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Pais, filhos e padrinhos no sul fluminense, século XIX

Resumos

O artigo trata dos laços de compadrio e de apadrinhamento criados por escravos em Angra dos Reis, entre os anos de 1805 e 1871. Foram utilizados 3.264 registros paroquiais de crianças existentes no Convento do Carmo e na Igreja de Jacuecanga, ambos localizados em Angra dos Reis, e 220 inventários post-mortem armazenados no Museu da Justiça do Rio de Janeiro e no Arquivo Nacional. Na região, ao longo da segunda metade do século XIX, houve um decréscimo do número de escravos. Em meio às transformações econômicas e demográficas, foram observadas as opções efetuadas pelas famílias nucleares e matrifocais quanto à escolha de protetores espirituais para seus filhos.

famílias escravas; litoral sul-fluminense; movimento portuário


The article discusses the ties between parents and godparents created by slaves in Angra dos Reis, between the years 1805 and 1871. Three thousand two hundred sixty-four parish registers of children existing in the Carmo Convent and Church of Jacuecanga, both located in Angra dos Reis and 220 post-mortem inventories stored at the Museum of Justice of Rio de Janeiro and the National Archives were used. In the region, throughout the second half of the nineteenth century, the number of slaves diminished. Among the economic and demographic changes, there are the options made by matrifocal and nuclear families as the choice of spiritual protectors for their children.

slave families; southern coast of Rio de Janeiro; sul fluminense; port traffic


  • 1
    1 João José Reis e Eduardo Silva, Negociação e conflito, São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 151.
  • 2
    2 Dentre outros: Manolo Garcia Florentino e Roberto de Góes, A paz das senzalas, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997, p. 256;
  • Robert Slenes, Na senzala, uma flor, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999, p. 288;
  • Hebe Maria Mattos de Castro, Das cores do silêncio, Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1995, p. 426;
  • José Flávio Motta, Corpos escravos, vontades livres, São Paulo: FAPESP/Annablume, 1999, p. 426.
  • 3 Sheila de Castro Faria, A colônia em movimento, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998, p. 432.
  • 4 Dentre outros: Roberto Guedes Ferreira, "Na pia batismal. Família e compadrio entre escravos na freguesia de São José do Rio de Janeiro (primeira metade do século XIX)" (Dissertação de Mestrado, Universidade Federal Fluminense, 2000), p. 225;
  • Marcia Cristina de Vasconcellos, "Nas bênçãos de Nossa Senhora do Rosário. Relações familiares entre escravos em Mambucaba, Angra dos Reis, 1830 a 1881" (Dissertação de Mestrado, Universidade Federal Fluminense, 2001), p. 194;
  • José Roberto de Góes, "Escravos da paciência. Estudo da obediência escrava no Rio de Janeiro (1790-1850)" (Tese de Doutorado, Universidade Federal Fluminense, 1998), p. 386;
  • Cristiany Miranda Rocha, Histórias de famílias escravas, Campinas: Editora da UNICAMP, 2004, p. 181;
  • Carlos Engeman, De laços e de nós, Rio de Janeiro: Apicuri, 2008, p. 200;
  • Cristiane Pinheiro Santos Jacinto, Laços e enlaces, São Luís: EDUFMA, 2008, p. 186;
  • Solange Pereira da Rocha, Gente negra na Paraíba oitocentista, São Paulo: Ed. UNESP, 2009, p. 332;
  • Jorge Prata de Sousa e Rômulo Garcia de Andrade (orgs), Zona da Mata mineira: escravos, família e liberdade (Rio de Janeiro: Apicuri, 2012), p. 204.
  • Como trabalho de síntese, ver: Francisco Vidal Luna e Herbert Klein, Escravismo no Brasil, São Paulo: EDUSP, 2010, p. 400.
  • 8 O nome que constava nos documentos oficiais, até meados do século XVII, era Nossa Senhora da Conceição. Posteriormente, passou a chamar-se Vila da Ilha Grande. A partir de 1835, quando a vila foi elevada à cidade, recebeu o nome de Angra dos Reis. Ver: Camil Capaz, Memórias de Angra dos Reis, Rio de Janeiro: Edição do autor, 1996, p. 220.
  • 9 Alípio Mendes, Angra dos Reis. Da criação da vila até sua transferência para a atual cidade (1502-1624), Angra dos Reis: Ateneu Angrense de Letras de Letras e Artes, 1995, p. 352.
  • 10 Marina de Mello e Souza, Parati: a cidade e as festas, Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1994, p. 261.
  • 12 Marcia Cristina de Vasconcellos, "Famílias escravas em Angra dos Reis, 1801-1888" (Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, 2006), p. 273.
  • 14 O ano de 1850 é considerado como o da consolidação do Império, data da Lei Eusébio de Queiróz, que determinava o fim do tráfico de escravos; da Lei de Terras, que obrigava o registro das terras e a compra de terras devolutas, dentre outras; a reformulação da Guarda Nacional; e a criação do Código Comercial do Império. Ver: Marcelo Basile, "Consolidação e crise do Império", in Maria Yedda Linhares (org). História Geral do Brasil (Rio de Janeiro: Campus, 2000), p. 445;
  • José Murilo de Carvalho, I-A construção da ordem, Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1996, p. 436;
  • e Ilmar Rohloff de Mattos, O tempo saquarema, Rio de Janeiro: ACCESS, 1994, p. 285.
  • 15 Marta Abreu, "O caso do Bracuhy", in Hebe Maria Mattos de Castro e Eduardo Schnoor (orgs.), Resgate (Rio de Janeiro: Topbooks), 1995, p. 252.
  • 16 Sobre o tráfico interno: José Flávio Motta, Escravos daqui, dali e de mais além, São Paulo: Alameda, 2012, p. 390.
  • 23 Silvia Maria Jardim Brugger, Minas patriarcal: família e sociedade (São João del Rei - séculos XVIII e XIX), São Paulo: Annablume, 2007, p. 382.
  • 24 Brugger, Minas patriarcal, p. 283.
  • 25 François Lebrun, "O sacerdócio, o príncipe e a família", in André Burguière et alii, O choque das modernidades: Ásia, África, América e Europa, v. 3 (Lisboa, Terramar, 1998), p. 89.
  • 26 Góes, em estudo sobre Inhaúma, freguesia rural do Rio de Janeiro, considera que não havia incompatibilidade entre batismo e escravidão, tanto durante a colônia, quanto no império; Brugger, por sua vez, embora não tenha localizado proprietários apadrinhando seus escravos, encontrou parentes dos primeiros como padrinhos e madrinhas dos segundos, resultante de uma sociedade patriarcal. Em estudo sobre a freguesia de Mambucaba também encontramos parentes de senhores apadrinhado seus cativos. Ver: José Roberto de Góes, O cativeiro imperfeito, Vitória: Lineart, 1993, p. 209;
  • Brugger, Minas patriarcal; Vasconcellos, "Nas bênçãos".
  • 28 Faria, A colônia, 1998, p. 310.
  • 29 Ferreira, "Na pia batismal". p. 187.
  • 30 Brugger, Minas patriarcal, p. 286.
  • 34 Vasconcellos, "Famílias escravas", pp. 113-41.
  • 37 Lebrun, "O sacerdócio", p. 89.
  • 43 Florentino e Góes, A paz
  • 44 Slenes, Na senzala
  • 45 Vasconcellos, "Famílias escravas", pp. 164-210.
  • 46 A ideia de comunidade escrava foi trabalhada por Góes, em estudo sobre Inhaúma, no Rio de Janeiro. Ver: Góes, O cativeiro Mais recentemente, Engeman, em pesquisa sobre a Fazenda Santa Cruz, antiga propriedade jesuítica que, após a expulsão da Companhia de Jesus de Portugal e seu Império, em 1759, passou para a Coroa, observou a existência de uma comunidade escrava na propriedade. Ver: Engeman, De laços
  • 47 Vasconcellos, "Famílias escravas", p. 66.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Jul 2014
  • Data do Fascículo
    Jun 2014

Histórico

  • Aceito
    10 Out 2013
  • Recebido
    31 Mar 2013
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