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Atuação de enfermeiros em hospital de campanha voltada a pacientes com Covid-19

RESUMO

Objetivo:

Compreender a atuação do enfermeiro em hospitais de campanha voltada a pacientes com Covid-19.

Métodos:

Pesquisa qualitativa fundamentada pela fenomenologia social de Alfred Schütz. Entrevistaram-se 20 enfermeiros atuantes em São Paulo, Brasil, entre maio e junho de 2020. Os depoimentos foram organizados e analisados com base no referencial teórico-metodológico e temático.

Resultados:

Emergiram as categorias: “Desafios do enfermeiro no atendimento em hospital de campanha”, “Visibilidade da enfermagem no cenário da pandemia da Covid-19” e “Valorização profissional pós-pandemia da Covid-19”.

Considerações finais:

A reflexão sobre os resultados que emergiram neste estudo poderá contribuir para subsidiar melhorias na formação, nas condições de trabalho e valorização do enfermeiro, considerando a importância dessa categoria profissional no âmbito dos serviços de saúde. Novas investigações poderão incrementar o conhecimento na área, fornecendo subsídios para a atuação profissional nessa e em outras situações de saúde que exijam intensidade e excelência da enfermagem.

Palavras-chave:
Prática profissional; Enfermeiras e enfermeiros; Infecções por Coronavírus; Unidades móveis de saúde; Pesquisa qualitativa

ABSTRACT

Objective:

To understand the role of nurses in field hospitals aimed at patients with Covid-19.

Methods:

Qualitative research based on Alfred Schütz’s social phenomenology. Twenty nurses working in São Paulo were interviewed between May and June 2020. The testimonies were organized and analyzed based on the theoretical-methodological and thematic framework.

Results:

The following categories emerged: “Nurses’ challenges in field hospital care”, “Visibility of nursing in the Covid-19 pandemic scenario” and “Covid-19 post-pandemic professional valorization”.

Final considerations:

The reflection on the results that emerged in this study may contribute to support improvements in training, working conditions and valuing nurses, considering the importance of this professional category in the scope of health services. New investigations may increase knowledge in the area, providing subsidies for professional role in this and other health situations that require nursing intensity and excellence.

Keywords:
Professional practice; Nurses; Coronavirus infections; Mobile Health Units; Qualitative research

RESUMEN

Objetivo:

Comprender la actuación de las enfermeras en los hospitales de campaña enfocados en pacientes con Covid-19.

Métodos:

Investigación cualitativa basada en la fenomenología social de Alfred Schütz. Se entrevistó a veinte enfermeros de São Paulo entre mayo y junio de 2020. Los testimonios fueron organizados y analizados con base en el marco teórico-metodológico y temático.

Resultados:

surgieron las siguientes categorías: “Desafíos para las enfermeras en la atención hospitalaria de campaña”, “Visibilidad de la enfermería en el escenario pandémico Covid-19” y “Mejora profesional postpandemia Covid-19”.

Consideraciones finales:

La reflexión sobre los resultados surgidos en este estudio puede contribuir a apoyar mejoras en la formación, las condiciones laborales y la valoración del enfermero, considerando la importancia de esta categoría profesional en el ámbito de los servicios de salud. Las nuevas investigaciones pueden incrementar el conocimiento en el área, otorgando subsidios para el desempeño profesional en esta y otras situaciones de salud que requieren intensidad y excelencia de enfermería.

Palabras clave:
Practica profesional; Enfermeras y enfermeros; Infecciones por Coronavirus; Unidades móviles de salud; Investigación cualitativa

INTRODUÇÃO

No final de janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou em Genebra, Suíça, que o surto do novo coronavírus (Covid-19) constitui uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional. Até o início do mês de setembro do referido ano, foram confirmados no mundo mais de 27 milhões de casos e 881.464 mortes. O Brasil apresentou avanço rápido no contágio e, neste mesmo período, encontra-se como o terceiro país com o maior número de contaminações no mundo, com 4.123.000 casos confirmados e 126.203 mortes pela covid-19, atrás apenas dos Estados Unidos da América (EUA) e da Índia1World Health Organization (CH). Geneva: WHO; 2020 [cited 2020 Sep 28]. WHO Coronavirus disease (COVID-19) Dashboard; [about 3 screens]. Available from: https://covid19.who.int/
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Embora a maioria dos infectados apresentem sintomas leves, a contaminação pelo novo coronavírus pode levar a um quadro respiratório grave, sepse, insuficiência renal aguda e eventos tromboembólicos, elevando significativamente a taxa de mortalidade2Guan W, Ni Z, Hu Y, Liang W, Ou C, He J, et al. Clinical characteristics of coronavirus disease 2019 in China. N Engl J Med. 2020;382(18):1708-20. doi: https://doi.org/10.1056/NEJMoa2002032
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. O número crescente de pessoas infectadas fez com que muitos países enfrentassem problemas com a sobrecarga dos serviços de saúde e falta de instalações para o atendimento aos pacientes com a Covid-193Ferrara B, Albano L. COVID-19 and healthcare systems: what should we do next? [letter]. Public Health. 2020;185:1-2. doi: https://doi.org/10.1016/j.puhe.2020.05.014
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Esse cenário levou à criação de hospitais de campanha em diversos países, como China, EUA, Reino Unido, França e Brasil. Tais instituições representam unidades móveis estruturadas em caráter excepcional e temporário para estabilização de pacientes, sendo o termo majoritariamente utilizado em situações militares como também em tempos de desastres. Caracteriza-se principalmente por um amplo abrigo facilmente instalado em locais estratégicos, dotado de recursos humanos e materiais para o atendimento às vítimas/pacientes. Estudo que descreveu a experiência de implementação dos hospitais de campanha em Wuhan, China durante a pandemia da Covid-19, mostrou que estes desempenharam importante papel no controle da disseminação do vírus, uma vez que centralizavam o cuidado aos pacientes, impedindo a transmissão àqueles que demandavam tratamento de outros agravos nos hospitais gerais4Chen Z, He S, Li F, Yin J, Chen X. Mobile field hospitals, an effective way of dealing with COVID-19 in China: sharing our experience [communication]. Biosci Trends. 2020, 14(3):212-4. doi: https://doi.org/10.5582/bst.2020.01110
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No âmbito dessas instituições, os enfermeiros desempenham atividades gerenciais e assistenciais, fundamentais para a manutenção do cuidado, incluindo a previsão e provisão de materiais, dimensionamento de recursos humanos, desenvolvimento de protocolos, triagem e assistência direta aos pacientes. Estudo de reflexão ressaltou que o enfrentamento da Covid-19 tem exigido desses profissionais habilidades e conhecimentos para a criação de estratégias de cuidado em uma realidade nunca anteriormente vivenciada. Mostrou também que os enfermeiros exercem um papel importante na linha frente de prevenção, controle e tratamento das infecções pelo novo coronavírus, mantendo um contato direto com os pacientes de modo a atender integralmente às suas necessidades5Wierenga KL, Moore SE. Adapting to uncertainty: nursing responsiveness to COVID-19 [editorial]. J Cardiovasc Nurs. 2020;35(4):322-3. doi: https://doi.org/10.1097/JCN.0000000000000712
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Esses enfermeiros têm vivenciado alta intensidade de trabalho e sentimentos como medo, preocupação e ansiedade, levando a fadiga, desconforto e desamparo. Tais aspectos relacionam-se ao desconhecimento da doença, trabalho intenso, além do risco de infecção para si mesmos e familiares6Sun N, Wei L, Shi S, Jiao D, Song R, Ma L, et al. A qualitative study on the psychological experience of caregivers of COVID-19 patients. Am J Infect Control. 2020;48(6):592-8. doi: https://doi.org/10.1016/j.ajic.2020.03.018
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. Com base no exposto, a seguinte questão norteou a pesquisa: como é para o enfermeiro atuar em hospitais de campanha com pacientes com Covid-19? Objetivou-se compreender a atuação do enfermeiro em hospitais de campanha voltada a pacientes com Covid-19.

A intensidade de atividades cotidianas de enfermeiros durante a pandemia requer a realização de pesquisas que abordem sua vivência, dada a complexidade que envolve a situação. Especialmente no contexto brasileiro, não foram identificadas nas bases de dados científicos em saúde investigações sobre a atuação desses profissionais no cuidado de pacientes com Covid-19 no cenário dos hospitais de campanha.

A compreensão da percepção dos enfermeiros sobre seu trabalho com pacientes com Covid-19 nos hospitais de campanha desvela a dimensão subjetiva dessa atuação, além de ampliar o olhar para as experiências e expectativas desse grupo de profissionais. Assim, os resultados deste estudo, fundamentados pelo referencial teórico-metodológico da fenomenologia social, poderão subsidiar instituições e autoridades públicas de saúde a implementarem ações que abarcam o complexo universo de atuação desses profissionais, considerando sua importância no contexto dessa pandemia.

MÉTODO

Pesquisa qualitativa ancorada no referencial teórico-metodológico da fenomenologia social, que utilizou como fio condutor os seguintes conceitos preconizados pelo sociólogo e fenomenólogo Alfred Schutz: intersubjetividade, situação biográfica, acervo de conhecimentos e motivação humana para ação (motivos porque e motivos para)7Schütz A. Sobre fenomenologia e relações sociais. Wagner HTR, organizador. 1. ed. Petrópolis: Vozes; 2012..

A intersubjetividade considerada nesta investigação se caracteriza não apenas pela interação que ocorre no ambiente físico, onde estão presentes as situações cotidianas, mas também pelos aspectos socioculturais, morais e ideológicos que constituem a situação biográfica de enfermeiros - posição que estes ocupam no âmbito social. Experiências passadas e presentes (motivos porque) e as expectativas (motivos para) ocorrem a partir do acervo de conhecimentos que constituem a base da ação do enfermeiro nesse ambiente de trabalho. Do conjunto dos “motivos porque” e “motivos para” resultam as características da vivência do enfermeiro no hospital de campanha no contexto da pandemia de Covid-19.

A pesquisa foi realizada em três hospitais de campanha localizados no município de São Paulo, Brasil, cuja capacidade total era de 2.240 leitos para tratamento da Covid-19, sendo estes destinados para observação e estabilização. Dois começaram a funcionar em abril e encerraram suas atividades entre junho e julho de 2020. O terceiro iniciou as atividades em maio e em setembro ainda estava funcionando. Todos cumprindo o objetivo de realizar cuidados clínicos e servir de retaguarda para as unidades hospitalares. Nesse cenário, os pacientes que ali chegavam recebiam os cuidados necessários e, em caso de agravamento do quadro, eram transferidos para as salas de estabilização e unidades de terapia intensiva dos hospitais de referência com a finalidade de receberem o atendimento de maior complexidade.

A amostra foi intencional, tendo sido incluídos na pesquisa enfermeiros que atuavam com pacientes com Covid-19, independentemente do turno de trabalho, tempo de atuação profissional, sexo e estado civil. Excluíram-se os enfermeiros que atuavam somente na gestão dos serviços de saúde e, dessa forma, não assistiam diretamente pacientes com Covid-19.

A coleta de dados ocorreu entre os meses de maio e junho de 2020, utilizando-se a entrevista aberta individual, a partir das seguintes questões norteadoras: como é para você atuar na linha de frente no hospital de campanha, no cenário de pandemia de Covid-19? Qual a sua expectativa pessoal e profissional para além da pandemia de Covid-19? Afora essas perguntas, foram coletados dados sociodemográficos, profissionais e sobre a formação acadêmica dos participantes. Para se aproximar dos possíveis participantes, foram realizados contatos telefônicos de modo a convidá-los para fazer parte do estudo. Com aqueles que aceitaram ceder seus depoimentos, foram agendados data e horário de sua preferência para realização da entrevista on-line ou presencial.

A metade das entrevistas foi efetuada por meio de chamadas de vídeo via smartphone, através do aplicativo WhatsApp. Utilizou-se um segundo aparelho para a gravação dos áudios que posteriormente foram armazenados em arquivos digitais com acesso restrito e em ambiente seguro, com acesso exclusivo da pesquisadora. Alguns profissionais optaram por ceder o depoimento presencialmente e, nesses casos, foram respeitadas as precauções para evitar transmissão do novo coronavírus, como manutenção de distância mínima de segurança e utilização de máscaras de proteção. Os encontros presenciais ocorreram na área externa dos domicílios dos participantes, tendo-se o cuidado de manter a privacidade e evitar interrupções.

A anuência na participação na pesquisa foi dada por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) por todos os depoentes, que foram informados quanto aos objetivos da investigação. Quando da participação por vídeo chamada, o TCLE foi encaminhado digitalmente ao participante, bem como a via assinada pela pesquisadora. Tanto as entrevistas realizadas presencialmente quanto aquelas ocorridas à distância foram gravadas em áudio após a autorização dos participantes e utilizando-se do smartphone, que possibilitou o registro na íntegra dos depoimentos, com posterior transcrição e análise.

As entrevistas foram realizadas por uma das autoras, com grau de doutor em saúde, e tiveram duração média de 30 minutos. Compuseram o estudo 20 enfermeiros, encerrando-se as entrevistas quando o conteúdo obtido foi capaz de responder em profundidade, abrangência e diversidade ao objetivo proposto e às questões da investigação8Minayo MCS. Amostragem e saturação em pesquisa qualitativa: consensos e controvérsias. Rev Pesq Qual. 2017 [cited 2020 Sep 07];5(7):1-12. Available from: https://editora.sepq.org.br/index.php/rpq/article/view/82/59
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. Não houve recusa ou desistência em participar da pesquisa, tendo sido incluídos todos os depoimentos obtidos.

Para a organização, categorização e análise dos dados, foram adotadas as seguintes etapas propostas em estudo teórico realizado por pesquisadores da fenomenologia social de Alfred Schütz9Jesus MCP, Capalbo C, Merighi MAB, Oliveira DM, Tocantins FR, Rodrigues BMRD, et al. The social phenomenology of Alfred Schütz and its contribution for the nursing. Rev Esc Enferm. USP. 2013;47(3):736-41. doi: https://doi.org/10.1590/S0080-623420130000300030
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: acesso às experiências passadas, presentes e projeções no mundo social por meio da entrevista individual fenomenológica; leitura cuidadosa, categorização e análise crítica do conteúdo das falas para identificar, categorizar, descrever os significados da ação humana expressos no conjunto de “motivos porque e motivos para” e assim, compreender o fenômeno investigado.

Desse modo, realizaram-se leituras na íntegra dos depoimentos transcritos para apreender a experiência vivida dos enfermeiros entrevistados; após, selecionaram-se os trechos de cada entrevista que apresentavam aspectos comuns da atuação profissional de enfermeiros em hospital de campanha voltada a pacientes infectados pela Covid-19, agrupando-os em categorias denominadas concretas por emergirem das experiências no mundo social. A partir do conjunto dessas categorias, procedeu-se à análise compreensiva e à discussão dos resultados, à luz dos conceitos da fenomenologia social e da literatura sobre o tema estudado.

Os depoimentos foram identificados com a letra P (Participante), seguida da numeração arábica referente à sua ordem de participação visando assegurar o anonimato dos participantes. Respeitaram-se todos os princípios éticos da pesquisa envolvendo seres humanos, obtendo-se aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da universidade pública ligada à investigação, com parecer favorável no 4.163.589 e CAAE 34470620.7.0000.5392.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Do total de 20 enfermeiros, 15 eram mulheres e cinco homens, com idades entre 25 e 59 anos. O tempo decorrido desde a data da formação acadêmica foi variável (entre seis meses e 15 anos), assim como o tempo de atuação profissional (entre dois meses e 11 anos). A maioria dos enfermeiros recebeu treinamento prévio sobre a Covid-19 e todos atuavam em plantões de 12 horas (diurno ou noturno) no hospital de campanha.

A atuação dos enfermeiros com pacientes com Covid-19, no hospital de campanha, foi desvelada por meio das seguintes categorias: “Desafios do enfermeiro no atendimento em hospital de campanha”, “Visibilidade da enfermagem no cenário da pandemia da Covid-19” e “Valorização profissional pós-pandemia da Covid-19”.

Desafios do enfermeiro no atendimento em hospital de campanha (motivos porque)

Ser recém-formado representou um desafio no cuidado ao paciente com Covid-19 para muitos dos participantes, gerando insegurança. Apesar disso, os enfermeiros relataram satisfação pela oportunidade do primeiro emprego:

[...] foi uma oportunidade maravilhosa porque eu tinha acabado de me formar e o que desejava era ter experiência. [...] eu só com a experiência dos estágios me senti insegura. (P2)

[...] por ser recém-formada, embora tenha sido um grande desafio, me deram oportunidade de estar aprendendo e desenvolvendo um trabalho, então foi muito gratificante. (P5)

Investigação realizada no Reino Unido corroborou esses achados, mostrando que enfermeiros recém-formados relataram sentimentos de ansiedade e medo relacionados à natureza dos cuidados que deveriam realizar junto aos pacientes com o novo coronavírus, especialmente devido à probabilidade de trabalhar com pacientes gravemente enfermos e terminais. Por outro lado, eles apontaram a satisfação em poder contribuir com os cuidados de enfermagem durante a pandemia da Covid-19 e para a valorização da profissão10Swift A, Banks L, Baleswaran A, Cooke N, Little C, McGrath L, et al. COVID‐19 and student nurses: a view from England [editorial]. J Clin Nurs. 2020;29(17-18):3111-4. doi: https://doi.org/10.1111/jocn.15298
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A transição da etapa de formação para a prática profissional pode representar um desafio para os recém-graduados, que devem assumir responsabilidades e lidar com situações desconhecidas no cenário do trabalho. Esses novos profissionais podem se sentir expostos ou inseguros quanto a sua capacidade de realizar corretamente as tarefas e, além disso, precisam lidar com suas próprias expectativas e as da equipe de saúde em relação a eles11Monforte-Royo C, Fuster P. Coronials: nurses who graduated during the COVID-19 pandemic. Will they be better nurses? [editorial]. Nurse Educ Today. 2020 Jul 29; 94:104536. doi: https://doi.org/10.1016/j.nedt.2020.104536
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Os enfermeiros dos hospitais de campanha se depararam com dificuldades ao lidar com aspectos desconhecidos do cuidado à pessoa com o novo coronavírus:

[...] trabalhar no hospital de campanha foi bem complicado porque não tínhamos protocolo, não se sabia muito sobre a doença. (P13)

[...] é um desafio porque é um vírus novo, que pouco se sabe sobre ele e estou trabalhando e estamos descobrindo coisas novas de cuidado com os pacientes. (P15)

Os aspectos mencionados pelos enfermeiros mostram-se relacionados às dúvidas que permeiam o cuidado ao paciente com Covid-19, como as formas de tratamento, manifestações clínicas, transmissão e gravidade do quadro clínico. Incertezas em relação à estrutura do vírus, bem como sua replicação, impactam o desenvolvimento de medidas eficazes contra a Covid-19 em todo o mundo, as quais se apresentam como uma necessidade global12Islam H, Rahman A, Masud J, Shweta DS, Araf Y, Ullah MA, et al. A generalized overview of SARS-CoV-2: where does the current knowledge stand? Electron J Gen Med. 2020;17(6):e251. doi: https://doi.org/10.29333/ejgm/8258
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A elevada transmissibilidade do microrganismo gerou medo da contaminação pelo novo coronavírus e transmissão aos membros da família, distanciando-os destes entes:

[...] eu nunca imaginei trabalhar em hospital de campanha. Tinha medo e tenho até hoje, pois, por mais que me paramente, sei que posso me contaminar. (P3)

[...] meu maior medo é passar para alguém. Fiquei em isolamento, sem ver minha família. [...] Isto é muito triste, gostaria de estar próxima, de conversar de perto. (P18)

O receio dos enfermeiros de contrair a Covid-19 se justifica, uma vez que os profissionais de saúde se constituem como grupo de risco para o novo coronavírus, considerando seu contato próximo e prolongado com pacientes contaminados, o que os expõe a uma elevada carga viral durante a realização do cuidado. Investigação desenvolvida no Reino Unido e nos EUA com 99.795 profissionais de saúde identificou que aqueles que atuavam na linha de frente contra a Covid-19 apresentaram um risco três vezes maior de contrair o vírus em comparação com a comunidade em geral13Nguyen LH, Drew DA, Graham MS, Joshi AD, Guo C, Ma W, et al. Risk of COVID-19 among front-line health-care workers and the general community: a prospective cohort study. Lancet Public Health. 2020;5(9):e475-83. doi: https://doi.org/10.1016/S2468-2667(20)30164-X
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A preocupação dos entrevistados em transmitirem o vírus se intensifica devido à gravidade e à complexidade dos casos, levando-os ao afastamento de amigos e familiares, especialmente os mais velhos, imunocomprometidos ou com doenças crônicas, o que contribui para o sofrimento psicológico dos profissionais durante a pandemia.

Por estarem na linha de frente da Covid-19, os participantes referiram sofrer preconceito no cotidiano:

[...] senti preconceito pelo fato de eu estar dentro do hospital de campanha. Muitos se afastaram de mim, não quiseram mais falar comigo, me abraçar, se distanciaram, não chegam perto. [...] isto é pesado para mim, machuca meu emocional. (P1)

[...] algumas pessoas não querem me ver de jeito nenhum por estar trabalhando em hospital de campanha, mas eu percebo que é por falta de informação. (P9)

Os enfermeiros que estão na linha de frente do cuidado com os pacientes com Covid-19 podem sofrer discriminação e estigmatização por pessoas da comunidade, pressupondo-se que esses profissionais são uma fonte potencial de infecção. Essa realidade também foi vivenciada em outros países com relatos de agressões verbais e físicas, impossibilidade de utilizar o transporte coletivo e afastamento do convívio social14Singh R, Subedia M. COVID-19 and stigma: Social discrimination towards frontline healthcare providers and COVID-19 recovered patients in Nepal [letter]. Asian J Psychiatr. 2020;53:102222. doi: https://doi.org/10.1016/j.ajp.2020.102222
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. Ressalta-se que a discriminação contra aqueles que cuidam no contexto da pandemia pode impactar a capacidade para o trabalho em um momento em que se demanda muito dos profissionais que atuam na linha frente.

Os depoentes mencionaram a oportunidade de fazer parte da história da pandemia de Covid-19 no Brasil, o que contribuiu para o crescimento pessoal e profissional:

[...] é uma história nova que estou ajudando a construir. [...] foi uma oportunidade para o meu crescimento pessoal e profissional, um dia poderei falar que fiz parte disso tudo [...] ressignificou minha vida. (P4)

[...] essa experiência aprimorou muito meu conhecimento. [...] trabalhei no hospital de campanha, peguei Covid-19 e estou vivo para contar e fazer parte desta história. (P17)

Os entrevistados referiram como gratificante a experiência vivida por eles em hospital de campanha, na linha de frente do cuidado da Covid-19, especialmente por ser um momento ímpar vivido pela profissão e por agregar conhecimentos. Situação semelhante foi observada em estudo com enfermeiros que atuavam em um hospital de Henan, China. Os participantes referiram que a atuação com pacientes com Covid-19 oportunizou crescimento no momento da tensão, o que inclui o aumento de afeto e gratidão, maior responsabilidade e identidade profissional, autorreflexão e crescimento psicológico6Sun N, Wei L, Shi S, Jiao D, Song R, Ma L, et al. A qualitative study on the psychological experience of caregivers of COVID-19 patients. Am J Infect Control. 2020;48(6):592-8. doi: https://doi.org/10.1016/j.ajic.2020.03.018
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Visibilidade da enfermagem no cenário da pandemia da Covid-19 (motivos porque)

De acordo com os enfermeiros, o período da pandemia de Covid-19 proporcionou maior visibilidade social da enfermagem:

[...] esta situação de pandemia deu uma nova visão para a enfermagem. [...] valorizou um pouco mais a profissão no sentido de reconhecimento a sociedade. Porque, sem enfermagem, a saúde não anda. (P6)

Não se ouvia falar tanto dos enfermeiros e, com esta pandemia, houve uma maior demanda e perceberam a importância que temos no cuidado das pessoas. (P10)

Quando vejo as palmas que a sociedade bate a todos nós que estivemos neste contexto me sinto orgulhosa. (P12)

A enfermagem tem se destacado durante a pandemia por sua importante atuação em ações preventivas, curativas e de reabilitação voltadas aos portadores da Covid-19, cujo número de casos se mostra crescente. Como consequência, observou-se reconhecimento social e mudança da imagem pública dos profissionais, que passaram a ser vistos como aqueles que possuem determinação, coragem, competência e humanidade. Observaram-se demonstrações populares de respeito e gratidão, como murais com enfermeiros representados como heróis colocados nos prédios, palmas para os profissionais de saúde e publicações nas redes sociais.

Nesse âmbito, observaram-se também manifestações de reconhecimento por meio das redes sociais, importante ferramenta de disseminação de informações na atualidade. Investigação brasileira que avaliou publicações voltadas para a temática da Enfermagem em uma rede social, durante o período da pandemia pelo novo coronavírus, encontrou que a maioria das postagens apresentava em seu conteúdo a valorização da profissão, bem como apoio às reinvindicações dos profissionais, especialmente os direitos trabalhistas. Identificou-se também grande participação de pessoas físicas/comuns que, ao todo, foram capazes de atingir 7 milhões de perfis15Souza TO, Bossato HR, Amaral IBST, Nascimento FTM, Silva IR, Costa LS. Nursing and visibility in the COVID-19 pandemic: social media monitoring. Rev Baiana Enferm. 2021;35:e38740. doi: https://doi.org/10.18471/rbe.v35.38740
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Para os enfermeiros, o momento da pandemia também oportunizou maior autonomia e notoriedade da profissão no contexto do serviço de saúde:

[...] temos capacidade e fundamento teórico para qualquer tipo de situação e provamos isso nesta pandemia, que trouxe notoriedade para a nossa área. (P11)

Eu acredito que, nesta nova situação de pandemia, o enfermeiro está sendo mais valorizado e eu me sinto respeitado. [...] dentro do ambiente de trabalho, tenho sentido maior respeito. [...] me sinto valorizado, nunca me senti tão importante. (P8)

[...] no hospital de campanha eu percebi maior autonomia do enfermeiro, mesmo porque cumprimos nosso dever bem cumprido na pandemia. (P19)

A pandemia pelo novo coronavírus explicitou a relevância dos enfermeiros no contexto dos serviços de saúde, pois representam profissionais que estão na linha de frente do combate à Covid-19, assistindo diretamente aos pacientes, bem como atuando em ações de promoção e prevenção da saúde. Onze enfermeiros gestores participantes de uma pesquisa qualitativa realizada em Santa Catarina, Brasil destacaram que, apesar das dificuldades estruturais e organizacionais dos serviços de saúde, o momento da pandemia oportunizou a identificação de estratégias de qualificação das práticas de enfermagem e potencialidades para o fortalecimento da profissão, visto a competência demonstrada pelos enfermeiros no referido cenário16Geremia DS, Vendruscolo C, Celuppi IC, Adamy EK, Toso BRGO, Souza JB. 200 Years of Florence and the challenges of nursing practices management in the COVID-19 pandemic. Rev Latino-Am Enfermagem. 2020;28:e3358. doi: https://doi.org/10.1590/1518-8345.4576.3358
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Para além do reconhecimento social, a necessidade da valorização dos enfermeiros tem ganhado visibilidade mundial fazendo com que muitos países se voltem para o estabelecimento de um compromisso de apoio ao desenvolvimento da profissão. Isto porque o acesso universal à saúde não poderá ser atingido sem o adequado fortalecimento desta categoria profissional já que os enfermeiros estão no centro da maioria das equipes, influenciando diretamente na saúde de indivíduos e comunidades. O fortalecimento da enfermagem tem o potencial de gerar um triplo impacto de melhorar a saúde global, promover a igualdade de gênero e apoiar o crescimento econômico17Nursing Now [Internet]. London: Burdett Trust for Nursing; c2020 [cited 2020 Sep 06]. Who we are; [about 1 screen]. Available from: https://www.nursingnow.org/who-we-are/
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Nesse cenário, ressalta-se a Campanha Nursing Now e o estabelecimento de 2020 como o Ano Internacional da Enfermeira e Obstetriz pela Organização Mundial de Saúde, em comemoração ao bicentenário de Florence Nightingale. Iniciativas que, entre outras questões, visam ao reconhecimento dos enfermeiros pelos membros da equipe de saúde e pela comunidade em geral17Nursing Now [Internet]. London: Burdett Trust for Nursing; c2020 [cited 2020 Sep 06]. Who we are; [about 1 screen]. Available from: https://www.nursingnow.org/who-we-are/
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Valorização profissional pós-pandemia da Covid-19 (motivos para)

Os enfermeiros almejam melhores condições de trabalho e valorização profissional, especialmente em relação à aprovação da jornada de 30 horas semanais, do piso salarial para a enfermagem e da autonomia para atuação:

[...] espero que seja aprovado um piso salarial justo e as 30 horas, que é uma carga horária justa. E que as instituições melhorem estruturas para proporcionar conforto para os profissionais de enfermagem. (P8)

Espero ser reconhecida, valorizada. [...] melhorar o ambiente hospitalar para que os profissionais se sintam mais seguros para trabalhar. (P7)

[...] precisa urgente melhorar o salário, porque somos muito pouco reconhecidos. (P16)

Visto que se sentem desvalorizados no cotidiano dos serviços de saúde, os enfermeiros esperam manter a visibilidade social e profissional alcançada no período da pandemia e conquistar antigos desafios da profissão. A desvalorização profissional é mencionada por enfermeiros de um estudo realizado com 30 profissionais em Buenos Aires, Argentina. Neste, os participantes mencionam desafios enfrentados, como longas jornadas e condições de trabalho precárias. Mencionaram também os salários incompatíveis com a intensidade do cuidado, o que leva muitos enfermeiros a terem mais de um emprego18Aspiazu EL. Las condiciones laborales de las y los enfermeros en Argentina: entre la profesionalización y la precariedad del cuidado en la salud. Trabajo Soc. 2017 [cited 2020 Sep 05];(28):11-35. Available from: https://ri.conicet.gov.ar/bitstream/handle/11336/71306/CONICET_Digital_Nro.3039d99c-f912-4a41-ae0a-bdfa307e792f_A.pdf?sequence=2&isAllowed=y
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Os depoentes referiram também a expectativa de que os profissionais de enfermagem recebam apoio à saúde mental:

[...] gostaria que tivéssemos apoio psicológico e mental porque, no início, muitos profissionais adoeceram e tiveram depressão. [...] que reconheçam o trabalho dos profissionais, o tanto que lutam pelas vidas. (P14)

[...] acabei me sobrecarregando, ficando cansada física e psicologicamente [...]. Tenho expectativa que se tenha uma estratégia de cuidado do profissional de enfermagem [...]. Porque somos a maior categoria de saúde, somos os que têm maior contato e ficamos o maior tempo com o paciente. (P20)

Essa expectativa apresentada pelos participantes é corroborada por estudo realizado em Wuhan, China, com 180 enfermeiros que cuidavam de pacientes contaminados com a Covid-19. Encontrou-se que 39,91% e 32,19% dos participantes apresentavam estresse e ansiedade respectivamente. As duas condições estavam intimamente relacionadas e a longa jornada de trabalho foi identificada como um dos principais fatores influenciadores da ansiedade19Mo Y, Deng L, Zhang L, Lang Q, Liao C, Wang N, et al. Work stress among Chinese nurses to support Wuhan in fighting against COVID-19 epidemic. J Nurs Manag. 2020;28(5):1002-9. doi: https://doi.org/10.1111/jonm.13014
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Para que a enfermagem alcance o reconhecimento profissional, ocupando seu lugar no centro do enfrentamento dos desafios de saúde do século XXI, a Campanha Nursing Now aponta cinco principais áreas de investimento: estímulo a maior investimento na força de trabalho; garantia de maior participação na formulação de políticas de saúde; investimento na liderança; condução de pesquisas que evidenciem onde os enfermeiros podem ter maior impacto e disseminação das melhores práticas em enfermagem17Nursing Now [Internet]. London: Burdett Trust for Nursing; c2020 [cited 2020 Sep 06]. Who we are; [about 1 screen]. Available from: https://www.nursingnow.org/who-we-are/
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Estudo teórico sobre a CampanhaNursing Now no contexto da pandemia da Covid-19 corrobora o chamado para valorização dos profissionais de enfermagem atuantes na linha de frente do combate ao coronavírus. Ressalta que, ainda que apresentem condições de trabalho fragilizadas levando-os à exposição e ao adoecimento, os profissionais de enfermagem mantêm o seu protagonismo de cuidar. Salienta que, apesar da referida campanha de valorização, a enfermagem ainda precisa justificar sua existência como área profissional necessária a sociedade20Oliveira KKD, Freitas RJM, Araújo JL, Gomes JGN. Nursing Now and the role of nursing in the context of pandemic and current work. Rev Gaúcha Enferm. 2021;42(esp):e20200120. doi: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2021.20200120
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Os desafios enfrentados no hospital de campanha e a satisfação por experienciar maior visibilidade da profissão durante a pandemia da Covid-19 levaram os participantes a desejar conquistar antigos desafios, como a valorização da enfermagem. As experiências e expectativas expressas por eles refletem atuação do enfermeiro em hospitais de campanha envolta em aspectos intersubjetivos marcados pela pandemia do coronavírus. Estes são explicitados pela interação desse profissional na realidade de trabalho que retrata o exercício da enfermagem sendo influenciado pela situação biográfica e acervo de conhecimentos dos enfermeiros.

O acervo de conhecimentos é constituído primariamente por meio dos progenitores que inserem o homem no mundo social. Além disso, soma-se o conhecimento agregado por educadores e aquele adquirido por meio das experiências concretas, pessoais e profissionais que estruturam continuamente este acervo e subsidiam a ação humana no mundo social9Jesus MCP, Capalbo C, Merighi MAB, Oliveira DM, Tocantins FR, Rodrigues BMRD, et al. The social phenomenology of Alfred Schütz and its contribution for the nursing. Rev Esc Enferm. USP. 2013;47(3):736-41. doi: https://doi.org/10.1590/S0080-623420130000300030
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As experiências passadas e presentes vividas na enfermagem permitem ao enfermeiro elaborar, intencionalmente, perspectivas para o futuro que vão ao encontro do desejo de melhores condições de trabalho e saúde, assim como de valorização profissional. Isso está em consonância com o que é recomendado pela fenomenologia social de Alfred Schütz, quando ressalta a ação humana como dotada de intencionalidade e relacionada a um projeto no qual o homem encontra significado7Schütz A. Sobre fenomenologia e relações sociais. Wagner HTR, organizador. 1. ed. Petrópolis: Vozes; 2012..

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O grupo de enfermeiros que atuou em hospitais de campanha, com pacientes com Covid-19 vivenciou vários desafios no atendimento a essa clientela. Tais desafios se relacionam ao fato de muitos desses profissionais serem recém-formados, terem que lidar com aspectos desconhecidos da doença e com o medo da própria contaminação e de familiares, além de sofrerem preconceito por parte da comunidade. Contudo, esses enfermeiros se percebiam privilegiados pela oportunidade de participar da história da pandemia no Brasil e pelo aumento da visibilidade da enfermagem nessa ocasião. Os participantes esboçaram a expectativa de que a visibilidade e o reconhecimento da profissão se mantenham e reflitam em melhores condições de trabalho, valorização profissional e apoio à saúde mental do enfermeiro.

A limitação deste estudo refere-se ao fato de apresentar a vivência de um grupo específico de enfermeiros com características singulares, pertencentes a uma realidade diferenciada de outras, o que impede a generalização dos resultados.

O referencial teórico-metodológico da fenomenologia social de Alfred Schütz oportunizou desvelar vivências do enfermeiro com pacientes em hospital de campanha durante a pandemia da Covid-19, fornecendo elementos importantes a serem considerados no preparo de profissionais e gestores com vistas ao enfrentamento de situações que envolvam emergência, com resultados positivos para pacientes e profissionais de saúde. A reflexão sobre os resultados que emergiram neste estudo poderá contribuir para subsidiar melhorias na formação, nas condições de trabalho e valorização do enfermeiro, considerando a importância dessa categoria profissional no âmbito dos serviços de saúde.

Novas investigações que possam colaborar para o incremento do conhecimento sobre a atuação do enfermeiro no contexto da pandemia da Covid-19 poderão fornecer subsídios para a prática profissional nesta e em outras situações de saúde que exijam intensidade e excelência da enfermagem.

Agradecimentos:

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - Brasil (CNPq) pela concessão de bolsa de produtividade em pesquisa à autora Miriam Aparecida Barbosa Merighi.

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Editado por

Editor associado:

Dagmar Elaine Kaiser

Editor-chefe:

Maria da Graça Oliveira Crossetti

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Set 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    30 Set 2020
  • Aceito
    06 Abr 2021
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