Acessibilidade / Reportar erro

Qual é a área de trabalho ideal na fixação de uma fratura da diáfise do fêmur com placa em ponte? Estudo multinacional transversal

RESUMO

Objetivo:

avaliar a conduta de cirurgiões ortopédicos da América Latina na definição da área de trabalho em distintos padrões de fratura da diáfise do fêmur.

Métodos:

foi desenvolvido um questionário em que foram apresentadas opções de fixação extra-medular em quatro padrões de fratura da diáfise do fêmur com três diferentes áreas de trabalho. O questionário foi submetido aos participantes utilizando-se a ferramenta Googleforms. A associação entre as características profissionais e as opções de conduta médica de acordo com cada tipo de fratura foi analisada pelo teste de qui-quadrado, com nível de significância de 5%.

Resultados:

setecentos e sete profissionais da América Latina responderam o questionário. A maioria dos participantes optou por uma menor área de trabalho na osteossíntese em todas as situações do estudo. Observou-se associação significativa entre a especialidade e a conduta médica nas fraturas do tipo AO 32-B3 e 32-C2 (p < 0,05). As demais características profissionais não mostraram associação significativa.

Conclusão:

a maioria dos participantes deste estudo prefere construções com menor área de trabalho, representando aproximadamente um terço do comprimento total da placa, independentemente do padrão de fratura. Houve associação significativa entre o tipo de especialidade (trauma ortopédico) e as opções de conduta para as fraturas do tipo AO 32-B3 e 32-C. O presente estudo reforça a importância da compreensão do conceito de área de trabalho, mostrando que sua estimativa continua sendo baseada mais na experiência do cirurgião do que em conceitos biomecânicos que regem o processo de consolidação de fraturas.

Descritores:
Inquéritos e questionários; Placas ósseas; Parafusos ósseos; Fraturas do fêmur

ABSTRACT

Objective:

to evaluate how orthopedic surgeons in Latin America define the working length for distinct patterns of femoral shaft fracture.

Methods:

a survey was developed presenting different options of working length in four femoral fracture patterns. The survey was submitted to the participants using Google Forms tool. The association between professional characteristics and medical management options according to each type of fracture was analyzed by Chi-square test, with 5% significance level.

Results:

seven hundred and seven professionals from all Latin America answered the survey. The majority prefered a smaller working length for all situations presented in the study. There was a significant association between the main interest area and the medical preference for the management in fracture types AO 32-B3 and 32-C2 (p<0.05). Other professional characteristics had no significant association at the level of 5%.

Conclusion:

most of the study participants preferred constructions with smaller working length, representing approximately one-third of the total length of the plate, regardless of fracture pattern. There was a significant association between the main interest area (orthopedic trauma) and medical management options for fracture type AO 32-B3 and 32-C2. This can be attributed in part to the fact that these two types of fractures are considered, in the view of the authors, intermediate patterns in terms of strain. This study reinforces the importance of understanding the concept of working length, showing that its calculation remains more based on the surgeons' experience than grounded by strong biomechanical concepts governing the fracture healing process.

Keywords:
Surveys and questionnaires; Bone plates; Bone screws; Femoral fractures

INTRODUÇÃO

A fratura da diáfise do fêmur é uma lesão relativamente comum, apresentando uma prevalência em torno de 3/10.000 habitantes11 Giordano V, Amaral NP. Fratura da diáfise do fêmur. In: Sociedade Brasileira de ortopedia e Traumatologia. Programa de Atualização em Traumatologia e Ortopedia (PROATO). Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2006.. Devido à sua alta morbimortalidade, principalmente associada aos altos gastos diretos e indiretos, tornou-se um grave problema de saúde pública. Seu tratamento vem sofrendo constante evolução, tendo como base a maior compreensão da anatomia local e da biomecânica das técnicas de fixação11 Giordano V, Amaral NP. Fratura da diáfise do fêmur. In: Sociedade Brasileira de ortopedia e Traumatologia. Programa de Atualização em Traumatologia e Ortopedia (PROATO). Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2006.,22 Rozbruch SR, Müller U, Gautier E, Ganz R. The evolution of femoral shaft plating technique. Clin Orthop Relat Res. 1998;(354):195-208.. Hoje em dia, a osteossíntese com um tutor intramedular, principalmente utilizando hastes intramedulares bloqueadas, é o padrão para este tipo de fratura, com baixos índices de infecção e pseudoartrose11 Giordano V, Amaral NP. Fratura da diáfise do fêmur. In: Sociedade Brasileira de ortopedia e Traumatologia. Programa de Atualização em Traumatologia e Ortopedia (PROATO). Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2006..

Algumas situações clínicas, no entanto, como a existência de um canal medular muito estreito, consolidação viciosa prévia ou presença de implantes que ocupem parcialmente o canal medular (como próteses, por exemplo) inviabilizam ou dificultam sobremaneira a realização da osteossíntese intramedular11 Giordano V, Amaral NP. Fratura da diáfise do fêmur. In: Sociedade Brasileira de ortopedia e Traumatologia. Programa de Atualização em Traumatologia e Ortopedia (PROATO). Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2006.. Nestes casos, a utilização de implantes extra-medulares torna-se a opção de tratamento da fratura da diáfise do fêmur, restando apenas a definição de qual princípio deve ser escolhido11 Giordano V, Amaral NP. Fratura da diáfise do fêmur. In: Sociedade Brasileira de ortopedia e Traumatologia. Programa de Atualização em Traumatologia e Ortopedia (PROATO). Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2006.. A execução de uma montagem com estabilidade absoluta, apesar de permitir a redução anatômica e direta da fratura, requer algum grau de desvitalização dos tecidos vizinhos ao osso, o que pode trazer problemas de cicatrização de partes moles e retardo do processo de consolidação11 Giordano V, Amaral NP. Fratura da diáfise do fêmur. In: Sociedade Brasileira de ortopedia e Traumatologia. Programa de Atualização em Traumatologia e Ortopedia (PROATO). Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2006.,22 Rozbruch SR, Müller U, Gautier E, Ganz R. The evolution of femoral shaft plating technique. Clin Orthop Relat Res. 1998;(354):195-208.. Por estes motivos, à luz do conhecimento atual, o uso de técnicas de redução indireta, buscando uma estabilização mais elástica da fratura, tem sido preferido11 Giordano V, Amaral NP. Fratura da diáfise do fêmur. In: Sociedade Brasileira de ortopedia e Traumatologia. Programa de Atualização em Traumatologia e Ortopedia (PROATO). Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2006.

2 Rozbruch SR, Müller U, Gautier E, Ganz R. The evolution of femoral shaft plating technique. Clin Orthop Relat Res. 1998;(354):195-208.

3 Angelini AJ, Livani B, Flierl MA, Morgan SJ, Belangero WD. Less invasive percutaneous wave plating of simple femur shaft fractures: a prospective series. Injury. 2010;41(6):624-8.

4 Beltran MJ, Collinge CA, Gardner MJ. Stress modulation of fracture fixation implants. J Am Acad Orthop Surg. 2016;24(10):711-9.
-55 Perren SM. Physical and biological aspects of fracture healing with special reference to internal fixation. Clin Orthop Relat Res. 1979;17(138):175-96..

Entretanto, construções muito rígidas são responsáveis por formação inadequada e geralmente assimétrica do calo ósseo, associadas ou não à fadiga do implante. Por outro lado, a elasticidade que a construção placa/parafusos deve proporcionar permanece ainda indefinida55 Perren SM. Physical and biological aspects of fracture healing with special reference to internal fixation. Clin Orthop Relat Res. 1979;17(138):175-96.. Atualmente, tanto o comprimento do implante quanto a localização e o número de parafusos são definidos muito mais pela experiência do cirurgião do que por evidência biomecânica55 Perren SM. Physical and biological aspects of fracture healing with special reference to internal fixation. Clin Orthop Relat Res. 1979;17(138):175-96.,66 Claes LE, Heigele CA. Magnitudes of local stress and strain along bony surfaces predict the course and type of fracture healing. J Biomech. 1999;32(3):255-66.. Diretrizes mais recentes empregando implantes bloqueados sugerem que a placa deve ser a mais longa possível e que ao menos três parafusos bi-corticais devem ser colocados em cada lado da fratura, sem, entretanto, definirem qual a área de trabalho ideal para os diferentes padrões de fratura da diáfise do fêmur55 Perren SM. Physical and biological aspects of fracture healing with special reference to internal fixation. Clin Orthop Relat Res. 1979;17(138):175-96.

6 Claes LE, Heigele CA. Magnitudes of local stress and strain along bony surfaces predict the course and type of fracture healing. J Biomech. 1999;32(3):255-66.

7 Chao P, Conrad BP, Lewis DD, Horodyski M, Pozzi A. Effect of plate working length on plate stiffness and cyclic fatigue life in a cadaveric femoral fracture gap model stabilized with a 12-hole 2.4 mm locking compression plate. BMC Vet Res. 2013;9:125.
-88 Huiskes D, Nunamaker R. Local stresses and bone adaption around orthopedic implants. Calcif Tissue Int. 1984;36 Suppl 1:S110-7..

Na experiência dos autores, fraturas de traço simples, que apresentam deformação percentual elevada no foco de fratura (strain), devem ter área de trabalho maior do que a calculada para fraturas mais complexas. Levando em consideração esta hipótese (H0), o objetivo do presente estudo foi avaliar, por meio de um questionário, a conduta de cirurgiões ortopédicos de diferentes países da América Latina na definição da área de trabalho em distintos padrões de fratura da diáfise do fêmur.

MÉTODOS

Foi desenvolvido um questionário dividido em duas partes. Na primeira, foram coletadas informações sobre o participante e na segunda, apresentadas opções de fixação em quatro diferentes padrões de fratura da diáfise do fêmur para ser selecionada a melhor opção pelo participante.

O questionário foi desenvolvido e submetido aos participantes utilizando-se a ferramenta Googleforms. Os convites contendo o link para o questionário foram feitos por e-mail enviado pela Oficina da AO Trauma Latino-Americana (AOTLat). Todos os afiliados desta associação médica foram convidados a responder. Os convites foram enviados entre 9 de Julho e 24 de Agosto de 2016. Foi utilizada a língua Espanhola para todos os membros da AOTLat, exceto para o Brasil, onde foi utilizado o Português.

A primeira parte do questionário foi desenvolvida para identificar o grau de experiência profissional, tipo de prática e área de maior interesse e atuação dentro da especialidade. Como cada participante foi convidado em seu próprio endereço eletrônico, sua nacionalidade pôde ser identificada, entretanto este dado não foi usado para fins de análise estatística.

Na segunda parte do questionário foram apresentados quatro padrões distintos de fratura, com ilustrações representando os tipos 32-A3, 32-B3, 32-C2 e 32-C3 da classificação do Grupo AO. A escolha dos tipos de fratura objetivou abranger traços com maior (32-A3 e 32-B3) e menor strain (32-C2 e 32-C3), apresentando morfologias diferentes. Nas quatro situações apresentadas, o centro da fratura esteve sempre localizado no ponto mais central da diáfise femoral. No tipo 32-A3, a fratura foi criada para simular uma diástase de 2mm entre os fragmentos proximal e distal, o que permite contato da cortical trans durante carga. Nos tipos 32-B3, 32-C2 e 32-C3, a zona da fratura compreendeu exatamente o terço médio da diáfise. Os padrões de fratura estão ilustrados na figura 1, na qual pode ser vista a representação dos tipos de fratura 32-A3, 32-B3, 32-C2 e 32-C3 da classificação AO, com uma das construções apresentadas nas opções de resposta. O centro da fratura foi localizado no ponto mais central da diáfise femoral. Nos tipos 32-B3, 32-C2 e 32-C3, a zona da fratura compreendeu o terço médio da diáfise.

Figura 1.
Representação dos tipos de fratura.

Em cada um destes tipos de fratura, quatro opções de resposta foram dadas aos participantes, sendo três delas com construções diferentes de fixação com placa bloqueada, variando a distribuição dos parafusos. Os parafusos mais proximal e mais distal estiveram sempre presentes e a distribuição dos parafusos restantes baseou-se em nossa experiência clínica e em trabalhos encontrados na literatura99 Märdian S, Schaser KD, Duda GN, Heyland M. Working length of locking plates determines interfragmentary movement in distal femur fractures under physiological loading. Clin Biomech (Bristol, Avon). 2015;30(4):391-6.,1010 Stoffel K, Dieter U, Stachowiak G, Gächter A, Kuster MS. Biomechanical testing of the LCP--how can stability in locked internal fixators be controlled? Injury. 2003;34 Suppl 2:B11-9.. O implante representado na ilustração mimetizou uma LCP® (Locking Compression Plate®, DPS, EUA) reta de 16 orifícios e os parafusos foram numerados de forma crescente de um a 16. Embora não especificado diretamente aos participantes, as ilustrações representaram parafusos bloqueados. Independente do tipo de fratura, as opções de construção foram sempre as mesmas. Nas figuras 2 e 3 são mostrados exemplos da segunda parte do questionário. Em cada uma das quatro situações apresentadas, foi perguntado ao participante seu nível de confiança na resposta dada (Figura 4).

Figura 2.
Exemplo de uma das situações apresentadas aos participantes, representando uma fratura do tipo AO 32-A3. Notar a área de trabalho progressivamente menor da opção 1 à opção 3. A última opção deu aos participantes a possibilidade de escolher uma cons trução diferente das apresentadas (questionário em espanhol).

Figura 3.
Exemplo de uma das situações apresentadas aos participan tes, representando uma fratura do tipo AO 32-C3. Notar a área de trabalho progressivamente menor da opção 1 à opção 3. A última opção deu aos participantes a possibilida de de escolher uma construção diferente das apresentadas. (questionário em português).

Figura 4.
Nível de confiança na resposta dada (questionário em por tuguês).

Os dados foram sumarizados pela frequência e percentual e por alguns gráficos ilustrativos. A associação entre as características profissionais (grau de experiência, tipo de prática e área de maior interesse dentro da especialidade) e as opções de conduta médica de acordo com cada tipo de fratura foi analisada pelo teste de qui-quadrado (x2). O critério de determinação de significância adotado foi o nível de 5%. A análise estatística foi processada pelo software estatístico SPSS versão 20.0.

RESULTADOS

Setecentos e sete profissionais da América Latina de 15 diferentes países responderam o questionário. As tabelas 1, 2 e 3 fornecem a frequência (n) e o percentual (%) das características profissionais, as opiniões em relação à conduta e seu respectivo nível de confiança, respectivamente, compostas no questionário. Com relação ao grau de experiência profissional, os participantes foram divididos em três categorias, "menos de 5 anos", "de 5 a 10 anos" e "mais de 10 anos", e agrupados em "menos de 5 anos" e "mais ou igual a 5 anos". Com relação ao tipo de prática profissional, os participantes foram divididos em "acadêmica", "não acadêmica" e "clínica privada", e agrupados posteriormente em "acadêmica" e "não acadêmica/clínica privada". Com relação à área de maior interesse e atuação dentro da especialidade, os participantes forma divididos em "geral", "ortopedia" e "trauma". O grupo "ortopedia" compreendeu todos os participantes que responderam algo diferente de Geral ou Trauma.

Tabela 1
Distribuição das características profissionais dos 707 ortopedistas.
Tabela 2
Distribuição das respostas em relação a conduta médica.
Tabela 3
Distribuição do nível de confiança em relação à conduta médica correspondente

A distribuição das opções de conduta segundo os tipos de fraturas está ilustrada na figura 5.

Figura 5.
Distribuição das opções de conduta segundo os tipos de fra turas, de acordo com a classificação AO.

Foram avaliados individualmente cada tipo de fratura e os resultados serão apresentados deste modo.

  • Tipo AO 32-A3 - observou-se que não existe associação significativa, ao nível de 5%, entre as características profissionais com a conduta médica para a fratura do tipo AO 32-A3. A tabela 4 fornece a análise descritiva (frequência e percentual) das características profissionais segundo a conduta médica (opção 1, opção 2, opção 3 e nenhuma delas) e o correspondente nível descritivo (p valor) do teste de x2. Foram feitos alguns agrupamentos nas categorias das características profissionais, visando a fortalecer a tendência dos resultados observados.

Tabela 4
Característica profissional segundo a conduta médica para a fratura do tipo AO 32 A3.
  • Tipo AO 32-B3 - observou-se que existe associação significativa entre a área de maior interesse na especialidade e a conduta médica na fratura do tipo AO 32-B3 (p = 0,029 com três categorias e p = 0,020 com duas categorias). Os participantes com maior interesse na área do trauma ortopédico tendem a escolher as "opções 1, 2 e 3", enquanto que os generalistas (Geral e Ortopedia) tendem a escolher a conduta "nenhuma delas". As demais características profissionais não apresentaram associação significativa, ao nível de 5%, com a conduta médica para a fratura do tipo AO 32-B3. A tabela 5 fornece a análise descritiva (frequência e percentual) das características profissionais segundo a conduta médica (opção 1, opção 2, opção 3 e nenhuma delas) e o correspondente nível descritivo (p valor) do teste de x2. Foram feitos alguns agrupamentos nas categorias das características profissionais, visando fortalecer a tendência dos resultados observados.

Tabela 5
Característica profissional segundo a conduta médica para a fratura do tipo AO 32 B3.
  • Tipo AO 32-C2 - observou-se que existe associação significativa entre a área do maior interesse na especialidade e a conduta médica da fratura do tipo AO 32-C2 (p = 0,034 com duas categorias). Isto significa, que os participantes com maior interesse na área do trauma ortopédico tendem a escolher as "opções 1, 2 e 3", enquanto que os generalistas (Geral e Ortopedia) tendem a escolher a conduta "nenhuma delas". Observou-se que existe uma tendência de associação entre a área do maior interesse na especialidade e a conduta médica da fratura do tipo AO 32-C2 (p = 0,11 com três categorias). As demais características profissionais não apresentaram associação significativa, ao nível de 5%, com a conduta médica para a fratura do tipo AO 32-C2. A tabela 6 fornece a análise descritiva (frequência e percentual) das características profissionais segundo a conduta médica (opção 1, opção 2, opção 3 e nenhuma delas) e o correspondente nível descritivo (p valor) do teste de x2. Foram feitos alguns agrupamentos nas categorias das características profissionais, visando fortalecer a tendência dos resultados observados.

Tabela 6
Característica profissional segundo a conduta médica para a fratura do tipo AO 32 C2.
  • Tipo AO 32-C3 - observou-se que existe uma forte tendência de associação entre a área do maior interesse na especialidade e a conduta médica da fratura do tipo AO 32-C3 (p = 0,062 com duas categorias). Os participantes com maior interesse na área do trauma ortopédico tendem a escolher as "opções 1, 2 e 3", enquanto que os generalistas (Geral e Ortopedia) tendem a escolher a conduta "nenhuma delas". Provavelmente esta perda de significância, ao nível de 5%, é devida ao baixo número de resposta "nenhuma delas" (n = 33) para a fratura do tipo AO 32-C3. As demais características profissionais não apresentaram associação significativa, ao nível de 5%, com a conduta médica para a fratura do tipo AO 32-C3. Destaca-se uma discreta tendência entre os especialistas com mais de 10 anos de experiência a escolherem a conduta "nenhuma delas", enquanto que aqueles com menos 10 anos de experiência tendem a escolher as "opções 1, 2 e 3" (p = 0,34). A tabela 7 fornece a análise descritiva (frequência e percentual) das características profissionais segundo a conduta médica (opção 1, opção 2, opção 3 e nenhuma delas) e o correspondente nível descritivo (p valor) do teste de x2. Foram feitos alguns agrupamentos nas categorias das características profissionais, visando fortalecer a tendência dos resultados observados.

Tabela 7
Característica profissional segundo a conduta médica para a fratura do tipo AO 32 C3.

DISCUSSÃO

O processo de consolidação do osso fraturado depende diretamente do ambiente biológico e mecânico determinado, respectivamente, pela energia cinética que gerou a lesão e pelo tipo de estabilidade fornecido pelo cirurgião33 Angelini AJ, Livani B, Flierl MA, Morgan SJ, Belangero WD. Less invasive percutaneous wave plating of simple femur shaft fractures: a prospective series. Injury. 2010;41(6):624-8.

4 Beltran MJ, Collinge CA, Gardner MJ. Stress modulation of fracture fixation implants. J Am Acad Orthop Surg. 2016;24(10):711-9.

5 Perren SM. Physical and biological aspects of fracture healing with special reference to internal fixation. Clin Orthop Relat Res. 1979;17(138):175-96.
-66 Claes LE, Heigele CA. Magnitudes of local stress and strain along bony surfaces predict the course and type of fracture healing. J Biomech. 1999;32(3):255-66.,88 Huiskes D, Nunamaker R. Local stresses and bone adaption around orthopedic implants. Calcif Tissue Int. 1984;36 Suppl 1:S110-7.. No tratamento da fratura da diáfise do fêmur, a placa em ponte tem indicação quando o tutor intramedular está contraindicado11 Giordano V, Amaral NP. Fratura da diáfise do fêmur. In: Sociedade Brasileira de ortopedia e Traumatologia. Programa de Atualização em Traumatologia e Ortopedia (PROATO). Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2006.. Existe, no entanto, ainda hoje, a dúvida sobre qual a melhor construção para cada padrão de fratura. Segundo a teoria do strain, descrita por Perren55 Perren SM. Physical and biological aspects of fracture healing with special reference to internal fixation. Clin Orthop Relat Res. 1979;17(138):175-96., ao buscar-se o princípio de estabilidade relativa com placa, a construção da osteossíntese deve possuir características mecânicas que não a tornem nem muito rígida nem muito flexível22 Rozbruch SR, Müller U, Gautier E, Ganz R. The evolution of femoral shaft plating technique. Clin Orthop Relat Res. 1998;(354):195-208.

3 Angelini AJ, Livani B, Flierl MA, Morgan SJ, Belangero WD. Less invasive percutaneous wave plating of simple femur shaft fractures: a prospective series. Injury. 2010;41(6):624-8.

4 Beltran MJ, Collinge CA, Gardner MJ. Stress modulation of fracture fixation implants. J Am Acad Orthop Surg. 2016;24(10):711-9.
-55 Perren SM. Physical and biological aspects of fracture healing with special reference to internal fixation. Clin Orthop Relat Res. 1979;17(138):175-96.. A compreensão sobre como modular a rigidez da montagem permite ao cirurgião executar uma osteossíntese capaz de equilibrar as características biológicas e mecânicas em cada tipo de fratura.

O grau de resistência axial e da rigidez torsional de um tutor extra-medular pode ser modulado pelo tamanho da área de trabalho, definida pelo comprimento da placa localizada abaixo do foco de fratura sem fixação com o osso44 Beltran MJ, Collinge CA, Gardner MJ. Stress modulation of fracture fixation implants. J Am Acad Orthop Surg. 2016;24(10):711-9.,77 Chao P, Conrad BP, Lewis DD, Horodyski M, Pozzi A. Effect of plate working length on plate stiffness and cyclic fatigue life in a cadaveric femoral fracture gap model stabilized with a 12-hole 2.4 mm locking compression plate. BMC Vet Res. 2013;9:125.,99 Märdian S, Schaser KD, Duda GN, Heyland M. Working length of locking plates determines interfragmentary movement in distal femur fractures under physiological loading. Clin Biomech (Bristol, Avon). 2015;30(4):391-6.. Entretanto, a relação entre a área de trabalho e a mobilidade interfragmentar (strain) no foco da fratura permanece ainda indefinida, fazendo com que a escolha da posição dos parafusos seja completamente dependente da experiência do cirurgião.

No presente estudo, em que foram utilizados padrões de fratura com traços simples (maior strain) e complexos (menor strain), observou-se que a maioria dos participantes preferiu uma área de trabalho menor, correspondendo à cerca de um terço do comprimento da placa, independentemente do padrão de fratura. Quando perguntados sobre seu grau de confiança na resposta fornecida nas quatro situações, mais uma vez a maioria respondeu que sentia-se muito confiante ou confiante em sua escolha. O tempo de experiência e maior área de interesse e atuação dentro da especialidade, mostraram-se determinantes na escolha, principalmente em alguns tipos de fratura (32-B3 e 32-C2).

Diferentemente dos participantes, na opinião dos autores, padrões distintos de fratura, envolvendo mobilidade interfragmentar tão antagônica como nos tipos AO 32-A3 e AO 32-C3, deveriam ser tratados com áreas de trabalho diferentes. Idealmente, na placa em ponte a mobilidade interfragmentar deve ocorrer de modo balanceado sob o implante e na cortical oposta a este (trans), respeitando o conceito de stress shielding (estresse compartilhado)33 Angelini AJ, Livani B, Flierl MA, Morgan SJ, Belangero WD. Less invasive percutaneous wave plating of simple femur shaft fractures: a prospective series. Injury. 2010;41(6):624-8.,44 Beltran MJ, Collinge CA, Gardner MJ. Stress modulation of fracture fixation implants. J Am Acad Orthop Surg. 2016;24(10):711-9.,1010 Stoffel K, Dieter U, Stachowiak G, Gächter A, Kuster MS. Biomechanical testing of the LCP--how can stability in locked internal fixators be controlled? Injury. 2003;34 Suppl 2:B11-9.. Isso claramente ocorre nos traços mais simples de fratura, como no tipo AO 32-A3, desde que haja alinhamento adequado entre os fragmentos proximal e distal. Ao contrário, em fraturas com grandes defeitos de contato ou extrema fragmentação, como no tipo AO 32-C3, a concentração de estresse é suportada isoladamente pelo implante, de acordo com o conceito de stress rising (estresse elevado). Padrões intermediários dependem de outros fatores, como a localização da cunha óssea (no tipo AO 32-B3) e o alinhamento do fragmento intermediário (no tipo AO 32-C2), por exemplo.

No planejamento do cálculo da área de trabalho para uma fratura da diáfise de traço simples em que se visa a fixar com uma placa em ponte, nos parece muito mais lógico que esta seja mais longa, permitindo maior flexibilidade do implante. Quanto mais rígida a construção, maior a concentração de estresse em uma região menor do implante, elevando o risco de fadiga durante o processo de consolidação de fratura1010 Stoffel K, Dieter U, Stachowiak G, Gächter A, Kuster MS. Biomechanical testing of the LCP--how can stability in locked internal fixators be controlled? Injury. 2003;34 Suppl 2:B11-9.,1111 Schell H, Epari DR, Kassi JP, Bragulla H, Bail HJ, Duda GN. The course of bone healing is influenced by the initial shear fixation stability. J Orthop Res. 2005;23(5):1022-8.. Ao aumentar a área de trabalho, a concentração de estresse sobre o implante, principalmente em flexão é menor, pois a área de deformação é maior; além disto, existe um fator de limitação do momento fletor e consequente proteção da placa, que é o contato da cortical trans1010 Stoffel K, Dieter U, Stachowiak G, Gächter A, Kuster MS. Biomechanical testing of the LCP--how can stability in locked internal fixators be controlled? Injury. 2003;34 Suppl 2:B11-9.. Este pensamento é corroborado pelas observações de diversos autores33 Angelini AJ, Livani B, Flierl MA, Morgan SJ, Belangero WD. Less invasive percutaneous wave plating of simple femur shaft fractures: a prospective series. Injury. 2010;41(6):624-8.,44 Beltran MJ, Collinge CA, Gardner MJ. Stress modulation of fracture fixation implants. J Am Acad Orthop Surg. 2016;24(10):711-9.,77 Chao P, Conrad BP, Lewis DD, Horodyski M, Pozzi A. Effect of plate working length on plate stiffness and cyclic fatigue life in a cadaveric femoral fracture gap model stabilized with a 12-hole 2.4 mm locking compression plate. BMC Vet Res. 2013;9:125.,99 Märdian S, Schaser KD, Duda GN, Heyland M. Working length of locking plates determines interfragmentary movement in distal femur fractures under physiological loading. Clin Biomech (Bristol, Avon). 2015;30(4):391-6.,1010 Stoffel K, Dieter U, Stachowiak G, Gächter A, Kuster MS. Biomechanical testing of the LCP--how can stability in locked internal fixators be controlled? Injury. 2003;34 Suppl 2:B11-9.. Utilizando modelo experimental em ovelhas, demonstrou-se que uma distância de compressão axial de 20% a 30% do comprimento do intervalo em defeito de três milímetros é capaz de promover a consolidação óssea em aproximadamente nove semanas44 Beltran MJ, Collinge CA, Gardner MJ. Stress modulation of fracture fixation implants. J Am Acad Orthop Surg. 2016;24(10):711-9.,1111 Schell H, Epari DR, Kassi JP, Bragulla H, Bail HJ, Duda GN. The course of bone healing is influenced by the initial shear fixation stability. J Orthop Res. 2005;23(5):1022-8.. Em vista das reconhecidas qualidades adaptativas do osso, o processo de osteogênese é estimulado por elevado estresse (ou deformação) desde que exista estabilidade suficiente entre o osso e a placa55 Perren SM. Physical and biological aspects of fracture healing with special reference to internal fixation. Clin Orthop Relat Res. 1979;17(138):175-96..

Seguindo o mesmo pensamento, ao planejar a construção da placa em ponte para uma fratura multifragmentar da diáfise do fêmur, a área de trabalho deve ser o mais próxima possível da zona de fratura1010 Stoffel K, Dieter U, Stachowiak G, Gächter A, Kuster MS. Biomechanical testing of the LCP--how can stability in locked internal fixators be controlled? Injury. 2003;34 Suppl 2:B11-9.. Como a concentração de estresse ocorre ao nível da fratura, o menor estresse sobre o implante irá ocorrer quanto menor for a área de trabalho44 Beltran MJ, Collinge CA, Gardner MJ. Stress modulation of fracture fixation implants. J Am Acad Orthop Surg. 2016;24(10):711-9.,55 Perren SM. Physical and biological aspects of fracture healing with special reference to internal fixation. Clin Orthop Relat Res. 1979;17(138):175-96.,1010 Stoffel K, Dieter U, Stachowiak G, Gächter A, Kuster MS. Biomechanical testing of the LCP--how can stability in locked internal fixators be controlled? Injury. 2003;34 Suppl 2:B11-9.. Isto leva à maior rigidez axial abaixo da placa, com reduzidas mobilidade interfragmentar e deformação do implante1010 Stoffel K, Dieter U, Stachowiak G, Gächter A, Kuster MS. Biomechanical testing of the LCP--how can stability in locked internal fixators be controlled? Injury. 2003;34 Suppl 2:B11-9.. Tem sido mostrado que, em fraturas com elevado grau de fragmentação, construções muito flexíveis predispõem à formação inadequada do calo ósseo, potencialmente levando ao desenvolvimento de pseudoartrose hipertrófica ou deformação plástica e falha mecânica do implante55 Perren SM. Physical and biological aspects of fracture healing with special reference to internal fixation. Clin Orthop Relat Res. 1979;17(138):175-96.,1010 Stoffel K, Dieter U, Stachowiak G, Gächter A, Kuster MS. Biomechanical testing of the LCP--how can stability in locked internal fixators be controlled? Injury. 2003;34 Suppl 2:B11-9.,1212 Linn MS, McAndrew CM, Prusaczyk B, Brimmo O, Ricci WM, Gardner MJ. Dynamic locked plating of distal femur fractures. J Orthop Trauma. 2015;29(10):447-50..

Como mencionado anteriormente, padrões intermediários de fratura merecem abordagem individual seguindo o conceito de personalidade da fratura. Há de sempre ter em mente a necessidade de manter-se o equilíbrio entre biologia e mecânica, controlando variáveis como qualidade de redução, escolha do implante e grau de rigidez da construção. Especificamente a escolha do implante parece ter papel importante sobre a modulação de estresse no foco de fratura33 Angelini AJ, Livani B, Flierl MA, Morgan SJ, Belangero WD. Less invasive percutaneous wave plating of simple femur shaft fractures: a prospective series. Injury. 2010;41(6):624-8.,44 Beltran MJ, Collinge CA, Gardner MJ. Stress modulation of fracture fixation implants. J Am Acad Orthop Surg. 2016;24(10):711-9.,1010 Stoffel K, Dieter U, Stachowiak G, Gächter A, Kuster MS. Biomechanical testing of the LCP--how can stability in locked internal fixators be controlled? Injury. 2003;34 Suppl 2:B11-9.,1212 Linn MS, McAndrew CM, Prusaczyk B, Brimmo O, Ricci WM, Gardner MJ. Dynamic locked plating of distal femur fractures. J Orthop Trauma. 2015;29(10):447-50.. Placas bloqueadas suportam maiores cargas de flexão e de torção do que as convencionais, o que resulta em maior estresse sobre o implante. Isso tem levado diversos autores a proporem a utilização de parafusos corticais convencionais próximos ao foco de fratura, principalmente quando a área de trabalho for menor, como parece ser o ideal para fraturas com padrão multifragmentar1010 Stoffel K, Dieter U, Stachowiak G, Gächter A, Kuster MS. Biomechanical testing of the LCP--how can stability in locked internal fixators be controlled? Injury. 2003;34 Suppl 2:B11-9.,1212 Linn MS, McAndrew CM, Prusaczyk B, Brimmo O, Ricci WM, Gardner MJ. Dynamic locked plating of distal femur fractures. J Orthop Trauma. 2015;29(10):447-50.,1313 Freeman AL, Tornetta P 3rd, Schmidt A, Bechtold J, Ricci W, Fleming M. How much do locked screws add to the fixation of "hybrid" plate constructs in osteoporotic bone? J Orthop Trauma. 2010;24(3):163-9.. Este detalhe técnico reduz a rigidez da construção comparativamente ao uso de todos os parafusos bloqueados1313 Freeman AL, Tornetta P 3rd, Schmidt A, Bechtold J, Ricci W, Fleming M. How much do locked screws add to the fixation of "hybrid" plate constructs in osteoporotic bone? J Orthop Trauma. 2010;24(3):163-9..

No presente estudo, embora não tenha sido a escolha da maioria dos participantes, a opção dos autores para as diferentes situações apresentadas seria pela adoção de uma maior área de trabalho para o tipo AO 32-A3 ("opção 1") e de uma menor área de trabalho para o tipo AO 32-C3 ("opção 3"). Nos demais tipos (AO 32-B3 e 32-C2), como apresentadas no questionário, onde observa-se adequado alinhamento axial no plano coronal, optaríamos por uma área de trabalho intermediária ("opção 2"), haja vista a existência de algum grau de compartilhamento do estresse entre o osso e o implante. Tem sido observadas menores tensões de von Mises sobre a construção quando há contato ósseo e aumenta-se a área de trabalho, o que reduz o risco de falha da placa44 Beltran MJ, Collinge CA, Gardner MJ. Stress modulation of fracture fixation implants. J Am Acad Orthop Surg. 2016;24(10):711-9.,1010 Stoffel K, Dieter U, Stachowiak G, Gächter A, Kuster MS. Biomechanical testing of the LCP--how can stability in locked internal fixators be controlled? Injury. 2003;34 Suppl 2:B11-9..

Nosso estudo apresenta algumas limitações. Uma delas é a existência de três opções distintas de área de trabalho, embora outras possibilidades existam. Por este motivo, foi dada a oportunidade ao participante de responder que nenhuma das opções apresentadas seria a sua opção. A escolha das montagens utilizadas no estudo buscou reproduzir um modelo em que a área de trabalho era longa ("opção 1"), um em que esta era curta ("opção 3") e outro em que a área de trabalho era intermediária ("opção 2"). Märdian et al.99 Märdian S, Schaser KD, Duda GN, Heyland M. Working length of locking plates determines interfragmentary movement in distal femur fractures under physiological loading. Clin Biomech (Bristol, Avon). 2015;30(4):391-6. empregaram metodologia similar em sua investigação. Estes autores utilizaram quatro áreas de trabalho em análise quantitativa com elementos finitos usando tomografia computadorizada. A definição da posição dos parafusos baseou-se na experiência pessoal dos autores e em recomendações publicadas na literatura médica99 Märdian S, Schaser KD, Duda GN, Heyland M. Working length of locking plates determines interfragmentary movement in distal femur fractures under physiological loading. Clin Biomech (Bristol, Avon). 2015;30(4):391-6.,1010 Stoffel K, Dieter U, Stachowiak G, Gächter A, Kuster MS. Biomechanical testing of the LCP--how can stability in locked internal fixators be controlled? Injury. 2003;34 Suppl 2:B11-9..

Outra limitação do estudo é que os modelos basearam-se no esqueleto de um adulto jovem no pico de massa óssea. As respostas poderiam ter sido diferentes no caso de tratar-se de pacientes mais idosos e, principalmente, com estoque ósseo reduzido. No entanto, nestas situações outros detalhes técnicos da osteossíntese parecem ser mais importantes do que a definição da área de trabalho, propriamente dita1414 Bottlang M, Doornink J, Byrd GD, Fitzpatrick DC, Madey SM. A nonlocking end screw can decrease fracture risk caused by locked plating in the osteoporotic diaphysis. J Bone Joint Surg Am. 2009;91(3):620-7.,1515 Sanders R, Haidukewych GJ, Milne T, Dennis J, Latta LL. Minimal versus maximal plate fixation techniques of the ulna: the biomechanical effect of number of screws and plate length. J Orthop Trauma. 2002;16(3):166-71.. Aumentar o comprimento da placa, por exemplo, faz com que a distribuição do estresse ocorra ao longo de todo o implante, prevenindo sua concentração ao nível da fratura e melhorando a resistência da construção1515 Sanders R, Haidukewych GJ, Milne T, Dennis J, Latta LL. Minimal versus maximal plate fixation techniques of the ulna: the biomechanical effect of number of screws and plate length. J Orthop Trauma. 2002;16(3):166-71.. Em nosso estudo, o comprimento do implante foi o maior possível dentre as placas bloqueadas retas e não anatômicas, cumprindo a recomendação vigente.

Finalmente, a ausência de associação significativa entre a maioria das características profissionais com a conduta médica pode ser encarada como uma limitação do estudo. No entanto, somente na fratura do tipo AO 32-A3 isso se deu completamente. Nos tipos AO 32-B3 e 32-C2, foi observada significância estatística ao nível de 5%, com os participantes de maior interesse na área do trauma ortopédico tendendo a escolher mais as "opções 1, 2 e 3". No tipo AO 32-C3, observou-se que existe uma forte tendência de associação entre a área do maior interesse na especialidade e a conduta médica da fratura do tipo AO 32-C3, no entanto sem significância estatística. Provavelmente esta perda de significância, ao nível de 5%, foi devida ao baixo número de resposta "nenhuma delas" (n = 33) para este tipo de fratura.

Podemos concluir com nosso estudo que a maioria dos participantes deste estudo (49,1%) prefere construções com menor área de trabalho, representando aproximadamente um terço do comprimento total da placa, independentemente do padrão de fratura. Houve associação significativa entre a área de maior interesse dentro da especialidade (trauma ortopédico) e as opções de conduta para as fraturas do tipo AO 32-B3 e 32-C2 provavelmente por estes dois tipos de fratura serem padrões intermediários em termos de strain. O presente estudo reforça a importância da compreensão, mas questiona o conceito de área de trabalho, já que seu cálculo continua sendo mais baseado na experiência do cirurgião do que em princípios biomecânicos que regem o processo de consolidação das fraturas.

  • Fonte de financiamento: nenhuma.

REFERÊNCIAS

  • 1
    Giordano V, Amaral NP. Fratura da diáfise do fêmur. In: Sociedade Brasileira de ortopedia e Traumatologia. Programa de Atualização em Traumatologia e Ortopedia (PROATO). Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2006.
  • 2
    Rozbruch SR, Müller U, Gautier E, Ganz R. The evolution of femoral shaft plating technique. Clin Orthop Relat Res. 1998;(354):195-208.
  • 3
    Angelini AJ, Livani B, Flierl MA, Morgan SJ, Belangero WD. Less invasive percutaneous wave plating of simple femur shaft fractures: a prospective series. Injury. 2010;41(6):624-8.
  • 4
    Beltran MJ, Collinge CA, Gardner MJ. Stress modulation of fracture fixation implants. J Am Acad Orthop Surg. 2016;24(10):711-9.
  • 5
    Perren SM. Physical and biological aspects of fracture healing with special reference to internal fixation. Clin Orthop Relat Res. 1979;17(138):175-96.
  • 6
    Claes LE, Heigele CA. Magnitudes of local stress and strain along bony surfaces predict the course and type of fracture healing. J Biomech. 1999;32(3):255-66.
  • 7
    Chao P, Conrad BP, Lewis DD, Horodyski M, Pozzi A. Effect of plate working length on plate stiffness and cyclic fatigue life in a cadaveric femoral fracture gap model stabilized with a 12-hole 2.4 mm locking compression plate. BMC Vet Res. 2013;9:125.
  • 8
    Huiskes D, Nunamaker R. Local stresses and bone adaption around orthopedic implants. Calcif Tissue Int. 1984;36 Suppl 1:S110-7.
  • 9
    Märdian S, Schaser KD, Duda GN, Heyland M. Working length of locking plates determines interfragmentary movement in distal femur fractures under physiological loading. Clin Biomech (Bristol, Avon). 2015;30(4):391-6.
  • 10
    Stoffel K, Dieter U, Stachowiak G, Gächter A, Kuster MS. Biomechanical testing of the LCP--how can stability in locked internal fixators be controlled? Injury. 2003;34 Suppl 2:B11-9.
  • 11
    Schell H, Epari DR, Kassi JP, Bragulla H, Bail HJ, Duda GN. The course of bone healing is influenced by the initial shear fixation stability. J Orthop Res. 2005;23(5):1022-8.
  • 12
    Linn MS, McAndrew CM, Prusaczyk B, Brimmo O, Ricci WM, Gardner MJ. Dynamic locked plating of distal femur fractures. J Orthop Trauma. 2015;29(10):447-50.
  • 13
    Freeman AL, Tornetta P 3rd, Schmidt A, Bechtold J, Ricci W, Fleming M. How much do locked screws add to the fixation of "hybrid" plate constructs in osteoporotic bone? J Orthop Trauma. 2010;24(3):163-9.
  • 14
    Bottlang M, Doornink J, Byrd GD, Fitzpatrick DC, Madey SM. A nonlocking end screw can decrease fracture risk caused by locked plating in the osteoporotic diaphysis. J Bone Joint Surg Am. 2009;91(3):620-7.
  • 15
    Sanders R, Haidukewych GJ, Milne T, Dennis J, Latta LL. Minimal versus maximal plate fixation techniques of the ulna: the biomechanical effect of number of screws and plate length. J Orthop Trauma. 2002;16(3):166-71.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Aug 2017

Histórico

  • Recebido
    19 Jan 2017
  • Aceito
    30 Mar 2017
Colégio Brasileiro de Cirurgiões Rua Visconde de Silva, 52 - 3º andar, 22271- 090 Rio de Janeiro - RJ, Tel.: +55 21 2138-0659, Fax: (55 21) 2286-2595 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: revista@cbc.org.br