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Intervenções de enfermagem utilizadas na prática clínica de uma unidade de terapia intensiva

Resumos

Este é estudo descritivo, transversal, realizado em um hospital universitário com os objetivos de descrever as intervenções de enfermagem mais utilizadas na prática clínica de uma unidade de terapia intensiva, com base nas prescrições de enfermagem, e analisar a sua similaridade com a Nursing Interventions Classification (NIC). A amostra constou de 991 internações de pacientes. Os dados foram coletados, retrospectivamente, em base informatizada, e analisados pela estatística descritiva e mapeamento cruzado. Identificaram-se 57 diferentes intervenções/NIC, frequentemente utilizadas na unidade, sendo a maioria no domínio fisiológico complexo (42%) e fisiológico básico (37%), nas classes de controle respiratório e facilitação do autocuidado. Em 97,2% dos casos houve similaridade entre as prescrições de enfermagem da unidade e as intervenções/NIC. Conclui-se que as intervenções/NIC, utilizadas na prática clínica da unidade de terapia intensiva, refletem o nível de complexidade do cuidado de enfermagem nessa unidade, destinando-se, principalmente, à regulação do funcionamento físico e homeostático do organismo.

Processos de Enfermagem; Diagnóstico de Enfermagem; Cuidados Intensivos; Sistemas de Informação Hospitalar


This cross-sectional study was carried out at a university hospital to describe the nursing interventions most frequently performed in the clinical practice of an intensive care unit, based on nursing care prescriptions, and to investigate their similarity to the Nursing Interventions Classification (NIC). The sample consisted of 991 hospitalizations of patients. Data were retrospectively collected from the computer database and analyzed through descriptive statistics and cross-mapping. A total of 57 different NIC interventions frequently used in the unit were identified; most of them in the complex (42%) and basic physiological (37%) domains, in the classes ‘respiratory management’ and ‘self-care facilitation’. Similarity between the nursing care prescribed and nursing interventions/NIC was found in 97.2% of the cases. The conclusion is that the interventions/NIC used in the clinical practice of this intensive care unit reflects the level of complexity of nursing care, which is mainly directed at the regulation of the body’s physical and homeostatic functioning.

Nursing Process; Nursing Diagnosis; Intensive Care; Hospital Information Systems


Se trata de un estudio descriptivo, transversal realizado en un hospital universitario con los objetivos de describir las intervenciones de enfermería más utilizadas en la práctica clínica de una unidad de terapia intensiva, con base en las prescripciones de enfermería y, analizar si son similares a las Nursing Interventions Clasification (NIC). La muestra constó de 991 internaciones de pacientes. Los datos fueron recolectados retrospectivamente, en base informatizada, y analizados por la estadística descriptiva y diseño cruzado. Se identificó 57 diferentes intervenciones/NIC frecuentemente utilizadas en la unidad; siendo la mayoría en el dominio fisiológico complejo (42%) y fisiológico básico (37%), en las clases de control respiratorio y facilitación del autocuidado. En 97,2% de los casos se encontraron similares entre las prescripciones de enfermería de la unidad y las intervenciones/NIC. Se concluye que las intervenciones/NIC utilizadas en la práctica clínica de la unidad de terapia intensiva reflejan el nivel de complejidad del cuidado de enfermería en esta unidad, destinándose, principalmente, a regular el funcionamiento físico y homeostático del organismo.

Procesos de Enfermería; Diagnóstico de Enfermería; Cuidados Intensivos; Sistemas de Información en Hospital


ARTIGO ORIGINAL

Intervenções de enfermagem utilizadas na prática clínica de uma unidade de terapia intensiva1

Amália de Fátima LucenaI; Maria Gaby Rivero de GutiérrezII; Isabel Cristina EcherIII; Alba Lucia Bottura Leite de BarrosIV

IEnfermeira, Doutor em Ciências, Professor Adjunto, Escola de Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil. E-mail: fatimalucena@terra.com.br

IIEnfermeira, Doutor em Enfermagem, Professor Associado, Departamento de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo, Brasil. E-mail: gaby.gutierrez@unifesp.br

IIIEnfermeira, Doutor em Ciências Médicas, Professor Adjunto, Escola de Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil. E-mail: isabel.echer@terra.com.br

IVEnfermeira, Doutor em Fisiofarmacologia, Professor Titular, Departamento de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo, Brasil. E-mail: barros.alba@unifesp.br

Endereço para correspondência

RESUMO

Este é estudo descritivo, transversal, realizado em um hospital universitário com os objetivos de descrever as intervenções de enfermagem mais utilizadas na prática clínica de uma unidade de terapia intensiva, com base nas prescrições de enfermagem, e analisar a sua similaridade com a Nursing Interventions Classification (NIC). A amostra constou de 991 internações de pacientes. Os dados foram coletados, retrospectivamente, em base informatizada, e analisados pela estatística descritiva e mapeamento cruzado. Identificaram-se 57 diferentes intervenções/NIC, frequentemente utilizadas na unidade, sendo a maioria no domínio fisiológico complexo (42%) e fisiológico básico (37%), nas classes de controle respiratório e facilitação do autocuidado. Em 97,2% dos casos houve similaridade entre as prescrições de enfermagem da unidade e as intervenções/NIC. Conclui-se que as intervenções/NIC, utilizadas na prática clínica da unidade de terapia intensiva, refletem o nível de complexidade do cuidado de enfermagem nessa unidade, destinando-se, principalmente, à regulação do funcionamento físico e homeostático do organismo.

Descritores: Processos de Enfermagem/Classificação; Diagnóstico de Enfermagem; Cuidados Intensivos; Sistemas de Informação Hospitalar.

Introdução

O processo de enfermagem (PE) é instrumento para o planejamento, a organização e a execução do cuidado de enfermagem. No Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) é utilizado há cerca de 30 anos, tendo como referencial a teoria das necessidades humanas básicas(1). Atualmente, está informatizado, sendo que, na etapa de diagnóstico de enfermagem, utiliza como base o vocabulário da classificação diagnóstica da North American Nursing Diagnosis Association - International (NANDA-I)(2). Em relação à prescrição de enfermagem, os cuidados constantes no sistema informatizado não seguem na totalidade uma classificação específica, os mesmos estão baseados na literatura científica, na prática clínica das enfermeiras da instituição e, mais recentemente, nas intervenções propostas pela Nursing Interventions Classification (NIC)(3). O uso da Nursing Outcomes Classification (NOC), para a avaliação dos resultados de enfermagem, está em fase de pesquisa, com vistas à implantação(4).

A principal proposta da NIC, assim como a da NANDA-I e a da NOC, é a de apresentar linguagem padronizada para a enfermagem, de forma a contribuir para a comunicação e a documentação da prática clínica e com a organização de sistemas informatizados, os quais são essenciais na implementação do prontuário eletrônico.

Nesse contexto, pensando-se no constante aperfeiçoamento do processo assistencial(5), ampliaram-se as indagações sobre o PE no HCPA. Entre elas, sobre qual seria o perfil das intervenções prescritas pelas enfermeiras e se essas teriam correspondência com as intervenções propostas pela NIC. Para tanto, este estudo teve por objetivos descrever as intervenções de enfermagem mais utilizadas na prática clínica da unidade de terapia intensiva (UTI) adulto, com base nas prescrições de enfermagem, e analisar a sua similaridade com as intervenções propostas na NIC.

Esta pesquisa buscou, ainda, contribuir para o conhecimento acerca do uso e da aplicabilidade da NIC no contexto da enfermagem brasileira e na prática clínica das unidades de terapia intensiva, visto que, em recente análise da produção científica sobre essa classificação, foi verificado que apenas sete estudos haviam sido realizados por autores brasileiros(6). Considerando-se o cenário da terapia intensiva(7-8), as publicações também são poucas, o que demonstra a necessidade de investigações que aprofundem a temática nesse campo de atuação da enfermagem.

Métodos

Este artigo é parte de um estudo maior(9), do tipo descritivo transversal, realizado na UTI do HCPA, hospital universitário e de grande porte. A amostra foi de 991 internações de pacientes na UTI adulto, ou seja, a totalidade das mesmas ocorridas em um período de seis meses consecutivos. O ponto de corte relativo a esse período foi determinado conforme um dos referenciais metodológicos utilizados(10). A coleta de dados foi retrospectiva, em base de dados informatizada do hospital e as informações organizadas em planilhas do Excel for Windows. O critério de inclusão no estudo foi a existência da prescrição de enfermagem para os pacientes que apresentaram os diagnósticos de enfermagem (DsE) de maior frequência, previamente identificados.

A análise dos dados ocorreu por meio da estatística descritiva, com o uso do programa Statistical Package for the Social Sciences 12.0 (SPSS) e pelo processo de mapeamento cruzado(10), entre os cuidados de enfermagem prescritos para os DsE mais frequentes e as intervenções de enfermagem da NIC, na busca pela similaridade entre elas. Para tanto, dez regras foram utilizadas(9-11), dentre elas o uso do capítulo da NIC que contém as intervenções associadas aos DsE da NANDA-I, descritas em três níveis de ligação: prioritárias, que são as mais prováveis para solucionar o diagnóstico, sugeridas, que possuem alguma probabilidade para solucionar o diagnóstico, e adicionais optativas, que podem ser aplicadas em alguns casos para solucionar o diagnóstico(3). Quando o mapeamento cruzado não apontou similaridade entre a prescrição de enfermagem e essas intervenções, buscaram-se todas as demais intervenções da classificação antes de determinar a ausência de similaridade.

Este estudo foi aprovado pelos Comitês de Ética e Pesquisa das instituições envolvidas no projeto de pesquisa, sob números 03-438 e 1463/03.

Resultados

Foram identificadas 63 categorias diagnósticas na UTI, em uma primeira fase do estudo maior(9,12). As seis mais frequentes apresentaram ocorrência acima de 40% nas 991 internações estudadas, com prescrição de 212 diferentes tipos de cuidados de enfermagem.

Os seis DsE, mais frequentemente identificados, foram "déficit no autocuidado: banho e/ou higiene" (98,1%), com prescrição de 34 diferentes cuidados de enfermagem; "risco para infecção" (95,9%), com prescrição de 47 diferentes cuidados de enfermagem; "mobilidade física prejudicada" (59,3%), com prescrição de 37 diferentes cuidados de enfermagem; "padrão respiratório ineficaz" (49,8%), com prescrição de 49 diferentes cuidados de enfermagem; "ventilação espontânea prejudicada" (43,1%), com prescrição de 24 diferentes cuidados de enfermagem e "risco para prejuízo da integridade da pele" (40,7%), com prescrição de 21 diferentes cuidados de enfermagem(9,11,13). Alguns dos cuidados de enfermagem foram prescritos para diferentes DsE e, assim, quando excluídas as repetições, foram obtidos 149 diferentes cuidados.

O mapeamento cruzado entre os diferentes cuidados de enfermagem prescritos para cada um dos seis DsE e as intervenções/atividades da NIC apontou similaridade em 97,2% dos casos, o que permitiu identificar as intervenções/NIC mais utilizadas na prática clínica da UTI.

Verificou-se 119 intervenções, sendo 18 para o DE "déficit no autocuidado: banho e/ou higiene"; 28 para o DE "risco para infecção"; 17 para o DE "mobilidade física prejudicada"; 25 para o DE "padrão respiratório ineficaz"; 17 para o DE "ventilação espontânea prejudicada" e 14 para o DE "risco para prejuízo da integridade da pele". Algumas dessas intervenções foram identificadas em mais de um DE analisado, por exemplo, "monitorização de sinais vitais" e "posicionamento", encontradas em todos eles. Excluídas essas repetições, contabilizaram-se 57 diferentes intervenções NIC utilizadas.

A maior parte dos 212 cuidados de enfermagem prescritos e analisados, 84 (39,6%), obteve similaridade nas atividades pertencentes às intervenções de nível prioritário aos DsE; 45 (21,2%) nas sugeridas, 41 (19,3%) nas adicionais optativas e 36 (17%) em outras intervenções/NIC. Somente seis (2,8%) cuidados de enfermagem não obtiveram similaridade com as intervenções/NIC.

Entre as intervenções identificadas, 26 (42%) estão localizadas no domínio fisiológico complexo da NIC, com predomínio da classe K (controle respiratório), com 10 intervenções. Outras 23 (37%) estão no domínio fisiológico básico, principalmente na classe F (facilitação do autocuidado), com nove intervenções. Seis (9,7%) no domínio comportamental, nas classes destinadas à assistência do enfrentamento, da educação e promoção do conforto psicológico do paciente. Seis (9,7%) no domínio segurança, na classe V (controle de risco), uma (1,6%) no domínio família, na classe X (cuidados no ciclo da vida), não houve intervenções nos domínios de sistemas de saúde e comunidade.

A soma das intervenções anteriormente descritas apontam 62, todavia, cinco intervenções pertencem a mais de uma classe da NIC(3). Excluídas essas repetições se obtém 57 diferentes intervenções identificadas no estudo (Figuras 1, 2 e 3).




Discussão

Os seis DsE mais frequentemente identificados nos pacientes da UTI também são descritos de forma prevalente por outros estudos(7,8,14). Esse dado reforça a relevância em se conhecer as intervenções de enfermagem necessárias para o cuidado adequado desses pacientes, visto que os mesmos são comuns na prática clínica da enfermagem.

O alto percentual (97,2%) de cuidados de enfermagem prescritos para esses DsE e mapeados com similaridade na NIC aponta para a importância e a utilidade dessa classificação, que se constitui em fonte de aprimoramento e fundamentação para o cuidado aos pacientes, bem como de auxílio na descrição da prática da enfermagem, uma vez que possui base em evidências, resultantes de consensos, de revisões de literatura e de estudos clínicos(14-15).

As diferentes intervenções de enfermagem/NIC, identificadas na UTI, estão em maior número (28) prescritas para o DE "risco para infecção", seguido por 25 intervenções para o DE "padrão respiratório ineficaz". Esses números traduzem a grande demanda de pacientes portadores desses DsE na UTI, bem como a necessidade de cuidados específicos à sua assistência, com intervenções que controlem os índices de infecção decorrentes da gama de procedimentos invasivos aos quais estão expostos.

Quanto ao nível de ligação entre as intervenções/NIC e os DsE da NANDA-I, destaca-se que a maior parte dos cuidados de enfermagem analisados, 84 (39,6%), obteve similaridade com as atividades descritas nas intervenções de nível prioritário, corroborando a sua importância na resolução do DE estabelecido. Desse dado ainda se infere que as prescrições de enfermagem, realizadas na UTI, foram adequadas às necessidades de cuidado prioritário para cada DE estabelecido.

Sobre a localização das intervenções identificadas pelo estudo na taxonomia da NIC, verifica-se que a maioria delas, 26 (42%), está no domínio fisiológico complexo, refletindo o perfil dos pacientes críticos internados em terapia intensiva. Resultados semelhantes são encontrados na literatura(16-17), reafirmando a complexidade dos cuidados nessa unidade, os quais se destinam, na maior parte das vezes, à regulação homeostática do organismo.

No domínio fisiológico complexo também está a classe com maior predomínio de intervenções, a classe K – controle respiratório – (Figura 2). Isso é reflexo dos elevados percentuais de pacientes na UTI com diagnósticos de enfermagem associados a danos do aparelho respiratório(18), exigindo diversas intervenções para melhorar ou solucionar problemas vitais. As intervenções dessa classe também constam como frequentemente usadas para pacientes críticos, em outros estudos(7-8,17).

Apesar de a maior prevalência de intervenções pertencer ao domínio fisiológico complexo da NIC, também se identificou número significativo localizado no domínio fisiológico básico, o qual dá suporte ao funcionamento físico do indivíduo. Nele, verificou-se a segunda classe com o maior número de intervenções, a classe F – facilitação do autocuidado –, com nove intervenções, dentre elas o banho e a assistência no autocuidado: banho/higiene, que figuraram entre as mais utilizadas (Figura 1). Possivelmente, esse dado esteja relacionado ao alto índice de pacientes portadores dos DsE "déficit no autocuidado: banho e/ou higiene" (98,1%) e "mobilidade física prejudicada" (59,3%), denotando dificuldade para realizar atividades por si próprio, portanto, requerendo intervenções que proporcionem as atividades da vida diária do indivíduo e promovam o seu conforto(2-3,19).

Analisando-se as 57 intervenções identificadas na pesquisa, de forma comparativa com as intervenções descritas na NIC, pela American Association of Critical-Care Nurses, no capítulo de intervenções essenciais por área de especialidade, verifica-se que 17 (29,8%) delas são coincindentes. Dessas, apenas duas (11,8%) estão no domínio fisiológico básico – "posicionamento" e "controle da dor" – (Figura 1) e 11 (64,7%) no domínio fisiológico complexo – administração de medicamentos, monitorização neurológica, monitorização respiratória, aspiração de vias aéreas, controle de vias aéreas, controle de vias aéreas artificiais, desmame da ventilação mecânica, oxigenoterapia, ventilação mecânica, controle de líquidos/eletrólitos e terapia endovenosa – (Figura 2). Três (17,6%) são do domínio comportamental – suporte emocional, ensino: procedimento/tratamento e redução da ansiedade – e uma (5,9%) no domínio segurança – monitorização dos sinais vitais Nurses(3) – (Figura 3).

Nota-se, que o predomínio das intervenções coincidentes está, novamente, no domínio fisiológico complexo, que visa o equilíbrio homeostático do organismo. Entretanto, também se identificou número significativo de intervenções do domínio fisiológico básico, que não são citadas na lista da American Association of Critical-Care Nurses(3). Mesmo se sabendo que as intervenções essenciais por especialidade não incluem a totalidade das intervenções utilizadas nessa área, mas as predominantes, percebe-se nessa lista a ausência de intervenções importantes à prática clínica na UTI, como aquelas referentes ao autocuidado, ao controle das eliminações e ao controle de risco, conforme identificadas por este estudo. Desse modo, entende-se que tais intervenções poderiam constar dessa lista, de modo a contemplar as diversas necessidades do paciente crítico.

Os resultados obtidos neste estudo possuem o seu maior foco nas intervenções utilizadas na prática clínica intensivista e se somam ao conhecimento de recentes publicações deste periódico no que diz respeito ao processo de enfermagem(5,8,20).

Assim, espera-se que esta investigação possa auxiliar a Enfermagem a apropriar-se, cada vez mais, dos fenômenos da sua prática como o diagnosticar e o prescrever ações com o uso de linguagem própria descrita pelos sistemas de classificações existentes.

Conclusões

O estudo apontou ampla similaridade (97,2%) entre as prescrições de enfermagem realizadas na UTI e as intervenções propostas pela NIC, o que contribuiu para evidenciar quais delas são as mais comumente utilizadas nessa unidade, tendo-se por base um conjunto de diagnósticos de enfermagem.

A maioria das intervenções está no nível de ligação prioritário aos DsE estabelecidos, o que reforça a importância das mesmas para o tratamento desses pacientes. Essas intervenções estão localizadas, principalmente, nos domínios fisiológico complexo e fisiológico básico da NIC, o que leva a concluir que a prática de enfermagem, nessa unidade, está intimamente ligada à resolução de problemas que requerem intervenções para o suporte do funcionamento físico e homeostático do organismo.

Como fator limitador do estudo está o fato de que foram analisadas as prescrições de enfermagem para os pacientes que apresentaram os seis DsE mais frequentes e não a totalidade dos diagnósticos identificados na UTI. Isso ocorreu por dois motivos, pela extensão do trabalho e pela representatividade dos DsE estudados (percentuais acima de 40% nas internações). Assim, sugerem-se estudos futuros das prescrições de enfermagem para os demais DsE.

Dentre as implicações à prática de enfermagem se destaca a identificação de um conjunto de diagnósticos e intervenções de enfermagem utilizados pelas enfermeiras intensivistas em sua prática cotidiana, o que pode auxiliar na construção de um corpo de conhecimentos, baseado em evidências sobre o cuidar de pacientes críticos, na elaboração de protocolos, na fundamentação do ensino e raciocínio clínico, no gerenciamento de custos e no planejamento de alocação de recursos para a qualificação dos serviços de enfermagem.

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  • Corresponding Author:
    Amália de Fátima Lucena
    Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Escola de Enfermagem. Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica.
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  • 1
    Paper extracted from Doctoral Dissertation “Mapeamento dos diagnósticos e intervenções de enfermagem de uma unidade de terapia intensiva”, presented to Programa de Pós-graduação de Enfermagem, Departamento de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo, Brazil.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      01 Dez 2010
    • Data do Fascículo
      Out 2010

    Histórico

    • Recebido
      21 Dez 2009
    • Aceito
      04 Ago 2010
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