Acessibilidade / Reportar erro

Religião e parentesco entre os bakongo de Luanda

Resumos

Este artigo tem como objetivo discutir as relações entre religião e parentesco entre os bakongo, um dos principais grupos étnicos de Angola. Explora as formas específicas pelas quais este grupo reorganiza-se internamente no contexto de Luanda desde a independência, a partir da entrada de importantes contingentes antes exilados no então Zaire, atual República Democrática do Congo (RDC) em Luanda. Procura-se demonstrar como e porque a religião vem sendo a principal instituição mediadora que integra diferentes instâncias tais como recomposição de redes de sociabilidade e parentesco num contexto urbano, veiculação de identidades étnica e nacional, dando sentido tanto às transformações ocorridas quanto aos processos de continuidade na história recente dos bakongo em Luanda. Esta demonstração se fará através da análise do pentecostalismo em Angola tomando como ponto de observação os bairros periféricos de Luanda de grande concentração bakongo.

Angola; bakongo; parentesco; religião; igrejas africanas


This article discusses the relationship between religion and kinship among the Bakongo, one of Angola's main ethnic groups. It explores the specific forms in which this group reorganizes itself internally in the context of Angola's capital, Luanda, since the country's independence when many of them returned from exile in Zaire (presently the Democratic Republic of Congo). It shows how and why religion is the main mediating institution that integrates various levels remaking sociability and kinship networks in an urban context, bringing forth national end ethnic identities and gives meaning both to transformations and to continuities in the Bakongo's recent history. The demonstration will be made by means of the analysis of Pentecostalism in Angola, as observed in neighborhoods where the Bakongo are concentrated.

Angola; Bakongo; Kinship religion; African churches


  • 1
    1 Luena Pereira, "Os Bakongo de Angola: religião, política e parentesco num bairro de Luanda" (Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, 2004).
  • 2
    2 Sobre movimentos religiosos africanos, ver: James Fernandez, "African Religious Movements", Annual Review of Anthropology, n. 7 (1978), pp. 195-234.
  • Sobre pentecostalismo em África, Birgit Meyer, "Christianity in Africa: From African Independent to Pentecostal-Carismatic Churches", Annual Review Anthropology, n. 33 (2004), pp. 447-74.
  • 3 Georges Balandier, Sociologie actuelle de l'Afrique noire, Paris: PUF, 1963 [1955]
  • ; John Thornton, The Kongolese Saint Anthony: Dona Beatriz Kimpa Vita and the Antonian Movement, 1684-1706, Cambridge: Cambridge University Press, 1998;
  • António Gonçalves, Le lignage contre l'Etat: dinamique politique Kongo du XVIéme au XVIIIéme siécle, Évora: Universidade de Évora, IICT, 1985;
  • Wyatt MacGaffey, Religion and Society in Central Africa, Chicago: The University of Chicago Press, 1986.
  • 5 Balandier, Sociologie actuelle; António Gonçalves, "Analyse sociologique du Tokoisme en Angola", Anthropos, n. 79 (1984), pp. 473-83;
  • Martial Sinda, Le messianisme congolais et ses incidences politiques: kimbanguisme, matsouanisme, autres mouvements, Paris: Payot, 1972;
  • Alfredo Margarido, "The Tokoist Church and Portuguese Colonialism in Angola", in Ronald Chilcote (org.), Protest and Resistance in Angola and Brazil (Califórnia: University of Califórnia Press, 1972).
  • 6 Baseei-me, para a caracterização do parentesco e do sistema social kongo, principalmente em Balandier, Sociologie actuelle; e Wyatt MacGaffey, Custom and Government in the Lower Congo, Berkeley/Londres: University of California Press, 1970;
  • MacGaffey, Religion and Society;
  • António Gonçalves, Reestruturação do poder político e inovação social na sociedade Kongo, Évora: Instituto Superior Econômico e Social de Évora, 1984;
  • Gonçalves, Le lignage contre l'Etat
  • Para o sistema social encontrado no Reino do Kongo, William Randles, L'ancien royaume du Congo: des origines à la fin du XIXe siècle, Paris: EHESS, 2002 [1968]
  • ; John Thornton, The Kingdom of Kongo. Civil war and transition, 1641-1718, Wisconsin: The University of Wisconsin Press, 1983;
  • e Georges Balandier, La vie quotidienne au royaume de Kongo: du XVI au XVIII siècle Paris: Hachette, 1965.
  • 7 Macgaffey, Religion and Society, p 18.
  • 8 Macgaffey, Custom and Government;
  • e Balandier, La vie quotidienne
  • 10 Audrey Richards, "Alguns tipos de estrutura familiar entre os bantos do centro", in Radcliffe-Brown e Daryl Forde, Sistemas políticos africanos de parentesco e casamento [African Systems of Kinship and Marriage] (Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1982 [1950]
  • 11 MacGaffey, Custom and Government;
  • e Gonçalves, Le lignage contre l'Etat
  • 12 Gonçalves, Reestruturação do poder político, p 11.
  • 13 Segundo Gonçalves, Reestruturação do poder político, p. 47,
  • 14 MacGaffey, Custom and Government, p 55.
  • 15 As relações de proximidade com o pai incluem a proteção contra a feitiçaria, que é a forma pela qual se expressam as relações de disputa entre tios e sobrinhos no sistema matrilinear. Sobre a complementariedade da linhagem secundária (paterna) em sociedades matrilineares e sua função espiritual, ver Victor Turner, O processo ritual: estrutura e anti-estrutura, Petrópolis: Vozes, 1974, pp. 16-159.
  • 16 Christine Messiant, "Angola, les voies de l'ethnisation et de la décomposition. II - Transition à la démocratie ou marche à la guerre? L'épanouissement des deux "Partis armés" (Mai 1991-Septembre 1992)", Lusotopie - Transitions libérales en Afrique Lusophone (1995), pp. 181-220.
  • 17 Peter Fry, "O Espírito Santo contra o feitiço e os espíritos revoltados: 'civilização' e 'tradição' em Moçambique", Mana, v. 6, n. 2 (2000), pp. 65-95.
  • 18 Fry, "O Espírito Santo contra o feitiço", p. 82.
  • 19 O Congo/Zaire, desde a história colonial, foi utilizado como bode expiatório para certos fenômenos ocorridos em Angola, como a contestação nacionalista, apontada pelos colonos portugueses como uma ação provocada exclusivamente do exterior, alimentada pelo pânico que o conturbado processo de independência do Congo causou entre os colonizadores. Depois, os regressados do Congo teriam introduzido em Angola a desordem da economia informal e hoje a "desordem religiosa". Esta acusação aos congoleses é feita pelos angolanos, inclusive os de origem bakongo, que absorveram parte dos estereótipos que lhes são atribuídos. Ver Luena Pereira, "Os regressados na cidade de Luanda: um estudo sobre identidade étnica e nacional em Angola" (Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo, 1999).
  • 20 Fátima Viegas, Angola e as religiões, Luanda: Do autor, 1999.
  • 21 Sobre a Igreja Batista em Angola, James Grenfell, História da Igreja Batista em Angola (1879-1975), Lisboa: BMS, 1998.
  • Sobre a história das igrejas em Angola, Lawrence Henderson, A igreja em Angola: um rio com muitas correntes, Lisboa: Editorial Além-Mar, 1990.
  • 27 Wyatt MacGaffey, Modern Kongo Prophets: Religion in a Plural Society, Bloomington: Indiana University Press, 1983.
  • 28 MacGaffey, Modern Kongo Prophets, p. 68.
  • 29 MacGaffey, Modern Kongo Prophets, p.118.
  • 30 Viegas, "Angola e as religiões", p. 301.
  • 32 MacGaffey, Modern Kongo Prophets, p. 62
  • 33 Balandier, Sociologie actuelle;
  • MacGaffey, Religion and Society;
  • Gonçalves, Reestruturação do poder político

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Maio 2013
  • Data do Fascículo
    2013

Histórico

  • Recebido
    25 Jul 2011
  • Aceito
    10 Out 2011
Universidade Federal da Bahia Praça Inocêncio Galvão, 42 Largo 2 de Julho, Centro, 40060-055 - Salvador - BA, Tel: 5571 3283-5501 - Salvador - BA - Brazil
E-mail: ceao@ufba.br