. Prevalence and characteristics of dating violence among school-aged adolescents in Portugal. Esc Anna Nery Rev Enferm. 2016;20(1):183-91. DOI: http://dx.doi.org/10.5935/1414-8145.20160024
https://doi.org/10.5935/1414-8145.201600...

5. Caridade S, Machado C. Violence in juvenile dating relationships: an overview of theory, research and practice. Psicologia (Lisboa). 2013;27(1):91-113.
-66. Oliveira QBM, Assis SG, Njaine K, Pires TO. Namoro na adolescência no Brasil: circularidade da violência psicológica nos diferentes contextos relacionais. Ciênc Saúde Coletiva Internet . 2014 citado 2018 jul. 26 ;19(3):707-18. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-81232014000300707&script=sci_abstract&tlng=pt
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S141...
)
. Diante disso, o momento da adolescência requer um olhar e políticas particulares(11. Organização Pan-Americana da Saúde; Brasil. Ministério da Saúde. Saúde e sexualidade de adolescentes: construindo equidade no SUS Internet . Brasília; 2017 citado 2018 jul. 26 . Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_sexualidade_adolescente_construindo_equidade_sus.pdf
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoe...
)
.

A VRI pode se caracterizar como física, verbal, sexual ou psicológica/emocional e advir de um relacionamento estreito ou pessoal entre dois indivíduos. Uma das formas de violência que mais se manifesta nas relações de intimidade entre os adolescentes é conhecida como Stalking, noção que designa o ato de perseguir, ameaçar e controlar o outro indivíduo, gerando estados emocionais de medo e insegurança. A manifestação da VRI pode ser de ordem pontual ou contínua, unidirecional ou bidirecional e não se limita a orientações sexuais, podendo ser entre sujeitos homossexuais e heterossexuais(77. Carlos DM, Campeiz AB, Silva JL, Fernandes MID, Leitão MNC, Silva MAI, et al. Intervenções na escola para prevenção da violência nas relações de intimidade entre adolescentes: revisão integrativa da literatura. Rev Enf Ref Internet . 2017 citado 2019 ago. 25 14(4): 133-44. Disponível em: https://rr.esenfc.pt/rr/index.php?module=rr&target=publicationDetails&pesquisa=&id_artigo=2712&id_revista=24&id_edicao=114
https://rr.esenfc.pt/rr/index.php?module...
)
.

A literatura nacional e internacional revela índices preocupantes sobre a VRI entre adolescentes. Um estudo longitudinal ressalta, além das graves consequências, a normalização e legitimação de comportamentos abusivos na VRI pelos adolescentes(88. Foshee VA, Reyes HL, Gottfredson NC, Chanq LY, Ennett ST. A longitudinal examination of psychological, behavioral, academic, and relationship consequences of dating abuse victimization among a primarily rural sample of adolescents. J Adolesc Health. 2013;53(6):723-9. DOI: 10.1016/j.jadohealth.2013.06.016
https://doi.org/10.1016/j.jadohealth.201...
)
. A interpretação do fenômeno como algo normal também foi revelada em um estudo recente(33. Beserra MA, Leitão MNC, Fernandes MID, Scatena L, Vidinha TSS, Silva LMP, et al. Prevalência de violência no namoro entre adolescentes de escolas públicas de Recife/Pe -Brasil. Rev Enf Ref. 2015;4(7):91-9.), em que os adolescentes que haviam sofrido alguma forma de VRI não se sentiram como tal ou agiram com alguma diferença ao interpretá-la de tal forma. Desse modo, vítimas de VRI na adolescência tendem a assentir, apresentando e repetindo os mesmos padrões de atitudes violentas, além de permitir certos comportamentos no contexto de outras relações(44. Beserra MA, Leitão MNC, Fernandes MID, Scatena L, Vidinha TSS, Silva LMP, et al. Prevalence and characteristics of dating violence among school-aged adolescents in Portugal. Esc Anna Nery Rev Enferm. 2016;20(1):183-91. DOI: http://dx.doi.org/10.5935/1414-8145.20160024
https://doi.org/10.5935/1414-8145.201600...
,99. Barreira AK, Lima MLC, Bigras M, Njaine K, Assis SG. Direcionalidade da violência física e psicológica no namoro entre adolescentes do Recife, Brasil. Rev Bras Epidemiol Internet . 2014 citado 2018 jul. 26 ;17(1):217-28. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-90X2014000100217&script=sci_arttext&tlng=pt
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S141...
)
.

Parte deste estudo foi apresentado no VI Congresso Ibero-Americano de Investigação Qualitativa em 2017, explorando as diferentes dimensões da violência que se materializaram nas relações de intimidade. Nesta pesquisa, buscou-se analisar as percepções de adolescentes sobre a violência nas relações de intimidade. Para tanto, o posicionamento epistemológico fundamenta-se no Paradigma da Complexidade(1010. Morin E. O Método 5: a humanidade da humanidade. Porto Alegre: Sulinas; 2012.), o qual nega a oposição entre complexidade e simplicidade, e entende como complexo aquilo que é “tecido junto” e é, de fato, o tecido de ações, acasos, acontecimentos, determinações, interações e retroações, que formam nosso mundo fenomênico(1111. Morin E. Ciência com consciência. 8ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; 2005.-1212. Morin E. Introdução ao pensamento complexo. 3ª ed. Porto Alegre: Sulina; 2007.). Assim, ao considerar as contradições e imprevisibilidades(1212. Morin E. Introdução ao pensamento complexo. 3ª ed. Porto Alegre: Sulina; 2007.), o Pensamento Complexo viabiliza uma visão multidimensional e compreende o fenômeno da violência dentro do relacionamento íntimo na interação e interdependência de seus elementos e em contexto, possibilitando um olhar ampliado e maior grau de compreensão e conhecimento.

Ressalta-se a originalidade do presente estudo, visto não ser encontrado na literatura artigo que considere a VRI sob a luz do Paradigma Complexo, além da escassez de abordagens qualitativas e a necessidade de estudos com olhares mais contextualizados. Acrescenta-se a tal fato a importância de se olhar a esse fenômeno pela saúde, em especial pela enfermagem. Esta precisa incluir em sua agenda questões contemporâneas que permeiam a vida dos adolescentes, implicando-se necessariamente em seu processo saúde-doença.

MÉTODO

Desenho do estudo

Estudo delineado com abordagem qualitativa do tipo pesquisa social estratégica e embasado nos princípios dialógico, recursão organizacional e hologramático do Pensamento Complexo, que foram utilizados como apoio para obtenção e análise dos dados.

O princípio dialógico, ao apresentar organização e complexidade, reivindica a conjugação de duas lógicas complementares e antagônicas ao mesmo tempo(1111. Morin E. Ciência com consciência. 8ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; 2005.-1212. Morin E. Introdução ao pensamento complexo. 3ª ed. Porto Alegre: Sulina; 2007.). O princípio recurso organizacional viabiliza a interconexão que dá características ao fenômeno, nega a relação linear de causa/efeito e revela o indivíduo como produto e produtor dos seus processos interacionais(1010. Morin E. O Método 5: a humanidade da humanidade. Porto Alegre: Sulinas; 2012.,1212. Morin E. Introdução ao pensamento complexo. 3ª ed. Porto Alegre: Sulina; 2007.). Finalmente, há o princípio hologramático, que olha para o todo e sua constatação ao mesmo tempo que abarca e propicia a separação entre as partes, sem que estas percam suas especificidades(1111. Morin E. Ciência com consciência. 8ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; 2005.-1212. Morin E. Introdução ao pensamento complexo. 3ª ed. Porto Alegre: Sulina; 2007.).

Cenário

O campo de estudo foi um município do interior do estado de São Paulo, Brasil, que abriga uma população de 61.040 habitantes(1313. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Panorama Brasil-SP-Batatais. População Internet . Rio de Janeiro: IBGE; 2016 citado 2018 mar. 20 . Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/batatais/panorama
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/ba...
)
. Participaram do estudo 39 adolescentes (14 do sexo masculino e 25 do sexo feminino) entre 15 e 18 anos, frequentadores do ensino médio de duas escolas públicas. Os participantes pertenciam a três turmas do 2º ano e uma turma do 3º ano do ensino médio. As escolas foram escolhidas aleatoriamente e a preferência pelo 2º e 3º ano foi proposta pelas direções escolares para viabilizar melhor organização interna.

Critérios de seleção

Os critérios para a seleção dos participantes foram: i) Ser frequentador do primeiro ao terceiro ano do ensino médio, podendo ser de ambos os sexos e de qualquer orientação sexual; ii) Entrega do Termo de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE) para os adolescentes menores de 18 anos e do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) destinado aos responsáveis dos adolescentes, preenchidos e assinados; e iii) Participação completa de um grupo focal (GF).

Coletas de dados

Na obtenção dos dados, foram realizados GFs e entrevistas semiestruturadas. O GF ocorre por meio de diálogo e interação entre um grupo de indivíduos, assimilando as semelhantes e diferentes visões e vivências compartilhadas(1414. Minayo MCS, coordenadora. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 18a ed. Petrópolis: Vozes; 2001.). Dessa maneira, os adolescentes participantes foram divididos aleatoriamente e formaram quatro grupos para a realização dos GFs. Cada grupo realizou dois encontros, variando entre sete a dez participantes e entre 40 a 60 minutos cada sessão. Um roteiro pré-estabelecido orientava o debate no primeiro encontro dos GFs, o qual procurava saber: i) O que seria uma relação de intimidade e como seria esta de maneira ideal?; ii) Em uma relação íntima, quais são os comportamentos positivos e prejudiciais?; iii) O que é considerado violência e se poderia existir VRI; e, iv) Quais são as formas de violência e suas causas dentro de um relacionamento íntimo na visão dos participantes? A fim de estimular essa discussão, foram apresentadas imagens impressas que representavam casais abraçados e discutindo, bem como mensagens de amor, entre outras figuras disparadoras.

No segundo encontro, outro roteiro pré-estabelecido orientou o debate por meio de frases afirmativas, tais como: i) O álcool ou a droga é responsável pela violência das pessoas, por isso quem usa não tem culpa de ser violento; ii) Xingar ou apertar o braço do namorado(a) na hora de uma discussão não há problemas, pois estavam de “cabeça quente”; iii) As pessoas que são maltratadas e não pedem ajuda é porque não se importam com a situação, entre outras. Conforme os participantes se identificassem com as crenças expostas, manifestavam-se por meio de modelo estabelecido como 1 - Não concordo; 2 - Concordo pouco (talvez); 3 - Concordo; e 4 - Concordo muito. Dessa forma, eles eram incentivados a explanarem sobre suas crenças e convicções a respeito de violência e relações de intimidade dos adolescentes.

As entrevistas semiestruturadas favorecem a relação intersubjetiva do entrevistador com o entrevistado, viabilizando melhor os significados particulares e as vivências específicas de cada participante. À vista disso, realizaram-se 15 entrevistas que duraram de 20 a 35 minutos, tendo seis participantes do sexo masculino e nove do sexo feminino. Utilizaram-se questões abertas e norteadoras, propiciando identificar o que seria estar em uma relação de intimidade, se poderia existir (e como) VRI e se já havia vivenciado alguma situação de violência.

Situações que ocorreram nas ações dos participantes durante a realização dos GFs e que chamaram a atenção da pesquisadora, como a demonstração de incômodo por uma pergunta realizada ou por uma fala de algum outro participante, além da desistência de um relato ou não o completar, foram um dos critérios utilizados para a escolha dos 15 entrevistados. O outro seria a participação no GF e demonstração de livre interesse.

Após a definição da escola e dos participantes, baseada na disponibilidade e organização da unidade escolar, a coleta de dados foi realizada no período de outubro de 2016 a abril de 2017. Os participantes foram designados pela ordem do GF (G1, G2 e seguintes) e das entrevistas (E1, E2...), e foram identificados com a letra P e numerados de acordo com a sequência em que foram realizadas as falas: P1, P2, e assim sucessivamente, a fim de manter a sua identidade sob sigilo. Nas duas estratégias, utilizaram-se as letras H e M para a designação dos relatos dos homens e das mulheres, respectivamente.

Os dados obtidos apresentaram na avaliação dos pesquisadores redundância e repetição após o 4º GF e 15ª entrevista; destarte, a inclusão de novos participantes nas estratégias foi finalizada. Os pesquisadores seguiram um roteiro que leva em consideração os limites empíricos dos dados, a integração dos dados com a teoria e a sensibilidade teórica dos pesquisadores que analisam os dados, para a confiabilidade da saturação(1515. Glaser BG, Strauss AL. The discovery of grounded theory: strategies for qualitative research. New York: Aldine de Gruyter; 1997.).

Ao final dos GFs e entrevistas semiestruturadas, a pesquisadora realizou o member-check, isto é, consultou novamente os participantes, a fim de averiguar se seus achados reproduziam o que os adolescentes realmente disseram, sentiam e pensavam sobre a VRI. Os adolescentes ouviram seus relatos gravados e puderam confirmar suas percepções ou reformular alguma afirmação quando acharam que tinham se expressado mal ou não haviam sido claros o suficiente.

Análise e tratamentos dos dados

A análise dos dados obtidos foi fundamentada no Paradigma da Complexidade e para tal finalidade foi realizado um roteiro com três fases(1616. Pádua EMM. Complexidade e pesquisa qualitativa: aproximações. Série Acadêmica. 2015;32(2):39-48.): i) Classificação e organização das informações coletadas, demarcando os relevantes pontos das entrevistas e GFs, propiciando uma visão da totalidade do fenômeno e de suas particularidades, concomitantemente. Os relatos foram transcritos na íntegra e com a identificação de cada participante; ii) Organização de quadros referenciais e, por conseguinte, categorias; iii) Estabelecimento de relações entre os dados encontrados, por meio de sua organização em categorias, a literatura científica existente sobre a VRI entre adolescentes e ao Paradigma da Complexidade. Com o intuito de alcançar o objetivo da pesquisa e ser fiel às interpretações dos participantes, alcançando credibilidade e validade na análise dos dados, ancorou-se na noção de contextualização constituinte do Paradigma proposto e na elucidação de alguns relatos dos participantes.

Aspectos éticos

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, através do Ofício nº 279/2016, em 31 de agosto de 2016. De acordo com a Resolução n. 466/12, do Conselho Nacional de Saúde, sobre pesquisas com seres humanos. Em conformidade com esta, foi solicitado o consentimento espontâneo, através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Para a realização do estudo, foi solicitada a aprovação da Diretoria de Ensino da Região e das unidades escolares participantes.

RESULTADOS

Caracterização

Em uma das escolas que constituíram os locais da pesquisa, designada como E1, contatou-se os alunos que cursavam o terceiro ano do Ensino Médio, os quais totalizavam 17. Esse baixo número de estudantes justifica-se por haver uma única sala em uma escola de período integral. Na outra escola, designada como E2, havia três salas no segundo ano do Ensino Médio, que contavam com 28, 31 e 32 alunos. Os adolescentes dessa escola participaram dos GFs no final do ano letivo de 2016, enquanto cursavam o final do segundo ano do Ensino Médio, e das entrevistas semiestruturadas no início do ano letivo de 2017, quando já se encontravam no terceiro ano.

Diante dos critérios de inclusão, a pesquisa contou com a participação de 39 adolescentes. Os participantes constituíram-se em: 7 da escola E1 (18%) e 32 da escola E2 (82%). Nas escolas E1 e E2, respectivamente, 28,5% e 37,5% dos participantes eram do sexo masculino, enquanto 71,5% e 62,5% dos participantes eram do sexo feminino. Até o momento da pesquisa, duas participantes do sexo feminino da E1 e três participantes da E2 (duas do sexo feminino e um do sexo masculino) relataram não ter vivenciado nenhum relacionamento íntimo.

“É normal”, “É aceitável” e “Acontece”

Os sentimentos e reações envolvendo passividade diante da VRI caracterizaram-se como algo aceito e comum pelos adolescentes:

Eu acho que é normal, você tá nervoso. Acontece. Às vezes aperta o braço, segura o pescoço (P4/H-G3).

Chantagem emocional, é besteira a mulher cair nisso (P4/H-G1).

Os relatos também evidenciaram questões relativas ao gênero e à passividade frente à violência perpetrada pela mulher, denotando um tabu ainda existente na sociedade e a reprodução de questões estigmatizantes:

Acho que quando é o homem o violento, xingar pode, bater não. A diferença tá na força. Se a gente der um soco nele vai sentir macio, agora se ele der, a gente vai ficar roxa (P5/M-G3).

Mulher faz coisa mais leve, se a unha tá grande arranha, dá unhada - risos - , belisca, tenta puxar cabelo, isso quando o cara tem - risos - . Mas tipo, o homem é com mais força (E13/H).

A possibilidade de o homem ser a vítima e não o autor da violência na relação foi menor. Além disso, verificou-se uma associação da violência praticada contra as mulheres com a Lei Maria da Penha como forma de punição unilateral. Essas ideias apresentaram-se explicitamente em muitos relatos semelhantes aos transcritos a seguir:

Antes não tinha mulher batendo em homem, difícil, e se tem agora, é pouco (P8M-G3).

A mulher apanha muito mais do que o homem. Mas quando o homem apanha, o homem nunca vai atrás dos seus direitos, até porque hoje em dia não tem a lei ‘José da Penha’, ele pode ir preso, então elas aproveitam. O homem não pede ajuda por vergonha (E11/H).

A não compreensão pelos participantes da coação sexual/violência manifestada no beijo forçado foi evidenciada. Essa percepção transpareceu nos relatos a seguir:

Não acho que isso - beijar na boca forçado - é violência. A gente tá namorando, você tem noção de que ele vai querer te beijar sempre, você querendo ou não. Se você não querer, mesmo na briga, aí já pode largar. Porque mesmo eu brava, triste, e eu não beijar, ele vai achar que eu tô com outro. E eu achar dele (P7/M-G2).

Se tentar me beijar de modo forçado, sabe, por um estranho, é violência né. Mas do namorado não, é meu namorado né? (P9/M-G3).

A existência de um relacionamento implicou ceder aos desejos do(a) namorado(a). Logo, os estados emocionais do(a) adolescente deixaram de determinar o seu próprio desejo: negar um beijo indicaria uma possível traição de um lado ou de outro. Numa outra perspectiva, ceder um beijo a um desconhecido foi considerado violência, mas cedê-lo ao(à) namorado(a) não. Para os participantes, mesmo que o(a) parceiro(a) não respeitasse os limites ou vontades do(a) parceiro(a), o ideal seria que houvesse consentimento, como se fosse uma cláusula escrita em um contrato invisível que primasse pela aceitação do beijo forçado. Dessa forma, houve uma relativização dessa forma de coação sexual, como um pacto no qual a violência é tida como externa ao relacionamento.

“Violência: suas dimensões e experiências”

Quando o outro, o(a) parceiro(a), era o(a) autor(a) da violência, esta foi interpretada como manifestação de amor, denotando-se, assim, um sincretismo de amor e violência, como vemos nas falas:

Se fosse sair tinha que levar ela onde quer que eu fosse (...). Ela era muito amorosa, pegajosa demais (...) (E2/H).

Mas ele não tá querendo controlar, ele está querendo prevenir a namorada dele de acontecer alguma coisa, pra evitar briga ou qualquer outra coisa. É amor isso (P1/M-G1).

Diversas formas de violências físicas, sexuais, verbais e psicológicas foram relatadas:

No começo do relacionamento ele controlava a minha roupa, onde ia, com quem falava, tive muito esse problema, mas aí eu bati o pé, ele parou... Mas não tenho amigos homens, ele não aceita (P5/M-G1).

Ela me unha bastante... mas eu não faço nada, nunca fiz nada. Falo uns palavrões, xingo, mas não relo nela, mas olha as minhas costas, meus braços, tô tudo unhado (E4/H).

Ela ficava me chamando de gordo... de babaca... essas coisas... porque tinha vergonha, e ela ficava lá me tirando (E8-H).

Quando o(a) participante era o(a) autor(a) da violência, o controle e ciúme ganharam destaque como forma de justificativa para tais atos:

Eu já tenho ciúmes psicótico possessivo, eu tenho esse tipo de problema. A pessoa tem que aceitar como sou, isso é amor né (P1/M-G1).

Ah tipo, no caso de outro homem já falo: ‘Quê que você tá olhando, ela é minha (P1/H-G3).

Revela-se aqui a expressão do ciúme como manifestação de amor e não de violência pelos adolescentes. Neste contexto, muitas formas de violências acabam sendo veladas, como a violência psicológica, manifestada de diferentes formas, como ciúme e controle, disfarçando-se de cuidado.

Alguns participantes relataram a violência como algo recíproco no relacionamento:

Eu bato, xingo, bato na cara, depois vou pra casa chorar. Ele faz algo, me bate, me xinga e eu retorno também. Eu já cheguei até a desmaiar em casa, fiquei muito nervosa. Foi humilhação, mas eu não consigo guardar (P1/M-G1).

Na bidirecionalidade da violência, manifestaram-se agressões físicas, verbais e psicológicas.

As senhas e o tempo: motivadores para a violência

Dentre os elementos citados pelos adolescentes como estimuladores do fenômeno (a saber: uso de álcool e drogas, mentiras, entre outras), as redes sociais e o tempo de duração do relacionamento foram os elementos mais citados pelos adolescentes.

Por meio das redes sociais, a violência se manifesta através da insistência do(a) parceiro(a) em querer a senha do celular e das redes sociais digitais como Instagram ®, Facebook ®, WhatsApp ®, ocasionando invasão de privacidade, manipulação e controle de quem o outro conversa. A não permissão para tal ato é vista como desconfiança para quem a deseja. Encontra-se isso na fala:

Eu vejo as conversas do celular dela todo dia, não tem essa de ter senha (...) (P6/H-G3).

Dá para controlar o que ele vê e faz. Uma vez eu apaguei um monte de garotas do Face dele, porque eu não posso adicionar amigos homens (P9/M-G3).

Quem não dá a senha, certeza que esconde coisa, aí não é violência - insistir - (E14/H).

Dessa forma, as redes sociais são relacionadas ao engendramento de novas formas de violência, podendo se estabelecer em diferentes dimensões, como neste relato:

(...) Acho que ele - namorado - fica mais no meu facebook do que no dele. (...) Tem vez que ele fica muito estressado com o que vê, aí ele começa a dar soco na parede (...) Chega a dar medo (G4- M).

Tem menino aqui da escola e bate na namorada por causa de Facebook, Whatsapp, essas coisas, e a garota não deixa ele nem curtir foto que já é briga na certa (P9/H-G4).

Diversos relatos dos participantes expressaram que o tempo de relacionamento foi um fator propício à violência, denotando que, quanto maior a duração da relação, proporciona-se não só uma maior convivência e intimidade, mas também o desgaste da relação e a perda de calma de ambos. Vê-se isso nas falas:

Conforme - o - tempo que tá junto cansa, desgasta, vai estressando... dá nisso (P3/H-G1).

No começo de namoro não tem briga séria, agora no meu caso, que namoramos já faz mais de um ano, que poso na casa dele, que convivi muito tempo junto, não tem como, a gente briga direto, ataca mais o psicológico sabe, sabe manipular o outro (P11/M-G1).

O meu namorado falava: ‘concordo amor, você está certa’. Mas vai passando um ano, dois, três, aí ele já não concorda mais. Aí retruca. Aí começa os beliscões, os puxões, nele, nos dois (P5/M-G4).

Inferiu-se que, com o passar do tempo, houve confusão entre as noções de liberdade, relação íntima e ações violentas em muitos relacionamentos dos adolescentes. Ademais, o tempo de relacionamento foi um elemento para a ocorrência da bidirecionalidade da violência. Em muitos relatos, somente após algum tempo de relacionamento um dos sujeitos do relacionamento utilizou-se da agressão física e psicológica como forma de revidar a violência sofrida, como autodefesa ou como uma alternativa para finalizar a violência por ele(a) vivida.

DISCUSSÃO

Por meio do princípio dialógico, observa-se a relação e co-dependência existente entre afeto e agressão presente nos relacionamentos íntimos dos adolescentes. Os conflitos e as instabilidades foram enfrentados pelos adolescentes de duas formas: a primeira, por meio da associação violência e amor, em que formas de violências são consideradas expressões de amor ou sinônimas ao amor, principalmente por meio do controle sobre o(a) parceiro(a) e ciúme. Esses dados confirmam estudo que revela comportamentos violentos e práticas de ciúme como aceitas e associadas ao amor nos relacionamentos íntimos dos adolescentes(1717. Cecchetto F, Oliveira Q, Njaine K, Minayo M C. Violências percebidas por homens adolescentes na interação afetivo-sexual em dez cidades brasileiras. Interface Internet . 2016 citado 2016 ago. 18 ;20(59):853-64. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-32832016000400853&script=sci_abstract&tlng=pt
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S141...
)
.

Diante disso, pode-se considerar que a dialógica afeto-agressão foi tratada pelos adolescentes como aspectos totalmente opostos e separados, apesar de seus relatos evidenciarem que se encontravam vinculados e de maneira solidificada, mas também ocultos e num processo de invisibilização. Concomitantemente a essa constatação, evidenciaram-se dificuldades no discernimento entre as práticas amorosas, como beijos, e a coação para a prática sexual. Assim, para eles, um beijo não se enquadra na categoria de uma coação sexual.

A Organização Mundial da Saúde caracteriza a violência sexual como atos ou tentativas sexuais não desejadas, com uso de coação, que abarcam atos como estupro e assédio, podendo ser em ambiente escolar, de trabalho, entre outros(1818. World Health Organization. Preventing intimate partner and sexual violence against women. Geneva; 2010.). Esse fenômeno pode ser exercido por parceiros íntimos, dentro de um relacionamento informal, em namoros e casamentos, e por estranhos e em qualquer contexto. No Brasil, segundo as normas da Lei nº 12.015/09, beijar e agarrar à força ou puxar o cabelo são consideradas agressões sexuais e crimes contra a dignidade sexual, e a pessoa que pratica esses atos pode ser severamente punida(1919. Brasil. Lei n. 12.015, de 7 de agosto de 2009. Altera o Título VI da Parte Especial do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, e o art. 1oda Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990, que dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do inciso XLIII do art. 5o da Constituição Federal e revoga a Lei no 2.252, de 1o de julho de 1954, que trata de corrupção de menores Internet . Brasília; 2009 citado 2016 ago. 18 . Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12015.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_At...
)
.

No Brasil, a violência sexual, dentre todos os tipos de violência entre os parceiros íntimos, é a que possui menor índice, sendo esse fato decorrente de um sentimento de constrangimento da pessoa que sofre a violência, justamente por ser perpetrada por um parceiro íntimo e estar associada à questão de poder. Diante disso, a violência sexual entre os parceiros íntimos sofre o processo de invisibilização, por uma questão de tabu e da crença errônea de que apenas é praticada por desconhecidos(2020. Coelho EBS, Silva ACLG, Lindner SR. Violência por parceiro íntimo: definições e tipologias Internet . Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina; 2018 citado 2018 jul. 26 . Disponível em: https://www.unasus.gov.br/cursos/curso/45088
https://www.unasus.gov.br/cursos/curso/4...
)
. Ademais, o estigma e a vergonha podem contribuir para a omissão da violência sofrida, levando a uma subnotificação dos casos(1818. World Health Organization. Preventing intimate partner and sexual violence against women. Geneva; 2010.,2020. Coelho EBS, Silva ACLG, Lindner SR. Violência por parceiro íntimo: definições e tipologias Internet . Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina; 2018 citado 2018 jul. 26 . Disponível em: https://www.unasus.gov.br/cursos/curso/45088
https://www.unasus.gov.br/cursos/curso/4...
)
. Esta é reforçada pelo desconhecimento da notificação e de sua importância pelos adolescentes e pela frágil formação técnica dos profissionais da saúde, produzindo desconhecimento e incertezas em suas tomadas de decisões e dificuldade na identificação e visibilização do fenômeno(22. Oliveira RNG, Gessner R, Brancaglioni BC, Fonseca RMGS, Egry EY. Preventing violence by intimate partners in adolescence: an integrative review. Rev Esc Enferm USP. 2016;50(1):134-43. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/50080-623420160000100018
https://doi.org/10.1590/50080-6234201600...
,1717. Cecchetto F, Oliveira Q, Njaine K, Minayo M C. Violências percebidas por homens adolescentes na interação afetivo-sexual em dez cidades brasileiras. Interface Internet . 2016 citado 2016 ago. 18 ;20(59):853-64. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-32832016000400853&script=sci_abstract&tlng=pt
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S141...
)
.

A segunda forma de os adolescentes lidarem com as instabilidades do relacionamento íntimo foi a aceitação da violência, principalmente da agressão física perpetrada pelo sexo feminino. Revela-se aqui uma estigmatização social das garotas pelos meninos, a reprodução do machismo e da misoginia pela desqualificação do ato realizado por uma mulher, como se a prática fosse categorizada como de menor potencial ofensivo pelos adolescentes(1717. Cecchetto F, Oliveira Q, Njaine K, Minayo M C. Violências percebidas por homens adolescentes na interação afetivo-sexual em dez cidades brasileiras. Interface Internet . 2016 citado 2016 ago. 18 ;20(59):853-64. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-32832016000400853&script=sci_abstract&tlng=pt
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S141...
)
. A descrença do homem como vítima, como dominado e não como dominante, presente nas falas de que “homem não apanha de mulher”, é a reprodução de um discurso milenar androcêntrico e machista.

Os homens também sofrem, mesmo que de modo distinto e em menor proporção ao da mulher, as consequências e privações impostas pela relação de gênero(1717. Cecchetto F, Oliveira Q, Njaine K, Minayo M C. Violências percebidas por homens adolescentes na interação afetivo-sexual em dez cidades brasileiras. Interface Internet . 2016 citado 2016 ago. 18 ;20(59):853-64. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-32832016000400853&script=sci_abstract&tlng=pt
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S141...
)
. Um estudo realizado com adolescentes brasileiros reforça essa concepção e expõe a invisibilidade da violência contra os homens por esta não ser considerada por muitos como violência de gênero(1717. Cecchetto F, Oliveira Q, Njaine K, Minayo M C. Violências percebidas por homens adolescentes na interação afetivo-sexual em dez cidades brasileiras. Interface Internet . 2016 citado 2016 ago. 18 ;20(59):853-64. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-32832016000400853&script=sci_abstract&tlng=pt
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S141...
)
.

A expressão do participante E11-H, de que quando o homem apanha não vai atrás de seus direitos porque não existe “a Lei José da Penha”, torna explícita a falta de conhecimento sobre a legislação brasileira que respalda a segurança e a proteção de qualquer pessoa, incluindo do sexo masculino. Sabe-se que a Lei nº 11.340/06, conhecida como Lei Maria da Penha, foi criada especificamente para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra as mulheres(2121. Brasil. Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências Internet . Brasília; 2006 citado 2016 ago. 2018 . Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_at...
)
. Essa Lei ficou muito conhecida no país por meio das campanhas e iniciativas de movimentos feministas, de advocacias e do governo brasileiro, mas não foi divulgado, com a mesma veemência, que o homem que sofre a violência doméstica e familiar também tem a proteção judicial para a sua segurança, sendo respaldado pelo Código Penal brasileiro. Assim, o homem deve procurar a delegacia e registrar o boletim de ocorrência para que o Código Penal seja aplicado.

Ademais, é sabido que a invisibilidade e tabu do homem como vítima é fruto de uma visão androcêntrica e de violência social da relação de gênero. Esta última estabelece papéis estereotipados, construídos socialmente para homens e mulheres. São impostos, de maneira velada ou não, características, valores e padrões generalizados e rígidos para os diferentes sexos e gêneros. Diante de muitos exemplos recorrentes na sociedade, propagam-se as ideias de que mulher é sexo frágil, não sabe dirigir, é dividida entre mulher para casar e para curtir; homem é forte e não pode chorar por ser “coisa de mulherzinha”. A violência de gênero em conjunto com o mito do amor ideal - que também é deturpado em termos de poder - viabilizam e propiciam as violências entre os parceiros íntimos, presentes tanto nas relações heterossexuais quanto nas homossexuais(1717. Cecchetto F, Oliveira Q, Njaine K, Minayo M C. Violências percebidas por homens adolescentes na interação afetivo-sexual em dez cidades brasileiras. Interface Internet . 2016 citado 2016 ago. 18 ;20(59):853-64. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-32832016000400853&script=sci_abstract&tlng=pt
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S141...
,2222. Saffioti HIB. Gênero, patriarcado, violência. São Paulo: Fundação Perseu Abramo; 2004.-2323. Scott J. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educ Real Internet . 1995 citado 2016 ago. 23 ;20(2):71-99. Disponível em: http://www.seer.ufrgs.br/index.php/educacaoerealidade/article/view/71721/40667
http://www.seer.ufrgs.br/index.php/educa...
)
.

No princípio de recursão organizacional, foi possível olhar para a interconexão que dá características à violência no relacionamento íntimo. Os relacionamentos íntimos baseados nos princípios de ciúme e posse legitimaram a violência, justificaram ações irrefletidas e isentaram a responsabilidade do autor da violência. Além disso, muitas formas de violência se tornaram invisíveis e, frequentemente, tanto o autor quanto a vítima da violência não tiveram ciência da sua manifestação e do seu significado na relação ou, quando cientes, tornaram-na aceita e consentida. Nos depoimentos dos participantes, emergiram os vários significados dados à violência como fenômeno normal e aceitável, algo que acontece comumente nas relações de intimidade entre os adolescentes. Essas crenças e a velação da violência se caracterizam como principais fatores da perpetuação do fenômeno.

Ao procurar elaborar novos significados e romper com reducionismos, o princípio do recurso organizacional revela que ações e vivências violentas nos relacionamentos são produtos e produtores de outras experiências e condutas. Esse aspecto torna-se claro na bidirecionalidade evidenciada em diversos estudos nacionais e internacionais, em que ambos os sexos mutuamente se agrediam e eram agredidos(66. Oliveira QBM, Assis SG, Njaine K, Pires TO. Namoro na adolescência no Brasil: circularidade da violência psicológica nos diferentes contextos relacionais. Ciênc Saúde Coletiva Internet . 2014 citado 2018 jul. 26 ;19(3):707-18. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-81232014000300707&script=sci_abstract&tlng=pt
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S141...
,99. Barreira AK, Lima MLC, Bigras M, Njaine K, Assis SG. Direcionalidade da violência física e psicológica no namoro entre adolescentes do Recife, Brasil. Rev Bras Epidemiol Internet . 2014 citado 2018 jul. 26 ;17(1):217-28. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-90X2014000100217&script=sci_arttext&tlng=pt
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S141...
,2424. Flake TA, Barros C, Schraiber LB, Menezes PR. Violência por parceiro íntimo entre estudantes de duas universidades do Estado de São Paulo, Brasil. Rev Bras Epidemiol Internet . 2013 citado 2016 jun. 10 ;16(4):801-16. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbepid/v16n4/pt_1415-790X-rbepid-16-04-00801.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rbepid/v16n4/pt...
-2525. Dardis CM, Dixon KJ, Edwards KM, Turchik JA. An examination of the factors related to dating violence perpetration among young men and women and associated theoretical explanations: a review of the literature. Trauma Violence Abuse. 2014;16(2):136-52. DOI: 10.1177/1524838013517559
https://doi.org/10.1177/1524838013517559...
)
. Entretanto, mesmo que haja um elevado percentual de violência bidirecional dentro de um relacionamento de intimidade entre os adolescentes, os malefícios e prejuízos consequentes da violência são maiores, mais graves, e de maior duração para as mulheres do que para os homens, seja esta física, emocional, verbal, psicológica ou patrimonial(44. Beserra MA, Leitão MNC, Fernandes MID, Scatena L, Vidinha TSS, Silva LMP, et al. Prevalence and characteristics of dating violence among school-aged adolescents in Portugal. Esc Anna Nery Rev Enferm. 2016;20(1):183-91. DOI: http://dx.doi.org/10.5935/1414-8145.20160024
https://doi.org/10.5935/1414-8145.201600...
-55. Caridade S, Machado C. Violence in juvenile dating relationships: an overview of theory, research and practice. Psicologia (Lisboa). 2013;27(1):91-113.,2525. Dardis CM, Dixon KJ, Edwards KM, Turchik JA. An examination of the factors related to dating violence perpetration among young men and women and associated theoretical explanations: a review of the literature. Trauma Violence Abuse. 2014;16(2):136-52. DOI: 10.1177/1524838013517559
https://doi.org/10.1177/1524838013517559...
)
. Ademais, encontra-se um relevante número de mulheres que afirmam revidar a violência sofrida, como forma de autodefesa, o que possibilita explicar os elevados índices de violência de autoria feminina(2525. Dardis CM, Dixon KJ, Edwards KM, Turchik JA. An examination of the factors related to dating violence perpetration among young men and women and associated theoretical explanations: a review of the literature. Trauma Violence Abuse. 2014;16(2):136-52. DOI: 10.1177/1524838013517559
https://doi.org/10.1177/1524838013517559...
)
.

Por meio do princípio hologramático, tentou-se obter uma visão ampliada do fenômeno, mas em dimensões diferenciadas e com suas particularidades e conectividades. Neste estudo, evidenciam-se as interações e conexões da violência sexual, física, verbal e psicológica nos relatos e vivências dos adolescentes. As dimensões das violências verbais e psicológicas foram as mais frequentes entre os participantes, manifestadas tanto na posição de autores quanto na de vítimas, sendo estes reforçados por diferentes estudos(66. Oliveira QBM, Assis SG, Njaine K, Pires TO. Namoro na adolescência no Brasil: circularidade da violência psicológica nos diferentes contextos relacionais. Ciênc Saúde Coletiva Internet . 2014 citado 2018 jul. 26 ;19(3):707-18. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-81232014000300707&script=sci_abstract&tlng=pt
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S141...
,1717. Cecchetto F, Oliveira Q, Njaine K, Minayo M C. Violências percebidas por homens adolescentes na interação afetivo-sexual em dez cidades brasileiras. Interface Internet . 2016 citado 2016 ago. 18 ;20(59):853-64. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-32832016000400853&script=sci_abstract&tlng=pt
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S141...
)
.

O tempo de duração do relacionamento íntimo foi revelado como elemento motivador para a violência, demonstrando que quanto maior a permanência da relação, maior a probabilidade de ocorrer a violência. Essa constatação confirma os resultados de estudos recentes(44. Beserra MA, Leitão MNC, Fernandes MID, Scatena L, Vidinha TSS, Silva LMP, et al. Prevalence and characteristics of dating violence among school-aged adolescents in Portugal. Esc Anna Nery Rev Enferm. 2016;20(1):183-91. DOI: http://dx.doi.org/10.5935/1414-8145.20160024
https://doi.org/10.5935/1414-8145.201600...
,2525. Dardis CM, Dixon KJ, Edwards KM, Turchik JA. An examination of the factors related to dating violence perpetration among young men and women and associated theoretical explanations: a review of the literature. Trauma Violence Abuse. 2014;16(2):136-52. DOI: 10.1177/1524838013517559
https://doi.org/10.1177/1524838013517559...
-2626. Barreira A, Lima M, Avanci J. Coocorrência de violência física e psicológica entre adolescentes namorados do recife, Brasil: prevalência e fatores associados. Ciênc Saúde Coletiva Internet . 2013 citado 2018 mar. 20 ;18(1):233-43. Disponível em: https://www.scielosp.org/article/ssm/content/raw/?resource_ssm_path=/media/assets/csc/v18n1/24.pdf
https://www.scielosp.org/article/ssm/con...
)
. Na presente pesquisa, a demonstração da perda da calma e da paciência aliada à fadiga gerada com as insistências de monitoramento das redes sociais digitais praticada pelos(as) parceiros(as) foram as principais justificativas para as violências físicas e psicológicas que emergiram ao longo do relacionamento.

Os relatos dos adolescentes e de suas interconexões por meio do princípio hologramático demonstraram que as tecnologias digitais, principalmente o smartphone e as redes sociais virtuais se converteram, paradoxalmente, em fatores de exposição às violências que se concretizaram pela insistência em obter a senha de acesso aos aparelhos e às redes, como forma de conseguir o controle sobre o(a) parceiro(a); podendo se tornar obsessiva, pois pode provocar alterações de humor. Diante disso, emergiram, nesse contexto de ambientes virtuais, novos modos de atingir o estado emocional e a autoconfiança/autoestima do(a) parceiro(a), e outras formas de VRI, como a cyberviolência, demonstrada pelo recebimento e envio de vídeos e fotos sexuais sem o consentimento do(a) parceiro(a).

O sentimento de insegurança no que concerne ao relacionamento e à postura do companheiro frente às mobilidades, incertezas, instabilidades, incontrolabilidades de acontecimentos da vida, associados ao elemento da durabilidade da relação, fomentava os comportamentos de controle como estratégias utilizadas pelos adolescentes em seus relacionamentos íntimos.

Destarte, faz-se necessário debater as relações de gênero e sexualidade nas esferas da educação, segurança e saúde para repensar a tradicional educação sexual. Como muitos profissionais do campo da saúde e educação são despreparados e não sabem ou não conseguem fazer uma abordagem aproximada ao fenômeno, os julgamentos são elaborados e desqualificam o risco de consequências mais graves(2727. Apostólico MR, Hino P, Egry EY. Possibilities for addressing child abuse in systematized nursing consultations. Rev Esc Enferm USP Internet . 2013 cited 2018 Apr 29 ;47(2):320-7. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0080-62342013000200007&script=sci_arttext&tlng=en
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s008...
)
. Além disso, torna-se relevante abarcar nos currículos da educação básica e dos cursos de graduação de saúde e educação a compreensão da relação da violência não somente às mulheres, mas também aos homens como vítimas, e não autores, como um problema que foge do âmbito privado, bem como o entendimento da violência (social) de gênero. Esses aspectos são essenciais para que ocorra a visibilização do fenômeno, uma educação sexual efetiva e com promoção de relacionamentos saudáveis. Para tanto, entende-se que este estudo traz implicações práticas à temática que podem ser transformadas em ações junto aos adolescentes, considerando os aspectos abordados por eles neste estudo e analisados à luz do Paradigma Complexo.

Na realização deste estudo, intercorreram algumas dificuldades na coleta de dados. As atividades foram realizadas em época de avaliações (outubro, novembro e dezembro) e, como combinado com a unidade escolar, os GFs e entrevistas aconteceriam no período escolar dos participantes. Assim, com dificuldades, ocorreu a conciliação entre as datas livres de avaliação, a disponibilidade de alguns professores e o curto tempo, decorrente da demora de alguns professores em dispensar os participantes da aula.

CONCLUSÃO

Os resultados apontaram a dialógica afeto-ciúmes/controle presentes na relação; a recursão organizacional autor-vítima da violência; a naturalização de atos violentos que atravessa questões de gênero, culturais e sociais; e a tecnologia como preponderante para a VRI entre adolescentes, denotando novas formas de controle e coerção. Esse aprofundamento, contextualização e respeito à singularidade dos participantes foi possível pela utilização da abordagem qualitativa, especialmente considerando-se que, no âmbito da temática de pesquisa, desvelam-se produções quantitativas em sua maioria, denotando importantes lacunas de conhecimento na aproximação qualitativa de fenômeno com tamanha complexidade.

Em suma, o Paradigma da Complexidade contribuiu de forma imprescindível para a busca do desenvolvimento de um olhar integral sobre a temática, proporcionando maior clareza sobre os elementos que compõem o fenômeno e, principalmente, sobre a interdependência e interconectividade entre eles, de modo articulado e contextualizado. Novos estudos que abordem especificidades de gênero e perspectivas de outros atores sociais, como profissionais da saúde e educação, são recomendados.

References

  • 1
    Organização Pan-Americana da Saúde; Brasil. Ministério da Saúde. Saúde e sexualidade de adolescentes: construindo equidade no SUS Internet . Brasília; 2017 citado 2018 jul. 26 . Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_sexualidade_adolescente_construindo_equidade_sus.pdf
    » http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_sexualidade_adolescente_construindo_equidade_sus.pdf
  • 2
    Oliveira RNG, Gessner R, Brancaglioni BC, Fonseca RMGS, Egry EY. Preventing violence by intimate partners in adolescence: an integrative review. Rev Esc Enferm USP. 2016;50(1):134-43. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/50080-623420160000100018
    » https://doi.org/10.1590/50080-623420160000100018
  • 3
    Beserra MA, Leitão MNC, Fernandes MID, Scatena L, Vidinha TSS, Silva LMP, et al. Prevalência de violência no namoro entre adolescentes de escolas públicas de Recife/Pe -Brasil. Rev Enf Ref. 2015;4(7):91-9.
  • 4
    Beserra MA, Leitão MNC, Fernandes MID, Scatena L, Vidinha TSS, Silva LMP, et al. Prevalence and characteristics of dating violence among school-aged adolescents in Portugal. Esc Anna Nery Rev Enferm. 2016;20(1):183-91. DOI: http://dx.doi.org/10.5935/1414-8145.20160024
    » https://doi.org/10.5935/1414-8145.20160024
  • 5
    Caridade S, Machado C. Violence in juvenile dating relationships: an overview of theory, research and practice. Psicologia (Lisboa). 2013;27(1):91-113.
  • 6
    Oliveira QBM, Assis SG, Njaine K, Pires TO. Namoro na adolescência no Brasil: circularidade da violência psicológica nos diferentes contextos relacionais. Ciênc Saúde Coletiva Internet . 2014 citado 2018 jul. 26 ;19(3):707-18. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-81232014000300707&script=sci_abstract&tlng=pt
    » http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-81232014000300707&script=sci_abstract&tlng=pt
  • 7
    Carlos DM, Campeiz AB, Silva JL, Fernandes MID, Leitão MNC, Silva MAI, et al. Intervenções na escola para prevenção da violência nas relações de intimidade entre adolescentes: revisão integrativa da literatura. Rev Enf Ref Internet . 2017 citado 2019 ago. 25 14(4): 133-44. Disponível em: https://rr.esenfc.pt/rr/index.php?module=rr&target=publicationDetails&pesquisa=&id_artigo=2712&id_revista=24&id_edicao=114
    » https://rr.esenfc.pt/rr/index.php?module=rr&target=publicationDetails&pesquisa=&id_artigo=2712&id_revista=24&id_edicao=114
  • 8
    Foshee VA, Reyes HL, Gottfredson NC, Chanq LY, Ennett ST. A longitudinal examination of psychological, behavioral, academic, and relationship consequences of dating abuse victimization among a primarily rural sample of adolescents. J Adolesc Health. 2013;53(6):723-9. DOI: 10.1016/j.jadohealth.2013.06.016
    » https://doi.org/10.1016/j.jadohealth.2013.06.016
  • 9
    Barreira AK, Lima MLC, Bigras M, Njaine K, Assis SG. Direcionalidade da violência física e psicológica no namoro entre adolescentes do Recife, Brasil. Rev Bras Epidemiol Internet . 2014 citado 2018 jul. 26 ;17(1):217-28. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-90X2014000100217&script=sci_arttext&tlng=pt
    » http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-90X2014000100217&script=sci_arttext&tlng=pt
  • 10
    Morin E. O Método 5: a humanidade da humanidade. Porto Alegre: Sulinas; 2012.
  • 11
    Morin E. Ciência com consciência. 8ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; 2005.
  • 12
    Morin E. Introdução ao pensamento complexo. 3ª ed. Porto Alegre: Sulina; 2007.
  • 13
    Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Panorama Brasil-SP-Batatais. População Internet . Rio de Janeiro: IBGE; 2016 citado 2018 mar. 20 . Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/batatais/panorama
    » https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/batatais/panorama
  • 14
    Minayo MCS, coordenadora. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 18a ed. Petrópolis: Vozes; 2001.
  • 15
    Glaser BG, Strauss AL. The discovery of grounded theory: strategies for qualitative research. New York: Aldine de Gruyter; 1997.
  • 16
    Pádua EMM. Complexidade e pesquisa qualitativa: aproximações. Série Acadêmica. 2015;32(2):39-48.
  • 17
    Cecchetto F, Oliveira Q, Njaine K, Minayo M C. Violências percebidas por homens adolescentes na interação afetivo-sexual em dez cidades brasileiras. Interface Internet . 2016 citado 2016 ago. 18 ;20(59):853-64. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-32832016000400853&script=sci_abstract&tlng=pt
    » http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-32832016000400853&script=sci_abstract&tlng=pt
  • 18
    World Health Organization. Preventing intimate partner and sexual violence against women. Geneva; 2010.
  • 19
    Brasil. Lei n. 12.015, de 7 de agosto de 2009. Altera o Título VI da Parte Especial do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, e o art. 1oda Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990, que dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do inciso XLIII do art. 5o da Constituição Federal e revoga a Lei no 2.252, de 1o de julho de 1954, que trata de corrupção de menores Internet . Brasília; 2009 citado 2016 ago. 18 . Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12015.htm
    » http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12015.htm
  • 20
    Coelho EBS, Silva ACLG, Lindner SR. Violência por parceiro íntimo: definições e tipologias Internet . Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina; 2018 citado 2018 jul. 26 . Disponível em: https://www.unasus.gov.br/cursos/curso/45088
    » https://www.unasus.gov.br/cursos/curso/45088
  • 21
    Brasil. Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências Internet . Brasília; 2006 citado 2016 ago. 2018 . Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm
    » http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm
  • 22
    Saffioti HIB. Gênero, patriarcado, violência. São Paulo: Fundação Perseu Abramo; 2004.
  • 23
    Scott J. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educ Real Internet . 1995 citado 2016 ago. 23 ;20(2):71-99. Disponível em: http://www.seer.ufrgs.br/index.php/educacaoerealidade/article/view/71721/40667
    » http://www.seer.ufrgs.br/index.php/educacaoerealidade/article/view/71721/40667
  • 24
    Flake TA, Barros C, Schraiber LB, Menezes PR. Violência por parceiro íntimo entre estudantes de duas universidades do Estado de São Paulo, Brasil. Rev Bras Epidemiol Internet . 2013 citado 2016 jun. 10 ;16(4):801-16. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbepid/v16n4/pt_1415-790X-rbepid-16-04-00801.pdf
    » http://www.scielo.br/pdf/rbepid/v16n4/pt_1415-790X-rbepid-16-04-00801.pdf
  • 25
    Dardis CM, Dixon KJ, Edwards KM, Turchik JA. An examination of the factors related to dating violence perpetration among young men and women and associated theoretical explanations: a review of the literature. Trauma Violence Abuse. 2014;16(2):136-52. DOI: 10.1177/1524838013517559
    » https://doi.org/10.1177/1524838013517559
  • 26
    Barreira A, Lima M, Avanci J. Coocorrência de violência física e psicológica entre adolescentes namorados do recife, Brasil: prevalência e fatores associados. Ciênc Saúde Coletiva Internet . 2013 citado 2018 mar. 20 ;18(1):233-43. Disponível em: https://www.scielosp.org/article/ssm/content/raw/?resource_ssm_path=/media/assets/csc/v18n1/24.pdf
    » https://www.scielosp.org/article/ssm/content/raw/?resource_ssm_path=/media/assets/csc/v18n1/24.pdf
  • 27
    Apostólico MR, Hino P, Egry EY. Possibilities for addressing child abuse in systematized nursing consultations. Rev Esc Enferm USP Internet . 2013 cited 2018 Apr 29 ;47(2):320-7. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0080-62342013000200007&script=sci_arttext&tlng=en
    » http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0080-62342013000200007&script=sci_arttext&tlng=en
  • *
    Extraído da dissertação: “A violência nas relações de intimidade entre os adolescentes sob a perspectiva do Paradigma da Complexidade”, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, 2018.
  • Apoio financeiro:

    Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo FAPESP -2015/24069-5

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Jul 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    02 Ago 2018
  • Aceito
    29 Ago 2019
Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 419 , 05403-000 São Paulo - SP/ Brasil, Tel./Fax: (55 11) 3061-7553, - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: reeusp@usp.br